MAIORIDADE




Era uma noite comum na Rua dos Alfeneiros, ou melhor, comum quando comparada ao clima que vinha fazendo a mais de um mês.
O tempo parecia simplesmente ter enlouquecido. Os dias eram secos e nublados e as noites eram demasiadamente escuras com um barulho de vento capaz de gelar a espinha até do trouxa mais corajoso que pudesse morar ali.

E não era só o clima que parecia ter mudado, as pessoas andavam desanimadas, frias e aparentemente absortas demais em seus pensamentos para poder perceber que nada era como deveria ser em pleno mês de julho. Em pleno verão.

Mas o motivo para toda essa animosidade não era mistério para os habitantes da casa de número quatro da Rua dos Alfeneiros. Isso porque há muitos anos moravam ali os únicos parentes vivos do garoto que sobreviveu.

Os Durley’s apesar de não falarem a respeito, imaginavam que tudo que andava acontecendo, deveria ter algo há ver com a anormalidade que divida o teto com eles todas as férias de verão. Anormalidade esta que na verdade era seu sobrinho.

Outrora pequeno, magricelo com óculos desajeitado e cabelo bagunçado, Harry Potter hoje era um rapaz muito diferente aos dezesseis anos. Maior que seus tios, longe de ser um rapaz atlético, mas demonstrava sinais de um homem bem alimentado e com um semblante forte e decidido de alguém que já acumulou mais experiência do que sua idade permitiria e a única coisa que remetia ao jovem Harry de antes, eram os cabelos negros e rebeldes que realçavam os seus olhos profundamente verdes.

Quando havia retornado de seu último ano letivo, um mês atrás, Tio Valter tinha ficado assustado com a mudança que havia se operado no rapaz no último ano. Não só fisicamente, mas também na atitude. Harry Potter não era mais um adolescente rebelde com temperamento explosivo e facilmente amedrontado pelos tios. Demonstrava sinais claros de amadurecimento, estava mais sério, compenetrado e não dava atenção as eventuais alfinetadas de seu primo Duda, ou sinais de desagrado as ordens de seu tio de faça isso, faça aquilo, o que era interpretado pelos Dursley como arrogância e falta de gratidão por tudo que haviam feito ao rapaz ao longo dos anos. Passava a maior parte do seu tempo no quarto e quando não estava lá, estava na sala da casa.

Tio Valter odiava saber que estava na lá, porque o comportamento do rapaz na sala era muito estranho. Certa vez podia jurar que vira a distância o sobrinho de joelhos com a cabeça enfiada em um fogo verde dentro da lareira. Mas quando voltou da cozinha, junto da esposa para qual havia corrido para chamar e brigar com o rapaz, Harry estava sentado ao lado de um fogo de cor normal queimando um pouco de lenha para diminuir o frio da noite.

Mas em poucos minutos tudo estaria acabado e com esse pensamento Valter Dursley sorriu com satisfação e se sentiu menos ameaçado pela presença do sobrinho não mais, tão pequeno.

Harry estava às portas de realizar dezessete anos e deixaria o convívio deles para partir para sempre. Assim esperava Tio Valter.

Ele havia tentado expulsar Harry de sua casa dois anos atrás, quando seu único filho Duda havia sido atacado por uma espécie de sangue suga de felicidade que tinha ido atrás de Harry, mas ai uma carta que gritava e cuspia fogo endereçada a sua esposa disse que Harry teria de ficar lá. Tio Valter estava certo que cada um destes elementos tinha um nome específico, mas ele fazia questão de não guardar nenhuma informação que dissesse respeito ao mundo e a gente com quem seu sobrinho se envolvia.

Foi então que um ano após disso e exatamente um ano atrás, recebeu a visita do diretor da escola de Harry, um velho alto e magro, com cabelos e barba branca longos, óculos de meia lua sob um nariz torto e vestindo uma capa preta e chapéu pontiagudo, que lhe deu a melhor notícia que poderia ter recebido nos dezesseis anos que foi obrigado a criar seu sobrinho: Harry Potter atingiria a maioridade bruxa aos dezessete anos e sendo assim não mais precisaria ficar sob o teto dos Dursley.

