Vendo o tempo abrir







Pra que falar?

Se você não quer me ouvir.

Fugir agora não resolve nada.



Descalça e sem deixar que seus passos fizessem um ruído sequer, a mulher atravessou seu quarto, sem ao menos acender a luz.

Por quê? Por que uma amizade tinha acabado, tão facilmente, por tão pouco?

Idiota, era isso que ele era, um grande idiota.

Ela caminhou até o banheiro, onde se despiu com rapidez. Girou algumas vezes a torneira do chuveiro, até ter certeza que a água que caía não estava mais do que morna.

Então debaixo do chuveiro, deixou a água cair lentamente pelo seu rosto, aos seus pés, a água levava embora a grande quantidade de sangue que escorria do corte em sua perna.

As memórias ainda eram vivas em sua mente.

O dia havia sido coberto por nuvens escuras, e para a morena estava mais do que literalmente tempestuoso.

Lágrimas deixaram seu rosto se misturando a água morna que lavava seu corpo, levando junto, parte da dor que a consumia.

Não é a dor, são as memórias... ”, pensou, “as memórias consomem...

Seus pensamentos eram confusos e incoerentes. “Por quê” ?

Estendeu a mão e pegou o sabonete, começou a se lavar, tirando toda a sujeira, o sangue, tudo que lembrava as últimas horas e estava impregnado em seu corpo.

As memórias eram as únicas coisas que pareciam não querer escorrer junto à água.

Voldemort havia sido derrotado, mas e daí?

Naquele momento, de nada adiantava.

Quando essa guerra acabar, você vai ser muito feliz... Eu prometo ”.

Essas haviam sido as palavras dele, as palavras que ele havia dito tocando-lhe a face, com uma voz cheia de carinho, talvez amor, depois de proporcionar a ela, o melhor beijo de sua vida.

Isso fora logo pela manhã, sem imaginar que a noite, esse lindo sonho, pudesse se tornar um pesadelo.





Mas não vou chorar

Se você quiser partir

Às vezes a distância ajuda

E essa tempestade um dia vai passar



[FLASHBACK ON]



Luzes brilhavam intensamente dentro daquela floresta imersa no breu.

Gritos eram ouvidos por todos os cantos, ao mesmo tempo em que homens encapuzados e aurores trocavam rajadas de luz mortais entre si.

Aquela era a batalha final e até o momento, os comensais pareciam se livrar dos inimigos com facilidade.

No lado mais escuro e desabitado daquela densa floresta, dois jovens corriam entre a folhagem úmida das árvores.

A batalha que já durava algumas horas acabara separando aqueles dois adolescentes do resto do grupo, e agora, eles fugiam de mãos dadas do maior perigo daquela guerra.

Hermione sabia que o melhor amigo deveria estar, no mínimo, furioso consigo. Ela, na verdade, não deveria ter aparecido por lá. Ele pedira, dizendo que ela não deveria correr risco. Ela ouvira o moreno pedir encarecido para que não fosse lá, mas o que sentia por ele impedia que cumprisse tal promessa.

Prometera não estar ali no mesmo dia que ouvira o moreno discursar seus sentimentos. Ainda podia se lembrar de como aquele dia fora o mais feliz da sua vida, sem saber que este talvez fosse ser o mais doloroso.

- Você... Você não devia ter vindo! – ele sussurrou com raiva, ao empurrá-la para dentro de um discreto buraco na base de uma árvore de tronco grosso, onde Voldemort não os encontraria.

- Francamente Harry, você acha que eu ia ficar esperando... – ele lhe fez um sinal aborrecido e ela baixou o tom – você acha que eu ia ficar esperando sentada enquanto Voldemort poderia estar te matando?

- Não achei, mas gostaria. – retrucou. – Você tem noção do risco que está correndo?

- Com certeza é menor que o que você está correndo.

Harry mexeu-se desconfortável, encostando-se ao que parecia ser a raiz da árvore.

- Você não deveria ter vindo... Se... Se alguma coisa acontecer com você, eu nunca vou me perdoar... Se você a menos tivesse ficado a salvo na Mansão Black, eu estaria com a consciência tranqüila.

