As Quatro Poções Proibidas




 




                O calor parecia expulsar todos os bruxos do vilarejo Hogsmeade. O sol parecia afastar mais os bruxos das ruas do que os próprios indícios da guerra.



                Ele observava por detrás de uma pilastra, que fazia uma pequena sombra por cima de sua cabeça, dois jovens em especial. Ele erguera uma sobrancelha em desdém ao notar o rapaz que se encontrava encostado de costas contra a vitrine de uma loja. Mantinha a cabeça abaixada, apontando os fios claros e espetados para todas as direções. Seus braços estavam cruzados na frente de sua regata branca assim como suas pernas também estavam cruzadas num jeito entediado e relaxado. 



              Ao seu lado uma garota permanecia com o nariz encostado na vitrine de forma empolgada. Seus cachos castanhos estavam presos num coque e suas mãos também estavam na vitrine. Ele observava aqueles dois com um estranho interesse. “Como da primeira vez...”, dissera o homem. Era praticamente impossível de acordo com a distância ouvir o sussurro daquele homem, mas Daniel Conl levantara as setas douradas e olhara com o cenho franzido para todos os cantos daquela rua sentindo mais uma presença a observá-los. 



– É tão bonito. – dissera Hermione ao seu lado ainda com o nariz e a testa grudados na vitrine. Daniel continuava a olhar desconfiado para os cantos daquela rua infernalmente quente. – Hein, Daniel!



– O que? – perguntara ele só então prestando atenção na garota.



– O vestido. Não é lindo? – Daniel olhara do sorriso empolgante da castanha para o até então vestido mencionado na vitrine. Um elegante vestido longo preto de alça todo de seda. Daniel olhara de lado para o vestido com um sorriso sem graça na cara tentando escolher as palavras certas. – Não é lindo? – pressionara a castanha.



– Se você quiser ser adotada pela família Adams... – Hermione fizera uma cara revoltada por um momento, mas logo olhara de forma desanimada.



– Ótimo, o único num preço possivelmente acessível por mim.



– Possivelmente acessível?



– É. Que eu não tenha que vender um rim para conseguir. 



– Draco compraria uns sete desse se você pedisse. E sem questionar. – dissera Daniel indiferente voltando sua atenção para os cantos da rua.



– Eu não vou pedir a ele. Ela já me deu um vestido. Eu o usaria se não soubesse que repetir roupa do lado do Draco é o mesmo que pedir para ir ao baile sozinha. – as íris verdes de Daniel estavam espreitas num vulto a muitos metros dos dois. Daniel arrastavra a sua mão para o bolso da calça onde se encontrava a sua varinha de forma lenta e calculista.



– Não se precipite, garoto... Sempre se precipitando... – dissera o homem entre dentes num sussurro para si mesmo. 


 


         Lembrava dos treinos de esgrima de Daniel onde ele sempre se precipitava a dar uma investida errada resultando sempre na vitória de Draco. 
Daniel já encostara de leve seus dedos na ponta da varinha quando o vulto se revelara um gato que miara baixo saltando pra cima da árvore. Daniel respirara entediado. 



– Você não entende... – voltara Hermione a falar sem tirar os olhos do vestido. – Esse é o primeiro baile em que eu realmente me preocupo com a minha aparência... Em realmente estar bonita. Sabe por quê?



– Por que será? Porque é a primeira vez que você se apresenta por livre e espontânea vontade e não obrigada ou por uma causa realmente vingativa ou com qualquer outro propósito sombrio de atingir alguém? Sem contar que você vai fechar o ano mais uma vez, fazer aquele discurso que permanecerá em todos os crânios de Hogwarts que te julgaram esse ano por todas as férias, cantar aquela canção, a última do ano e que você escreverá sem pressão alguma...



– Sem pressão alguma? Quando foi que eu fiz alguma coisa sem pressão alguma? – perguntara Hermione transtornada.



– Dessa vez você quer cantar. Porque finalmente as coisas estão dando certo na sua vida. Você e Draco não estão mais tentando se matar. – dissera Dan de forma desleixada, Hermione dera um sorriso triste para o nada, lembrando com pesar da última tarde na Torre das Gárgulas.



“– Se você não consegue decifrar os seus sentimentos...”.



– Mas não foi para isso que viemos aqui. – voltara Daniel tirando Hermione de seus pensamentos, de forma ativa e se virando de frente para ela. – A animagalia contém cinco etapas: – começara Daniel olhando sério para uma Hermione completamente interessada. – Testar seu nível de Transfiguração; Poção do Elemento; Preparo do corpo; Transformação com a varinha; E Transformação sem a varinha. 



– Parece simples. – dissera a castanha.



– A eletricidade também. – Hermione fechara a cara ao ouvir a ironia do loiro.


 
– Hogwarts está sob horário de recolhimento. O que pretende fazer quando derem por nossa falta e tiverem só mais um motivo, como se precisassem, para nos expulsar? Último ataque, lembra? Ainda estamos sob vigia e Snape grudou especialmente em você. – “Graças a Merlin!”, adicionara a castanha.



– Eu não tenho que pensar nisso agora. Eu vou ficar maluco se pensar. Eu penso nisso amanhã. – ele dissera com pouco caso. Hermione apenas balançara a cabeça em desaprovação. 



– E por que Hogsmeade? 



– Com esse calor o castelo está lotado e as ruas vazias. Você já foi mais observadora. – dissera Dan com irritação. Hermione se ofendera com o tom agressivo do loiro e franzira o cenho, mas optara por não dizer nada. – Então. Grau de Transfiguração.



– Eu sou a melhor da turma. – Hermione lembrara a Daniel.



– Não é a McGonnagal que você tem que impressionar hoje. – dissera Dan ainda no seu desdém, Hermione estranhara seu tom novamente. – Anda. Transfigure o vestido em você.



– O que? Isso é roubo! – dissera Hermione espantada, olhando do vestido na vitrine para Daniel que permanecia indiferente.



– Roubo... Igual a dois meses em Azkaban. Animagalia clandestina igual a quinze anos em Azkaban. Você precisa rever os seus conceitos.



– Tá, mas nem por causa disso eu quero entrar de vez para o mundo do crime.



– E como você pretende cometer um crime como a animagalia clandestina sem saber o que exatamente um crime é? – dissera o loiro com um olhar esperto, a castanha rira de forma sarcástica.



– Eu não vou furtar.


 
– Ótimo. – dissera Daniel satisfeito dando as costas para a castanha e começando o seu caminho de volta. – Não vamos manchar seu caráter. 


 


           Hermione dera um baixo rugido de fúria não acreditando no que estava prestes a fazer.



– Espere! – Daniel que mantinha as mãos nos bolsos da calça parara e se virara com um olhar cínico.



– Sim?



– Eu farei. – Daniel se aproximara com um olhar duvidoso. 


 


            Hermione se virara para a vitrine. Olhara a sua volta conferindo se a rua estava realmente vazia. Olhara para dentro da loja onde uma senhora permanecia com suas anotações por detrás do balcão. 


 


– Você e Draco sempre fazem isso? – perguntara Hermione entre dentes com sarcasmo.



– Pior. – respondera o loiro com indiferença olhando o relógio. – Não temos o dia inteiro, Srta. Adams. 


 


            Hermione pegara sua varinha com irritação apontando-a para o manequim. O feitiço estava em sua língua, mas seu nervosismo não parava. Sua respiração repetia-se tensa enquanto a palavra furto passeava a sua frente. 


 


– Você precisa dizer o feiti...



– Eu sei! – brigara a castanha já se irritando com o tom daquele garoto. 



– Pois não, senhorita? – Hermione se assustara com a voz que viera da porta da loja. 


 


         A senhora que estava no balcão agora estava em pé de frente para eles com um sorriso amigável. Hermione que continuava com a varinha apontada para o manequim abrira os olhos em desespero enquanto Dan não saíra da sua pose indiferente. 


 


– Posso ajudá-los em alguma coisa? Oh! Minha menina, cuidado com essa varinha. Por um momento achei que estivesse tentando explodir a loja. – dissera a senhora rindo da própria piada acompanhada de Dan que ria gostosamente enquanto Hermione apenas dera um meio sorriso sem graça.



– Não, nada disso. Ela só está tentando transfigurar o vestido. – dissera Dan ainda rindo. Enquanto a mulher parara de supetão. Hermione apenas gemera em clemência não acreditando que ele estava dizendo aquilo.



– Como? – perguntara a mulher com os lábios tremendo. – Mas isso é furto.



– Não. É aprendizado. – dissera Dan. – Lei da sobrevivência. Anda, Hermione.



– Você enlouqueceu? – perguntara a castanha.



– Imagine quando chegar à preparação do corpo... Você não tem sangue-frio pra isso. – dissera Daniel revirando os olhos.



– GRR! – reclamara Hermione voltando se para o vestido. Dissera então um feitiço e magicamente num estalo o vestido estava no lugar de suas roupas que foram parar no manequim. – Me desculpe. – dissera ela para a mulher e já dando as costas para sair dali.



– Não está se esquecendo de nada? – perguntara Dan indiferente. Hermione o olhara com indignação, porém o loiro apenas apontara para a mulher.



– Eu não vou... – começara a castanha. O loiro bufara tirando então a própria varinha do bolso e apontando para mulher. – Dan, não!



– Obliviate – exclamara o loiro e logo uma nuvem de fumaça rondara o lugar e antes que Hermione registrasse qualquer coisa já fora puxada pelo pulso para longe da rua, só parando quando estavam bem longe.



– Você acaba de apagar a memória da...



– Só de alguns minutos. Ela vai ficar bem. – dissera o loiro cruzando os braços.



– Ficar bem? Você lembra do nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas do segundo ano?



– Você foi bem em Transfiguração, Hermione, mas ainda não está pronta. – disse ele ignorando o comentário da castanha. – Não está pronta pra fazer o necessário na hora de se safar.



– Não havia necessidade!



– Não havia necessidade... Eu não fico em Azkaban por roubo, se você está tão ansiosa assim pra ir pra lá pode voltar e dizer o que acabou de fazer com a velha...



– Acabei de fazer? Foi você quem fez e...



– E olha a hora... Hora de voltarmos para Hogwarts. Até a próxima aula. – dissera Dan indiferente deixando-a para trás espumando de irritação.



– CONL!


 


 


– Todos os alunos imediatamente em seus Salões Comunais, fim das aulas de hoje, horário de recolher. Os que estiverem pelos corredores sem permissão receberão detenção. – Draco ouvira a voz irritante de Pansy ecoar magicamente pelos corredores.



               Ele estava inclinado na janela do seu quarto, a testa encostada no vidro assim como seu braço esquerdo sobre a cabeça de forma desleixada. Via alguns alunos do quinto ano no jardim voltando para o castelo aborrecidos por não poderem se refrescar no lago da escola. Viu em sua mente ele pegando a castanha nos braços de forma divertida e jogando-a no lago enquanto a própria se levantava estressada xingando-o e enfeitiçando-o para que também caísse no lago.


 


                 “Onde Hermione estaria?”, pensou. Olhara de soslaio para a mesa de cabeceira onde continha um bolo de pergaminhos com o brasão dos Malfoy, onde só anunciava mais o futuro encontro com seu pai e onde pedia por mais detalhes. Draco ainda não havia respondido as cartas. Não saberia o que dizer...



“E aí pai, beleza? Como você está? Espero que bem. Espero que o ministério não esteja pegando muito no pé ou que você esteja num lugar onde não estejam caçando a sua cabeça.
Bem, então... Eu tenho novidade, eu estou meio que namorando a sangue-ruim sim, e bem... Creio que não seja um mal entendido. Eu realmente a amo, entende? Então... Tem como me liberar da missão? Eu sei que estamos em guerra e que nossa família morre se eu continuar com isso, inclusive eu, mas... É que fica meio complicado, sabe, matar o melhor amigo da minha namorada... É capaz até dela terminar comigo. Isso seria bem chato...”


            Draco rira consigo mesmo do conteúdo daquela carta imaginária, sabendo as conseqüências que seu envio causaria, mas logo suspirara derrotado com medo do futuro dos dois. Que chances eles tinham? Era perfeito enquanto ele podia enganar a si mesmo de que ninguém na guerra ficaria sabendo dos dois e que nunca teria de bater com a realidade, com Voldemort, com a missão. Mas e agora? O que fazer?... Odiava não ter saídas. Como abriria mão da única coisa que aprendeu a amar na vida?



“– E se um dia você acordar e descobrir que o que você sente por mim não é tudo isso que você pensa, ou que existem pessoas ou ideais que você ame mais do que a mim?...”.



           Aquela idiota... Não existe nada, muito menos ideais que ele ame além dela... Ele nem sabia o que era amor antes de amá-la. 



“– E se um dia, um belo dia, você perceber que realmente me ama? Perceberá então que enquanto antes você dizia me amar não era verdade. Será que era ilusão ou você realmente fingia amar?...”.



           A voz da castanha que soava ainda em seus ouvidos dava-lhe ainda mais vontade de destruir tudo a sua volta. Fingir... Fingir... Queria ele agora que tudo aquilo fosse fingimento.



“– E se enquanto eu vou descobrindo de verdade o quanto posso te amar... Você for esquecendo o quanto já disse ser capaz?...”.



           Ele respirara fundo sentindo pela milésima vez aquela semana seus olhos arderem e sua garganta ficar seca.



“– E se amor para mim tiver um significado maior do que você imagina, maior do que tem pra você... E que uma vez amando e não ser correspondida de igual tamanho me cause um sofrimento maior do que você possa sentir enquanto eu não digo... ‘Eu te amo’?...”.



“Existiria sofrimento maior do que esse?”, ele se perguntava.



“– Será que você realmente quer que eu diga isso? Tem certeza que isso que você pede pra ser correspondido é amor?...”.



           Amor... A cada dia gostava menos daquela palavra, ela não entendia... Ele não precisava de amor. Ousadia a dela achar que ele precisasse daquele sentimento medíocre. Ele nunca pedira para que ela o amasse de volta. Nunca precisara disso. Do amor de ninguém!



          Tal pensamento fizera com que Draco quebrasse uma garrafa de cerveja amanteigada que estivera em cima também da sua mesa de cabeceira. Vira com o cenho franzido que cortara de leve a lateral da mão. Lembrara que não fora a primeira vez que isso acontecera.



“– Você está sangrando! Merlin, Draco! Você perde a cabeça!... Pare de me encarar, Draco. Chega de briga por hoje, olhe sua mão...”.



           Odiava essas lembranças irritantemente cortantes que lhe vinham sempre a mente quando brigava com Hermione. Maldito carma! Tinha raiva dela, mas não deixava essa raiva ser maior que o amor que sentia por aquela menina. Olhara para o céu onde as nuvens começavam a esconder o sol e uma forte chuva começara pegando de surpresa os alunos que rebeldemente não se submetiam ao novo horário de recolher. Draco respirara fundo. “Onde ela está?”.


 


 



           A chuva já apertada congelava os ossos da castanha e do loiro que corriam agora nos terrenos de Hogwarts de volta para dentro do castelo. Ambos pararam no Hall do castelo tentando recuperar o fôlego.



