Começou Para Ela Também

Começou Para Ela Também





Passaram-se quase uma semana desde que Lilían finalmente se entendeu com Tiago. Apenas para variar, coisas estranhas estavam acontecendo novamente. Não, ela via mais os lírios, mas desde a noite da detenção, Lúcio Malfoy olhava para ele com “outros olhos” e sua ganguezinha não a atormentava tanto quanto antes. Pouco depois do aniversário de Lilían, chegou uma coruja com uma carta dos seus pais e uma torta de chocolate, o que a deixou mais radiante do que nunca. Suas atenções, que antes estavam nos lírios e em Tiago, voltaram aos livros, o que alegrou os professores. Sirius e Pedro pararam de atormentá-la e ela e Tiago se encontravam todas as noites, sempre depois dos estudos. Resumindo, sua vida quase voltou ao normal.

- O que você pretende fazer hoje, Lily? - perguntou Tiago quando eles saíram da sala de poções.
- Estudar - ela brincou. Provavelmente ele levou a sério a resposta, pois fez uma careta bastante estranha - ou quem sabe... se você tiver planos melhores para hoje...
- Sempre existe coisa melhor do que estudar Lilían... - comentou Sirius ao lado de Tiago - mas eu e o Pontas aqui vamos visitar “aquela” pessoa, então é melhor que vocês não marquem nada para hoje a noite, ok?
- Tá bom... - ela respondeu, sabendo que pessoa era. - Bom, se vocês dois me dão licença eu vou andar um pouco mais rápido para alcançar a Polly. Até mais! - ela deu um beijo discreto em Tiago e saiu a passos firmes.

Andou alguns metros quando sentiu uma mão parar-lhe no pé da escada. Era o diretor.

- Srta. Evans, por favor queira me acompanhar a minha sala, sim? Receio não ter boas notícias. - Dumbledore falou atraindo a atenção dos estudantes que estavam subindo as escadas. Ao perceber que todos à volta pararam ele continuou: - E vocês voltem a suas andanças, jovens.

Receosa demais para falar ela seguiu o professor até uma estátua de gárgula. Ele disse a senha ( Batatas Flutuantes! ) e eles subiram uma escadaria circular. Quando finalmente entraram na sala, ele deparou-se com sua mãe, chorando impiedosamente sobre a mesa. Olhou para o lado da mãe e viu Petúnia dividida entre chorar e olhar com nojo e medo para todos os cantos da sala.
- Mãe? - as mulheres olharam para ela, os olhos vermelhos e inchados - Mãe o que aconteceu? - A senhora soluçou alto. Ela olhou para a irmã, afim de obter explicação, mas esta apenas abaixou a cabeça. Então ela soube. Seu pai. Ele não estava ali. Mas não podia ser! - Mãe, cadê o meu pai? Ele está bem não está? - seus olhos encheram de lágrimas esperando a resposta da mãe. Como resposta ela se levantou de um salto e correu para abraça-la.

“Não sei porque você se foi
Tantas saudades vou sentir
E de tristezas vou viver
E aquele adeus, não pude dar”

