O que poderia ter sido

O que poderia ter sido



Capítulo 5 - O que poderia ter sido



Harry colocou a mão em sua testa, concentrado no texto que lia. Havia uma enorme quantidade de papelada para ser lida e assinada...Eram momentos assim que faziam ele querer voltar a ser um mero auror. O salário era péssimo...Não havia garantias...Porém a adrenalina compensava...



Mas havia um ditado em que ele acreditava fielmente: casa e esposa, emprego burocrático. E além disso já tinha dito aventuras suficientes por uma vida inteira durante os anos em Hogwarts. Já estava na hora dele ter paz e uma vida normal. Sem profecias, sem megalomaníacos querendo seu coro...Sem mortes daqueles com quem ele se importava.



Um traço de tristeza surgiu em seu rosto...Sirius...Dumbledore...



Harry voltou-se para o texto. Não podia mergulhar em lembranças tristes agora. Tinha que trabalhar.



Ele estava desde das seis horas da manhã lendo e assinando. Já passava da hora do almoço, mas ele estava sem fome.



Continuou lendo e assinando, quase automaticamente, quando então a porta de sua sala foi aberta:



- Harry! Harry! Você não sabe que horas são? - era Percy Weasley, seu assistente.



- Uma e quatro, Percy. Por quê?



Percy Weasley tinha se tornado seu assistente depois que ele mesmo tinha perdido o cargo de Ministro para Harry.



Na época da escolha todos concordaram que Percy era mais responsável, mais trabalhador, mais...bem...mais certo para o cargo. Mas no fim, foi a fama de Harry que venceu, por mais que ele próprio odiasse admitir.



Será que Percy ressentia isso? Será que ele invejava o eleito ministro? Harry não sabia. Se Percy sentia qualquer desses sentimentos era ótimo em esconde-los. Ele era um exemplo de empregado, um exemplo de bom homem e um ótimo redator de discursos. Apesar de continuar um pouco irritante.



- Por que? Porque você tem um almoço marcado para as uma!



- Eu tenho?



- Tem!



Harry não se lembrava disso...E não estava nem um pouco interessado em parar o trabalho que estava fazendo.



- Marque para outro dia. Estou ocupado.



- Mas é importantíssimo! Muito mais importante que a lei para medida das bordas dos caldeirões que você está lendo!



"Mais importante que as bordas?!". Mais importante que as bordas para Percy só o apocalipse!



- Você sabe o quanto à China está tendo problemas com os dragões deles, não? - continuou o ruivo.



- Claro...Muitos bruxos têm matado dragões e vendido sua pele para o mercado de magia negra inglês...



- Pois então! O Ministério da Magia chinês enviou o chefe do departamento de Criaturas de lá para discutir uma forma de acabar com o contrabando! E se você não for nesse almoço o ministro Ju-Ling ficará ofendido, certamente...E só Merlin sabe como nossas relações com a China já são conturbadas o suficiente.



- Certo, Percy...Mas eu realmente tenho que terminar isso e não estou com fome o suficiente para encarar um chinês gordinho de bigode.



Percy não riu...Ele não era um apreciador de piadas, afinal de contas:



- Marque para outro dia, ok? - continuou Harry, mais enfático.



- Certo então...Vou avisar a srta.Chang.



Harry levou um susto ao ouvir o nome:



- Chang? Cho Chang?



Percy abriu um sorriso, satisfeito com o efeito que suas palavras tinham feito:



- Sim...Cho Chang...Você conhece ela? Ah bem...Vou indo então.



Percy deu as costas para ele e foi em direção à porta, lentamente:



- Percy, espera! Mudei de idéia.



O assistente ruivo se virou, sorrindo:



- Ela está no pub Pomo Sem Asa, aqui está o endereço.



Percy lhe passou um papel e saiu da sala. Harry olhou para o endereço por algum tempo.



De repente...Ele sentia uma fome enorme.





***






Rony observava o campo vazio, com o rosto fixado no nada. Estava frio e um vento gelado cortava sua face, mas ele não parecia se importar muito.



