A Gruta e o Unicórnio



Snape conjurou uma fogueira para iluminar o lugar. Era uma gruta fria e úmida, com pedras espalhadas por todos os lados. Não havia sinal de vida nenhuma ali, exceto o musgo que recobria as paredes e alguns pontos do chão. Snape deixou de lado os pesados objetos que carregava e sentou diante da fogueira, onde passou a observar o fogo crepitando.

- Vou ter que passar a noite aqui – disse em voz alta para si mesmo. - Se não fosse aquele imbecil, já estaria seguro e bem longe deste lugar. Devia ter destruído aquele retrato idiota quando tive oportunidade.

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Depois de uma longa viagem, Julia chegou a Londres, seguiu as informações passadas por Dumbledore sobre a localização da Escola e encontrou Hogsmead, um vilarejo perto de Hogwarts. Mesmo com o adiantado da hora, resolveu seguir em frente, pois queria muito rever seu velho amigo Dumbledore.

Ela caminhou pela estrada que liga a vila à Escola e logo se deparou com os portões do Castelo. A visão era magnífica. Podia sentir a magia emanando de todos os lados. Era exatamente como Júlia havia sonhado. Quando se aproximou dos portões, viu que eles estavam trancados, Levou as mãos ao cadeado e com o mais leve toque as correntes se soltaram, rangendo e abrindo os portões.

Júlia entrou, mas sentia-se um pouco estranha.Assustada talvez, não sabia direito. A noite estava linda, a lua cheia iluminava o caminho. O Castelo ficava cada vez mais próximo.Por fim ela chegou à entrada, subiu as escada e parou diante das grandes portas de carvalho, que se abriram abruptamente e fizeram com que ela se assustasse.

Do lado de dentro do Castelo havia duas pessoas paradas que a observavam.Uma delas era um homem muito esquisito, que carregava com grande esforço uma lanterna. A outra era uma mulher com a expressão mais severa queJúlia já havia visto. A mulher apontava sua varinha para a garota, e de repente passou a gritar mil perguntas ao mesmo tempo:

- QUEM É VOCÊ? O QUE FAZ AQUI? COMO ENTROU NO CASTELO?

A menina não sabia o que responder, não imaginava uma recepção tão “calorosa”. Quando abriu a boca para começar a falar, foi interrompida por passos. Olhou para trás e teve um choque: um homem gigantesco se aproximava delacarregando um arco e flecha e na companhia de um cão enorme. O gigante a olhou de cima a baixo, depois se dirigiu aos outros presentes parados às portas do castelo e perguntou:

- O que está acontecendo, professora McGonagall?

- Não sei, Hagrid – respondeu a mulher, que ainda apontava perigosamente a varinha para Júlia. – Primeiro todos os retratos do Castelo começam a gritar que há um assassino solto andando pelos corredores da escola – ela parou por um instante, olhou para o homem que carregava a lanterna e continuou – Filch e eu fizemos uma busca, mas não encontramos nada. Então resolvi ir a sua cabana para perguntar e me deparei com esta garota andando pelos terrenos de Hogwarts!

Agora os três examinavam Júlia como se ela fosse uma criatura de outro mundo.Mas antes que falassem algo, a menina disse com a voz mais calma que conseguiu:

- Estou procurando o professor Dumbledore. Ele me disse como chegar aqui e pode desfazer esse mal entendido, não queria...

- Que brincadeira é essa? - interrompeu a professora, que não apontava mais a varinha para a menina, mas olhava-a com mais espanto que antes. – Você entra ilesa num castelo protegido com os mais diversos tipos de feitiços existentes, e ainda tem coragem de dizer que foi o próprio professor Dumbledore que lhe disse como fazer isso?!

Agora Júlia estava realmente assustada.Não entendia nada do que estava acontecendo.Por que aquela mulher reagiu daquele jeito? O que ela mais desejava naquela hora era que o Diretor aparecesse e acabasse de uma vez por todas com aquela confusão.

- Gostaria de ver o Diretor. Acho que a senhora não entendeu direito.

- Ainda insiste, garota! Que brincadeira de mau gosto é essa? Era só o que me faltava! De que planeta você veio? Não é possível que não saiba o que aconteceu!

Os dois homens olhavam intrigados ora para a menina assustada, ora para a mulher furiosa, até que o meio gigante disse:

- Menina...bom...é que infelizmente...o professor Dumbledore... está... não está, mais entre nós...ele está morto.

Júlia ficou extremamente pálida. Sentia como se tudo a sua volta tivesse sumido. Não percebia mais os braços, as pernas, estava prestes a desabar. Dumbledore...morto...só podia ser um sonho! Ou melhor, um pesadelo.

O meio gigante percebeu o estado da garota e segurou-a antes que ela caísse no chão.

- Está bem, menina? Não quer entrar, sentar? – perguntou ele, preocupado.

Antes que Júlia pudesse responder, a professora que havia recuperado a fúria inicial, disse:

- Chega! Agora chega, já causou muita confusão por hoje, menina! Não sei quem é, nem me interessa saber. Hagrid, quero que acompanhe esta garota até a saída do Castelo, depois faça uma revista na Floresta Proibida, embora eu acredite que não há nada errado por aqui, somente um bando de malucos! Venha comigo, Filch, e tranque muito bem esta porta.

A mulher olhou novamente para Júlia, virou-se e entrou no castelo seguida pelo estranho homem, que fechou as imponentes portas de carvalho com uma brutalidade desnecessária.

Hagrid soltou os braços da garota, virou-se de frente para ela e disse:
_ Não ligue para isso, menina. A professora McGonagall não é uma pessoa má, só está passando por momentos difíceis. Na verdade, todos nós estamos. Mas e você, como está?