Só de imaginar a palavra “maioridade bruxa” Tio Valter já contorceu o rosto o que o deixava com mais cara de porco do que o habitual, mas isso era o de menos, pois em alguns minutos estaria livre do fardo chamado Harry Potter. Em alguns minutos o feitiço que havia sob a casa em que moravam e protegia o rapaz iria acabar (nova expressão de nojo por ter pensado em “feitiço”) e então poderia por seu sobrinho para fora e proteger sua esposa e filho, seja lá do que fosse que estivesse fazendo aquilo com o tempo lá fora e a forma como estava afetando as pessoas.

Valter Dursley estava estranhamente calmo e pensativo sentado na sua poltrona que ajeitou em frente ao relógio, enquanto Petúnia no sofá ao seu lado estava impaciente, tambolirando os dedos em cima de um livro sobre receitas de sobremesas. O motivo para tamanha agonia, pensou Tio Valter, no mínimo era por causa de seu filho Duda que estava fora de casa até agora:

- Sossegue Petúnia o garoto deve voltar em no máximo em uma hora!

- Mas está tão escuro lá fora. A rua está tão estranha ultimamente Valter. Você não percebeu também? Basta à gente entrar em casa que sente a diferença.

- Não percebi nada! ‘Se tem uma coisa em que Valter Dursley acreditava é que longe dos olhos, longe do coração. Logo, quanto mais fingisse não ver algo, mais ele acreditaria que o que o incomodava não estava ali e então, logo, tudo estava bem’. – E por que você está com este livro velho na mão se não vai cozinhar nem nada. Há anos não via esse livro de receitas seu. Achei que tivesse perdido.

E dito isso Tio Valter voltou a olhar para o relógio e continuou sentado pensativo. Tia Petúnia permanecia ao seu lado. Calada. Absorta em seus pensamentos. Batucando os dedos sob o livro de receitas de sobremesa, desgastado pelo tempo, que descansava em seu colo.

Enquanto isso, no andar de cima, sentado sob a mesinha que ficava de frente a janela de seu quarto e que dava para rua dos Alfeneiros, estava Harry Potter.

Olhando freneticamente para a escuridão, tentava ver alguma coisa e começou a imaginar que nem diversos patronos conjurados pudessem trazer um pouco de luz aquela imensidão negra.

Só uma coisa poderia justificar aquela escuridão e o comportamento das pessoas: Dementadores! Harry podia sentir eles a espreita e podia jurar ter visto uma ou duas vezes eles flutuando em um beco mais acima da Rua dos Alfeneiros.

Ele teve certeza disso no começo da noite quando teve de sair até o jardim para colocar o lixo para fora. Aquele frio que gela a alma. Aquela sensação de que tudo que há de bom dentro de você está esvaecendo. De que você nunca mais será feliz, estava impregnada no ar ao seu redor. Não era forte o suficiente para drenar suas forças, mas estava lá. E isso só poderia significar uma coisa. Havia Dementadores por perto e não deviam ser poucos, porque para que essa sensação estivesse assim no ar e eles estivessem fora de vista, só podia significar um pequeno exército deles.

Não foi necessário muito exercício mental para descobrir o que os Dementadores estavam fazendo ali naquele dia, afinal Harry já desconfiava que isso fosse acontecer desde sua primeira semana de volta a Rua dos Alfeneiros.

Não deveria ser muito difícil descobrir que Dumbledore havia posto um feitiço protetor sobre o lar de Harry, e agora que estava morto, apesar de saber que a Ordem da Fênix ainda resistia, Voldemort não os temia como à seu fundador e assim, uma vez descoberto a existência desse feitiço ao tentar invadir a casa antes, Voldemort deveria ter conhecimento o suficiente para saber que ele só seria válido enquanto Harry fosse um bruxo menor de idade o que deixaria de ser em menos de vinte minutos.