Era uma sombra na arquibancada. Uma sombra que Hermione identificou. Ela foi até ele passando pelos bancos vazios da torcida.



Ele não pareceu notar que ela tinha se sentado ao seu lado. Continuou em silêncio como uma estátua.



Hermione olhou para ele, triste. Sabia que ele estava se com o coração partido, sabia que ele sentia uma dor enorme...E isso também lhe machucava.



Ele ainda estava com a mesma roupa que tinha usado na festa da noite anterior...Provavelmente não tinha dormido...Nem comido.



- Rony...? - ela perguntou, cheia de preocupação.



Ele se virou, percebendo finalmente a presença dela:



- Hermione...O que você está...?



- Gina contou sobre Lilá. - ela interrompeu - Eu tinha que fazer alguma coisa. Sinto muito, Rony.



Ele não respondeu...Voltou a olhar o campo de Quadribol, apenas depois de um tempo em silêncio falou secamente:



- Acabou. Não vai ter mais casamento.



O modo como ele disse aquelas palavras assustou Hermione. Ele estava sério, mas não demonstrava tristeza. Apenas certeza:



- Vou devolver o terno que Harry me emprestou, não se preocupe.



- Rony! Que importa o terno?!



- Nada...Pelo menos não mais.



Eles estavam em silêncio mais uma vez. Hermione estava impotente...Não sabia o que fazer...Lá estava ele, sofrendo...Como um bloco de gelo, distante dela. Mas ela não podia deixar que ele sofresse sozinho...



Hermione pegou a mão dele, estava gelada. Rony se virou para ela, surpreso:



- Eu estou aqui, Rony. Por favor, fale comigo. Me deixe ajudar.



Ele estava mais uma vez olhando para ela com olhos que penetravam através de sua alma, e mais uma vez Hermione sentiu que só existiam os dois no mundo. Mais uma vez ele fez o sangue dela gelar. Rony finalmente abaixou o rosto:



- Não tem muito que falar, Hermione. Eu perdi tudo, perdi meu dinheiro, perdi minha noiva...Em resumo, é isso.



Novamente o tom era frio, mas não melancólico. Parecia que ele tinha desistido...Aceitado o que tinha acontecido:



- Mas por que ela cancelou o casamento, Rony? - perguntou Hermione, mesmo já suspeitando que havia relação com a carreira acabada.



Ele deu os ombros:



- Porque ela não me amava? Porque eu não era interessante o suficiente? Porque ela tinha necessidades e eu não tinha mais dinheiro para satisfaze-las? Quem sabe?



- Isso é horrível, Rony! Eu sinto tanto! Nunca imaginei que Lilá...



- Não minta, Hermione. Você imaginava...Todo mundo já imaginava que isso ia acontecer...Menos eu.



Mais uma vez, ficaram em silêncio. Era verdade, Hermione tinha duvidado que Lilá amava Rony mais do que amava o dinheiro dele quando os dois anunciaram o noivado, mas não queria atrapalhar a felicidade dele. E não tinha sido a única. Rony continuou a falar em uma voz baixa, agora em um tom melancólico:



- O que engraçado...É que...Eu não me importo mais. Quando ela falou que tinha acabado...Eu surtei...Acho que quebrei alguns ossos da mão na parede do corredor dela - ele riu, mostrando o punho roxo - Mas depois...Nada. Acho que cansei.



- Cansou...?



- Cansei de tentar. Cansei de tentar fazer tudo dar certo. Toda a minha vida eu passei tentando sair da sombra de alguém...Tentando superar alguma expectativa...Tentando atingir um limite invisível que eu mesmo criei. Cansei de tentar ter uma vida perfeita.



Hermione não sabia o que falar, apenas apertou a mão dele com mais força, lentamente ela estava ficando mais quente:



- E daí que eu não vou casar com uma mulher que não me ama? E daí que eu não tenho mais emprego? E daí que eu sou pobre? E daí que os dois meus...



Ele parou. O coração de Hermione disparou. Rony largou devagar a mão dela.