- Ainda não sei direito – respondeu Júlia, imaginando o que teria acontecido ao seu mentor. - O senhor quem é?

_ Sou Rúbeo Hagrid, professor de Trato das Criaturas Mágicas. Moro ali – disse o homem, apontando para uma cabana que ficava próxima a Floresta. – Vamos até lá tomar uma xícara de chá, aí você pode me contar o que está acontecendo. É uma bruxa, não é? Vejo que tem uma varinha. Qual é o seu nome?

- Sim, sou uma bruxa e me chamo Júlia – respondeu, olhando em direção à Floresta.

Os dois caminharam, acompanhados pelo cão, até a cabana de Hagrid, que abriu a porta para garota entrar e disse:

- Fique aqui, vou dar uma olhada na Floresta como a professora Minerva pediu.Daqui a pouco eu volto, Canino poderá te fazer companhia. Fique a vontade.

Ela esperou o homem desaparecer de vista e entrou na cabana. Nunca havia visto uma casa com móveis tão grandes. Também não era de se estranhar para um homem daquele tamanho. Aproximou-se da lareira e ficou observando o fogo distraidamente, até que um barulho de galope chamou sua atenção. O som vinha do lado de fora e parecia estar tão perto, depois tão longe. Olhou pela janela mais não viu nada. Então resolveu sair da cabana para ver melhor.

Abriu a porta e saiu com o cão em seus calcanhares, mas também não avistou nada. Como estava uma noite bonita e iluminada, resolveu caminhar ali por perto até que Hagrid chegasse. Ela observava tudo com muita atenção, o Castelo, o lago, e imaginava que o lugar deveria ser muito mais bonito durante o dia. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a Floresta. Parecia ser enorme, assustadora. Provavelmente nela habitavam os mais diversos tipos de animais e plantas. Júlia olhava cada vez mais encantada para aquele lugar e sem perceber caminhava lentamente até lá, quando avistou um lindo animal. Parecia um cavalo, era inteiro branco e tinha um chifre dourado na testa.Ela se aproximava cada vez mais dele, não querendo acreditar no que via.

- Um unicórnio! – exclamou a menina, encantada.Mas a presença dela e do cão que a acompanhava assustaram o animal, que entrou novamente na Floresta.

Sem pensar, Júlia foi se aprofundando cada vez mais naquele desconhecido lugar.Utilizava a varinha para iluminar o caminho, pois a luz do luar havia sido coberta pelo dossel de árvores. Ela caminhava sem rumo, o unicórnio aparecia e desaparecia sem que ela pudesse segui-lo com exatidão. Quando percebeu a loucura que estava fazendo, já era tarde: estava perdida.Olhou para todos os lados, os caminhos pareciam iguais. E o que era pior, Canino não a acompanhava mais. Ela ficou tão entretida ao seguir o belo animal que nem se deu conta da ausência do cão. De repente, de longe ela avistou o unicórnio novamente, parado na entrada de uma gruta, e de mansinho foi até ele.


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Snape perdeu a noção do tempo que estava sentado naquela gruta, observando o fogo e pensando nos últimos acontecimentos que viraram sua vida de pernas para o ar. Passaria a noite ali, acordado. Seria mais seguro. Mas seus pensamentos foram interrompidos por um unicórnio, que surgiu na entrada da caverna. O animal fitou o homem sentado por um instante e seguiu para o fundo da fenda na pedra, desaparecendo de vista.

Ele prestou mais atenção nos ruídos do exterior da gruta e percebeu que haviam passos cada vez mais próximos vindo naquela direção. Constatando que não havia como fugir, ele se escondeu atrás de uma das pedras e ficou esperando até que surgiu alguém empunhando uma varinha. Ele não conseguia identificar quem era. Ficou bem quieto, quase não respirava para não fazer barulho, quando percebeu que havia esquecido a Penseira e a caixa do lado da fogueira. Fosse quem fosse, não poderia encontrar aqueles objetos. Então ele não teve escolha, saiu do esconderijo das pedras e bradou:

- Estupore!

Ficou olhando a pessoa ainda desconhecida ser atingida pelas costas por um raio de luz vermelho. O corpo foi levemente suspenso e caiu devagar no chão. Então Snape se aproximou aos poucos, ajoelhou ao lado da vítima e virou-a para si a fim de que pudesse identificá-la.

Sobressaltou-se ao constatar que era uma linda mulher, talvez a mais bela que ela já havia visto. Ficou por um longo tempo contemplando a pele branca. Os lindos cabelos negros e os lábios rosados e tentadoramente atraentes. Como ela era linda! Mas quem seria? Era uma bruxa, mas não era aluna nem professora de Hogwarts. Não era ninguém do Ministério da Magia, tão pouco da Ordem. O que uma mulher faria àquela hora no meio de uma Floresta tão perigosa? Não tinha jeito, precisava de mais informações para saber como agir. Snape então apontou a varinha para a mulher desacordada e murmurou:

- Renervate!

Ela abriu os lindos olhos negros. Parecia atordoada, olhava para Snape como se tivesse dificuldade para enxergá-lo. Tentou se levantar, mas ele pousou a mão no ombro dela, fazendo com que continuasse deitada. Assim eles ficaram se olhando, surpresos e hipnotizados, até que o latido de um cão despertou Severo para a realidade.

- Por aqui, Canino – gritou alguém lá fora.

-Hagrid! – disse Snape, levantando-se assustado e dirigindo-se então para a menina deitada em seus braços. – Quem é você?

Os latidos e fortes passos se aproximavam, ele não teria mais tempo. Olhou novamente para a figura encantadora que continuava a observá-lo e saiu correndo para fora da gruta, deixando para trás os preciosos objetos que arriscara a vida para pegar.

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