O pedido de Dumbledore





“Pensei no tempo e era tempo demais
você olhou sorrindo pra mim
me acenou um beijo de paz
virou minha cabeça.”

Milton Nascimento – Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”


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Ao adentrarem o Salão Principal, os garotos avistaram as conhecidas mesas das casas, as habituais velas flutuantes e o teto encantado.

-“Cara, eu vou sentir falta desse lugar!” – comentou Tiago, batendo no ombro de Remo.

-“Todos vamos.” – disse o outro.

Calados, os garotos aproximaram-se da mesa da Grifinória, sentando-se em seu canto habitual. Erguendo os olhos para a mesa dos professores, Helena notou que o lugar de Dumbledore estava vago.

-“Onde está o diretor?” – perguntou Lupin, também notando a ausência do bruxo.

-“Espero que esteja tudo bem com ele.”

-“Não se preocupe, Helena, Dumbledore é um cara esperto!” – Sirius entrou na conversa, fazendo um gesto de quem espanta uma mosca.

-“Espero que você esteja certo.” – disse a garota, virando-se para conversar com as amigas.

Também espero. - pensou Sirius, desviando seu olhar para a mesa da Corvinal, a procura da namorada.

-“O Kettleburn ainda está aqui?” – assustou-se Tiago, ao olhar para a mesa dos professores –“Eu pensei que ele ia se aposentar.”

Lupin riu.

-“É claro que achou,” – começou ele –“principalmente depois que você quase acabou com a vida dele, com aquele hipogrifo descontrolado.”

-“Não era um hipogrifo, era um jovem hipogrifo, e não estava descontrolado, ele estava amedrontado, coitado.” – corrigiu Tiago, ao que Lupin, Sirius e Pedro deram gostosas gargalhadas.

-“Eu fico imaginando o que, ou quem, o teria assustado.” – comentou Black, pouco antes de voltar, novamente, sua tenção para a mesa da namorada.

Os outros três continuaram rindo, mas Sirius estava determinado a captar o olhar da garota, por mais de relance que fosse.

-“Olá meu chuchuzinho!” – alguém falou no ouvido de Giulia, fazendo a garota pular de susto.

-“Steve!” – gritou ela, virando-se para encarar o ex-namorado –“Eu ainda não deixei bem claro que não sou seu ‘chuchuzinho’?”

-“Steve? Nossa, quanta grosseria! Eu gostava mais quando você me chamava de Johnny...”

John Steve era um garoto da Lufa-Lufa, também do sétimo ano. Tinha os cabelos loiros, os olhos castanhos e a pele extremamente branca, com algumas sardas leves. Porém, apesar de ser o garoto mais bonito de sua casa, era um completo idiota.

-“Eu o chamo como quiser! Agora dá o fora!” – gritou Giulia, apontando para a mesa da Lufa-Lufa.

Mais da metade da mesa da Grifinória observava a cena. Sem coragem para insistir, John foi embora.

-“Aaahhh eu não mereço isso!” – sentenciou a garota, voltando-se para as amigas.

Lílian e Helena riram da expressão de cansaço forçada de Giulia.

-“Olhem, Dumbledore chegou!” – Giulia quase gritou de entusiasmo.

-“Ele parece ter envelhecido uns cinco anos do ano passado pra cá.” – comentou Lílian, lançando um olhar preocupado ao diretor.

Alvo Dumbledore tinha barba e cabelos longos, que um dia tinham sido castanhos, mas que estavam cada vez mais tomados pelo branco. Os óclinhos meia-lua agora eram usados com mais freqüência e seu rosto denunciava algumas novas rugas. Mas seu sorriso de boas vindas aos estudantes era sempre o mesmo.

-“Bem vindos, novamente para alguns, à escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!” – disse ele, abrindo os braços num gesto acolhedor – “Antes de mais nada, vamos dar início a cerimônia de seleção deste ano!”

Os alunos aplaudiram enquanto uma incerta fila de primeiranistas, guiados pela professora McGonagall, se aproximava da mesa dos professores. Como de costume, a subdiretora colocou um banquinho à frente da mesa, pousando sobre ele um velho chapéu de bruxo – o chapéu seletor.

-“Espero que a falação não demore demais.” – comentou Remo, segundos antes do chapéu começar seu discurso – “Estou faminto!”

Sirius riu, ao que Dumbledore lançou-lhes um olhar severo, porém não ameaçador.

Ao fim da seleção, na qual o primo de Lílian foi selecionado para a Grifinória, o diretor levantou-se mais uma vez e anunciou o banquete. Logo em seguida, diversos pratos surgiram nas mesas.

-“Carneiro assado!” – exclamou Remo, puxando para si o prato imediatamente a sua frente.

-“Vê se deixa um pouco para os amigos também, ok?” – pediu Tiago.

-“Apoiado!” – concordou Pedro, já servindo-se de arroz.

As garotas também ‘atacaram’ a comida, exceto Lílian, que parecia absorta em pensamentos.