Foram minutos de silêncio desta vez. Ao longe um faxineiro limpava uma das arquibancadas do lado oposto do campo. O vento estava cada vez mais gelado, Hermione colocou as mãos no ombro, procurando se aquecer. Não tinha colocado nada mais que uma blusa de mangas longas e calças jeans. Na pressa tinha se esquecido da capa bruxa.



Rony percebeu o movimento:



- Você deve estar congelando! Põe o meu casaco - ele tirou o casaco do terno e colocou em cima dos ombros dela. - Está melhor assim?



- Sim, brigada. - agradeceu Hermione abrindo um pequeno sorriso.



- Eu costumava vir aqui algumas horas antes de uma partida começar...Para tentar relaxar. E ainda funciona... - ele se virou para Hermione, aqueles olhos verdes fixando-se no rosto dela - Como você me achou aqui?



Hermione fitou os olhos dele e acabou se esquecendo de responder.Os pensamentos da noite anterior voltaram a assombrar sua mente. Lá estava ele, a olhando. E ao fazer isso tudo que ela queria fazer era cair em seus braços e ficar ali para sempre.



- Hermione? - a voz dele a trouxe de volta.



- Erm...Desculpa, o que você perguntou?



Suas bochechas ficaram rubras...O que ela era? Uma adolescente? "Se recomponha Hermione"



- Perguntei como você me achou aqui.



- Aah...Foi fácil....Todos os outros lugares que você costuma visitar normalmente têm sempre alguém conhecido...Exceto estádios que estão vazios...Você ama quadribol e pela lógica você estava querendo ficar sozinho. Já que só existem dois estádios fixos de Quadribol foi fácil: você só viria para este, o do Canhões. - ela respondeu falando muito rápido e depois buscando fôlego.



Rony riu e bateu palmas:



- Bravo, bravo! Hermione...Você continua a mesma!



- Suponho que sim, de certo modo. - disse ela sorrindo.



Ele deu um grande bocejo e se espreguiçou:



- Você não tem que ir trabalhar não?



Hermione levantou uma sobrancelha para o comentário..."Que audácia...Eu aqui querendo ajudar e ele fala isso?"



- Você está me mandando embora? - ela falou em um tom de irritação óbvio.



Ele respondeu rápido querendo consertar o erro:



- Não, não claro que não...Eu quero...Eu preciso que você fique -- Ele se assustou com as próprias palavras e rapidamente completou engasgando - Quer dizer...Se você quiser ir...Não tem problema...Eu só estava curioso em saber do seu trabalho, só isso.



- Eu faltei no trabalho.



- Por mim...? - ele disse surpreso.



- Mais ou me...Não! - ela respondeu rapidamente. - Você se acha muito, Ronald Weasley! Acontece que eu não estava disposta de manhã...E foi isso.



Ela esperava que ele respondesse bravo e começasse uma briga, mas ao invés disso ele simplesmente perguntou, genuinamente preocupado:



- Mas você está bem agora, não está? O que houve? Foi a festa de ontem...Olha eu não queria ter falado aquilo...



- Não tem nada a ver com o que você falou, Rony. E eu estou bem, agora. Não precisa ficar dando uma de irmão protetor, ok?







***






"Irmão...protetor? Irmão? Irmão?"



Rony olhava para Hermione incrédulo.



Irmão? Ele? Ele irmão dela? Ela irmã dele? Mas isso era um insulto...Mais que um insulto era...era...um absurdo! Ele não era irmão dela...Ele era mais que isso...Pelo menos...Deveria ser?



- Eu não estou dando uma de irmão coisa nenhuma...Eu já tenho uma irmã muito...muito boa, muito obrigado! Muito melhor que você! E só perguntei para ser gentil...Você vem atrapalhar...Vem acabar com a minha paz e ainda por cima me insulta?



O que ele tinha acabado de falar?! Nem ele não podia acreditar! "O que você fez, Ronald Weasley?"







***




Hermione não podia acreditar no que ele tinha acabado de falar! O que ela tinha falado de errado...? Qual era o problema dele ser irmão dela?



- Ah desculpa se ser considerada sua irmã é um insulto! E desculpa por ter vindo te atrapalhar! Ai que raiva! Nem sei mais por que vim aqui!