Harry tinha certeza de que Voldemort tentara lhe atacar logo na primeira semana de seu retorno ao lar dos Dursley. Tivera que sair com os tios para comprar roupas, uma novidade para Harry que sempre usava algo velho do primo, mas devido as grandes proporções que Duda vinha tomando nos últimos anos e devido Harry ter crescido desde sua ultima estada sendo maior que o primo agora, era ridículo demais, até mesmo para o conceito dos Dursley que seu repugnante sobrinho andasse vestido daquele jeito.

Ao retornarem do Shopping no centro de Londres, Harry percebeu logo de cara que algo estava errado. Quanto mais perto chegavam do número quatro, mas o ar estava ficando denso, e a sensação de tristeza ia dominando a todos no carro. Harry analisou cada um dos seus parentes dentro do carro para ver se davam sinais de terem percebido alguma coisa também e ao olhar Duda, percebeu que este reconhecia facilmente a sensação de estar na presença de um Dementador.

Duda suava frio, tremia e ficava girando a cabeça de um lado para o outro e queria falar alguma coisa, mas não conseguia. Harry não sabia se era porque estava paralisado de tanto medo pela amarga lembrança do que havia lhe acontecido há dois anos atrás, quando o Lorde das Trevas enviou dois Dementadores para capturar Harry e para infelicidade de Duda, este estava importunando o primo naquele exato momento, ou se era porque não queria aparentar ser o bebe chorão e mimado que era na frente de Harry.

A três casas dos Dursley, Harry pode ver pelo vidro a velha Sra. Figg, rodeada de gatos na janela de sua sala com olhar desesperado fazendo sinal para que Harry entrasse em casa o mais rápido possível. Atrás dela, Harry não tinha certeza, mas podia jurar que havia visto Olho Tonto Moody e Quim Shackelbolt.

O conjunto destes fatores já eram o suficiente para entender o que estava acontecendo, mas ao ficar em pé de frente a porta de casa, Harry teve a certeza do que se passara ali. A fechadura estava quente conforme Tio Valter amaldiçoou ao queimar a mão, efeito como Harry imaginou de um insistente “Alohomora” mal sucedido e provavelmente outros feitiços menos cordiais, mas foi àquela picada em sua testa, aquela dor aguda em sua cicatriz que lhe dava náuseas e vertigem, que lhe fez ter certeza que só podia significar uma coisa: O mal estava presente ali. Ou ao menos tinha estado a pouquíssimos minutos. Lorde Voldemort havia mais uma vez, tentando mata-lo.

Harry tirou a chave da mão do tio e protegendo sua mão com o uma das camisetas que comprara girou a maçaneta abrindo a porta e empurrou todos para dentro da casa já com a varinha em punho.

Ao ver aquilo nas mãos de Harry, Tio Valter parecera esquecer completamente da mão queimada e assumindo tons de púrpura muito conhecidos por Harry começou a esbravejar:

- O que é isso? Como você ousa queimar minha mão e nos empurrar para dentro de casa desta forma, seu pirralho mal agradecido. Acabamos de lhe comprar um monte de roupas e assim que você nos agradece?

Em seu íntimo Harry queria esbravejar com o tio e lembrar-lhe que quem pagou pelas roupas foi ele mesmo, já que desde que os tios descobriram que Harry havia herdado uma pequena fortuna em outro eu uma casa de seu padrinho, era obrigado a pagar até a manteiga que passavam em seu pão, mas o momento era tenso o suficiente para que Harry rendesse a emoção.

- Dementadores! ‘Harry se arrependeu em menos de um segundo de ter soltado essa palavra sem qualquer aviso’

- O QUÊ? Aqueles guardas nojentos, daquela prisão de lunáticos, daquele mundo de anormais em que você vive vieram atrás de você de novo? Dessa vez eu não vou permitir que eles ataquem minha família garoto. Se você não consegue ficar longe de encrenca, fora! Fora daqui!

- Valter! Por favor, não! ‘Tia Petúnia intercedia a seu favor, mas como Harry acreditava, deveria ser mais por medo de receber outro berrador do que por compaixão’

Então Petúnia virou-se para Harry que estranhou a reação da tia. Ela demonstrava claramente no seu olhar que estava assustada, mas o que causava estranheza a Harry é que novamente ela agia como se sentisse pena dele. Como se temesse pelo que estava por vir

– Eles estão aqui?