– Que chuva! – dissera Hermione voltando ao normal.



– É o calor. – dissera Daniel recuperando o fôlego também e deixando Hermione para trás enquanto seguia o seu caminho.



– Dan. – chamara Hermione, Daniel voltara-se para ela com as mãos nos bolsos da calça.



– Hum? – Hermione respirara fundo antes de começar.


 


         Era um assunto que a incomodava por demais naquelas semanas e do qual não conseguira discuti-lo com ninguém. Sabia que Daniel andava meio afastado e até mesmo irritado com ela, mas era o único com quem poderia falar sobre tal assunto.



– Estou com um problema. – dissera a castanha ficando vermelha.



– Percebe-se. – dissera o loiro sem sair de onde estava, apenas a encarando. A castanha respirara fundo mais uma vez.



– Falei umas coisas para Draco, umas coisas que eu ando questionando. Sobre meus sentimentos e... Ele não entendeu. Está bravo comigo. Magoado. Para ser sincera ultimamente Draco anda... Anda muito irritado comigo.



– E eu nem consigo imaginar o porquê. – dissera o loiro indiferente. Hermione optara por ignorar o sarcasmo do amigo para assim continuar, não queria brigar com ele também.



– É só que... – ela sentira seu peito se encher de ar conforme seu nervosismo e finalmente sentir o calafrio por todo seu corpo encharcado. Dan continuava a encará-la. – Tem alguma coisa errada. Quero dizer, eu percebo que realmente estou... Estou me apaixonando demais por Draco. – Daniel que mantinha seus escuros olhos verdes virados para a castanha engolira em seco, sentindo seu coração congelar enquanto apenas ouvi-a de longe e de forma séria. – Mas estou... Com um pressentimento horrível. Estou com medo de estar cometendo um erro, sinto que algo ruim vai acontecer. Sinto que posso perder o Draco... – Hermione nesse momento já respirava com dificuldade sentindo seus olhos arderem. – Eu sinto que ele está se afastando de mim. Não sei por que, mas é como se a realidade dos fatos fosse cair sobre nossas cabeças ou ele fosse cair na real e perceber que não... Não deve ficar comigo. Tenho medo de descobrir algo ruim, sei que ele mentiu sobre a missão dele, e de alguma forma ele não quer me contar o que realmente é. Ao mesmo tempo em que preciso descobrir eu tento esquecer isso porque não quero motivo para me afastar dele, sendo que é ele que parece estar se afastando de mim... E eu não quero perdê-lo.



          Um demorado silêncio se prolongou entre os dois enquanto apenas se encaravam de longe. O único som era o da chuva apertada do lado de fora do castelo e da respiração tensa da castanha que enxugava o rosto das gotas de chuva que não revelavam se ela havia chorado ou não. 



– Você já disse isso a ele? – dissera Dan ainda sério sem se mexer. A garota fungara antes de acenar a cabeça negativamente. – Seria um bom começo. – ele dissera se virando para ir embora, mas a voz dela o fez parar no meio do caminho ainda de costas para ela.



– Eu tentei dizer... Mas ele não entendeu. Acha que estou questionando os sentimentos dele.



– E não está? – ele perguntara sem se virar.



– Não exatam...



– O seu problema, Hermione, é que você nunca consegue acreditar que outras pessoas possam alimentar um sentimento por você. Você prefere não acreditar nisso e acaba por não valorizar como deve.



– Eu valorizo! – dissera a castanha ligeiramente irritada. O loiro fizera menção de se virar para ela, mas não o fizera. – Mas parece que sempre que eu me permito corresponder alguém, ter esperanças... Acabo ficando sozinha. E eu... Eu não sei o que fazer.



– Quem gosta... Faz o que quer. Quem ama... Faz o impossível. – dissera o loiro. Hermione continuava mirando as costas largas de Dan desejando que ele se virasse para ela, não gostava desse ar afastado dele também. Queria olhá-lo nos olhos, encontrar conforto nas escuras lagoas verdes. – De qualquer forma... – dissera ele depois de algum silêncio assustando-a. – Você nunca estará sozinha. – e antes que a castanha dissesse qualquer coisa ele continuara seu caminho em passos firmes e rápidos até que sumisse de vista.



           Logo Hermione levara outro susto com uma coruja negra que pousara em seu ombro, ela dera um salto que fizera a velha Andrômeca voar para uma estátua próxima. Hermione fora até ela pegando em sua pata um pergaminho amarelado.

“Onde diabos você está? 
Venha na minha sala agora!
Draco.”


           Hermione guardara o pergaminho no próprio bolso da calça e correra até a Sala da Monitoria-Chefe e batera na porta, entrando diante da ordem.



– O que houve com você? Onde estava? – dissera Draco sobressaltado vendo que a namorada estava encharcada. 


 


            Ela não usava mais o vestido da loja desde Hogsmeade. Transfigurara um jeans escuro e a blusa de alça branca, que estavam grudadas no corpo da castanha. Percebera que a blusa tinha apenas um forro nas partes íntimas e que ela não estava usando sutiã frisando assim mais os seus seios. Draco engolira em seco sentindo um ciúme e um desejo estalarem em seu maxilar de igual tamanho. Hermione notando o olhar de Draco cobrira-se de pressa, cruzando os braços em volta do próprio corpo, como se abraçasse a si própria. 


 


– Onde estava assim?



– Fui a Hogsmeade... Fui surpreendida pela chuva. – dissera ela simplesmente.



– Hogsmeade? Pra quê? – a castanha demorara para responder sabendo das conseqüências da resposta verdadeira. 



– Comprar tinta. Amanhã é a última prova e... Eu estava sem. – ela vira a sobrancelha esquerda de Draco se levantar em descrença enquanto Hermione suspeitava conseguir ouvir os neurônios do loiro trabalharem com agilidade. 


Fora quando outra coisa chamara a sua atenção. – De quem são? – perguntara ela mirando as cartas entulhadas. Draco se atrapalhara ao tentar guardar as cartas de forma brusca dentro do armário.



– Da minha mãe.



– Está tudo bem? Digo... São tantas.



– Está tudo ótimo. – dissera o loiro. – Por que não vai se secar? Ou melhor... Tomar um banho quente?



           Hermione respirara fundo notando a mentira do loiro, mas optara por não o contrariar se direcionando ao banheiro parando só na porta.



– Acho que devemos conversar. – dissera ela.



– Sobre o que? – dissera ele indiferente foliando o Profeta Diário com o cenho franzido. – Suas dúvidas perante meus sentimentos? Sinceramente já enjoei desse assunto.



– Você entendeu errado, Draco.



– Eu não quero mais falar sobre isso, Granger! – brigara ele só então olhando para ela. Ela se assustara com seu tom agressivo e ao ouvir seu sobrenome. Ele também parecera desconcertado ao dizê-lo e voltando a foliar o jornal sem antes se corrigir. – Hermione...



         Hermione apenas respirara pesadamente e se direcionara ao banheiro. Notara novamente cada detalhe do banheiro e lembrara o quanto gostava dele. Conforme ia abrindo as torneiras e ligando os sais ela repassara em sua mente o último tom agressivo de Draco. Como lidar com a cabeça oca dele? 



“Quem gosta... Faz o que quer. Quem ama... Faz o impossível...”.



          Hermione mantinha-se jogada dentro da banheira, encarando as sereias do teto do banheiro. E Dan? Quando que ele ia largar aquele ar zangado com ela? O que estava acontecendo com os loiros da Sonserina? Logo ouvira uma voz do outro lado da porta.



– Hermione? – era Draco.



– Sim?



– Tem alguma coisa para me dizer? – era uma pergunta estranha. Como ele descobrira afinal sobre as aulas de animagalia? Não, não podia ser isso.



– Sobre o que?



– Qualquer coisa. Daniel Conl, talvez? – Hermione sentara-se na banheira sobressaltada. “Merda, ele sabe...”, pensara ela.



– É uma ótima pessoa e não vejo a hora de vocês voltarem a se falar? – ela respondera marotamente, porém receosa. 


 


             Draco não respondera, ficara um silêncio insuportável do outro lado da porta do qual fazia o Inácio saltar do estômago para o fígado da castanha até que voltasse a ouvir a voz do loiro.



– Fique longe dele. – e ao dizer isso, Hermione o ouvira sair do quarto e descer as escadas batendo a porta da sala bruscamente. 


 


            Quando Hermione saíra do banheiro vira com pesar que havia uma coruja da torre na cômoda que voara assim que avistara Hermione. Ela fora até o pergaminho que permanecia lacrado, mas por uma letra feia e infantil continha as iniciais “D.G.C.”. “Pelo menos Draco não a lera...”, pensara ela. Será que havia algum comentário de Daniel sobre todo seu recente desabafo? Uma frase de encorajamento? Ela abrira o pergaminho e lera.

Salão Principal, onze meia da noite.
Despiste Draco.


 



                Daniel Conl andava pelos corredores do castelo em direção as masmorras, ainda estava encharcado dos cabelos aos ossos, mas mantinha seu andar calmo em contraste com seu humor tenso. Pensava em Hermione Granger. Aquela garota já começava a irritá-lo. 


 


             O que mais precisava fazer para que a castanha começasse a ter noção de uns fatos na sua vida? Como por exemplo: estamos em guerra e não numa competição de magia; Não devíamos estar arrumando mais motivos para Draco, aquele fascista, querer sua cabeça separada do resto do seu corpo; Draco a ama de verdade e não é muito paciente; Ela o ama de verdade e já está na hora de dizer isso a ele; E pelo amor de Merlin! Ele não está com humor nem emocionalmente disposto a ouvir seus desabafos, muito menos sobre seu romance épico digno de Shakespeare, aquele emo que prefere parir um rinoceronte a escrever um final não trágico. Ela era tão... Tão... Egoísta.



– Quem é egoísta? – Daniel se assustara com aquela voz que surgira do nada a sua frente. Era Pansy, que mantinha seu chanel negro perfeito contra o vento gelado, pouco molhado pela chuva.



– Mas o que é isso? Está praticando Legilimência agora? – ela parecera analisá-lo por inteiro com um sorrisinho maldoso do qual não passara despercebido pelo loiro. – Pare de me olhar desse jeito safado, Pamela. Daqui a pouco nem precisarei mais me secar. – ele dissera ainda emburrado, mas a morena não se ofendera deixando sair uma curta risada enquanto se aproximava.



– É que eu nunca tinha reparado em como... O fiel escudeiro, melhor amigo do meu amado Draquinho era tão... 



– O que? Atraente? Sexy? Irresistível? Pois foi a única... – dissera Daniel ainda no seu ar indiferente, mas Pansy não se afetara apenas dera um meio sorrisinho.



– Realmente. Eu sempre tive olhos apenas para o Draco...



– Que agora só tem olhos para a Hermione e esquecendo-se totalmente de sua existência. É, rejeição é fod*. – dissera ele tentando escapar do papo agradável, mas Pansy não dera espaço. 



– É, parece que somos parecidos nesse ponto.



– Hum? – perguntara Dan finalmente achando aquela ladainha divertidamente irritante.



– Draco também parece ter se esquecido da sua existência...



– Você está maluca, Pansy? Só falta ele oferecer dinheiro pela minha cabeça. Acorda todos os dias com o objetivo de me olhar assassinamente. Nem dorme direito se durante o dia não me acertar com mais um murro na cara. O cara idealiza tudo com a minha morte. Banca meu funeral e tudo. Acredite... – disse olhando-a com um sorrisinho sarcástico. – A última pessoa de quem ele esqueceria no mundo é de mim. Eu já até escuto a trilha do Darth Vader quando ele se aproxima. E a propósito, diferente de você, sabe, eu não tenho idéias românticas nem sugestivas direcionadas ao... – ele fizera uma voz mais sombria. – “Luke-Eu-Sou-Seu-Pai” não.



– Mas tem direcionado a Granger. Você ainda acha que existe alguém nesse castelo que já não tenha percebido isso? – Daniel franzira o cenho e olhara para os lados num desespero sarcástico com os braços abertos.



– Na boa? Estão botando postos de injeção na testa nessa escola? Porque parece que está todo mundo infectado com esse “Mal-de-Granger”. O que eu fiz, que eu não percebi, para todo mundo achar que eu estou doido por ela? Tatuei o nome dela no peito por um acaso? Ou “Salve a minha amada trouxa”? Na boa, tenho que conferir. – dissera ele olhando para dentro da camisa de forma irritada.



– Mas não era isso o que eu queria falar com você. – dissera a morena rindo. Ele a olhara ainda estressado com o sarcasmo em cada sílaba de suas palavras.



– Estou muito curioso! 



– Eu estava pensando... Eu não tenho Draco, você não tem a sangue-ruim...



– Motivo pelo qual eu devia estar arrasado, sei...



– Sabe, não precisamos ficar exatamente sozinhos.



– Eu nunca estou sozinho, minha querida. E mesmo que eu não tivesse todas as pernas femininas correndo atrás de mim, o que te faz supor que eu não me contenho com a minha agradável companhia? 



– Você não entendeu o que eu quis dizer. Não estou falando de envolvimentos amorosos. Não sei se percebeu, mas parece que os sentimentos só andam atrapalhando por demais as nossas vidas.



– Sério? – ele rira sarcástico. – Eu nem tinha notado. Como chegou a esta conclusão?



– Porém... Sexo é bom. – ele a olhara de supetão finalmente parando para analisar o conteúdo da conversa sem sarcasmo.



– Muito bom. 



– Um ato simples e sem muitos problemas se feito com duas pessoas... Experientes, amigas, maduras e sem nenhum sentimento romântico entre si.



– Realmente... – ele dissera para si mesmo notando a malícia no tom da morena.



– Seria interessante, não?



– Se a outra pessoa em questão não for o Hagrid...



– Se fosse eu? – perguntara a morena com um olhar sedutor e um brincalhão sorriso nos lábios carnudos. Só então Dan percebera a aproximação dos dois e em como ela ficava sexy com aquela mini-saia preta tão sugestiva. – Então, Daniel? – perguntara ela quebrando o silêncio.


 


            Daniel a olhara de lado finalmente mudando de posição, cruzando os braços e molhando de leve os próprios lábios com a língua num ritual sapecamente sedutor.



– Deixa eu ver se entendi. Você quer ter uma relação comigo totalmente casual e nada sentimental onde colocaremos em sintonia a nossa... Maturidade,... – a morena concordara com a cabeça. – Companheirismo,... – ela concordara novamente – E... Experiência? – ela novamente acenara afirmativamente com a cabeça com um sorriso mais sapeca. – Proposta muito interessante, sim. – concluíra ele com um sorriso sedutor nos lábios, porém fingindo não se impressionar. – Aliás somos praticamente dois adultos, obviamente atraentes e muito bem conhecidos no assunto. – Pansy fechara a cara de forma ofendida.



– Obrigada pela parte que me toca. – Dan sorrira de lado e a olhara. – Mas basicamente é isso sim. Topa ou não?



– Você não se importa se eu der uma pensada antes, não é? 



– O que?