- Mas eu não!

- Hermione, porque você tem sempre que ser tão teimosa? – indagou irritado, cruzando os braços e olhando-a repreensivo.

- Eu? Teimosa? Ora Harry, olhe-se no espelho.

O garoto não respondeu a provocação, apenas se calou, pensando em mais argumentos que pudessem convencê-la a ir embora dali.

Talvez... Bem, talvez se ele confessasse o que sentia... Ela, de fato, já sabia dos seus sentimentos, confessara-os a ela há poucas horas atrás, mas, talvez, dessa maneira ela pudesse entender o quanto seria doloroso perdê-la.

- Mione, você tem que ir embora, eu não suportaria te ver...

- Morrer? – ela arriscou, encarando-o com determinação. – Francamente Harry, quando você vai entender que eu estou disposta a morrer se isso for pra acabar com Voldemort.

- Não! – ele exclamou veemente. – Será que você não entende que eu não posso te perder? Hermione, eu gosto demais de você pra te perder, você sabe disso.

Ela ficou estática, sem reação.

O ar que já entrava com dificuldade em seu pulmão, agora pareceu se esgotar. Ela já ouvira uma declaração daquela antes, inclusive, uma muito mais bonita, mas achava que fora apenas uma tentativa de mantê-la distante.

- Harry... – disse sem encará-lo – Acontece que eu também não posso te perder!

Ele tocou seu rosto com carinho, como se ela fosse de um cristal frágil prestes a se quebrar. A proximidade entre eles parecia diminuir consideravelmente.




Só quero te lembrar

De quando a gente andava nas estrelas

Nas horas lindas que passamos juntos

A gente só queria amar e amar

E hoje eu tenho certeza

A nossa história não termina agora

Pois essa tempestade um dia vai acabar



Um estrondo foi ouvido atrás da árvore.

Os dois jovens se afastaram bruscamente.

- Eu disse que você não devia ter vindo! – ele exclamou novamente, preocupado, passando a mão pelos cabelos.

- Não é você quem decide isso. – ela esbravejou, cansada daquela discussão.

Ele a encarou e, pela primeira vez, ela pode ver os olhos dele brilharem em um verde de raiva.

- Você só vai atrapalhar aqui. – disse friamente.

Ela não segurou mais nenhuma lágrima, apenas se levantou e saiu do esconderijo.

Harry, por impulso, se levantou e correu atrás dela.

Lá fora a batalha havia chegado naquela parte da floresta e agora os dois corriam, um atrás do outro, em meio a rajadas de raios verdes, vermelhos e azuis que atravessavam o lugar.

- Hermione, não seja idiota, volte aqui!

- Não, se eu não sou útil, vá procurar alguém que seja!

- DIFFINDO – alguém bradou logo a frente dos dois.

O feitiço atingiu Hermione e um profundo corte se abriu em sua perna. A garota não pôde mais sustentar o corpo e acabou caindo e rolando no chão.

Voldemort estava ali na frente, apontando a varinha para ela de maneira ameaçadora.

- Olha só, a sangue-ruim mais inteligente de Hogwarts... – disse com a voz carregada de malícia. – Dumbledore tinha você, sua sangue-ruim, como uma de suas melhores alunas.

- Fique longe dela! – gritou Harry, imóvel logo atrás dela.

- Ora Potter, vejo que conseguiu arranjar uma namoradinha antes de morrer!

- Seu verme inútil... Você fala como se também não fosse mestiço, não é? – provocou Harry.

Voldemort pareceu perder a calma fria com a qual tratava Harry e Hermione, agora os olhava com fúria.

Ele levantou a varinha na direção de Harry.

- Avada Kedavra!




Quando a chuva passar

Quando o tempo abrir

Abra a janela e veja: eu sou o sol

Eu sou céu e mar

Eu sou seu e fim

E o meu amor é imensidão



O raio verde disparou velozmente em direção ao rapaz. Agora uma chuva forte começava a cair.

Um grito agudo de horror deixou a garganta de Hermione.

A garota girou no chão, chocando seus pés com os de Harry em uma habilidosa, porém improvisada, rasteira.