- Não sei dizer ao certo. Mas pelo tempo que está fazendo lá fora e pelo que estávamos sentindo no carro eu acredito que...

- COMO ASSIM? Como você sabe o que estávamos sentindo no carro? Você não pode usar magia fora da escola! É por isso que esses guardas estão aqui? Vieram te prender por ficar enfeitiçando pessoas de bem como....

- Assim como eu, é impossível que vocês não estivessem se sentindo tristes? Desolados? Sem esperança? ‘Disse Harry interrompendo a gritaria insana e inflamada do tio’ - Isso é o que um Dementador faz com a gente. Se tiver dúvidas perguntem ao Duda, eu tenho certeza de que ele vai garantir para vocês que é a mesma sensação de quando fomos atacados dois anos atrás. ‘Harry não podia acreditar que falava tão abertamente com os tios sobre magia. Que recorria a experiências que tinham juntos, como se realmente fossem uma família’.

Pela primeira vez desde que saíram do carro, os Dursley pareciam ter prestado atenção a Duda e foi então que perceberam que o garoto estava encharcado em suor e tremendo que nem vara verde.

Tia Petúnia como sempre correu para dar beijos e abraços ao filho que mais parecia um pitbull super-vitaminado de tanto exercícios que vinha fazendo nas aulas de luta que tinha na academia em que estudava, embora mantivesse claros sinais de uma pessoa gorda ainda.

Tio Valter olhou assustado para o filho que ao entender a pergunta que estava estampada no olhar do pai, respondeu balançando a cabeça lentamente para cima e para baixo, incapaz de pronunciar uma palavra se quer. Foi então que tio Valter diminui o tom de voz, como se quisesse evitar que os Dementadores o escutassem. Olhou para Harry com fúria e perguntou:

- Por que eles estão aqui de novo? O que você fez?

- Como vocês sabem Voldemort retornou.

- Aquele que explodiu os seus pais?

- É! ‘E nesse ponto Harry viu o quão controlado vinha se tornando desde seu último ano em Hogwarts, pois ouvir o tio falar de forma tão indiferente sobre as mortes de seus pais era extremamente irritante.

- Os Dementadores estão do lado dele e ele quer me matar.

- E como ele não pode fazer isso lá porque aquele velho maluco é o seu cão de guarda ele vem nos importunar aqui? Então trate de chamar aquele velho lunático o quanto antes. Não me importa se você vai precisar de um Ford Anglia voador, de uma chaminé, de vassoura, corujas, eu quero que ele te tire daqui o mais rápido possível e nunca mais quero você aqui, nos pondo em risco.

O plano inicial de Harry era não ter permanecido mais do que uma semana na casa dos tios, no entanto, agora, ao perceber a presença de Dementadores e possivelmente outros seguidores de Voldemort ao redor, se deu conta que involuntariamente havia transformado os tios e o primo em alvos para Voldemort e seus seguidores e embora não morresse de amores por eles, não seria justo deixa-los a própria sorte. Teria de contar-lhes a verdade, mesmo não querendo, e teria que os convencer de algo que Harry não poderia vê-los concordando nem sob tortura!

- Não posso chamar Dumbleodore!

- Por que não? ‘Disse Tio Valter com ar de quem suspeitava desta informação’

- Por que ele foi assassinado há quase duas semanas atrás!

Os piores temores de Harry pareciam de alguma forma terem se transferidos para os tios naquele momento, porque ambos ficaram calados por alguns segundos, mas foi Tia Petúnia que parecia ter recebido a maior parte do golpe, perdendo a força nas pernas até se sentar no sofá que estava a alguns passos de distância dela.

- Então não tem mais ninguém te protegendo? Só essa casa?

Harry não entendia se a pergunta era porque a tia estava com medo de perder a casa ou se estava com medo de ter de ficar com Harry para toda a vida, mas não conseguia parar de notar a total ausência de raiva e frustração nas palavras dela.

- Bom! Na verdade, pelo que pude perceber do carro, tem alguns guardas, por assim dizer, do Ministério montando guarda ali na Sra. Figg, mas... ‘Harry temia fazer isso. Harry temia dar informações de mais aos tios’.