- Nem eu!



- Ugh! Você é insuportável! Eu vou te deixar em paz, seu idiota!



- Ótimo!



- Perfeito!



Ela se levantou do banco e começou a descer a arquibancada. Rony continuou parado. Como ela tinha sido idiota de acreditar que ele não passava de um moleque imaturo...Ela se sentia agora uma doida por sequer pensar nele. Imagine, ficar toda derretida só porque ele olhava para ela!



Depois de tudo que ela tinha feito por ele...Ele a tratava como um incomodo!



Ela exigia respeito...Ela era Hermione Gran...



Hermione parou de andar. Estava sendo ridícula! Os dois estavam agindo como duas crianças...Brigando feito como brigavam em Hogwarts!



De repente Hermione não se conteve e abriu um sorriso. Nunca tinha imaginado que ia achar algo assim: mas sentia falta daquelas brigas!



De repente sentiu a mão de Rony em seu ombro:



- Hermione...Não vai embora...Eu fui um idiota.



Ela não se virou para ele, mas o sorriso só aumentou:



- Não, Rony, você não foi...Você um idiota - falou em um tom semi-sério.



Ela girou o corpo e olhou para ele rindo, Rony tinha a sobrancelha levantada:



- Qual a graça?



- Isso tudo...Essa briga idiota. Parece que estávamos de volta em Hogwarts.



Rony continuou sem entender a piada:



- E...isso é...bom?



- É! É claro que é!



- Então você está dizendo que brigar é...bom?



Hermione parou para pensar um pouco...Mas respondeu depois com certeza:



- É melhor do que não brigar e fugir.



Rony continuava sério e quando falou de novo tinha novamente aquele tom preocupado:



- O que está acontecendo com você, Hermione? Agora é a sua vez de contar comigo. Eu quero ajudar, sabe!



- Bem, eu dispenso a sua ajuda, Rony! E além disso não há nada de errado comigo! - ela respondeu séria.



Ela tinha se tornado uma ótima mentirosa, no entanto...Mentir para Rony tinha sido sempre difícil. Havia algo nele, ou talvez nos dois, que parecia criar algum tipo de entendimento silencioso. O que, para Hermione, não possuía lógica. Afinal os dois não podiam ser mais opostos.



Ele tinha permanecido em silêncio apenas olhando para ela. E novamente ela sentiu perdida..."Malditos olhares!"



- Eu sei que tem algo de errado, Hermione. Não minta, de novo, para mim. Eu sou seu amigo e mereço saber o que está acontecendo!



- Engraçado...Eu sou sua amiga...mas no entanto você não me conta os seus problemas! Por que eu deveria contar os meus? Se eu tivesse algum, é claro!



- Do que você está falando?



- Eu sei que você perdeu o emprego no Puddlemore, Rony!



Ele não mostrou qualquer reação de surpresa:



- Eu não quis te contar frente a frente, porque...Porque eu não quis, ok? Harry te contou, não foi? Qual o problema!?



- O problema é que eu tive que ouvir da boca dos outros, Rony! Esse é o problema!



- Harry não qualquer um, Herm! Eu achei que ele ia te contar!



Uma risada amarga saiu da boca de Hermione sem querer:



- Você supõe demais, Rony! Ele não me contou nada, só depois que eu descobri que algo estava errado e depois de pressionar que ele falou alguma coisa! Harry acha que eu só sou um manequim em uma vitrine, Rony! Ele acha que eu não preciso de mais nada a não ser trabalhar e ser sua esposa! Se eu não grito com ele, ele nem sabe que eu existo! Ah...espera isso não é verdade! Ele me nota quando convém para ele! Quando tem uma festa para ir...Um diplomata para impressionar...Eu não passo de um troféu para ele, Rony! Um troféu! Eu não existo para ele...



Ela tinha perdido totalmente o controle. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela tinha as mãos no rosto.



Se sentia estúpida...Idiota...Por deixar escapar o que segurava tanto tempo! Como podia ter feito isso? O que Harry ia dizer? O que todos iam pensar agora? O que Rony iria pensar agora?