O garoto caiu no chão a tempo de escapar das rápidas faíscas verdes. Hermione tentou se levantar, mas a dor do corte praticamente imobilizou-a.

Voldemort parecia esbanjar ódio enquanto, agora, andava apressado até os dois jovens.

- Estupefaça! – gritou Hermione, tomada pelo desespero.

As faíscas vermelhas atingiram o bruxo e o arremessaram longe, dando tempo suficiente para Harry se levantar novamente.

Hermione tentou forçar a perna, queria continuar a luta, mas seu corpo parecia não ter a força necessária.

Deixou-se cair no chão, vendo somente um ultimo jogo de faíscas verdes brilhar no ar.




[FLASHBACK OFF]



Hermione enxaguou o cabelo. Deixou por mais alguns minutos a água cair na sua face e escorrer por todo seu corpo, depois fechou a torneira e saiu de baixo do chuveiro.

Uma brisa gelada tocou seu corpo, provocando um arrepio.

Ela enxugou os cabelos castanhos sem preocupação e nem pressa, depois envolveu seu corpo com a toalha.

Foi até o espelho do banheiro e encarou seu reflexo. Este não transmitia mais tristeza, nem nenhum outro sentimento ou emoção, estava vazio.

Abriu o armarinho debaixo da pia e tirou uma caixinha de madeira branca.

Logo o corte na perna estava tratado e também enfaixado, aquilo iria servir até procurar um médico no dia seguinte.

Dia seguinte... ” – pensou desanimada e isso te trouxe lembranças de algumas horas atrás. Ainda era difícil de imaginar que aquele era o mesmo dia em que beijara Harry, o mesmo dia em que brigara com ele e também o mesmo dia em que Voldemort fora derrotado.

Depois que você desmaiou, houve uma rápida e confusa troca que feitiços entre Harry e Voldemort, foi aí que Harry o aniquilou”, dissera Lupin, em resumo do que acontecera depois de seu desmaio.

Hermione voltou ao quarto e se trocou, fez menção de se deitar, mas a campainha tocou.





Só quero te lembrar

De quando a gente andava nas estrelas

Nas horas lindas que passamos juntos

A gente só queria amar e amar

E hoje eu tenho certeza

A nossa história não termina agora

Pois essa tempestade um dia vai acabar



Sentindo-se mais disposta, ela ajeitou-se rapidamente vendo o reflexo no espelho do quarto, não querendo que ninguém a achasse deprimida ou pálida, depois foi em direção à sala.

Passou antes pela pequena cozinha, onde pegou um copo d’água e ouviu a campainha soar mais uma vez, dessa vez várias vezes seguidas, como se a pessoa por detrás da porta estivesse com pressa.

Mas que droga, já vai... ”, pensou irritada.

Andou sem pressa até a sala, acendeu a luz e foi até o minúsculo hall de entrada. Sem pressa, abriu a porta da frente, enquanto tomava o ultimo gole de água.

No instante seguinte, porém, quase deixou o copo cair e se quebrar; Harry Potter a olhava em silêncio, todo molhado pela chuva que caia lá fora, com os olhos cheios de ansiedade.

- O que você está fazendo aqui?- ela perguntou secamente.

- Preciso conversar com você!

- Curioso, porque eu não tenho nada pra conversar com você!

Ela tentou fechar a porta, mas ele colocou o pé no vão, impedindo-a.

- Não seja teimosa... Vamos conversar.

- Porque não vai conversar com alguém que esteja em nível de duelar ao seu lado? – ela perguntou carregada de sarcasmo.

- Hermione, me desculpe? – implorou. – Você sabe que eu queria o seu bem...

- E eu o seu, Harry. – ela disse, não conseguindo manter a imagem forte e intransponível, deixando algumas lágrimas se formarem em seus olhos.

- Eu sei... Me desculpa...

- Tarde demais. – ela disse abrindo os braços e levantando as sobrancelhas.

Harry pegou o seu braço e colou seu corpo junto ao dela, seus lábios a apenas alguns centímetros de distância.

