Camarilla





- Eu já tenho tudo encaminhado desde o início das aulas em Hogwarts, mas só agora o plano começou a surtir efeitos mais visívies. Acabo de receber uma coruja de meu filho contando sobre um incidente que só pode ter sido fruto do diário do Lorde. Vejam.


Lucius deu a carta para Nott, que estava na poltrona ao lado e parara subitamente de fumar seu narguilé*.


O escritório de Malfoy era uma sala bastante espaçosa, decorada em tons de marrom, bordô e dourado, com tapetes persas e grandes poltronas de couro. A um canto ficava uma grande mesa de madeira escura repleta de papéis, penas e toda a espécie de itens de papelaria, tudo impecavelmente organizado. Lá fora havia a chuva gélida e torrencial, mas a casa era preenchida por uma atmosfera morna e agradável conforme as madeiras odoríferas queimavam nas lareiras.


Além do anfitrião e de Nott, também estavam presentes Macnair, Crabbe, Goyle e Avery. Eram todos ex-colegas do exército de Voldemort, alguns, inclusive, se conheciam desde garotos.


- Mas, como você pode ter certeza de que não foi alguma traquinagem de crianças? - perguntou Nott passando a carta para outro.


- Acho improvável. A Câmara tornou-se uma espécie de tabu desde a última vez que foi aberta. Já no meu tempo ela era praticamente desconhecida por todos. Mesmo como uma lenda, ela está hoje esquecida.


- Teremos que esperar para ver.


- E se tudo estiver conforme imagino, logo teremos resultados.


- Se me permitem mudar de assunto, aquela moça que esteve aqui no último baile... Lunare... Esse nome não me é estranho, mas não lembro de jamais tê-la visto. Quem é ela? - perguntou Crabbe curioso.


- Ora, você realmente não lembra desse nome? - Avery parecia indignado com a pergunta.


- É alguém importante?


- Claro! Pois não se lembra daquela jovem italiana que era, provavelmente, uma das favoritas do Lorde, que depois a matou sem que soubéssemos o motivo?


- Ah! A que trouxe Nagini! Agora lembro... Então, essa é parenta dela?


- É a irmã do meio. A mais nova tem a idade dos nossos meninos.


- Lucius, essa não foi aquela cujo namorado Giordani e Leone torturaram um tempo atrás? Era essa que o Lorde queria viva?


- Exato. Ela veio para se esconder em Hogwarts, tenho certeza... Tem medo de nós, já está aqui há mais de um ano e nunca tinha dado as caras na sociedade. Conversamos bastante outro dia, apresentei-a às pessoas... Ela deve estar mais sossegada agora.


- Puxa, mas não dá para esperar nada do Snape! Porquê ele nunca disse que ela estava lá?


- Você sabe que Severus não é confiável...


- Eu já sabia que ela estava em Hogwarts desde o começo. Draco enviou-nos uma carta falando dos professores e tudo o mais. Fui várias vezes lá tentando encontrá-la, mas não achei oportunidade. Então, nestas últimas férias Draco trouxe a irmã mais nova dela para ficar um tempo aqui e Narcisa falou-lhe sobre os eventos...


- Narcisa é uma mulher e tanto, Lucius. Você teve sorte em se casar com ela... Imagina se você pegasse aquela maníaca da sua cunhada!


As risadas ecoaram pela sala.


- Então, você tem a garota, o que pretende fazer com ela?


- Vou guardá-la. Não se sabe o que o Lorde queria dela, então vou simplesmente fazê-la confiar em mim, mantê-la perto.


- Pode ser que ele nunca volte...


- Aposto minha garganta como ele volta. Além do mais, não será trabalho nenhum, ela não é nada desagradável...


- Na pior das hipóteses ela é esteticamente interessante...


- Pois é... - Malfoy riu-se - Eu a manteria perto mesmo que não precisasse dela. Ah! Tem mais um detalhe. Avery, você certamente se lembra... Isso foi há três anos, creio eu... Ambos participamos de um leilão em Vilnius - foi um evento bastante reservado...


- Decerto! Fiz ótimas aquisições!


- Pois então lembra-se que perdemos bastantes artefatos para um jovem anônimo cuja fortuna parecia não ter limites?


- Ah, mas é claro! Você mesmo teve tanta raiva dele que jurou descobrir quem o garoto estava representando.


- Exato. Aquele por trás do garoto sabia exatamente o que estava comprando e foi discreto o suficiente para não ser visto num leilão de artefatos das trevas. Mas porque, se o local era seguro? A cidade é pobre em aurores, que muitas vezes preferem ser cegos... Os convidados foram escolhidos a dedo. Quem poderia querer manter secreta a identidade em tal ocasião? O que temeria?


- Se essa pessoa não precisava temer os aurores, então... Temeria os comensais? Não faz sentido! Teoricamente estamos todos inativos e alguém com tanto dinheiro não precisa temer uma dúzia de, digamos, peões sem rei.


- Se Rabicho não estivesse morto, juraria que era coisa dele. Covarde como não há outro...


- Rabicho não teria tal fortuna. De qualquer forma, acabei deixando de lado o incidente do leilão, mas depois de investigar Lunare, me ocorreu que talvez ela pudesse ser nosso garoto anônimo...


- E porque ela quereria os artefatos?


- Isso eu não sei. Sei apenas que ela os quereria. Alguns jornais trouxas já haviam noticiado a compra de muitos artefatos antigos pela família Romano, que era o nome do pai da moça - eles seguiam a tradição de usar o nome da mãe, embora não o fizessem em suas relações com os trouxas. Eram peças arcaíssimas que ela comprou de colecionadores por preços absurdos, coisa digna de museu.


- Mas o que simples peças antigas têm em comum com artefatos das trevas? - interrompeu Goyle.


- É óbvio que eram apenas peças antigas para os trouxas, mas você deve saber que poder contém a maioria dos antigos amuletos das civilizações perdidas! São artefatos impregnados com magias que também se perderam para sempre! E, ao que me consta, a maioria dos que ela possui não têm magias muito inocentes...


- Isso é... muito interessante. Os pais são comensais, a irmã também foi uma de nós e é certo que o Lorde queria atingi-la. Ela está contra nós de alguma forma, mas tem interesses muito parecidos...


- Malfoy, porque ela deveria temer-nos?


- Não seja idiota, ela viu o que fizeram com o namoradinho!


- Mas é provável que ela saiba se defender...


- Essa história está muito mal contada... Não se sabe o que o Lorde poderia querer com ela. Porque torturaram o moço até a morte? O Lorde nem sabia da existência dele! Tudo bem que a irmã pudesse tê-lo desagradado, mas ele já havia se vingado, ela estava morta havia muito tempo! Ele - e acentuou o pronome - está desaparecido há muito tempo! Ela nem devia estar na escola quando a irmã morreu, que relação poderia ter?


A dúvida ecoou por alguns segundos no silêncio abissal. O fogo crepitava distante e podia-se ouvir a chuva que fustigava furiosamente as vidraças.


- Pensando bem, não faz sentido algum... Mas, de alguma forma, ele a quer. E terá. Não nos cabe questionar.


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*: Narguilé é aquele "cachimbo" que a lagarta fuma em "Alice no País das Maravilhas", muito usado pelos turcos e hindus.



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