– Brincadeira... Calma. – ele rira gostosamente. – Tudo isso é vontade de me ter? – ele perguntara ainda rindo.



– Não se faça de engraçadinho comigo, Conl. – ele fizera um silencioso “huu” numa cara fingidamente ofendida. – Vai querer ter esse... Esse acordo comigo ou não? – ele rira novamente fazendo a garota ficar vermelha. – DAN!



– Oi, desculpa. – ele disse tentando ficar sério. – Sim. Creio que eu vá querer sim o... Acordo. Aliás somos donos da nossa própria vida. E está na hora de prestarmos mais atenção nela, não? Isso não tem exatamente mais haver com ninguém.



– Muito bem pensado. – ela disse sorrindo. – Nos vemos por aí, Dan. – dissera a morena se afastando até que ouvira seu nome mais uma vez. Ela se virara e notara que agora o loiro mantinha um olhar sério e quase ameaçadoramente acusador.



– Se eu descobrir... Que isso é só mais um plano para atingir a Hermione...



– Como você mesmo disse,meu amigo: isso não tem exatamente mais haver com ninguém...


 


***


 


 




                 Querido Diário... 


       


                 Eu realmente estou sentindo que eu mesmo em outra vida ter jogado merda na cruz. Estou sentindo uma certa perturbação no ar, sabe? Um tipo de perseguição qualquer, sei lá. Quero dizer, não basta meu namorado estar meio revoltado pro meu lado, minha melhor amiga achando que eu vou governar o mundo com essas minhas “psicoses pré-guerra”, Harry, meu melhor amigo, andar meio estranho me evitando pelos corredores, Rony, meu estressado carinhoso, ter sumido praticamente do mapa de Hogwarts (última vez que o vi estava enfiado no vestiário feminino de quadribol da Corvinal), agora também tenho que aturar a TPM (Tomei Porrada do Malfoy) de Daniel, que parece mais feliz em arrancar um dente do que me dar aulas de animagalia.



               Quero dizer, eu sabia que ele ia tentar recusar as aulas, mas já se revoltar tanto com a minha pessoa é sacanagem. Não é? O que há de mais afinal em tentar ser animaga? Só porque animagalia clandestina é oficialmente declarada crime estadual em 70% dos países mágicos? Será que me inocentam se eu relatar que estou na lista negra do maior bruxo das trevas de todos os tempos: Lord Voldemort?



               Ok, eu sei que já fui mais responsável do que isso, mas você, diário, há de convir que é uma atitude não tão idiota uma vez que quanto mais poder mágico se adquirir nessa guerra, mais chances temos de sobreviver. E que dois professores assim de animagalia dando sopa em Hogwarts é mais do que encontrar o potinho de ouro no fim do arco-íris. Mas ele precisava ficar tão revoltado? Que seja, ele pode fazer o show que quiser. Mas se pensa que isso vai me fazer desistir das aulas está muito enganado. Afinal, já tive professores piores... Snape... Draco... Será que sempre vou ficar nas mãos perigosas de um sonserino? Eu não aprendo? Pelo visto não.



                Mas não é só isso não... Como se eu já não tivesse que aturar o humor de velho rabugento do Conl, aquele francês chantagista que já está me fazendo uma série de idealizações das quais arranco seus pêlos do corpo através de cera quente e escovo seus dentes com serrote toda vez que ele diz 


“Está fazendo errado, Hermione. Pela última vez, animagalia exige mais capacidade física do que mental!”, eu ainda tenho que aturar suas chantagens ordinárias.



Como por exemplo:



– Me diga o que estou fazendo aqui antes que eu chute o meu outro pé! – eu dissera entre dentes no início daquela semana enquanto aquele francês arrepiado me guiava horrivelmente pelo Salão Principal àquela hora da madrugada junto daquela cambada de nerd que eu sabia serem no mínimo repetentes. 



– Não tem o menor controle sobre seus pés, viu? – dissera Daniel irritado.


 


          Do nada um ruivo espinhento esbarrara na gente com o seu par e me pedira desculpas. Pelo visto ninguém ali além da louca (que não acredito que estou tendo de aturar de novo) da Trelawney sabia realmente dançar uma valsa. Quero dizer, eu até sei... Mas não sou eu que devo guiar.


 


 – Mas o que é isso? Você é a favorita? – dissera Daniel agora descontando seu estresse no coitado que me havia pedido desculpas. – Tenho que fazer uma semana de curso.



– Por que não pediu à Pansy? Ou à Mary? Sei lá, uma fã sua?



– Porque elas não me devem aulas particulares de animagalia. – respondera ele com um sorrisinho sarcástico.



– Então é esse o trato? Aulas de animagalia em troca de aulas de dança? Onde fica a prestatividade da amizade? 



– Prestatividade? Eu por um acaso sou da Grifinória, Hermione? Olha bem pra minha cara.



– Excelente. Não conheço metade dessas pessoas. –  eu disse entre dentes olhando em volta e logo me virando para um outro estudante acompanhado. – Hei, quem é você? Qual é a sua história? – Daniel revirara os olhos me conduzindo pra longe do casal. – Que foi?



– Lembram o que eu disse? Quem deve conduzir a dança? – dissera aquela doida na sua voz loucamente aluada para nós. Daniel se estressara.



– Estou tentando, mas ela não facilita. Dança pior que um elfo doméstico. 



– Até parece que você sabe como! – eu brigara com ele, não acreditando no que estava tendo que ouvir... Aquele verme! Me lembrei porquê de início não ia com a cara dele.



– Você conduz a dama. – dissera a louca para Dan se retirando. Ele me olhara com um sorrisinho irônico tentando se aproximar de mim.



– Vamos tentar de novo, está bem?



– Não chegue perto demais! – então me puxara de forma agressiva de encontro ao seu corpo e eu olhei ainda mais irritada subindo então nos pés dele.


 


         Ele começara então a dançar de forma firme e irritada, pisando na pista como se eu não estivesse em cima dos seus pés.
Isso tem sido a semana toda, diário... E pensar que ainda estou na maldita quarta-feira está me estressando. 


 


         Quem ele pensa que é para me usar assim? Eu não teria, sabe, negado ajuda se ele tivesse me pedido com carinho. Mas não, está todo agressivo comigo como se quisesse me fazer pagar pelo o que estou fazendo a ele.


 


**



– O que não é pouco, quando sua prioridade devia estar sendo reunir aqueles dois sonserinos convencidos de pelagem loira. – dissera uma voz atrás da castanha.



– Gina! Pelo amor de Merlin! Quer parar com essa mania maldita de ficar lendo a minha mente?– gritara Hermione para a ruiva que apenas a encarara com o cenho franzido. 



– Eu não estou, apenas li o que você escreveu no diário.



– Ah... – dissera Hermione desconcertada. – Pois muito bem. É errado de qualquer forma. E, além disso, quanto àqueles dois, estou dando o exemplo. – dissera a castanha de forma superior. A ruiva apenas a olhara com pena.



– Desde quando você segue os meus conselhos, Mione? Tudo bem que eles são ótimos, mas... – “Ótimos... Aham...”, pensara a castanha.


 


– Essa é realmente um pergunta a se pensar. – eu dissera fazendo a ruiva fechar a cara. – Um dia sei que vou me arrepender disso. – “Se é que já não me arrependi, não é?”, pensara Hermione – Mas... Às vezes você é competente. – Hermione terminara com um sorrisinho meigo voltando a atenção para o seu diário.



**


 


         Mas voltando para meus encontros com Dan. Sinceramente, se eu não soubesse que o objetivo da animagalia era tão forte eu já teria desistido disso há muito tempo. Verdade que Daniel Conl pode ser um ótimo amigo e tudo o mais, mas não o ofereça a autoridade de um superior. Porém, pelo menos estou conseguindo me vingar um pouco.



– Se eu soubesse que tem prazer em me torturar, teria desistido. – ele dissera na hora do almoço enquanto era obrigado a se sentar comigo na mesa da Grifinória.


 


            Vi ele olhar com um certo nojo e incômodo para Harry, Ron e Gina no fim da mesa enquanto eu repassava as tarefas e horários semanais.



– Teremos uma hora de animagalia e uma hora de dança. Todas as noites. Sem exceção.



– Estou sabendo. A tortura nunca termina. Mas sabe o que é fundamental? 



– Que ninguém saiba das nossas atividades extracurriculares, sei. – repetira eu o que ele já havia repetido aquela manhã umas cinco vezes.



– Isso. Entre as práticas que menos enaltecem um adolescente está a dança de salão e se eu tiver que aturar isso, você aturará junto comigo. 



– Acha que eu vou divulgar essa informação para o público. – eu me revoltara. – Já saí o suficiente no Profeta de Hogwarts, não acha não?



– Então ninguém poder saber, certo? – pressionara ele.



– Ninguém. 



– Saber o que? – era Luke que sorria achando graça e estranhando o fato de Daniel Conl estar sentado naquela mesa vermelha e dourada.



– Nada! – respondemos os dois.



– Vamos prosseguir. – dissera Dan energético completamente escarlate se levantando da mesa de supetão.



– Tenho que falar com você. – dissera Luke para o loiro. Dan olhara de mim pra ele e eu encarava os dois.



– Sim. Olha... – dissera o loiro de forma descontraída para Luke. – Eu não posso falar com você agora, quero sair da lista dos possíveis detentos do Snape. Pode ser depois? – dizendo isso saíra quase correndo do Salão Principal batendo de frente ainda com Draco que o olhara com indiferença e pousara então os olhos cinza em mim depois que Dan sumira de vista.



              Agora, você acha que ele veio falar comigo? Só porque eu sou sua suposta namorada? Lógico que não. Quem disse que eu sou importante? GRR! Foi direto para a mesa da Sonserina sem nem ao menos olhar para trás. Ainda pude ver Andrômeca ir ao seu encontro e depositar um pergaminho em suas mãos, o que me intrigou, é claro. A Sra. Malfoy devia estar bem desesperada mesmo em falar com ele. Luke também se direcionara para a mesa da Sonserina e eu decidira por terminar meu almoço com os meus três amiguinhos queridos.



– Ah! Olha quem resolveu se sentar conosco meros mortais. – dissera Ronald com um sorriso grande e sarcástico. 


 


            Harry como sempre afogado em seus pensamentos e Gina lendo o Profeta Diário. Eu apenas olhara com raiva para Rony antes de me sentar.



– Nada de interessante? – me direcionara a Gina, mas fora Rony e seu sarcasmo quem respondera.



– O Profeta Diário? Difícil... Se ainda fosse o Profeta de Hogwarts... Você parou de dar entrevista, Hermione? Balazer anda sumido...



– Acho que Dan bateu um papinho com ele. Não que eu esteja reclamando. – eu respondera finalmente me perguntando o que afinal Dan tinha feito com o sujeito.



– Pois eu estou. Estou começando a sentir saudades das poucas verdades daquele idiota. Ele era engraçado. Adorava quando te retratava como uma caçadora de fama.



– Cala a boca, Ronald. Hein, Gina...



– O mesmo de sempre, ataques em bairros trouxas.



– O que Voldemort espera? Que escondemos Harry embaixo de uma cama trouxa? – eu explodira. Mas fora Harry quem respondera.



– Talvez ele esteja procurando por algum trouxa em especial. – dissera ele sombriamente me olhando de rabo de olho significativamente. 


 


            Fala sério até parece que ele vai perder o seu precioso tempo procurando por mim. Não sou eu que tenho uma cicatriz na testa.
Eu respirara pesadamente passando geléia na minha torrada de forma agressiva, olhara de canto para Draco na mesa da Sonserina, entretido no próprio Profeta Diário com uma cara preocupada. 


 


           Por um momento nossos olhares se cruzaram. Aquele olhar indecifrável, um tanto comprometedor, mas não era um olhar bom. Ele podia sentir, como eu, que as coisas estavam piorando para o nosso lado. Podia jurar que ele estava se perguntando se valeria a pena continuar brigado comigo uma vez que temos tão pouco tempo ou se aproveitaria dessa deixa para terminarmos de vez. Ele abaixara os olhos para um canto qualquer da mesa, sem muito sentimento. O que estaria pensando? Ah! Não, Draco, não desista de mim. Não agora.



– O que está pensando, Hermione? – era Harry que parecia bastante interessado na ardência dos meus olhos. Eu engolira em seco tentando fugir daqueles pensamentos.



– O ano está acabando, mais dezessete pessoas morreram essa semana, logo estaremos em campo de batalha...



– Era o que você queria, não era? – dissera Rony de boca cheia. O que eu queria? Como assim? Por algum motivo não gostei do tom dele. E isso ficou claro no meu olhar indignado, pois logo ele tornou a falar, ainda de boca cheia. 


– Lutar? Encontrar Lestrange? – eu olhara de Rony para Gina, de Gina para Harry. Por que me olhavam como se minha vontade de lutar fosse um capricho?



– Por que me olham assim? Quando foi que começaram a me ver dessa forma? – eles se entreolharam. – Acham que é um capricho meu? Que não me preocupo de verdade com essa guerra e com o Harry?



– Não, Hermione, pelo contrário. Acho que se preocupa demais. – dissera Gina naquele tom calmo como se eu fosse uma doente. Ah! Por que será? PRque podemos morrer? – Se Voldemort perceber esse seu interesse, Hermione, ele pode usá-lo contra você. 



– O que? – eu indagara. Do que aquela ruiva estava falando afinal?



– Voldemort já nos caça há seis anos. – dissera Rony – Não estou tirando meu corpo fora. Só estou dizendo que precisamos ser muito cautelosos. Terá um holofote em cima de nós em campo de batalha.



– Você em especial com um alvo pendurado no pescoço que não vai passar despercebido pela Lestrange. – dissera Gina.



– E ela também não vai passar despercebida por mim, pode ter certeza. – eu respondera com raiva.



– É disso que estamos falando. – dissera Gina. – Você já enfrentou diretamente os Comensais sozinha tantas vezes quanto o Harry, está namorando um Malfoy e duvido que isso deixe os Comensais felizes... – eu olhara contrariada para Draco que se servia de café na mesma cara séria. – O tio dele já parece ter tido um encontro nada amigável contigo. E essa sua Magia Elemental com certeza já deve ter chegado aos ouvidos de Voldemort e você nem aprendeu a usá-la ainda. Não é por nada não, mas duvido que isso não desperte o interesse dele. 



– Hum. – dissera Rony ainda de boca cheia. – Isso sem contar o permanente fato de que você ainda é a melhor amiga do Menino-Que-Sobreviveu e que é nascida trouxa.



– Aff... – eu suspirara contrariada, não gostando de onde aquela conversa estava querendo me levar.



– O que estou tentando dizer é... – eu olhara para Gina ameaçadoramente sabendo que não viria coisa boa. – Não podemos te manter viva se você ficar indo sempre em direção a morte por livre e espontânea vontade. 


 


 


        Iimediatamente vi a noite do baile em minha mente, aquelas eram as palavras de Draco para mim quando quis entrar na Floresta Proibida.


“– Não posso te manter viva se você ficar indo sempre em direção a morte por livre e espontânea vontade”



          Logo vi o sorriso sádico de Bellatrix perante meus olhos e junto dele seu olhar friamente turquesa. 