A voz de Rony soou em seus ouvidos como um chamado distante mas mesmo assim Hermione continuou a deixar lágrimas escorrerem:



- Eu sinto muito, Hermione...Eu não sabia...Eu não tinha idéia...Sinto muito.



Ele parecia tão perdido e triste que ela não pode fazer nada a não ser tirar as mãos do rosto e ao fazer isso percebeu que ele estava perto dela...Muito perto. Centímetros.



Ela ficou estática...Gelada. Ainda soluçava fortemente mas o choro tinha sido interrompido graças à proximidade dele:



- Eu sinto muito, Hermione... - ele repetiu, sem saber o que mais fazer.



Então Hermione não se agüentou e caiu em seus braços, voltando a chorar com o rosto molhado encostado no peito dele.



Ela então se deixou levar...Nunca se sentia tão cansada...Toda a mágoa...Toda a tristeza...Tudo que tinha passado e escondido estava caindo com aquelas lágrimas salgadas.



Ela sentiu Rony gentilmente passar sua mão pelos cabelos dela. Ao sentir seu toque ela se sentiu segura:



- Vai ficar tudo bem, Herm. Pode chorar...Chore o quanto você precisar.



E ela chorou.







***






- Ele não me ama mais... - ela murmurou entre soluços. - E eu...eu...não sei...



Rony continuava passar a mão em seu cabelo, a confortando. Não sabia mais o que fazer. Estava indefeso...Estava surpreso...Estava chocado...Estava enfurecido...Mas mais que tudo estava sofrendo em ver Hermione chorando.



Ele queria conforta-la de qualquer modo que pudesse...Mas nenhuma palavra sábia, nenhum conselho perfeito ou frase otimista lhe vinham a mente. Não sabia o que fazer. Não sabia o que falar. Só podia segura-la o mais forte que podia.



Ela continuava a murmurar entre o choro:



- Por que ele não me ama mais, Rony? Será que ele me amou? Eu me sinto tão sozinha...É minha culpa? Tudo isso é minha culpa...Eu devia ter tentando mais...Devia ter...



Ele não podia ouvir mais. A soltou do abraço, levantou seu queixo e olhou para os olhos castanhos dela:



- Hermione, não fale assim...Não foi sua culpa...Você é a pessoa mais maravilhosa e mais inteligente da face da Terra...Se Harry não consegue ver isso...É culpa dele...Ele que é cego. É impossível não te amar.



Ele sentiu uma dor incrível no peito ao falar as ultimas palavras. Ele ainda a amava, ele sabia. Tinha tentando esconder, tinha tentado esquecer...Mas ainda a amava.Nem Harry, nem ninguém poderiam mudar isso.



Lentamente ele se aproximou de seu rosto cheio de lágrimas. Podia sentir sua respiração, podia sentir o lábio dela de tão perto que estava. Sem saber o que estava fazendo ele se aproximou cada vez mais, o coração em ritmo acelerado.



Seus lábios estavam quase se tocando.



Mas ele não teve coragem.



Virou seu rosto e beijou sua bochecha...O seu simples toque fez Hermione estremecer...E ele pode sentir o gosto salgado de suas lágrimas.



Ela olhou para ele de volta, lágrimas correndo livremente pelo seu rosto lindo, com uma expressão de surpresa:



- Rony...



Ele não deixou ela terminar e a abraçou de novo:



- Não se preocupe, Herm...Vai ficar tudo bem, ouviu? Tudo bem. Eu estou aqui. Vai dar tudo certo...



Mas daria?







***






O pub Pomo Sem Asa ficava em um pequeno beco onde alguns comerciantes de artigos raros bruxos resolveram se estabelecer, Harry mesmo tinha liberado-os para fazerem isso e agora a área estava sob proteção de feitiços para que trouxas não se aproximassem.



Era um local que começava a receber muitos bruxos, aqueles que tinham mais dinheiro para gastar.



Harry entrou no pub. Havia várias mesas com bruxos conversando e almoçando. O bar também estava lotado.