- Você não pode deixar tudo que aconteceu entre a gente acabar assim... – ele disse, carinhoso, enquanto colocava uma mecha castanha do cabelo dela atrás de sua orelha.

Hermione abaixou a cabeça, não podendo mais manter as lágrimas somente nos olhos.

- Sai daqui, Harry, por favor. – pediu com a voz embargada, ela, agora, já chorava sem vergonha.

- Eu não vou sair.

- Por favor, saia.

- Eu já disse que não vou sair.

A morena levantou os olhos, soltando-se dos braços dele.

- Então eu saio...

Antes que Harry pudesse sequer dizer “hã?”, Hermione já o havia contornado e saído da própria casa, andando até o meio da rua debaixo da chuva forte.

Harry bateu a porta do lugar ao sair atrás da morena.

- Me deixa em paz! – ela dizia alto, agora sua voz tentava superar o som da chuva.

O moreno a alcançou e pegou seu braço com força, virando-a para ele.

Hermione, estranhamente, sorria.

- Você se lembra? – perguntou sorridente, ainda deixando as lágrimas banharem seu rosto.

Harry teve uma visão perfeita dos traços finos da morena, a pele macia dela. Macia e branca, apenas corada na bochechas.

- Se eu me lembro? Do que?

- De quando a gente fugia pra torre de astronomia pra olhar as estrelas.

Ele abriu um sorriso branco e feliz no rosto.

- Lembro...

- Lembra de quando a gente saia sem o Rony, ia olhar o lago, e acabava tomando chuva?

Harry acariciou o rosto da morena, sorrindo. – Nunca vou me esquecer.

Agora, a chuva já era apenas um chuvisco, sem que os dois jovens tivessem notado a diferença.




Quando a chuva passar

Quando o tempo abrir

Abra a janela e veja: eu sou o sol

Eu sou céu e mar

Eu sou seu e fim

E o meu amor é imensidão



A morena deixou-se, finalmente, ser abraçada por ele.

- A gente vai poder se lembrar pra sempre... Agora, sem Voldemort.

- É... A gente vai...

Ela afastou o rosto do peito dele. Harry pôde ver um brilho forte no fundo daqueles lindos olhos castanhos.

- Eu te amo... – ela disse.

O moreno não respondeu, apenas a beijou.

Um beijo simples, suave, carinhoso, mas cheio de amor.

- Foi bom nós termos brigado... – ela disse sorrindo.

- Foi? – perguntou confuso.

- Foi sim...

No momento seguinte, foi Hermione quem tomou a iniciativa e o beijou.

O contraste do calor daquele beijo com o frio que o fraco chuvisco provocava, era simplesmente perfeito. Os lábios dela eram macios e quentes, fazendo Harry sentir-se nas nuvens.

- Serviu pra eu te lembrar de quando a gente andava sob as estrelas. – ela disse.

O moreno sorriu, recordando-se de todos aqueles maravilhosos momentos. Hermione, subitamente, olhou para cima, e ele acompanhou o olhar dela.

- A chuva passou... – ela comentou vagamente.

- É... E olha que fazia três dias que não parava de chover...

Hermione sorriu, depositando um selinho rápido nos lábios de Harry.

- Eu disse, não disse?

- O que?

- Que o tempo ia abrir...

- Hoje de manhã. – ele confirmou.

- Então...

- Você é um gênio... O meu gênio.

- Então, vamos entrar? – ela disse.

- Por quê?

- Porque agora não tem mais graça ficar aqui... Agora a chuva já passou.

Harry sorriu, beijando a namorada e a pegando no colo.

Caminhou até a casa dela e adentrou, fechando a porta com o pé.

Nesse momento, o céu estava limpo, cheio de lindas estrelas que pareciam ter um brilho especial naquela noite... A tempestade havia, finalmente, acabado.





Quando a chuva passar

Quando o tempo abrir

Abra a janela e veja: eu sou o sol

Eu sou céu e mar

Eu sou seu e fim

E o meu amor é imensidão







N/A. Obrigado à minha paciencia e criatividade, por me permitirem escrever a fic. Obrigado a nay, por betar a fic e à voc~e, por lerem.


N/A. Comentem e votem bastante, plz. ^^

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