- A Sra. Figg? A Sra. Figg? A SRA. FIGG É UMA BRUXA?

- Éh.. bem... Não na verdade. Ela é filha de bruxos, mas nasceu sem dom. Nós chamamos pessoas assim de “aborto”. Mas ela tem ficado de olho em mim todos esses anos a pedido de Dumbleodore e agora com ele... ‘Harry exitou por um instante. Desde que começou a falar de Dumbleodore, vinha se segurando para não render a emoção. Harry ainda não havia superado a morte de seu mentor. Tinha Dumbleodore como se fosse um guardião, um avô se pudesse assim dizer, mesmo não sabendo o que era ter um avô, mas achava que devia ser algo parecido com o que eles tinham. O problema é que a morte de Dumbleodore, remetia a morte do padrinho, seus pais e outros inocentes que tombaram por conta de Voldemort, como os Longbottom, Cedrico Diggory, Barto Crouch e tantos outros que...’

- Morto? ‘Interrompeu Tio Valter, pois aparentemente Harry havia se perdido no mar de recordações dos seus últimos anos’

- É! Agora que ele está... morto, ela deve estar agindo com alguns amigos nosso que trabalhavam junto com Dumbleodore.

- Na sua escola?

- Não na Ordem da Fênix!

Esse último trecho de informação pareceu ser demais para Tio Valter que olhou para mulher instantaneamente e seguindo o olhar do tio, Harry fez o mesmo e foi então que percebeu que a expressão “Ordem da Fênix” não era totalmente desconhecida por eles.

- Você está na Ordem da Fênix?

O espanto dessa pergunta seria normal se Harry estivesse em Hogwarts e algum de seus colegas o perguntasse, mas vindo de sua tia essa pergunta era assustadora?

- Vocês sabem o que é a Ordem da Fênix?

- Sabemos que foi por ter se envolvido com eles que seus pais morreram! Estava mencionado na carta de Dumbleodore quando ele o deixou em nossa porta.

Não! Com certeza, ver a tia falando o nome de Dumbleodore como se fosse um amigo da família definitivamente era mais estranho para Harry do que todo o resto. Mas aproveitando que todos pareciam mais calmos, ele decidiu que era hora de compartilhar com os tios os seus planos, mas teria que ser cauteloso com o que diria a seguir.

- Inclusive, eu estava pensando que... Bom... Embora eu ache que vocês estão seguros aqui e tudo mais... Não seria uma má idéia vocês ficarem sob a proteção deles por um tempo depois que eu... É.... Fizer aniversário!

- O QUE? ACEITAR ELES DENTRO DA MINHA CASA? ‘Tio Valter tinha pulado para um tom de púrpura invejado até por uma beterraba.

- Na verdade eu estava pensando mais em vocês se hospedarem na casa do Rony, eu tenho certeza que a Sra. Weasley... ‘Nem Harry conseguia sentir firmeza no que estava falando e de qualquer forma Tio Valter tinha ficado tão horrorizado com a idéia de passar “férias” na casa de bruxos que pegou seu filho e levou para cima, pronunciando palavras irreconhecíveis para ele, mas que com certeza não deveriam ser elogios.

Harry já sabia que era uma idéia estúpida desde que havia pensado nisso no carro. Teria que pensar em outra maneira de proteger os tios. Provavelmente a mesma forma que Dumbleodore usou para protegê-lo todos esses anos: usando a Sra. Figg e pedindo para que ela contate a Ordem no caso de necessidade. Nunca imaginou que teria de pensar nos tios desta forma. Como pessoas que precisariam dele. Mesmo sem saberem.



Já fazia quase um mês desde que tinham tido essa conversa e agora Harry estava ali, olhando para fora sob a eminência de um ataque e se martirizando por acreditar que dificilmente isso aconteceria. Em alguns minutos Harry faria dezessete anos, embora não sabia exatamente como ou se aconteceria algo, sabia que o feitiço que o protege quando está dentro do número quatro da Rua dos Alfeneiros estaria acabado e então conforme havia combinado com Rony e Hermione, iria temporariamente para a Toca para depois rumar para Godrick’s Hollow. E com esse pensamento Harry desceu com suas coisas para se despedir dos tios enquanto aguardava a meia noite para se assegurar de que os tios ficariam em segurança antes de sua ida. Faltavam agora penas dois minutos.