“– Você não disse que ia me matar?...”



           Eu balançara a cabeça com raiva tentando não me afetar com aquelas lembranças. Olhei para os dois ruivos sabendo que estava sem saída. Então me virei para Harry que abaixara a torrada e me devolvera meu olhar sério.



– E você? – eu indagara estressada para aquelas esmeraldas indiferentemente verdes. Odiava essa síndrome de indiferença que estava dominando Hogwarts. 


– Também quer que eu não lute? Que eu espere numa casa trouxa até Bellatrix me encontrar? Acha que devo desistir de Draco ou esperar pelo exato momento em que seu sangue falará mais alto a ponto de me entregar para a família dele? – eu mesma já ria do meu sarcasmo enquanto Harry permanecia impassível. – Mesmo ele tendo provado o seu amor por mim tantas vezes e de maneiras diferentes? – eu rira e olhara para Ron e Gina séria. – Draco me ama. Nunca permitiria que nada de ruim me acontecesse e não vai fraquejar agora que o perigo se aproxima. E nem eu. 



            Rony e Gina se entreolharam e eu pude ver a vergonha se espalhar nos olhos deles. Eu me servira da minha torrada de forma firme, tentando também não fraquejar perante as minhas esperanças das quais relatara com tanta certeza e confiança. Então eu notara que Harry continuara a me olhar impassível. Abaixara minha taça de suco na mesa, ainda com meu ar confiante quando ele falara.



– Não acho que não deva lutar. Pelo contrário, estará mais protegida conosco. E sei que ficarei mais tranqüilo se eu te mantiver embaixo dos meus olhos. – eu engolira em seco perante ao apoio inesperado de Harry e sua seriedade. – Contudo... – eu olhara de novo. – Não acho que deva confiar em Draco Malfoy.
Mesmo meu olhar pasmo não desviando nem um minuto do firme olhar silencioso de Harry, pude sentir Rony e Gina ainda mais surpresos com o que ele dissera. 


 


         Como assim não confiar em Draco? Até ele mesmo aceitara-o perante todos os seus últimos feitos, a ponto de enfrentar a família e tudo. Mas algo nas esmeraldas de Harry não deixara eu me defender ou defender Draco. Nunca o vira tão convicto de alguma coisa, mas tinha mais algo... 


 


           Ele se levantara da mesa atrapalhando meus pensamentos. Olhara para Rony e Gina e pra mim uma última vez antes de sair e se afastara deixando seu aviso no ar. “Não acho que deva confiar em Draco Malfoy...”.

**


 


        


 


 


         Daniel permanecia de frente para a porta de carvalho da Sala da Monitoria-Chefe de Hogwarts. Esmagava o pergaminho com o brasão dos Malfoy em sua mão como se isso lhe desse alguma coragem. A coisa realmente estava cada vez mais monstruosa, para Narcisa precisar escrever-lhe. 



– Draco. – ele chamara na sua voz firme batendo novamente na porta. – Draco. É importante. – “Como aquele sujeito era teimoso!”, pensara Dan e se estressando apontara a própria varinha para a fechadura da porta, ouvira um clique e pôde entrar na sala. – Draco... Onde se meteu esse filho da... – mas não conseguira terminar sua frase, pois alguém apossara-se de seus lábios de forma quase bruta. 



          Pansy sobrepusera-se cada vez mais sobre ele obrigando-o a subir as escadas da sala de costas, Daniel tentava desviar-se de seus beijos para dizer alguma coisa, mas não conseguia escapar dos lábios carnudos e sedutores da morena.



– Pansy, pelo amor de Merlin, estamos no quarto do Draco. – ele reclamava entre um beijo e outro já sendo empurrado em direção a cama.



– Ele está no Salão Comunal da Sonserina com Luke e os rapazes. – ela dissera ainda beijando-o.



– Mesmo assim... Ele pode volt...



– Cala a boca, Daniel. – brigara ela beijando-o ainda mais fazendo os cabelos da nuca do loiro se arrepiarem. – Olha o que eu trouxe. – ela disse mostrando-lhe uma camisinha. 



– Está apelando pro modo tradicional trouxa agora? Não seria melhor uma poção anticoncepcional? 



– Não tive tempo de comprar. – ela disse beijando-o novamente. – Isso eu já guardava há um tempo.



         Ele sentira a pele lisa da morena embaixo dos seus dedos que acariciavam as suas costas por baixo de sua blusa. A garota abrira todos os botões de sua camisa de uma única vez fazendo um caminho de beijos pelo abdômen definido do loiro. Fora quando com o pouco de lucidez que lhe continha, Dan pôde ouvir a porta da sala se fechando.



– É o Draco! Sai daqui. – ele dissera rápido levantando-se depressa, Pansy caíra ao lado da cama e começara abaixar a própria blusa.



– Ok, estou indo. – dissera ela indo em direção a porta do quarto quando Dan a puxara de forma desesperada.



– Você é retardada? Por aí não! – murmurara ele enquanto pegava a Nimbus de Draco a enfiando na mão de Pansy ignorando as perguntas que ela lhe fazia e empurrando-a da janela. – Desculpa. – a garota ainda gritara antes de se sobrepor na vassoura e planar ainda sentindo seu coração na mão e xingando aquele loiro francês mentalmente.


 


          Quase instantaneamente Draco entrara pela porta do quarto o olhando com o cenho franzido enquanto o francês abria um sorriso de orelha a orelha apoiando-se marotamente na vidraça da janela que acabara de fechar.


 


– Draco! – dissera animadamente, ainda suando frio. Draco olhara em volta do quarto.



– O que está fazendo aqui. – sua voz era cautelosa e ameaçadora.



– Te procurando. 



– Invadiu o meu quarto? – Dan gaguejara perante o seu olhar Comensal.



– Bem eu podia jurar que estava aqui em cima e não havia me escutado te chamar, então resolvi entrar. Me desculpe. – dissera Dan energeticamente. 



– Onde está minha vassoura? – perguntara Draco olhando em volta.



– Ah, sobre isso que queria falar com você também. Você a esqueceu no vestiário masculino. 



– Esqueci? Não... Acho que não.



– Esqueceu sim, mas posso trazê-la mais tarde se quiser. – Draco apenas o olhara com desdém fingindo interesse.



– E o que você queria tanto falar comigo, Conl, e vestido dessa maneira?



– Ah. Isso? – ele dissera notando sua camisa toda aberta. – Esse calor, né? McGonnagal já chamou minha atenção cinco vezes hoje, isso antes de desmaiar de tesão. Mas então, era sobre isso que eu queria falar com você. – ele dissera estendendo o envelope com o brasão dos Malfoy para Draco. – Sua mãe parece preocupada. – dissera agora mais sério enquanto Draco pegava o pergaminho. Dan olhara para as cartas em cima da cômoda. – Ela te escreveu também?



– Não, essas são do meu pai. – dissera Draco abrindo o pergaminho e se permitindo ler.

Daniel, meu querido.
Preciso de sua ajuda para um assunto importante. Sei que como o resto da família Draco é muito chegado a você e é principalmente por isso que recorro a você.
Preciso que me informe sobre esse suposto relacionamento do meu filho com a sangue-ruim amiga do Potter. Se isso realmente for verdade te imploro que abra os olhos do meu filho, e lembre-o de que tem uma responsabilidade com o Lord e sua família. Que isso colocaria tudo a perder e ameaçaria a todos nós. 
Lembre-o também que Lúcio mataria todos os sangues-ruins de Londres se fosse necessário para cuidar de nossa família e ser leal ao Lord. E mataria todos os sangues-puros do planeta antes de aceitar que seu filho faça diferente. Ele nunca aceitaria esse namoro e se Draco gostar mesmo dessa menina recomende que fique longe dela para poupá-la. Ela seria um alvo fácil para os Comensais.
Ajude-me, Daniel. Em nome de sua amizade pelo meu filho, não deixe que essa tal Granger enfraqueça os ideais do meu filho e seu elo para com o Lord. Ele estaria morto antes mesmo de se virar contra o mestre. Estou realmente desesperada. Lúcio diz que ele não responde suas cartas. E isso não nos ajuda a montar sua defesa.
Entre em contato comigo o quanto antes, por favor.
Com amor,
Narcisa Malfoy.

            Draco respirara pesadamente antes de olhar para Dan que mantinha um olhar amigável para ele. 



– A coisa está feia, não é? – dissera Dan descontraído. Draco não respondera ainda mirando o pergaminho em suas mãos. – O que você vai fazer?



– Não sei. – admitira Draco ainda de cabeça baixa. Dan franzira o cenho.



– Não está pensando em desistir da Hermione, está? Não agora... Depois de tanto lutar...



– Lutar? – Draco levantara os olhos cinza estreitos. – A questão é... Será que Hermione quer que eu continue lutando?



– Hermione está com você! É sua finalmente! Será que isso não basta? – dissera Dan cautelosamente se aproximando de Draco que apenas o encarava. – Não acredito que perdem tempo brigando quando deviam estar mais unidos do que nunca.



– Brigando... – ele dissera o olhando de forma intensa. – Você parece bastante por dentro do que acontece entre Hermione e eu. Já não mandei se afastar dela? – Dan respirara irritado, exausto de aturar a teimosia de Draco.



– Ótimo! Faça como quiser. Eu só achei que devia saber da carta. – dissera Daniel saindo do quarto parando apenas quando chegara à porta e dizendo de forma decidida. – E pela última vez, Draco: Seu pai está atrás de você, Bella está atrás da Hermione, faça alguma coisa antes de ser tarde demais. Assuma-a de uma vez e lute por ela ou termine com ela e salve-a pra sempre. – e dizendo isso batera a porta do quarto com brutalidade e descera as escadas com raiva. Draco apenas registrava as palavras do amigo, respirando pesadamente. 



             Ficara um bom tempo ainda mirando o campo aberto de Hogwarts, o sol que refletia no lago, pensando em Hermione. Quando avistara a própria, sentada ao pé da árvore. Sentira um aperto no seu peito e uma vontade absurda de sair correndo ao seu encontro, quando vira Daniel se aproximando dela ainda carregando o recente estresse que Draco pusera sobre ele. Com o cenho franzido vira Hermione ouvir atentamente o amigo fazendo-o se sentar com ela, perguntando a ele o motivo daquele nervosismo. Daniel acenava negativamente com a cabeça, obviamente nada disposto a contar. Mas mesmo assim eles pareciam tão íntimos que Draco sentira uma raiva e mágoa machucar a boca de seu estômago.

**


 


            Querido diário, 


            


             hoje voltando a relatar os acontecimentos da semana posso dizer que estou definitivamente perdendo Draco. Pude perceber isso na aula de Poções quando Snape, aquele babaca, resolveu ter um pouco de compaixão e me deixar em paz um pouco. Eu que estava sentada com Draco tentava chamar a atenção dele um pouco, mas sem muito sucesso. Me virei para ele enquanto ele matinha a sua atenção presa nas malditas raízes que cortava com tanto empenho. 
– Está tããoo sééérioo... – eu implicara encarando infantilmente os seus olhos presos nas raízes. - Sabe no que eu estava pensando? – eu murmurara para ele com um sorriso maroto nos lábios. Mas ele nem me olhara, dizendo apenas “hum” para mim. – Que eu já estudei o suficiente para as provas de amanhã... E que não preciso assistir a última aula de hoje. – ele continuara cortando a merda das raízes respondendo ainda com o “hum” – Quer matar?



– Quem?



– A aula, Draco! – eu brigara ainda em murmuro. Ele me olhara notando meu estresse e respondera seriamente.



– Melhor não. Tenho coisas a fazer. – eu fizera bico emburrada. Que estúpido, sempre me obriga a matar aula, agora que eu quero ele não quer. – E já matamos aulas demais. Vai acabar nos prejudicando academicamente.



– Você não quer ficar comigo? – eu perguntara sentindo que ele notara meu tom sentido por baixo da minha voz firme. Ele parara de cortar as raízes, eu temia sua resposta, mas ela não veio e sim a voz irritante do inconveniente do seboso.



– Acredito que vocês dois tenham muito o que discutir, Srta. Granger. E que o fato dele não querer passar o horário da última aula com você a incomode, mas eu gostaria de dar a minha última aula do ano se for possível. 



        Como eu queria que a cabeça dele se explodisse. Pude ouvir atrás de mim uma risadinha da Pansy corroer minha espinha e olhei de volta para Draco que continuava indiferente ao comentário daquele insensível filho da mãe. E aquele morcego continuara a dar a sua aula. Última, graças a Merlin.



– E como toda última aula do sexto ano letivo, eu começo com um assunto que os interessará um pouco. Alguns de vocês... – ele olhara para mim com desdém, com certeza eu não pertencia àquele grupo ao qual ele se referia. – Provavelmente os pertencentes de sangue absolutamente puro e de família nobre, devem já ter ouvido falar... Das “Quatro Poções Proibidas”. – ok, aquilo não intrigara apenas o resto da turma, mas à mim também. Por um momento me desviei um pouco da indiferença de Draco que agora mantinha sua atenção em suas anotações, apoiando a cabeça na outra mão, apoiada sobre o cotovelo em cima da mesa, nada interessado em Snape. Me virei para Snape. 



– Quatro Poções? Existem muito mais poções proibidas no mundo mágico. – eu dissera.



– Mas apenas quatro que feitas lhe proporcionam passagem apenas de ida para Azkaban. – dissera Draco sem desviar sua atenção, em voz baixa, mas todos ouviram. Eu me virara para Draco intrigada, mas ele não parecia muito interessado no assunto.



– Exatamente. – dissera Snape. – Assim como as Três Maldições Imperdoáveis, existem também as que podemos chamar de Quatro Poções Imperdoáveis. Alguém sabe me dizer que poções são essas? 


 


          Uma grande porcentagem da sala olhara em direção a mim. Mas vergonhosamente eu não tinha aquela resposta. Nunca ouvira falar das Poções Imperdoáveis. Parecia mais lenda urbana da Sonserina. Ron olhara em minha direção e parecera se assustar quando eu informara silenciosamente que não sabia a resposta.



– Poção Olictavus. – fora Dan quem respondera. Toda sala, inclusive eu, nos viramos para ele.



– A poção para esquecer um amor? – eu perguntara pasma, me lembrando instantaneamente do meu sonho com a mãe de Harry. 



– Sim, Granger. – Snape parecera aborrecido como sempre por eu atrapalhar sua aula. – Proibida pelo ministério e que fizera Antares Sérpia morrer em Azkaban...



– O que? – eu indagara revoltada. Nem eu sabia o porquê daquela realidade me afetar tanto, mas aquilo realmente me deixava indignada. – Azkaban pelo resto da vida? Eu não entendo! Poções do Amor não são proibidas. Não vemos bruxos que induzem o amor no próximo de forma quase imperialista ser condenado a Azkaban. Por que ela seria? Por que a Poção Olictavus é uma das Quatro Proibidas afinal? Às vezes ela pode ser necessária também, isso não devia fazer parte da livre escolha de cada bruxo? – quando eu me toquei eu estava de pé com todos os olhos da sala virados para mim, só então eu, completamente envergonhada, voltara ao meu assento e ouvira então uma curta risada seca e até um pouco... Sarcástica (?) vinda de Draco que continuara com suas anotações.



