O Recado de Fawkes




Estava frio.

Não havia ninguém nas ruas àquela manhã. A neve cobria o asfalto, a grama e o que quer que fosse. Somente os barulhos das placas depredados distraiam a atenção dos pouquíssimos pássaros que por ali passavam. Cartazes e mais cartazes estavam colados nas paredes. A guerra não acabara.

Uma guerra por vingança. Até mesmo quando Harry destruiu Voldemort, e assim destruindo a si mesmo também, todos sabiam que a guerra estava longe de acabar. Todos os seguidores, de ambos os lados, ainda estavam lívidos de fúria, ódio e desejo de vingança. As tristes perdas que todos sofreram foram motivos suficientes para não ligarem mais para que estava em jogo. Ninguém mais se importava com o poder, só queriam impor a dor a quem os fizera sofrer. Agora esse era o objetivo, e todos estavam se saindo muito bem... As batalhas sempre acabavam em sangue e destruição. Mortes para todos os lados. O mundo mágico já não era segredo, e os trouxas cometeram o erro de entrar na batalha. O caos se tornara constante. Quase ninguém mais tinha forças para resistir e tentar conter a destruição e a extinção da espécie humana, quase ninguém mais se importava com as milhares de vidas que se perdiam todos os dias. Quase ninguém...

Quatro pessoas vinham andando até chegar numa casa de aparência rústica, e que na plaqueta se encontrava a cabeça degolada de um javali numa estranha fôrma. O nome Hog's Head se encontrava acima da plaqueta velha e semi- pendurada. Ginny e Fred Weasley não estavam acompanhados do irmão, Ron. Vinham com mais dois companheiros encapuzados, em que somente os longos cabelos louro- prateados de um era visível.

- Quanto tempo... – disse a voz fraca e cortante de Ginny, olhando com saudade para a placa velha.

Fred tirou uma chave do bolso das vestes e a enfiou com dificuldade na fechadura. Com um estalo, a porta se abriu e todos entraram. Fred fechou a porta e a trancou novamente por dentro.

O visual era bem diferente do da última vez que eles todos estiveram ali. Agora havia prêmios e matérias de jornais enquadradas nas paredes. Não existia mais o bar. Ali agora se encontrava uma velha mesa de bilhar empoeirada. As mesas se encontravam nos mesmos lugares da época de Hogwarts. Eles se sentaram um em cada canto de uma, afastada de todo o resto, perto de uma janela, onde certa vez eles se reuniram, há muito tempo atrás.

- O tempo passa, mas certas coisas ficam. – disse Luna Lovegood. Todos reparavam na inscrição que estava talhada na madeira sem toalha:

"Local da Primeira Reunião da AD – Armada de Dumbledore"

Logo embaixo, estavam talhados os nomes de todos os membros originais da AD, e se perguntaram porque nunca tinham voltado até o Hog's depois do início da guerra. O nome Harry Potter estava acima de todos. Ginny desviou o olhar da mesa no mesmo instante em que leu.

- Sim... Foi bem aqui. – disse Fred, olhando para a paisagem sem vida.

O sujeito encapuzado retirou o que cobria seus cabelos negros, e seu rosto redondo e infantil não estava com a expressão típica que sempre tivera. O tempo marcara sua vida com muitas perdas e sofrimentos amargos. O rosto de quem lutara em diversas batalhas, e que mesmo assim, sabendo que ainda haveria muitas a lutar, estava começando a se encharcar com as lágrimas que saiam de seus olhos.

- Neville... Não. Não podemos... Não devemos nos abalar. Nós sabemos porque estamos aqui novamente, onde tudo começou. – disse Luna, olhando para seu mais fiel amigo.

Neville parou de chorar no mesmo instante.

- Então vamos direto ao ponto.

Fred se levantou. Não agüentara ficar sentado. As lembranças também o abalaram emocionalmente.

- Nós somos os únicos que temos a chance de acabar definitivamente com essa maldita guerra! – exclamou ele.

- Como, meu deus, como? – perguntou Luna, atônita.

- Você sabe como, Luna, mas ainda não teve coragem de reconhecer o único meio possível. Dumbledore ainda está vivo, e eu sinto isso. Todos nós sentimos. – respondeu Fred.

- Mas onde ele está? – perguntou Ginny de repente.