- Eu vou para a casa de Rony daqui a pouco! Eu não sei qual o endereço de lá, mas... Assim que chegar eu pergunto a Sra. Weasley e mando uma carta para vocês... Pelo correio! – ‘acrescentou Harry ao ver que o Tio já ia explodir algo sobre corujas’, - Para me avisarem se algo acontecer.

- Não vai acontecer nada! ‘Disse Tio Valter sem reação’ – De amanha em diante esta família não terá mais problemas nenhum. Seremos somente os Dursleys.

- Sim. Somente os Dursley.’ Disse Harry olhando para o Tio procurando buscar na achar na memória a raiva que sabia que tinha dele por tantos anos de maltrato e abuso, mas descobriu que não havia nada ali.

Nada de raiva ou rancor. Harry havia perdoado tudo sem nem mesmo ter percebido. Olhava agora para o tio pensando que talvez até pudesse não sentir falta dele, mas que com certeza não gostaria de ir embora sem a chance de poder manter contato. Afinal por bem ou por mal, Tia Petúnia era a irmã de sua mãe, seu único laço com uma família que não conheceu e ainda tinha o seu primo Duda, mas este Harry realmente não fazia muita questão de manter contato.

Harry dirigiu-se em direção a lareira, mas então sentiu algo que nunca havia sentido em seus dezesseis anos de vida ao deixar o lar dos Dursley. Sentiu-se triste porque talvez aquela fosse à última vez que deixaria aquele lugar.

Parecendo reconhecer este sentimento dentro de Harry, Tia Petúnia levantou de um ímpeto só, como se estive ali a noite toda naquele sofá, juntando forças para fazer o que estava prestes a fazer.

- Menino! ‘Disse ela com a voz meio autoritária e dura, mas Harry percebeu que era mais por ter se forçado a falar assim, do que por sentir-se deste modo em relação a ele, como parecia ser antes.’ – Achei que talvez gostasse de manter isso com você!’

- O que tem no envelope?

- É a carta que estava com você no seu cesto quando seu amigo Dumbleodore o deixou aqui conosco. ‘Disse ela mais uma vez tentando transparecer indiferente a tudo que estava dizendo e sentindo naquele momento’ – Achei que talvez significasse algo para você guarda-la, já que ele está morto e... Bem! Parece-me apropriado já que aparentemente ele significava muito para você e bom... Também achei que seria um bom presente de aniversário dada as circunstâncias.

E então sem que Harry pudesse evitar, seus olhos encheram-se de lágrimas e os tios ficaram absortos com aquela cena. Nunca haviam visto o garoto chorar por emoção antes. Mesmo quando bravo, quando gritava com eles, nunca o vira chorar por tristeza antes.

Harry por sua vez não conseguia se lembrar de qualquer outro momento em que fora presenteado pelos tios sem que isso significasse uma afronta ou piada sobre sua condição dentro daquela casa.

Harry enxugou os olhos rapidamente.

- Obrigado! Ele significava sim. ‘Olhando no relógio Harry viu que já haviam passado quinze minutos da meia noite e então seus medos eram injustificados.

Lorde Voldemort não o atacaria aquela noite.

Talvez não quisesse correr o risco do feitiço ainda ser válido no dia de seu aniversário e chamar a atenção da Ordem da Fênix e do Ministério por nada. Nem Harry mesmo sabiam direito como funcionava o feitiço e até pediu para que sua amiga Hermione pesquisasse, mas ela não tinha encontrado nada nos livros que possuía em casa.

Harry entrou com suas coisas na lareira, pegou um saco dentro de uma de suas malas, tirou um pouco de Pó de Flu de dentro dele, olhou para seus tios e disse: - Obrigado por tudo! ‘Dito isso com um movimento rápido do seu braço, jogou o pó de Flu no chão e disse em voz alta e clara: TOCA!

Nada aconteceu!

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