-“Você vai mesmo comer tudo isso?” – perguntou Giulia, mirando com espanto o prato de Helena.

-“Mas é claro! Estou morrendo de fome!”

-“Pois não deveria! Não é certo uma jogadora de quadribol como você comer feito um trasgo.”

Helena esticou a língua para a amiga e voltou sua atenção novamente ao prato.

-“Em que está pensando, Lily?” – disse Giulia, desistindo de implicar com Helena.

-“O que?” – perguntou Lílian, que da frase, só ouvira seu nome.

Giulia riu e repetiu a pergunta:

-“Está pensando em quem?”

-“Ah! Em ninguém...” – mentiu Lílian – “eu tava só pensando nas aulas de amanhã...”

Giulia achou melhor não insistir, achava que a amiga ainda estava mexida pela discussão com Tiago no trem.

Na verdade, era exatamente no maroto que Lílian estivera pensando. Depois do ‘incidente’ no expresso, em que ele gritara seus ciúmes para não deixar dúvidas, a garota não pôde deixar de se abalar. Naquele momento, sua mente estava inundada com diversos pensamentos a respeito do ocorrido. Ao mesmo tempo em que sentia uma imensa raiva pelo modo como ele a tratara, Lílian nunca tinha visto como era forte o ciúme dele. Aquilo significava que ele a amava de verdade?

-“Hei, Pontas! Estou falando com você!” – disse Pedro, acenando com a mão esquerda em frente ao rosto de Tiago, já que a sua direita segurava uma coxinha de galinha.

O garoto piscou, notando que seus três amigos o encaravam, estranhando seu comportamento pensativo.

-“Que foi?”

-“Só queria saber se você já fez o calendário, cara.” – explicou Pedro.

-“Já, já...” – respondeu ele, ainda aéreo.

-“Ótimo,” – começou Sirius – “porque esse ano tem que ser de arrasar!”

Assim, iniciou-se uma animada conversa sobre o que os marotos fariam em seu último ano, a qual Tiago não tomou parte.

Um intervalo indefinido de tempo – pelo menos para a mente de Lílian Evans – transcorreu entre os pratos principais e a sobremesas. Enquanto Helena ‘atacava’ o pudim de leite mais próximo e Giulia conversava com um de seus muitos amigos-admiradores, Lílian mirava o prato à sua frente, com os olhos completamente vazios.

-“Você ta legal, Lil?”

Ela ergueu a cabeça, era sua primo quem falava.

-“Estou.” – sorriu – “Por que?”

-“Estou achando você muito calada, só isso.” – respondeu o garoto sentando-se ao lado dela.

Lílian não evitou sorrir com a preocupação dele. David Evans era um garoto muito sensível às preocupações e problemas dos outros. Alto para a idade, muitos não acreditavam que tivesse apenas onze anos.

-“Fiquei muito feliz em vê-lo na Grifinória também!” – disse a garota, mudando de assunto.

-“Obrigado.”

-“Hei, Evans!” – gritou uma voz, da outra ponta da mesa.

Os dois primos viraram-se em direção ao chamado, era uma dos novos primeiranistas quem gritava por David.

-“Nos vemos depois.” – disse ele, afastando-se.

A algazarra na mesa da Grifinória estava no auge, àquele ponto do banquete. As pessoas estavam cada vez mais perdendo a noção da altura de suas vozes, passando a conversarem quase aos berros e soltarem risadas cada vez mais escandalosas. Os marotos agora protagonizavam um showzinho à parte, envolvendo mais da metade dos grifinórios em sua narrativa sobre como Sirius aparecera na casa dos Potter naquele verão.

-“Então eu olhei para cima, assim que me dei conta de que o barulho só poderia vir do céu,” – contava Tiago, apontando para o teto estrelado do salão principal –“e de repente eu vi aquela coisa enorme de duas rodas...”

-“É uma motocicleta...” – acrescentou Sirius, risonho.

-“Que fosse um dragão! Fazia um barulho dos diabos!” – disse Tiago, batendo na mesa – “Mas o pior de tudo, é que aquela ‘coisa’ estava carregando nosso Sirius nas costas!”

O riso foi geral. Tiago e Sirius pareciam iluminarem-se com a atenção.

-“O pior de todo,” – continuou Tiago –“foi o trouxa da nossa rua que saiu de casa para ver o que era, tropeçou no gato e acabou dentro da lata de lixo!”

-“Coitado!” – comentou Helena, em meio à gargalhada geral.

-“Vocês não o ajudaram?” – perguntou Giulia.

-“Ajudamos,” – sussurrou-lhe Sirius – “mas ninguém precisa ficar sabendo.”

A garota arregalou os olhos para ele. Naquele momento, Dumbledore se levantou e o salão silenciou imediatamente.