- Esse é o motivo de estarmos aqui, não é? – disse Neville, a compreensão se espalhando pelo seu rosto.

- Sim. Esse é o motivo. Mais alguém vai se juntar a nós hoje. – disse Fred.

- Quem? – perguntou Luna.

Todos olharam para a porta. Alguém enfiou outra chave na fechadura e a girou. A porta se abriu. Ron tinha acabado de pisar no Hog's Head.

- Ron!!! – gritou Ginny, indo ao encontro do irmão, que a abraçou.

Ele continuava alto, como sempre estivera, os cabelos em fogo vivo, agora mal cortados e molhados pela neve. Mas sua expressão era assustadora. Fazia muito tempo que Ron não via seus irmãos, e por isso foi que a reunião só foi começar bem depois de sua chegada. Todos perceberam a total tristeza que estava contida em Ron. Tinha mudado muito desde que seu melhor amigo se fora para sempre. Tornou-se sério, e a alegria de viver foi embora quando Hermione decidiu morrer para salva-lo. Ela entrou na frente dele quando Percy, seu próprio irmão, lhe lançou o feitiço da morte, Avada Kedavra. Não tivera tempo nem de dizer que a amava mais do que tudo em sua vida. Ron se sentou numa das cadeiras, perto de seus amigos, e começou a falar.

- Vamos ao que interessa. Não temos provas de que Dumbledore está vivo, mas creio que todos acreditam que ele sobreviveu ao ataque.

- Mais do que isso. Nós todos vimos a Fênix no céu. Aquilo só podia significar que ele não havia sido derrotado. – disse Luna.
Ron olhou para o irmão.

- Fred, a que horas partiremos?
Em menção a isso, todos, menos Fred, se assustaram.

- Partiremos? Para onde? – perguntou Luna, insistente.

- Você não contou? – disse Ron, olhando para Fred numa expressão de surpresa.

- Não poderia. Não tinha certeza que você vinha, afinal. Só nós dois sabíamos para onde iríamos, e só eu sabia onde você estava. – disse Fred, se levantando e indo até a janela.

- Está certo então – disse Ron – Londres, é para onde iremos.

- Você está louco, Ron! A Inglaterra está quase toda e chamas, e Londres está um caos total! – disse Ginny, olhando para Ron como se ele estivesse louco.

- Pois é para lá que eu e Fred achamos que Dumbledore foi.

- Mesmo assim, quando nós chegarmos lá, seremos mortos ou torturados, pois a cidade inteira está infestada por seguidores das Trevas. Eles sabem quem nós somos, sabem o que fizemos, e não terão pena. – disse Luna, com a voz pesarosa.

- É um risco que temos de correr. Não podemos mais esperar, vocês não entendem? Perdemos mais do que devíamos ter perdido, – nesse momento, Ron parou e olhou para a janela - não podemos mais esperar.

Nesse momento, ouviram uma explosão do lado de fora. Todos saíram do Hog's e logo perceberam o que havia acontecido. Ao longe, Um castelo estava em chamas. Eles viram vários vultos saírem da construção e se dirigindo ao norte. Todos começaram a correr e a chorar no mesmo instante. Aquilo não poderia estar acontecendo. O que todos eles poderiam chamar de "2a Casa" estava agora sendo destruída pela fúria do fogo. Enquanto eles corriam o máximo que conseguiam, uma coisa surpreendente aconteceu. Da direção contrária à dos vultos, uma grande ave voava em direção ao castelo. Sim, Fawkes retornava para seu lar. Entrando nas chamas, Ron e os outros não conseguiram mais vê-la. Meia hora de corrida depois, estavam todos nas margens do lago de Hogwarts. Impressionantemente, o castelo não estava sendo destruído pelas chamas que o consumiam. Parecia que as chamas não afetavam a estrutura, e por isso o castelo continuava intacto. Fawkes, saindo pela velha Torre de Astronomia, voou até eles e parou, toda ferida e queimada. Deixou algo que parecia um pequeno pedaço de pergaminho no chão e pegou fogo, tornando-se cinzas. Neville correu até onde a ave estava há poucos segundos e pegou o pergaminho.
- Deixe-me ver isso, Neville. – disse Ginny.
Ela pegou-o e leu em voz alta:

"No fim, nem tudo é o que parece ser". - Nem tudo é o que parece ser? – disse Luna.
- Dumbledore está vivo! – gritou Neville, sorrindo.