– Poções do Amor, Srta. Granger,... – começou Snape no seu tom sarcástico e superior, satisfeito por minha demonstração de ignorância. – Não passam de leves encantos brincalhões, sem verdadeiros resultados duradouros e malignos, enquanto a Poção Olictavus elimina qualquer tipo de sentimento humano direcionado ao amor de um bruxo, quase um retalhamento bruto. Sem cura existente. Uma poção com mais resultados eficazes do que a própria Sérpia pudesse prever. Uma poção realmente maligna. Uma poção que praticamente destruíra Salazar Slytherin. 


 


            Ele dera uma pausa para as outras poções.


 


 – Alguém sabe mais alguma? A Poção Obsidiana, alguém conhece? – ninguém respondera. – Uma das favoritas na Idade Média, a poção para se ver o futuro. – todos se sobrepuseram mais atentos nas carteiras, em exceção de Draco que continuava não interessado. – Ela te dá o deslumbre de um pequeno momento futuro da sua vida. Um momento, que mais tarde ficou claro para o ministério, que poderia destruir por completo o presente do bruxo que o conhecesse. Até mesmo enlouquecer. – ok, mas vamos combinar que a tal Poção Proibida era por demais atraente. – Se alguém aqui pudesse saber que vai morrer amanhã, alguém gostaria de saber? – a resposta de todos fora óbvia e claro Snape dera um sorrisinho. – Mesmo que não houvesse meios de evitá-la? – ninguém respondera. É... Complicado. – A Poção Obsidiana não lhe mostra o que pode ser revertido, e sim o que não tem possível alteração. 


 


           Ele dera outra pausa enquanto a informação entrava em nossas cabeças. 


 


– Transfers... Alguém conhece? – então eu levara um susto com a voz indiferente de Draco ao meu lado.



– Poção que abre um portal para um futuro determinado. – espera aí! Eu conheço isso! Era a minha dívida fazer esse ritual com Draco em troca das aulas de teatro! Me virei para ele completamente desesperada enquanto Snape continuava a falar da poção para a turma. – Que foi? – perguntara Draco de cenho franzido obviamente achando exagero minha reação.



– Você! – eu exclamara entre dentes.



– Ninguém nunca vai saber. – dissera Draco entediado com meu ataque.



– Você disse que isso não nos colocaria em Azkaban! – eu murmurara da forma menos desesperada e mais ameaçadora possível.



– E estamos em Azkaban por acaso? 


 


            Como ele podia não ligar? Eu podia passar o resto da minha vida em Azkaban! Claro que se Daniel soubesse disso, nunca que iria me fazer roubar um vestido para provar do gostinho do crime.



– Diferente da Obsidiana, a Transfers nos transfere para um final alternativo, sujeito a alteração. Você não apenas tem uma visão e sim é transferido de mente e alma para dentro dele, participa dele. Sua alma é colocada no seu corpo do futuro visitado. Um futuro que pode ser alterado assim que voltasse ao presente e fizesse algo diferente do que era destinado. É claro que também foi proibida uma vez que muitos bruxos morriam ao descobrirem que não tinham mais corpos na data escolhida. Ou seja... – fora eu quem respondera olhando assassinamente para Draco que apenas levantara as sobrancelhas em desafio.



– Que estavam mortos...



– Agora a última e pior de todas. – continuara Snape de forma mais sombria. – Amargunis. Alguém conhece?



– É o que? Para apagar a amargura? – chutara Rony rindo consigo mesmo, porém se calando ao notar o olhar de nojo do seboso.



– Para ressuscitar os mortos. – fora Draco e Dan que deram a resposta correta ao mesmo tempo. Todos olhavam de um para o outro. Realmente, só as famílias mais nobres, de mais sangues-puros e mais malignas conheciam.



– Muito bem. – dissera Snape. – É claro que eu não preciso explicar as conseqüências trágicas desse feito uma vez que vocês podem ter uma idéia. Uma vez aberto um portal para outro mundo, mesmo que para buscar ou resgatar alguém muito bom, sempre vem algo junto com ele. Algo ruim e terrível... Dependendo de onde esta alma estava. – era óbvio que ninguém queria ouvir mais sobre a Amargunis, era macabro demais. Percebi que em matéria de passar a mensagem “Nunca façam isso!” Snape conseguia ser muito mais convincente e esclarecedor do que Olho-Tonto Moody. – Agora... – voltara o seboso depois de mais um silêncio de forma mais animada, uma animação tão estranha que assustou vindo dele. – O ministério me dá a permissão de exercer uma das Poções Proibidas todo final de ano, quando estou prestes a formar a turma do sexto ano. Depois, é claro, de deixar claro as conseqüências que sofrerão se tentarem algum dia exercê-las. 



– Quem ele vai ressuscitar? – gemera Rony para Harry.



– E a minha favorita é... A Poção Obsidiana. – dissera ele levantando um cálice de prata e uma pedra cinza com manchas negras. Um pedra que tinha toda uma fisionomia velha e brusca, quase feia, mas que na verdade tinha uma beleza única. – Agora, quem aqui tem a coragem de beber a poção? – ele perguntara com a voz sombria olhando desafiadoramente para cada rosto naquela sala.



– Eu quero beber! – dissera Harry de pé determinado. Todos o olhavam tensos. Eu mesma sentia a minha respiração cortante.



– Nada disso, Potter. – dissera Snape surpreendendo a todos. – Dumbledore deu ordens diretas para que não deixasse você tomar a poção. Talvez porque obviamente você seria o mais afetado nessa sala por ela.



– Não! Eu não me afeta... – tentara Harry, mas Snape o cortara.



– Ordens são ordens, Potter! – era a resposta final de Snape e sinceramente, eu ficara mais tranqüila com a negação dele. Me aterrorizaria saber o futuro irreparável de Harry. Harry teve de se sentar contrariado, eu vira seu pensamento raivoso se direcionar a Dumbledore.



– Preocupada com o futuro do seu amiguinho? – eu ouvira Draco murmurar com deboche. Me virei pra ele com o cenho franzido e o desprezo nos olhos, que não o afetou.



– E com quem participará dele... – eu respondi,o sorriso de Draco ia murchando aos poucos. Obviamente sabendo que eu sabia de sua mentira. – Vai me dizer a verdade? – eu perguntei mais prontamente. Ele continuava por me encarar. – Hein?



– Quem é você para me exigir a verdade? – ele perguntara calmamente, e eu pude ver o mesmo Draco que me chamava de sangue-ruim. 



– Como assim quem eu sou? – eu perguntara incrédula. – Sou sua namorada! Não sou? – ele demorara pra me responder, utilizando o meio tempo para me analisar, me estudar, ainda muito calmo e desafiadoramente.



– É. – ele dissera secamente.



– Então? – eu pressionara. Não acreditando naquela discussão.



– E Conl?



– Ainda isso? – eu reclamava. – Qual é o seu problema afinal? Por que defende tanto essa birra com ele?



– E por que você o defende tanto? – agora fora eu quem causara o silêncio. Seu tom calmamente agressivo me dava vontade de chorar.



– É meu amigo. – eu dissera quase sem voz e ele sorrira perigosamente.



– É, acho que a verdade nunca será um problema entre nós.



– Por que está fazendo isso? – eu perguntei completamente derrotada e ferida, pela primeira vez ele parecera se afetar com o meu estado naquela discussão, mas logo outra voz se fez ouvida. 



– Eu vou beber. – era Daniel no fim da sala que se levantara e ia decidido até a mesa do professor. Só então notamos que uma aula acontecia a nossa volta.
Daniel pegara a concha e a mergulhara dentro do caldeirão em cima da mesa e depositara seu conteúdo dentro da taça, esperando a ordem de Snape.



– Mais alguém? – perguntara Snape.



– Eu. – eu me ouvira dizendo e seguindo Daniel até a mesa. 


 


             Ninguém parecia capaz de dizer alguma coisa, qualquer comentário. O que estariam pensando? Que somos loucos ou corajosos? Eu me depositara ao lado de Dan respirando ainda com irritação, não esquecendo das últimas palavras de Draco. Aquele loiro já estava começando a me deixar absurdamente estressada, me indagando daquela forma, cheio de indiretinhas... Depois não vai adiantar se pendurar na vassoura no jogo de Quadribol, não.



– Está se divertindo? – perguntara Dan para mim com o cenho franzido, obviamente notando meu ar irritado.



– O que? – eu dissera irônica. – É o melhor dia da minha vida!



– Meu também. – dissera uma voz ao meu lado que eu sabia que vinha de Draco que também viera até a mesa ficando ao meu lado. 



           “Ah! Agora acaba de ficar melhor!”, eu pensara. Logo duas taças surgiram a nossa frente e fizemos o mesmo que Dan fizera, esperando a ordem de Snape para beber a poção. Vi que Daniel olhara de rabo de olho para nós, eu entre os dois. 



– Agora vocês precisam prestar absoluta atenção... – começara Snape de forma sombria para turma e para nós três. – Se fizerem algo de errado ou diferente do que eu direi poderão sofrer conseqüências terríveis... Nunca...



– O que é isso? – ele murmurara para a gente. – Uma competição pra ver quem tem o futuro mais trágico? Não é obvio que é a Hermione? Nós somos ricos.



– Cala a boca, Daniel! – eu murmurara de volta.



– Parece que somos os únicos dispostos a saber como essa guerra termina. – dissera Draco ainda seco.



– Está maluco? – respondera Dan – Eu só quero saber o resultado da sena-mágica. Sou tão azarento que jogo na sena e levo multa. – eu respirara entediada. Snape realmente não existia para nós, não conseguíamos prestar atenção em mais nada além da nossa pequena discussão. – Você achou o que? Que eu ia querer ver o futuro da nossa agradável relação?



– Impressionante o seu senso de humor, Daniel. – dissera Draco ainda sério. – Realça seu lado jovial. 



– Imagina que lado o seu humor realça então... 



– Muitos morreram tentando beber a poção sem a concentração exata. – eu ouvi Snape de algum lado. – É muito importante que não estejam com sentimentos ou pensamentos que possam por negatividade na poção.



– Parem vocês dois! – eu murmurara entre eles. – Merlin, vocês se amam!



– Amor? Não, os Malfoy não amam...


 
– Muito bem lembrado, Conl... – dissera Draco. – Agora quer fazer o favor de calar a droga da boca?



– Como assim muito bem lembrado? É verdade isso? – eu indagara. Ele se virara pra mim raivoso.



– Você também?



– Crianças... Briguem mais baixo, a turma pode ouvir. – dissera Dan obviamente se divertindo com aquilo. Snape continuava com as indicações sobre o ritual, mas não prestávamos atenção em nada.



– Verdade nunca será um problema entre nós... – eu murmurara para Draco irritada. – Agora eu sei perfeitamente o que você quer dizer.



– Mesmo? – Draco se virara agressivamente sarcástico para mim. – Impressionante como Daniel Conl sempre te faz chegar perfeitamente nas conclusões corretas. 



– Isso não tem nada haver com Daniel, Draco. Só com você! – eu dissera já sentindo que todos naquela sala assistiam nossa discussão.



– Ah, claro. Não vamos envolver a vítima Daniel Conl em nossas brigas conjugais. Vai ver nem é ele que dá em cima da minha namorada. Vai ver é você que dá em cima dele.



– Draco! – exclamara Daniel.



– É necessário principalmente que estejam otimamente espiritualizados, sem conflitos internos, que estejam totalmente voltados apenas para a poção... – ouvi Snape dizendo.



– Você é patético, Draco. Seu ciúme é patético. – eu dizia tentando não me afetar.



– Ora, então namore o Conl. Tenho certeza que ele seria muito mais cavalheiresco e verdadeiro com você, “Hermigatinha”.



– Pare de falar merda, Draco! – se alterara Daniel enquanto eu registrava as últimas palavras dele. – Hermione, não ligue pra ele. – Draco se virara para ele.



– Você é o que? Advogado dela? – Daniel se virara para a frente tentando controlar o próprio estresse e deixando escapar entre dentes “Ah! Isso vai ser interessante...”.



– Chega! – ordenara Snape na sua voz arrastada. – Vocês vão beber a poção ou continuar disputando essa pessoa desagradável? – “Vai pro inferno!”, eu pensara enquanto olhara de soslaio para o seboso.



– É o estresse ambulante aqui. – reclamara Daniel apontando para Draco.



– Por que você não ficou na França, hein? – perguntara Draco com raiva de volta.



– Eu disse chega. – dissera Snape. – Chega, vocês três. Prestaram atenção no que eu disse? Estão preparados? Se não estiverem saiam da minha sala imediatamente.



– ESTAMOS! – respondemos os três com raiva. 



– Muito bem. 



           Ficamos em silêncio por longos minutos até que ao mesmo tempo, nós três viramos nossa taça com a Poção Obsidiana garganta abaixo. 


 


           O que será que aqueles dois viram?


 


**


 


 


           Hermione parara de escrever olhando pela vidraça de seu quarto enquanto lembrava dos acontecimentos daquele dia. Olhara a madeira escura que continha naquele ambiente e as longas cortinas verde-escuras. Um ambiente meio frio e imperialista, grandes quadros que Hermione sabia pertencerem aos Malfoy, cobriam as paredes. 


 


            Do lado de fora da janela podia ver uma noite estrelada e muito abaixo o pátio da mansão, um imenso jardim de rosas brancas. Sabia que aquela era a sala em que vira Draco e Dan jovens duelando, mas não lembrava de ter visto aquele jardim de rosas na outra visão... Nem a estatua, nem o lugar onde vira Draco e Dan tocando violão. Aquela não era a Mansão Malfoy de antes. 



– Granger! – aquela voz congelara sua espinha. Hermione permanecia em choque ainda de frente para a janela e de costas para de onde vinha aquela voz. Sabia de quem era, e ouvi-la ali de novo, tão firme e fria, deixara-a tensa. 


 


– Levante-se. Chorar não vai adiantar. Só você pode fornecer a força de que você mesma precisa. – se virara devagar com medo do que viria.



         Ela vira a si mesma, uma garota de cabelos bagunçadamente cacheados caída de joelho no azulejo frio da sala. Apoiava-se nas duas mãos de forma exausta, podia ouvir sua respiração ofegante. Ephram Malfoy permanecia indiferente a três metros dela, com a varinha apontada para o chão e a outra mão na cintura, como a pose do zorro. Hermione ia se aproximando de Ephram e a Hermione do futuro aos poucos e cautelosamente, rondava-os temerosa, sem conseguir decifrar aquela visão. Ela enfim fora capturada?



– Por favor,... Não agüento mais. – pedia a Hermione do futuro levantando os olhos para o loiro de forma sofrida.



– Levante-se! – ordenara Ephram de forma impaciente.



– Dói... – ela dissera quase sem voz.



– Não vai doer mais quando você controlar... – ele dissera firme.