Por que ele estava lá? Curiosidade...Pura curiosidade. Queria saber como estava Cho Chang, a sua primeira namorada...Se é que se pode chamar ela de namorada...Harry riu ao lembrar como tinha sido o "namoro". Um beijo molhado, um encontro fajuto e uma briga por causa de uma dedo-duro. Depois daquilo só falou com Cho muito tempo depois e havia anos que não a via.



Curiosidade matava gatos, mas ele não era um gato. E Bichento ainda estava bem vivo mesmo depois de anos se metendo onde não devia. Portanto, qual seria o mal de encontro-la e ainda ao mesmo tempo resolver uma questão diplomática em um só almoço?



Avistou uma mesa no fundo do pub, onde apenas uma mulher se sentava de pernas cruzadas. De longe ele já pôde identifica-la como Chang. Cabelos pretos cumpridos e retos, pernas longas...É...Pernas longas. Estava linda...Continuava jovem e atraente..."E você continua casado, Harry Potter"



Se aproximou e foi recebido com um sorriso:



- Olá, Harry. Como vai?



- Bem...Bem...Feliz em não encontrar um chinês gordinho e carrancudo.



Ela gostava de piadas, ao contrário de Percy, então riu:



- Obrigada pelo elogio...Sente.



Era incrível como ela não demonstrava nenhum tipo de nervosismo, era como se eles não tivessem nenhum passado juntos (por mais curto que tivesse sido). Mas então ele percebeu um anel em seu dedo...Estava tudo explicado, ela estava noiva. Harry se sentou e pediu uma cerveja amanteigada:



- Faz muito tempo que não nos vemos, não é verdade, Harry?



- É...Muito tempo...Como você vai indo?



- Bem. Bem. Feliz em ver você. - disse sorrindo.



- Bom ver você também...Então vamos começar a acabar com uns contrabandistas?



- Trabalho, trabalho...Você só pensa nisso? Vamos almoçar, e aí...Conversaremos sobre trabalho.



E assim eles começaram a almoçar. Harry não tinha fome então comeu pouco. A conversa continuou animada e os assuntos começaram a variar:



- Quer dizer que você casou mesmo com Hermione Granger! - ela disse rindo aparentando surpresa. - Quando me disseram lá em Xangai achei que era só fofoca! Nossa...Hermione Granger!



Harry riu:



- Por que a surpresa?



- Ah bem...É só que eu nunca imaginei...



- Não? Todos sempre dizem: "Que perfeito! Sempre soube que vocês dois iam acabar juntos, Harry!" Acho que você é a primeira a ficar surpresa!



- Sou? Talvez porque...- ela fez uma pausa para pensar melhor - Talvez porque eu já...Bem...Tive uma queda por você.



O tom da voz dela ficou triste e instintivamente Harry temeu que ela começasse a chorar...Devido ao histórico dela, sabem...Mas felizmente ela apenas continuou séria:



- E fiquei olhando muito bem Hermione...- dessa vez ela riu - Para ver se ela era uma oponente.



- E ela era? - perguntou Harry um pouco apreensivo..."Mas por que?".



- Engraçado...Ela não me pareceu nem um pouco uma ameaça...Sempre achei que ela gostava do seu amigo, Rony! Imagine! Ele! - ela riu alto.



Por algum motivo que nem ele mesmo sabia, Harry não gostou muito do que tinha ouvido e ficou sério.



- Mas não que isso signifique muita coisa sabe? Eu estava confusa com o...Cedrico...E nunca fui muito boa em ler as pessoas...Eu mesma sou um caso problemático... - completou rapidamente Cho percebendo a seriedade de Harry.



- Não, tudo bem...Só foi depois de muito tempo que nos apaixonamos mesmo. - ele falou meio seco...Estava na hora de mudar de assunto - E você...Me conte sobre esse anel aí!



Cho olhou para o dedo onde havia um anel com um diamante e deu um sorriso de satisfação:



- Você notou!



- E dá para não notar? - ele riu - É enorme! Quem te deu?



- Ninguém. - ela respondeu ainda sorrindo.



- Como ninguém?



- Eu comprei hoje mesmo.