-“É realmente gratificante vê-los todos reunidos novamente!” – começou ele – “Para os antigos, sintam como se todos os avisos dos anos anteriores estivessem sendo reforçados dez vezes em suas cabeças. Aos novos, eu gostaria de destacar que não se deve, em hipótese alguma, penetrar na Floresta Proibida e que a lista com as regras da escola está à disposição na sala de nosso zelador, o Sr. Filch.”

Após uma breve pausa em que seus olhos percorreram toda a extensão do salão, Dumbledore continuou:

-“Meus caros alunos, meu amigos. O que tenho a dizer a vocês esta noite não é nem muito extenso, nem muito complicado. Na verdade, gostaria de pedir a todos, e a cada um em especial, que façam deste novo ano letivo um ano de descobertas.”

Os alunos se entreolharam, buscando entender as palavras de Dumbledore, mas ninguém parecia estar compreendendo aonde o diretor queria chegar.

-“Descubram as matérias que vão estudar. Descubram novas amizades e redescubram as antigas. Descubram Hogwarts!” – sorriu ele, e acrescentou, quase como um parênteses – “Menos a Floresta Proibida, é claro!”

Muitos alunos riram nesse ponto.

-“Descubram” – continuou o diretor – “novos talentos, novas fórmulas, novos meios. Redescubram o carinho, o amor, o abraço. Redescubram suas vidas, talvez. Descubram bons sentimentos, e os cultivem. Descubram a união.”

-“Que tipo de discurso é esse?” – sussurrou Sirius para Remo – “Ele nunca falou desse jeito!”

-“Acho que sei o motivo.” – disse Giulia, que estava perto dos garotos.

-“Muito obrigado a todos e boa noite.” – terminou Dumbledore, voltando a se sentar.

O salão explodiu em comentários logo após o fim do discurso. Os alunos discutiam em grupos as palavras de Dumbledore, tentando entender mais do que seu significado, tentando entender seu propósito.

-“O que significou aquele discurso?” – perguntou Pedro, assim que os garotos levantaram-se da mesa.

-“Eu acho que sei.” – disse Giulia – “Mas prefiro conversar sobre isso na sala comunal.”

Os outros concordaram e eles rumaram em direção à saída.

Lílian e Remo deixaram o grupo, pois tinha que mostrar o caminho do dormitório aos novos alunos. Assim, cansados mas satisfeitos, Tiago, Sirius, Giulia, Helena e Pedro subiram as escadarias em direção à torre da Grifinória.

Depois da agitação inicial com a chegada dos calouros e o reencontro dos estudantes antigos, os habitantes da torre da Grifinória finalmente se acalmaram. Sentados em a um canto da sala comunal, Tiago, Sirius, Lílian, Helena, Giulia, Remo e Pedro comentava o discurso de Dumbledore. O clima estava um pouco estranho entre os amigos, já que Lílian evitava olhar para Tiago e este não lhe dirigia a palavra. Giulia ainda tentou fazer com que os dois se falassem, mas não conseguiu. Por fim, a curiosidade dos outros sobre o que ela tinha a dizer foi forte o bastante para faze-la esquecer suas tentativas.

-“Você disse que tinha compreendido o discurso do Dumbledore.” – disse Lupin, virando-se para ela – “Queremos saber o que é.”

-“Aaahh... não é nada tão complicado.” – começou Giulia – “E também não é nenhuma certeza, só uma teoria.”

-“Já ouvimos tantas teorias... qual é a sua?”

-“É simples, Pedro. Eu conectei o discurso do diretor com sua ausência quando chegamos e com as noticias que todos temos lido no profeta diário ultimamente. O mundo bruxo está alarmado com as misteriosas mortes de aurores e de pessoas ligadas ao ministério, mesmo que tente esconder essa preocupação.”

-“É verdade, as noticias no Profeta aparecem pequenas, quase como um parênteses no jornal, mas o número delas vêm aumentando.” – comentou Helena.

-“Exatamente. Bom, o que quer que seja, está envolvendo Dumbledore e com certeza vai envolver Hogwarts.”

-“O que você quer dizer com isso, Giu?” – perguntou Tiago, passando a mão pelos cabelos.

Até em um hora como essa ele gosta de se mostrar. - pensou Lílian, ao ver o gesto do maroto.

-“Dumbledore é um bruxo poderoso, com certeza o ministério pediu seu auxilio. E quanto ao discurso, ele só mostra a preocupação do nosso diretor.” – explicou a garota.

-“ Descubram novas amizades e redescubram as antigas.” – comentou Sirius – “Que tal isso? Ele quer que fiquemos juntos, sem dúvidas.”

-“Descubram a união.” – lembrou Tiago.

-“Acho que a coisa é mais séria do que pensamos.” – concluiu Remo, ao que todos concordaram com a cabeça.

-“Eu acho que devemos ir dormir, estou exausto.” – disse Pedro, o que arrancou gostosas gargalhadas dos companheiros.

Assim, os meninos e as meninas se dirigiram à seus respectivos dormitórios, todos com as palavras de Dumbledore na memória.


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