– Eph... – mas ela não terminara, pois logo fora jogada para trás por um feitiço do loiro, como se esse a tivesse socado com um taco de beisebol. 



        Ephram estendera no ar cinco pequenas esferas de vidro que voaram avassaladoramente em direção a Hermione. 


        Hermione vira a si mesma desviar de três das esferas, desviando-as com a própria Magia Elemental do vento. Mas duas delas bateram em cheio contra a sua perna e ombro abrindo feridas causadas por uma reação química da própria esfera. A Hermione da visão gemera de dor, enquanto a Hermione real quase gemera junto conforme aquela cena agonizante.



– Levante-se, Granger! – ordenara Ephram, assustando agora até a Hermione real. Ela vira a Hermione da visão levantar os olhos raivosos e exaustos para o tio de Draco que respirara entediado. – Levante-se, Hermione. – ele repetira mais calmo.



– Não. Me. Chame. De. Hermione. – ela dissera pausadamente. O loiro permanecera calado observando-a, estudando-a enquanto ela se levantava. – Por que está me olhando assim?



– Nada... Você me lembra alguém. – ele dissera de forma sombria, Hermione vira a si mesma olhá-lo em compreensão e desconfiança. 



               Ela sabia a quem ele se referia. Lílian Evans. O que será que ele estava fazendo com ela? Sabia que ele era o único especialista vivo na Magia Elemental... Mas nada parecia se encaixar. Por que não a matava de uma vez?
Agora Ephram estendera no ar magicamente três punhais que giravam no mesmo lugar e foram igualmente em direção a castanha. Mas dessa vez ela abrira os braços com força fazendo com que uma onda invisível passasse por eles desintegrando-os.



– Muito bom. Você está mais forte... – ele recomeçara a falar mais firmemente enquanto Hermione apenas respirava com dificuldade tentando se manter em pé. – Mas não o suficiente. Prepare-se! – ele dissera apontando a varinha para ela. 



            Hermione se assustara com o que iria ver. A própria Hermione da visão parecia temerosa. Então era aquela hora... Ele iria matá-la. Mas ela não ouvira nenhuma maldição da morte, vira apenas a si mesma ser atingida por algum feitiço que a fizera cair de joelhos nos chão. Enquanto a Hermione da visão gritava seus cabelos balançavam perante uma ventania que só circulava ela. 


 


             Todos os móveis do ambiente começavam a se estremecer fazendo um barulho perturbador. Como se uma manada estivesse passando. Vira Ephram gritar com autoridade para uma Hermione que mal conseguia manter os olhos abertos perante a força que fazia para não gritar, se entregar a dor.



– Agüente firme. Sei que já agüentou dores maiores que essa. – dissera Ephram, Hermione parecia não ouvir. – Ou melhor... Você já sentiu a Cruciatus no seu corpo antes, lembra? Vamos... Agüente, sei que consegue. Reaja, Granger!



– Não consigo... – ela dizia em meio aos próprios gemidos de dor. Seus braços já estavam abertos enquanto a ventania dobrava em intensidade e alguns objetos já começavam a atravessar a sala. A Hermione real permanecia assustada e sem entender que realidade era aquela e como adquirira aquele poder.



– Por quem você vai chamar? Não pode chamar por ninguém! Potter? Não sabe que você está aqui. Draco? Não quer mais saber de você. Por quem você vai chamar? – Hermione já começara a sentir ainda mais ódio daquele Malfoy miserável, pelo seu tom de voz debochado e indiferente, via a Hermione da visão segurar os cabelos com as duas mãos de forma suplicante.



– Dan! – gritara a Hermione da visão assustando-a ainda mais. “Dan?”, pensara ela. Ephram quase rira.



– Dan... – repetira ele achando graça. – Parece que Draco não é mais o seu herói, não é?



– Pare! – a Hermione da visão gritara para Ephram com ódio, fazendo agora a ventania que a cercara cercar o loiro também. Ephram parecera gostar da reação dela, o que confundira a Hermione real. 



– Agüente! – brigara Ephram e dizendo firmemente. – Eu não sou o Conl. Não sou o Potter. Não sou o Draco. Sou seu treinador. E eu não me afeto te vendo sentir dor. Não tem ninguém aqui que tenha pena de você, Granger!

              


 


 


              Draco estava no Três Vassouras, o local estava todo decorado com fitas vermelhas e douradas. Um palco onde uma banda arrumava a aparelhagem de som. Em cima do palco havia uma imensa faixa flutuante com os dizeres “Hermigatinha, boa sorte! Você é a melhor! Te amamos!”. Ele olhara em volta onde o bar estava repleto de estudantes de Hogwarts, incluindo Luke, Roger e outros sonserinos. Potter e seus seguidores se encontravam organizando o bufe. Ainda vira de soslaio a ruiva mirim dar uns berros autoritários para Jack que segurava uma tigela de doces e quase os deixara cair. 



             Draco continuara por rondar o Três Vassouras à procura de Hermione. “O que estaria acontecendo?”, pensara ele. O que de tão importante estava acontecendo ali que não estivesse sujeito a alteração? De certa forma, conforme andava por aquela realidade distante, sentia-se bem. Longe dos problemas presentes, longe da raiva que estava sentindo de Hermione, a vontade de feri-la... Para assim ter uma desculpa covarde para fugir, não ter de enfrentar tudo aquilo sozinho. Se ao menos tivesse ali a certeza que tudo terminaria bem. Ou que ela o amava também... 



             Fora então que notara costas nuas, num vestido frente única, os cachos caindo-lhe pelos ombros. Parecia distante, pensativa, triste... O que aconteceu? “Será que eu morri?”, pensara Draco maldosamente com um sorrisinho sarcástico nos lábios enquanto se aproximava das costas da castanha. Ele a contornara engolindo em seco percebendo que ela tinha lágrimas nos olhos, levara um susto ao ouvir a voz de Dan a sua frente que colocara a mão no ombro de Hermione.



– Podemos ir embora, se quiser. – Daniel estava diferente, o cabelo raspado até bem curto, uma pequena barba mal feita no queixo uma aparência um tanto diferente que lhe dava um aspecto mais triste e sofredor mesmo por trás do seu ar debochado e canalha. 


 


             Algo acontecera. “Merda, não é que eu morri mesmo...”, pensara Draco sarcástico. Ele vira Hermione dar um sorriso quase animado para Dan.



– De jeito nenhum. Vocês fizeram isso para mim. É maravilhoso. – ela dissera olhando em volta.



– Mas Draco não vai vir. – ele dissera com um olhar caloroso fazendo o sorriso de Hermione murchar aos poucos e se transformar num sorriso triste. ”Uffa, eu não morri.”, pensara Draco respirando mais facilmente. 



– Não, ele vem sim. Ele disse que viria. – ela dissera confiante. Dan sorrira para ela e então avistara algo atrás deles.



                  


               Tanto Hermione quanto o Draco real se viraram para conferir o que era. E ele notara que se tratava do Draco do futuro que chegava no Três Vassouras numa cara amarrada observando toda a decoração do ambiente e finalmente encontrando o olhar de Hermione que prendera a respiração. 


 


               Draco olhara com o cenho franzido para a sua cópia do futuro se perguntando o que ele fizera dessa vez, já sentindo desprezo pelo Draco do futuro, pelo seu olhar superior. Tinha algo mais naqueles olhos cinza. Ele estava diferente. Era como se uma fera maligna e cruel se encontrasse por trás daqueles olhos cinzas. Tinham pouca expressão, porém uma porcentagem absurda de mistério, como se estivesse possuído por Tom Riddle ou coisa assim. Não parecia ele.



              Vira o Draco do futuro ir a passos rápidos em direção a Hermione que ia também apreensiva em direção a ele. Ele olhara para os lados notando que as pessoas presentes logo se viravam para continuar seus afazeres não querendo parecer bisbilhoteiros. Draco acompanhava a cena bem de perto, até que eles ficaram bem próximos um do outro.



– Draco... – começara Hermione numa voz rouca.



– Tome... – ele dissera numa voz fria cortando as palavras da castanha de uma forma seca.



             Entregara-lhe um pergaminho amassado de forma bruta, como se não quisesse manter muito contato com a pele da garota. Draco vira o Draco da visão ainda dar uma última olhada para o pergaminho amassado na mão fechada da garota e então subira as íris cinzas para as castanhas, onde Hermione achara um olhar tão magoado quanto decidido, e uma pequena fúria que fazia aquele pergaminho na sua mão esquerda esquentar.



– O que é isso? – perguntara a castanha tentando não mostrar medo em sua voz.



– De agora em diante eu não devo mais me preocupar com você. – ele dissera numa voz fria e olhara novamente para o pergaminho e depois para ela que mantinha o cenho franzido. Draco vira esse ritual dos dois com nojo de si mesmo. – Você tinha razão em tudo o que disse. Sem exceções. – Hermione permanecera ainda encarando Draco de forma desconfiada até que optara por abrir o pergaminho de forma desesperada, mas Draco a impedira. – Não agora!



– Por que não? – perguntara Hermione de forma brusca encarando-lhe agora muito próxima uma vez que ele se sobrepusera para impedi-la. O Draco real sentira-se com um pesar no peito ao notar o olhar raivoso e magoado de Hermione, era um olhar ainda mais intenso e terrível que qualquer outro que já lhe dera. O que ele fizera?



– Porque isso não tem nada a ver com o que estou dizendo a você. Não quero que esse conteúdo te confunda agora. – os dois continuaram por se encararem por longos segundos, Draco notava tenso um olhar castanho revoltado e perdido a sua frente e engolira em seco. – Quero que vá embora. – ele dissera bruscamente assustando a castanha. – Vá para a França e de preferência fique por lá. Não volte para Hogwarts.



– Quem é você pra me dizer pra não voltar a Hogwarts? – ela perguntara com raiva, mas o loiro respondera apenas com um sorriso seco e sarcástico. Então a castanha tentara se acalmar e voltar a falar de queixo em pé fingindo não se intimidar por seu tom sarcástico. – Você disse que não queria que eu me afastasse de você, que iria comigo aonde quer que... 



– Era mentira isso também. – cortara Draco de forma brusca, Hermione levantara mais ainda o queixo de forma desafiadora fingindo não se afetar. Draco vira o Draco da visão engolir em seco, mas manter sua posição indiferente. – Era tudo mentira. – Hermione engolira em seco e Draco acompanhara tal processo enquanto outro silêncio se estendia entre eles. – Vá embora. – terminara simplesmente.



– Eu posso tentar me afastar de você... Mas a França não seria o suficiente.



– Seria para mim. Não tem mais graça brincar com as suas atitudes... Com o seu coração. – dissera ele ainda no seu tom indiferente. 



– Pensei que meu coração fosse o seu maior alvo, Draco Malfoy. – ela dissera numa voz elegantemente debochada, quase o parabenizando.



– Não gostei do que alcancei... – dissera ele com um pouco de repugnância. – Mas tudo o que eu acho eu já deixei claro ontem. Eu só vim lhe entregar isso, eu não perderia tempo para ir embora se fosse você.



– Quem disse que você alcançou? – dissera Hermione quase sem voz com os olhos embaçados.



– Vai embora! – ordenara o loiro em voz alta. Hermione olhara em volta e o Draco real fizera o mesmo, notando que todos não conseguiam mais fingir que não prestavam atenção. A castanha se voltara para Draco.



– É isso aqui... – Hermione dissera ainda num sussurro com a mão direita em cima do seu colo esquerdo onde pode sentir as suas palpitações aceleradas – Que quer ficar. Lembra? “Quem eu realmente sou.”... Esse aqui. – Draco ainda olhava contrariado de Hermione para o colo dela e o Draco real respirava com dificuldade com uma vontade absurda de abraçar Hermione e matar a si próprio de porrada. – Você é um falso, Malfoy. Eu poderia te amaldiçoar, te fazer sentir um décimo do que eu sofri se eu realmente não sentisse tudo o que disse sentir.



– Não, não poderia. Pois você é fraca... Seus meios de ataque são tão patéticos quanto os de defesa. Seu coração guarda uma chave patética. Mas a sua parte mais fraca é a personalidade. – ele dera uma pausa notando o cenho franzido da castanha. – É tão ridícula que mesmo depois de tudo o que eu te fiz, nem me odiar você consegue. Se tornou uma garota burra. Fácil demais de se desestruturar. Até seus sentimentos são de porcelana. – Hermione continuara em silêncio apenas o encarando no olhar mais forte que tentava. – Não adianta esconder sua mágoa atrás desse falso olhar superior. – debochara ele. – Isso acaba por não distanciar muito a sua índole da minha. – Draco dera um curto sorriso debochado ao ver o silêncio da castanha e se virara para ir embora, mas ouvira ela se pronunciar.



– E agora você vai embora... 



– É. Não quero te ouvir cantar. – ele se virara para dizer. – Não me interessa mais as suas canções, entende? E nem você. – “Você é patético!”, Draco dissera para a sua cópia do futuro como se ele pudesse ouvi-lo.



– O seu pergaminho, pode levar... Não o quero. – dissera ela ainda tentando se manter firme. Draco fechara o sorriso, voltando para o seu olhar sério. – E você não sabe nada sobre os meus sentimentos.



– Sei sim... – o loiro dissera com a voz arrastada. – Pois são eles que te diferenciam de mim. Já disse.



– Eu nunca vou... Te perdoar. – ela dissera quase sem voz, deixando uma lágrima escorrer pelos seus olhos.



– E quem é que está pedindo perdão aqui,... Sangue-ruim?



              Ela permanecera parada vendo-o sair do Três Vassouras, ouvindo-o dizer um sarcástico “Boa Festa” junto de uma sarcástica reverência enquanto passava da porta do bar. E depois se virara decidida indo em passos firmes em direção ao palco. O Draco real vira-a passar por Dan decidida, ignorando o seu chamado. 



               Todos no bar acompanhavam Hermione subir no palco e segurar o microfone com agressividade, olhava para a porta do bar por onde Draco havia saído. O Draco real ainda perguntava com tristeza, esquecendo-se de que ela não podia ouvi-lo. “Para quem você vai cantar? Ele foi embora...”, e logo se corrigindo com pesar: “Eu fui...”.



– Mesmo que você não possa ouvir... – ela murmurara, como se só o Draco real a ouvisse. – Ou não queira... 



               Então num gesto simples com a varinha fizera aparecer em cima do piano um pergaminho contendo algumas notas. O pianista da banda um homem de mais ou menos trinta anos e de barba, mas numa aparência jovem, acenara afirmativamente e começara a seguir as notas do pergaminho e começara uma melodia arrepiante, terrivelmente sofrida, lembrando a Draco o próprio uivo das sereias. Conforme a música se prolongava os outros músicos começavam a acompanhá-la e tocando todos ali presentes. Draco ainda dera uma rápida olhada para Dan e vira-o sério aparentemente mal por causa de Hermione. Quem podia culpá-lo? Sentira uma fisgada de ciúme, mas também de consideração. Logo Hermione começara a cantar.