- Você...?



- É. Queria...Te deixar curioso. - ela continuava de sorriso aberto.



Aquilo estava se tornando cada vez mais estranho...Ou talvez interessante? Cho tinha conseguido...Harry estava curioso:



- Sabe...Eu acho que nunca consegui esquecer você direito, Harry.



"Ops...Harry você se meteu numa fria...Hora de ir embora!"



- Eu sei que você deve estar me achando uma ridícula...Mas eu não tenho mais dezesseis anos...



Ela chegou perto dele... Tão perto que chegou até seu ouvido e sussurrou:



- E agora tenho muito mais experiência.



Harry sentiu um arrepio ao sentir o rosto dela tão próximo ao seu. O que em nome de Merlin ela estava querendo fazer?!



- Ahrm...Erm...Legal...hrm...para você - foi o máximo que ele conseguiu falar.



Ela soltou uma risada com a voz melodiosa que tinha e continuou sussurrando em seu ouvido:



- Continua articulado como sempre...



Porém, de repente ela se afastou e voltou a se sentar no outro lado da mesa, ainda sorrindo:



- Podemos... - Harry tinha um nó na garganta - Podemos pensar em trabalho agora?



- Claro - sua voz era suave e sensual.



Harry tentou se recompor:



- Então...Leis contra o contrabando já existem em seu país...Mas a questão é... - mas ele foi interrompido...Algo estava raspando lentamente em suas pernas - O que..?



Cho estava passando sua perna nas dele! Ele levantou rápido da mesa, totalmente assustado:



- O que em nome de Merlin você pensa que está fazendo?! Você está doida?



Ele precisava de uma ducha fria...E rápido.



- O que eu quero, Harry...O que eu quero é acabar com essa coisa...essa necessidade!



- Que necessidade?!



- Desde que Hogwarts terminou...Desde que você se casou! Eu sinto que ainda tem algo que precisa ser resolvido entre nós!



- Não tem não! Nós terminamos, e pronto!



- Harry, você não percebe? Nós não terminamos você só parou de falar comigo! Não é assim que se termina um namoro!



- Não seja por isso: Cho, nós terminamos...Não está dando certo, não é sua culpa é minha, não quero estragar nossa amizade e etc etc!E eu sou casado, caramba!



Finalmente ela pareceu cair em si. Ela abaixou a cabeça envergonhada e assim veio o choro...Já era de se esperar. Harry ficou com pena o suficiente para se aproximar dela e colocar uma mão no seu ombro:



- Como eu sou idiota! Que vergonha! Me desculpe, Harry...Desculpa! Desculpa! Não sei o que deu em mim!



Ele se aproximou mais. Ela não parava de chorar e tinha as mãos no rosto:



- Ai que vergonha! Só eu mesma para fazer uma coisa dessas! Eu sou uma inútil! Um lixo!



Ele colocou a mão no queixo dela, levantando o rosto da chinesa:



- Ei...Não fala assim...Você só estava confusa...Não se preocupe.



E ele beijou sua bochecha...Grande erro...Sentiu o salgado das lágrimas dela e abriu um sorriso:



- Isso me lembra uma coisa... - ele falou baixinho



- O que?



- O meu primeiro beijo. Foi com você, Cho. Lembra daquele dia depois da aula da Armada do Dumbledore?



- Você...nunca tinha beijado antes? - ela falou com uma voz fraca.



- Não. Foi meu primeiro beijo.



Ela olhou nos olhos dele, triste:



- Então você pode me dar o meu último beijo? - ela perguntou com uma voz melodiosa e suplicante.



Harry olhou muito para o rosto bonito cheio de lágrimas de Cho. Se aproximou devagar e beijou-lhe...



Na bochecha.



Nota: Uuuhhh que capítulo mais longo gente do céu! Me empolguei! E para aqueles que esperavam traições: Hehehehe. Não houve nenhuma...ainda. O título do capítulo (caso não tenha dado para perceber) faz referência aos dois beijos que poderiam ter acontecido...mas não aconteceram. Até a próxima e muito muito obrigada por todos os comentários!

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