- Hogwarts não está sendo destruída... – disse Ron – É apenas a última precaução contra o domínio do mal.

- E o que eram aqueles vultos que voavam para o norte? – perguntou Fred.

- Não tenho certeza, mas acho que a magia que estava aqui dentro se foi, para voltar quando tudo estiver acabado... - disse o irmão.

Olharam pela última vez o velho castelo de Hogwarts na esperança de voltarem no tempo para poderem viver todos os bons momentos novamente. Eles foram-se quando o Sol já estava se pondo, e a escuridão se adensava na bela paisagem da floresta e a distante vila de Hogsmeade. Chegaram quando a lua estava firme e brilhante no céu. Ron lembrou-se de Lupin, e, muito longe dali, Lupin não poderia se lembrar de nenhum deles...

- Cale-se Remo!!!
Lupin estava tendo ataques em sua cela, pedindo que o tirassem daquela área, pois a Lua já estava cheia. Mas eles não sabiam o que aconteceria...
Com um só golpe, Lupin derrubou as grades de sua cela, e avançou para o guardador, que agora entendia, e arrependia-se do erro. O lobisomem correu o máximo que poda para tentar fugir daquele lugar. Quando finalmente conseguiu chegar à porta, esta estava trancada. Quase se matando para tentar abri-la, Lupin não tinha mais forças. Havia agora um lobo deitado na porta da fortaleza. Os guardas não tardariam a chegar, mas isso não importava mais. Lupin estava mais do que ferido. Ele estava quase morto.
Morrendo de medo, um dos guardas se aproximou do lobisomem, que agora rosnava e bufava. O pavor no rosto do guarda sumiu ao ver uma das pata da criatura quebrada e esta encharcada no próprio sangue.

- Cachorrinho, chegamos... Não achou que podia escapar, não é?
Ao fim de suas palavras, uma grande luz branca encheu o aposento em que todos estavam. Os homens recuaram e o lobisomem se encolheu. Um homem saiu da luz, indo em direção a Lupin, que agora se debatia para fugir.

- Venha comigo, Remo...
O lobisomem pareceu entender as palavras, pois no momento seguinte seguiu o homem em direção a luz.

- Onde pensa que vai leva-lo? Ele é nosso prisioneiro!

- Cale-se!!! – disse a voz, agora furiosamente mais grave.

Os guardas não tiveram escolha...

Ginny acordou assustada. Olhou para os lados. Todos estavam bem, dormindo tranqüilamente. Ela se levantou a foi até a janela, passando, mais uma vez, pela mesa talhada com os nomes de seus amigos e o próprio.

- Porque você me deixou, Harry?
Ela começou a chorar e a olhar para o céu, que agora estava estrelado. De repente, ela sentiu uma mão na sua, e olhou para o lado.

- Por que está acordada, Ginny?

Ela voltou a olhar as estrelas. Não conseguia dormir. Depois de mais alguns segundos, ela voltou a falar.

- Sabe, meu irmão, eu não acho justos os rumos que as coisas tomaram. E você deve ser um dos únicos que me entende perfeitamente. Não merecíamos isso. O mal deveria ter ido embora.

- Ginny, Ginny... As coisas que aconteceram nós não podemos mudar, – disse ele, com um tom de amargura na voz – mas temos que livrar o mundo do mal do mesmo jeito. Essa é a última tentativa. Se não der certo, nós morreremos tentando. Eu estou disposto a isso, e eu sei que você também está.

- Não sei. Fico pensando no recado que Fawkes nos deu. Será mesmo que perdemos aqueles que mais amamos de verdade?
Ele saiu de perto dela. Doía muito. Não entendia o porque de a irmã estar falando aquelas coisas. Onde isso iria levar?

- Ron? – disse ela.

Ela a olhou profundamente.

- Vamos dormir... – respondeu ele.
Ela seguiu o irmão até onde todos estavam deitados, e os dois se aconchegaram entre todos.
Será mesmo que Ginny poderia estar certa? Será que ele poderia reencontra-la mais uma vez? Poderia haver uma esperança de vitória? Com todas essas coisas na cabeça, Ron mergulhou na profunda escuridão de suas pálpebras, e caiu num sono sem sonhos...

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