"Ouvir a Musica"


Broken heart One more time
(Coração destruído mais uma vez)
Pick yourself up
(O apanhe você mesmo)
Why even cry?
(pra que chorar?)
Broken pieces In your hands
(Pedaços quebrados em suas mãos)
Wonder how you'll make it whole
(Desejo saber como você o fará inteiro)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)
Of mine
(dos meus)

Someone said
(Alguém diz)
A broken heart
("Um coração quebrado)
Would sting at first
(Pode ferir uma vez)
Then make you stronger
(mas fará você ficar forte")
Wonder why this pain remains
(Você quer saber o porquê que esta dor continua)
Were hearts made whole just to break?
(Seriam os corações feitos inteiros somente para serem
quebrados?)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)

Creator
(Criador)
Only You take brokeness
(somente Você pega o destruído)
And create
(E cria)
It into beauty once again
(dentro dele beleza novamente)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Please mend this porcelain heart
(por favor emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)
Of mine
(dos meus)
Creator
(Criador)




                    Hermione mantinha o rosto escondido pelos cachos castanhos. Sua cabeça caída pra frente mirando o chão. Nenhuma alma naquele bar ousava respirar audivelmente. Só se ouvia o choro baixo de Hermione. Draco sentia que seu peito ia explodir de raiva e desespero, não conseguia vê-la daquele jeito. O que diabos acontecera? Nunca a ouvira cantar com tanto sofrimento antes ou chorar daquela forma na frente de outras pessoas.


                Ninguém se atrevia a fazer algum movimento, ou não sabiam qual fazer, apenas observavam com pesar o choro melancólico daquela garota, como se não soubessem que ela era capaz de tal ato. Ela se afastara do microfone devagar, ainda de cabeça baixa e lentamente descera do palco e atravessara o bar indo embora num ritual assistido por todos, inclusive Draco.
“Eu ouvi, Hermione, eu ouvi...”.


**


 



              O som do falatório invadiu os meus tímpanos. Demorou para que eu tomasse consciência que estava de volta à masmorra de Snape. Aos poucos fui identificando as perguntas animadas dos demais alunos e a voz arrastada, porém autoritária do professor tentando tomar ordem da situação. 


                A visão do tio do Draco atacando uma cópia minha num futuro desconhecido ainda formigava perante meus olhos. Olhei um pouco receosa para a minha esquerda e vi um Draco sério, mirando a mesa a sua frente com o cenho franzido. Ele teria visto o mesmo que eu? Não, ele não estava presente naquela cena. Mas então o que ele teria visto? Ele então me olhara, sem se virar para mim exatamente. Mantinha o mesmo olhar, porém seu peito subira e descera lentamente.



– Como podem ver a Poção Obsidiana não se trata exatamente de uma poção prazerosa. Acho que nunca ouvi falar de um relato feliz dessa poção. – ouvi a voz de Snape em algum lugar daquela sala, como se estivesse se divertindo com nossas expressões. Eu e Draco ainda mantínhamos o contato visual. – Por que não compartilham com o resto da turma a experiência que acabaram de obter? – convidara Snape numa voz falsamente convidativa.



– Então, Draco, quem vence a guerra? – ouvi alguém perguntar.



– Viu a própria morte? – brincara um. Finalmente Draco olhara para trás e se virara para a turma. Eu permanecia de costas, porém o olhava de rabo de olho, ele também olhara para mim.



– Então, Sr. Malfoy, qual foi a lição que aprendeu com essa experiência? – perguntara Snape ainda se divertindo. Vi Draco passar os olhos por toda a turma até se virar novamente para o professor.



– Pode ser alterada sim! – dissera ele firmemente no que se seguiu de uns três minutos de puro silêncio na sala, até que em passos rápidos se adiantara para fora da sala batendo a porta com força. 



              Eu me virara apreensiva para vê-lo ir embora, depois vi um sorrisinho satisfeito nos lábios do seboso. Como aquele sádico se divertia com isso? Parecia o Moody falso se divertindo usando a maldição da morte na sala de aula. Draco se referira à Poção Obsidiana claro, que Snape dissera mostrar um futuro certo, que não está sujeito a alteração. Draco parecera obviamente não concordar com isso. Como eu queria perguntar o que ele tinha visto.



– E você, Sr. Conl? – fora então que eu me lembrara de Dan, olhando à minha direita. 



             Também já virado para turma, com as mãos nos bolsos da calça, mas com um olhar sério e vago no piso da sala. Seu olhar afetado batia em incrível contraste com seus cabelos espetados de forma extravagante em direção ao teto. Não era de costume aquele rapaz debochado manter um olhar daqueles. 


            Ultimamente eu já devia ter me acostumado com as recentes mudanças na personalidade de Daniel Conl, mas aquele olhar não, me irritara e vagamente incomodara como seu constante mau humor e ironias agressivas. Aquele olhar me preocupara. Por um instante meu ressentimento por Daniel Conl se apagara e tive vontade de abraçar aquele meu amigo debochado. Ele parecia terrivelmente magoado. Com certeza parecia ter tido a pior das visões. 



– Dan...? – eu murmurara para ele de forma preocupada. Mas ele levantara os olhos para Snape. O mesmo olhar que a minha versão do futuro levantara para o tio do Draco que a torturava.



– Também acha que Antares Sérpia estava errada nos relatos da própria criação? – perguntara Snape. Aquilo chamara a minha atenção. Me virei para Snape com o cenho franzido. – Todas as Quatro Poções Imperdoáveis foram criadas por Sérpia, eu não comentei isso? – não, não comentara e aquilo me surpreendera. 


               Eu olhara para a pedra obsidiana em cima da mesa e logo um nome me veio a mente “Sérpia das Pedras” como Snape mesmo se referira a ela uma vez. Fiquei pasma por um tempo. De certa forma e sem muito motivo eu acabara por criar uma certa simpatia pela tal Sérpia, mas parecia que toda hora alguém vinha e falava um podre dela.



– Achei que Sérpia era do Exército contra as forças das trevas de Slytherin! – comecei a me alterar, aquela história já estava me confundindo por demais, por um segundo lembrei de Lílian Evans em minha cabeça contando sobre Sérpia e Slytherin. – Como ela pode ser a criadora de tantas poções das trevas e... Como ela começou esse envolvimento absurdo com Slytherin?... Pelo amor de Merlin! Como a maior guerreira do exército contra as forças das trevas começou a se envolver com Magia Negra? – eu parara de falar já sem fôlego sentindo meu rosto esquentar ao ver que todos naquela sala me encaravam confusos. Harry e Ron chegaram a se entreolhar com espanto e preocupação. – Digo... – eu continuara mais calma e até um pouco envergonhada. – Ela era boa. – logo me arrependi de dizer isso sentindo o modo como soou infantil. Snape dera um pequeno sorrisinho debochando.



– Boa... – repetira ele. – Ah! Essa santa ingenuidade de vocês estudantes. – ele dissera se virando para os demais alunos, senti que sabia o que ele ia dizer. – Sempre querendo classificar os demais bruxos de bons e maus. Estamos em guerra! Não existe bons nem maus numa guerra. – sabia que já tinha ouvido aquilo em algum lugar, de relance lembrei de Bellatrix e Ephram, mas logo fui distraída novamente pela aparição de Harry naquela discussão. Ele levantara-se de sua carteira e dissera simplesmente.



– Com licença. – e dizendo isso recolhera seu material e fora para fora da sala obviamente não satisfeito com os dizeres do professor. Eu sorri de lado, me lembrando da visão heróica que sempre tive de Harry e tive orgulho de ser amiga dele. Logo Ron fizera o mesmo e o seguira. Snape olhara de rabo de olho os dois se retirarem, obviamente não se afetando nem se surpreendendo, pelo contrário adorando aquela pequena “rebelião” em sua aula, e se voltara para Daniel.



– Sr. Conl? Também acha que o futuro que viu pode ser alterado? – eu me virei para Dan apreensiva. Sua voz me pareceu muito distante e até cortante.



– Não. – Snape parecera surpreso pela primeira vez. Eu não parava de olhar Daniel que não me olhava por nada.



– Vejam só. Finalmente uma alma sensata nessa sala de aula. – dissera Snape. Então Daniel continuara a falar no mesmo tom.



– Mas quanto as suas teorias sobre guerra... Nunca vi uma alma tão longe da sensatez como a sua. – eu senti um sorriso se espalhar pelos meus lábios, não acreditando nas palavras dele. Snape ficara branco e raivoso, porém Dan continuara. – Tendo tantas informações sobre tantas guerras e até já tendo participado de uma, é de se admirar que um bruxo até mesmo graduado como você se desempenhe a implantar a dúvida e descrença nos seus estudantes, uma vez que somos nós que acabaremos por decidir nesta guerra o fim que vocês começaram. Afinal o senhor já devia ter aprendido algumas coisas sobre caráter, uma vez que mora numa escola há tantos anos. Não sei quanto de “mau” tem num bruxo bom, ou quanto de “bom” pode haver num mau bruxo. Mas sei que nunca devemos confundir um com o outro. Pior do que ser um bruxo mau é ser um bruxo sem posição tomada. Pois é nessa escolha que se encontra o seu caráter. Uma pessoa que não sabe discernir uma coisa da outra não pode se dar ao luxo de ensinar.



            Vi Snape respirar vagarosamente como se estudasse Dan de forma astuta, dividido em lhe mandar uma maldição da morte e desafiá-lo ainda mais.



– O que está querendo dizer, Sr. Conl? – perguntara o professor na sua voz arrastada. – Está insinuando alguma coisa?



– Acho que já deixei demasiadamente claro aqui o que quero dizer. – respondera Dan sem se intimidar. 



– Ainda não ficou completamente claro para mim. – desafiara Snape mais uma vez. Não é possível, o ranhoso gosta de ser odiado pelos alunos, só pode.



– Então, talvez “caráter” seja algo além da sua compreensão. – terminara Dan. 


             Puder ver Snape morder os próprios lábios e um último olhar de indiferença de Dan antes de sair porta a fora da sala. Depois disso a aula chegara ao seu fim e eu, sem pensar duas vezes corri ao encalço de Dan.
Eu corria pelos corredores de Hogwarts, sabia que Dan precisava de mim, a cara dele não era das melhores, tinha alguma coisa. Mas então eu escutara alguém gritar o meu nome, mas eu ignorara mesmo assim, precisava achar aquele loiro debochado, foi quando senti alguém segurar a minha mão. Me virei e dei de cara com um par de esmeraldas, Harry parecia preocupado. Parei de supetão voltando-me melhor para ele.



– Preciso falar com você. – ele dissera respirando com dificuldade, aparentemente correra atrás de mim. – É importante.

               Eu adentrara pelo quadro da Mulher-Gorda logo depois do Harry, aquele ambiente completamente avermelhado e dourado estava vazio. Harry ligara a lareira e eu desejei que ele não houvesse feito isso, pois o calor na escola estava infernal. Ele olhara para os lados e se voltara para mim de forma apreensiva.



– Descobriu alguma coisa sobre a Lestrange? – eu perguntara tentando conter a ansiedade. 



– Não. – ele dissera e eu me irritara de leve já que era o único assunto que eu queria ouvir antes de falar com Daniel Conl.



– Então o que foi? – eu perguntara meio agressivamente, mas logo eu me arrependera ao notar aquele olhar preocupado e ansioso.



– Você confia em mim? – ele perguntara, eu franzi o cenho não entendendo de fato o porquê daquela pergunta.



– Claro, Harry... – eu respondera rabugenta, já que a resposta era óbvia.



– Sabe que eu nunca te faria mal e que tento te proteger desde que éramos crianças? – ele dissera apreensivo. Eu começava a me estressar perdendo a fala umas três vezes.



– O que aconteceu, Harry?



– Primeiro responda!



– Claro que sei!



– Então faça o que eu digo. – ele dissera quase eufórico e pausando para respirar, então voltara a falar. – Se afaste do Malfoy! – eu o encarara ainda por um tempo surpresa.



– O que? – eu começara de forma arrastada totalmente ofendida, e começara a notar que eu estava prestes a dar uma lição de moral nele sobre meu relacionamento com Draco quando ele fizera sinal com a mão para que eu calasse a boca e o escutasse antes e levantara um pergaminho negro à altura dos meu olhos. – O que é isso? – ele me entregara o pergaminho, mas confiante de si.



– Apenas leia. É uma carta de Lucio Malfoy. – aquela carta queimava em minhas mãos, mas eu só tinha vontade de atacá-lo.



– Como conseguiu isso? – eu o interrogara.



– Creio que ele esteja mentindo pra você.



– Mentindo sobre o quê? – eu perguntara com raiva.



– Leia a carta, Hermione. 



            Eu sentia meu peito inflar de desespero, olhava de Harry para o pergaminho em minhas mãos, do pergaminho de volta para Harry. Não queria ler aquilo, não queria descobrir que Draco estava mentindo para mim. Não queria me decepcionar de novo e descobrir que Draco tem realmente um motivo terrível para estar afastado de mim. Preferiria achar que só estava de birra comigo, que era apenas uma fase. Eu não conseguiria me decepcionar de novo e estava odiando Harry por colocar em minhas mãos essa oportunidade.



– Eu não tenho que ler isso. Pertence a Draco. E você não devia também se meter nos assuntos dele. – eu dissera de nariz em pé. Harry me olhara incrédulo obviamente não acreditando na minha reação ou minha passividade. 



– Hermione...!



– Eu confio no Draco. – eu o cortara e ele permanecera perplexo. Eu respirara fundo. – Sei que não estamos muito bem e que ele não tem me contado algumas coisas, mas... Eu confio nele. – eu engolira em seco sentindo que meu peito doía ao mesmo tempo que um alívio passageiro o preenchia. – Eu devo isso a ele .



              E devolvendo o pergaminho para Harry me adiantei pra fora daquele Salão Comunal onde antes trocava confidências com Harry e acreditava cegamente em suas palavras assim como ele fizera comigo. 


             Andei sem rumo pelo castelo sentindo um pequeno remorso ao perceber que eu acabara de renegar pela primeira vez a confiança e amizade que Harry sempre tivera por mim durante todos esses anos. Finalmente percebi o real preço de dar confiança a Draco. Era um preço caro, mas eu realmente lhe devia isso. Depois de todos aqueles meses desconfiando dele, ele merecia crédito, era o mínimo já que eu ainda não tinha coragem de lhe dar amor. Eu lembrara dele na neve gritando comigo, jogando na minha cara que minha confiança nunca durava mais de dois dias. Ele estava certo. Eu não fora nada justa com ele. Sempre fraquejava nas primeiras representações de problemas. Eu não iria fraquejar agora... Justamente quando nosso namoro está em crise, agora mesmo que eu preciso ser forte. Forte por nós dois. Esperar até que Draco resolva seus problemas e venha até mim.

– Vamos descansar um pouco? Por favor... – Daniel implorava se jogando na cadeira. Francamente parecia até que eu era a professora.



– Acabamos de descansar! – eu exclamara revoltada. – Por isso estou atrasada. Qualquer um agüenta mais.



        Ele respirara entediado daquele jeito ligeiramente arrogante, como se fosse uma merda de desperdício de tempo estar ali comigo. Sério, ele já foi meu amigo. Lembro vagamente disso.



– Não adianta você ficar as próximas horas da madrugada se contraindo e dizendo feitiços animagos, você não vai se transformar hoje. Tão pouco chegará ao próximo estágio assim. Você ainda não está preparada!



– O ano está acabando, tenho pouco tempo para aprender isso... – eu reclamava.



– Hoje foi um dia cheio, Hermione...



– Daniel! – eu pressionara e ele tirara as pernas da mesa se virando pra mim de forma irritada que até me assustou um pouco.



– Você não está entendendo. É só abrir um livro que fico com vontade de fazer outra coisa. Qualquer outra coisa. No meu antigo regime de vida os “professores” costumavam ganhar algo em troca do seu trabalho. Mas eu não ganho nada, pelo contrário: te ver tentando apressar o ritmo natural da animagalia é extremamente irritante. Isso leva tempo, Hermione.



– Ofereci guloseimas. – eu dissera com contrariedade.


 
– Não estou falando disso. Não estou me sentindo motivado, só. 



– Se sentindo motivado? Sou eu que preciso ser motivada, eu que estou aprendendo aqui! – eu brigara batendo na cintura de raiva. Ele fizera um som de deboche com a boca. – Imagino que podia estar fazendo coisa muito melhor no momento.



– Duvida? – ele se virara pra mim notando o meu deboche. – Eu tenho uma donzela experiente e sem expectativas românticas me esperando nesse momento. – eu levantara uma sobrancelha e dera uma curta risada seca em deboche vendo que era o velho Daniel Conl sonserino canalha e sem nenhum afeto especial pela minha pessoa que se encontrava ali.



– Donzela experiente e sem expectativas românticas? O que quer dizer com isso? Que ela só quer se envolver carnalmente? – eu fizera cara de fingida adoração. – Quem é essa Deusa?



– No momento ela prefere o anonimato. Mas ela deixou claro que se houver um desejo mútuo ela não hesitará em satisfazer minhas necessidades físicas. – ele dissera simplesmente, como se falasse de quadribol. Senti nojo daquele cara.



– O que é isso? Uma relação aberta ou um contrato de livre comércio? – eu perguntara dividida entre o sarcasmo e a repugnância. 



             Mas ele se virara pra mim respirando pesadamente e eu prestara atenção. Afinal, por mais absurdo que parecesse eu queria ouvir o que ele tinha a dizer, pois era a primeira vez em algum tempo que ele me dava alguma atenção. E acho que nem ele percebera isso. Porque do jeito que estava se tivesse percebido não continuaria.



– Ouça, se tivesse a chance de ficar com alguém sem cobranças e sem compromissos, sem primeiro encontros, sem esperar telefonemas, totalmente superficial, 100% casual... O que faria? Você toparia?



– Uma relação sexual totalmente vazia, fria e insatisfatória? Me parece genial. – eu dissera sarcástica.



– Não prestou atenção. Falei sério. Mas a oferta é por tempo limitado. Quero saber. O que faria? – eu o olhara como se estivesse olhando para uma criancinha que precisava entender que Papai Noel infelizmente não existe e que renas não voam. Por favor, vamos convir que por mais que Daniel Conl queria parecer assim, esse não é quem ele realmente é.



– Acho que se quisesse fazer sexo casual com alguém agora, estaria fazendo. Em vez de estar tendo um papo hipotético a respeito. É o que eu acho.



– Aff. – ele dissera se jogando novamente na cadeira. 



– Agora podemos voltar aos estudos e termine a Poção do Elemento e não se esqueça de me avisar quando devo parar o feitiço temperalto no ambiente. Você sentirá a temperatura ambiente melhor do que eu. 



– Não quer um cafezinho também, não? – ele dissera irônico entre dentes.



– Ou se preferir... – eu comecei esperançosa, ele me olhara de lado. – Pode conversar comigo... 



– Sobre o que eu conversaria com você? – ele começara ríspido. Eu sentira algo rachar no meu estômago.



– Você anda estranho... 



– Estou ótimo! Agora vamos embora, que eu estou morto de sono já. – ele dissera se levantando com irritação e indo embora, parara apenas na porta quando eu retornara a falar.



– E na poção? O que você viu?



– Isso é particular.



– Você pareceu muito afetado... – um silêncio se estendera naquela sala, um silêncio perturbador onde eu só via as costas largas dele subirem e descerem com sua respiração pesada. Então ele se virara pra mim numa animação sarcástica.



– Sabe o que eu percebi, Hermione? Que não devo me preocupar com o que me afeta futuramente. Se eu pensar nisso agora, eu vou ficar maluco. Devo me preocupar com o que me afeta agora. Com o futuro eu me preocupo amanhã. – então ele ficara sério. – E você devia fazer o mesmo. Aliás... Meus problemas não deviam te incomodar... O problema não é seu, é?



– O que quer dizer...? – eu perguntara não entendendo aquele tom agressivo.



– Quero dizer que você tem sorte em enxergar tão pouco a sua volta. Continue com suas aulas, Hermione. Vai precisar unicamente disso na sua guerrinha particular. – e dizendo isso me deixou sozinha na Sala Precisa completamente confusa e com uma ligeira raiva dele. Pelo menos do tom dele, já que fora a única coisa que eu identificara naquele discurso. 


**



                   


 


                 Draco Malfoy estacionara a sua Nimbus a duzentos metros do chão ao lado de um dos aros do campo de Quadribol. Seu cabelo loiro platinado debatia-se em todas as direções por causa do vento e estava apenas com uma regata branca grudada no corpo por causa do calor que mal conseguia ser amenizado pelo vento. Eram quatro e meia da manhã, mas não conseguira ir dormir, então voava sozinho por Hogwarts evitando ser visto pelo zelador nas áreas de mais risco. 



                 Nas alturas era mais fácil não pensar na sua visão do futuro, no que acontecia com Hermione. Mas em compensação as lembranças do seu presente tempestuoso o atormentavam em cheio não importando a quantos metros do chão estava. As cartas do seu pai continuavam por alcançá-lo. “O Lord quer te ver. Precisa cumprir a sua missão. Agora mais do que nunca!”, essa fora a pior de todas. E fora também a carta que sumira de sua mochila naquela manhã. Ah! Se descobrisse que o Potter tinha alguma coisa haver com aquilo. Nunca teria tanto prazer em cumprir aquela missão.


          E Hermione... ?Fora então que notara uma presença em um dos corredores do castelo no sétimo andar. Draco apertara os olhos para ver quem estava acordado àquela hora para lhe dar a devida detenção quando notara que se tratava da própria e a seguira em sua vassoura do lado de fora da escola de forma que ela não o pudesse ver, até a sala de música. Draco achara aquilo estranho, mas optou por saltar da vassoura no corredor da escola e ir atrás dela.



        Draco entrara na sala depois de uns segundos meditando a respeito e vira uma surpresa Hermione sentada de frente para um piano. Ele a olhara de lado desconfiado. 



– O que está fazendo aqui? – ela que estava com uma aparência cansada parecera ligeiramente feliz e aliviada em vê-lo. 



– Tenho que terminar a música do encerramento do ano. – ela dissera quase gaguejando. – Mas estou sem idéias. 



– Por que essa hora? – ele interrogara. Se não estivesse demasiadamente escuro naquela sala, Draco teria visto seu rosto corar. 



– Não tenho muitos horários livres. Agora também, ninguém incomoda. – ele se aproximara do piano no seu passo arrastado, ainda com seu olhar sério e superior.



– Eu podia te por em detenção por isso. – ele disse sério de forma indiferente, mas fora o suficiente para a castanha abrir um sorriso de orelha a orelha de forma animada.



– Eu sei. E eu não me queixaria muito... – ela dissera ainda sorrindo meigamente, o que fizera o loiro engolir em seco. Ele se sentara no banco do piano ao lado dela mirando as teclas do piano. Lembrara por acaso de suas aulas obrigatórias perante toda a sua infância na Mansão dos Malfoy. Apesar de ser realmente muito bom naquele instrumento, sempre gostara mais das cordas trouxas do violão. – Senti sua falta... – ela dissera quase sem voz. – O que tem feito?



– Pensado muito... – ele respondera sincero de cabeça baixa. Hermione encarava seus fios platinados soltos em direção ao chão. – Ando meio preocupado. Tenho umas coisas para acertar...



– Que coisas? – a castanha perguntara, mas o loiro não respondera. Hermione sentira seus olhos arderem e sua garganta ficar seca, sentindo que aquilo não era bom sinal. Mas tentara mudar de assunto, não queria chateá-lo ainda mais. Se virara novamente para ele e tentando parecer mais animada. – Sabe? Este piano... Realmente é lindo... Eu adoro piano. Me transporta para um lugar mais confortável quando toco em suas teclas. Me sinto melhor por dentro. Minha canção não parece então apenas palavras dentro de mim.



– Hermione... – dissera Draco tentando não se desviar do assunto, mas a castanha o cortara não querendo ouvir a coisa ruim que ela sabia ele tinha pra dizer.



– Sabe tocar? – ela se virara para ele fingidamente animada. Ele a olhara e vira as lágrimas se debatendo nos olhos castanhos da garota e quis se matar por isso.



– Não. – mentiu ele. Ela dera um sorriso meigo, mais equilibrada.



– É fácil, é só me seguir... Tente me acompanhar. – ela dissera pondo os dedos numas determinadas teclas do piano. 



             Ele a imitara colocando também as duas mãos no piano nas mesmas notas que ela, porém mais para a esquerda. Então ela começara a tocar bem devagar e pacientemente enquanto ele prestava atenção e logo ele a seguira se unindo a melodia lenta e sofrida. 


– Viu?... Não tem mistério.



            Era um som sofrido e quase repetitivo, seria uma boa canção se tivesse uma boa letra, ele notara. Mas fora obviamente improvisada por ela ali, só para ensiná-lo. Primeiro ele via o detalhe de suas mãos, como eram diferentes das dele. Finas e delineadas, eram obedientemente seguidas pelas dele, pesadas e ásperas. Aquele momento doía. Um momento em que estavam com certeza muito mais próximos do que muito outros dias em que estivessem lado a lado. Fazia tempo que não estavam tão próximos assim um do outro e ele não queria que aquele momento terminasse. Mas sabia o que tinha que fazer.



– Você é muito bom. Parece que já tem prática. – ela dissera enquanto tocavam. – Deve ser um talento natural. – ele apenas sorrira de leve sem dizer nada, deixando apenas que aquele bom momento se prolongasse pelo maior tempo possível.



         Mas depois do que pareceu cinco minutos os dedos pararam e a melodia cessara dando início as desesperadas palpitações de ambos os corações. Agora os dois mantinham a cabeça abaixada, mirando as teclas do piano cobertas pelos próprios dedos, sabendo que não podiam mais fugir.



– Por que está me evitando? – começara a castanha quase sem voz e sem desviar os olhos dos próprios dedos. Draco sentira seus olhos arderem, mas mantivera-se forte. – Não vê que preciso de você? – Ficara outro silêncio perturbador, até que Draco respondera.



– Temos que terminar. – ele dissera na sua voz calma e firme, sem tirar os olhos do piano. Hermione sentira uma lágrima escapar da órbita de seus olhos e rolando até seu maxilar e pingando em um de seus dedos. – Acho que você precisa mais de outras coisas do que de mim. – ela não dissera nada. Era mentira aquilo, mas não conseguia forças para dizer nada. – Acabou pra mim... Não consigo mais ficar ao seu lado.



– Você não... – ela perdera a voz por um momento e Draco quase chorara adivinhando o que ela ia perguntar. – Me ama... Mais?



– Tenho algumas coisas para acertar... – ele dissera, ignorando a sua pergunta. – Não posso me preocupar com você, Hermione.



– Mas você disse... Que me amava. – ela insistira ainda sem olhá-lo. Dessa vez ele não dissera nada. Depois de um silêncio ela se virara para ele, mas ainda sem encará-lo nos olhos cinza que continuavam vidrados nos próprios dedos. – Draco, eu posso amar voc...



– Eu não quero mais machucar você. – ele a cortara com a voz mais firme se levantando do banco de forma brusca e ficando de costas para ela, não querendo ouvir aquela afirmação dela, não querendo ouvir nada que o fizesse mudar de idéia. – Não te quero mal. Mas entenda... Não posso mais lutar por nós dois. Estamos de frente para um mundo em que nossa relação é impossível. É inacreditável o quanto conseguimos ir longe até. Mas não dá pra irmos mais longe que isso. 


          Hermione sentia-se vazia, despedaçada... Tinha vontade de protestar, mas não encontrava forças. Não conseguia forças para convencê-lo a não desistir dos dois. Não tinha esse direito. O loiro olhara de rabo de olho para ela, incapaz de encará-la de frente. 


– Sinto muito.



– Eu posso amar você. – ela dissera finalmente ao levantar os olhos borrados para ele, ignorando a determinação dele. Ele respirara fundo sentindo que as próprias glândulas lagrimais estavam prestes a lhe trair.



– Não posso mais te esperar. – ele dissera rouco. – Sinto muito.



– Draco... – ela chamara, enxugando as próprias lágrimas e tentando se manter forte.



– Acabou. – ele a cortara decidido e então a olhando de lado. – Por favor não insista. É a morte pra mim te ver assim. 



            E dizendo isso fora embora deixando para trás alguém que no decorrer do caminho lhe pareceu mais um pedaço de si mesmo, que não acreditou que conseguira deixar para trás e continuar respirando. A ferida ainda estava aberta e sangrava, parecia que seu corpo gritava pela parte ficada para trás, mas não conseguia parar de andar. Não conseguia olhar para trás. Ele nunca olhava para trás. 



            Já se esquecera do porquê terminara com ela, aquele motivo tão claro em sua mente lhe escapara agora. Só sentia dor, só se lembrava dos olhos castanhos borrados diante dele. Perdera a vontade de respirar estando longe dela, não tinha mais gosto pela vida. 



             Mas sentira um terrível alívio ao sair daquela sala, livre da necessidade de machucá-la ou da tarefa de ser uma boa pessoa, uma pessoa que ele nunca poderia ser. Mas principalmente satisfeito com a certeza que ela não seria mais o alvo do seu pai ou de Voldemort. Ela não atrapalharia mais os seus planos, não teriam mais motivo para acabar com ela. É, mas logo ela a odiaria... Se por infelicidade do destino não pudesse fugir de sua missão ela sofreria absurdamente... E seria ainda pior se eles ainda fossem namorados nesse dia.


            Ele sabia que ela se encontrava agora em algum lugar daquele castelo, encarando o chão gelado da Sala de Música com dor e desespero, uma mágoa tão gélida que congelava as lágrimas em seus olhos. Duvidava que ela conseguisse chorar, conhecia o orgulho ferido daquela leoa que recolhia todas as suas lágrimas quando ela mais precisava delas. E por isso sabia que estava sendo ainda mais doloroso. Seu corpo todo devia estar chorando silenciosamente e desesperadamente remoído por não conseguir expressar isso.



          Como queria voltar... Abraçá-la... Como queria não ser um Malfoy.


 


Continua... 

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