Ela simplesmente não conseguia acreditar. Seu pai estava morto. Ela não sabia como, e nem queria saber. Sabia que seu pai, o pai mais maravilhoso e companheiro do mundo havia a deixado e ela não poderia fazer nada para mudar esse quadro, e isso era o suficiente para que toda a alegria do seu coração se esgotasse. O fato dela não ter visto o pai há quase dois meses apenas aumentava a sua revolta.
- Como ele pôde ir sem se despedir de mim? - ela falou as lágrimas escorrendo no rosto, sem se importar o quanto a frase era sem sentido. - Ele não podia Ter feito isso com a gente... ele não podia Ter feito isso!
- Querida, ele pediu que dissesse a você o quanto ele te amava, por favor, não fique assim! - sua mãe a abraçou mais forte e ela não pôde deixar de soltar um soluço. Agora estava revoltada consigo mesma, por não Ter dito ao pai o quanto o amava antes de deixar a estação. Agora ele se foi e ela não teria outra chance de dizer -lhe isto. - Não fique assim querida, por favor...
- E como você quer que ela fique mãe? - Petúnia protestou postando-se de pé também - Lilían só via o pai durante pouco mais de um mês por ano, desde que resolveu vir para cá - ela apontou para o chão, com extremo desprezo - Ela não pôde falar com ele e a única coisa que recebeu dele foi a carta no aniversário. Como você quer que ela se sinta?
- Petúnia, seja razoável com a sua mãe... - Dumbledore falou calmamente e colocou a mão sobre o ombro de Pétunia.
- E você não fale comigo, seu... seu.... ESTRANHO! - Petúnia gritou para Dumbledore afastando-se dele, como o Diabo foge da cruz.
- Mãe, quando foi isso? - Lilían se viu perguntando para a mãe, que agora abraçava Petúnia.
- Anteontem. Ele estava voltando do trabalho, quando do nada, um cara de máscara apareceu na frente do carro dele e gritou uma coisa esquisita, e o carro simplesmente explodiu, ali, na nossa - ela soluçou alto, e continuou - ga-garagem. Foi a coisa mais terrível que já aconteceu em toda a minha vida!
Em meio às lágrimas, ele viu um borrão levantar. Era Dumbledore. Ele se virou para a sua mãe e perguntou com a voz calma:
- Você disse, que uma pessoa de máscara apareceu do nada na frente do carro, gritou alguma coisa esquisita e o carro explodiu?
- Si-sim... fo-foi isso que a-a-conte-teceu... porque? - a mulher perguntou em meio aos soluços.
- Nada. Apenas eu não tinha entendido direito. - ele respondeu e olhou para Lilían.

“Você marcou na minha vida
Viveu, morreu, na minha história
Chego a Ter medo do futuro
E da solidão que em minha porta bate.”

Uma hora e meia hora depois ela estava de volta ao dormitório, chorando com a cabeça em baixo dos travesseiros. O olhar que o diretor havia lançado a ela fora o suficiente para que ela entendesse. A guerra havia chegado até ela. Todos os dias, ela lia no Profeta Diário, que muitos ataques estavam acontecendo, mas nunca, nem por um momento, ela havia pensado que isso chegaria a ela. “Fui burra e egoísta. Como pude pensar que quando Dumbledore dizia: aqui vocês estão seguros; isso incluía minha família?” Ela pensava a todo o momento. Desde que entrara em Hogwarts sabia que o mundo bruxo estava em guerra contra um mago das trevas o qual ninguém se atrevia a sequer dizer seu nome. As crianças já cresciam chamando-lhe de “aquele-que-não-deve-ser-nomeado” e os que nasciam trouxa mas não sabiam quem ele era. Muitos viam conhecidos morrerem pelas mãos desse bruxo e apenas sabiam seu nome, que muitas vezes era dito por Dumbledore: Voldemort.

- Pois bem Voldemort! Você matou meu pai... e nem que eu tenha de morrer por isso eu vou te destruir, ou morrerei tentando! - ela gritou para o quarto, tremendo de fúria.

“E eu
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você....
Eu corro, fujo dessas sombras
Em sonho eu vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato”

De repente o quarto se encheu com um canto o qual ela nunca ouvira antes. Era um canto doce e encheu sua alma de uma paz que ela não sabia de onde viera. Ela deitou na cama e pensou no pai, esperando as lágrimas encherem seu coração e descer por sua alma. Mas para sua surpresa ela se viu, sorrindo com saudade do pai. Não era exatamente um riso de alegria, era um sorriso triste, que apenas estava ali por estar. Ela olhou para o relógio de pulso e viu que já eram quase cinco. Lembrou de quando seu pai apareceu mais cedo em casa, trazendo um buquê de rosas para sua mãe, e duas taças grandes de sorvete, sendo uma para ela e uma para Petúnia. Ela sentiu uma pontada no coração ao lembra-se do sorriso alegre do pai. Sempre alegre... sua mãe costumava dizer que ele sozinho conseguia encher aquela casa. E era verdade. A alegria dele era contagiante e quando ele estava feliz, não havia como quem estar ao seu lado ficar triste. Ela levantou da cama e pegou uma maleta, entregue por sua mãe.

“Não quero ver pra não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você
E eu
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você....”

Meio receosa, ela abriu a maleta. Lá estavam pequenas fotos e lembranças do seu pai. Em meio a elas um recado do seu pai para sua mãe.
“Margareth
Quando eu morrer quero que me faça um favor. E não se atreva a recusar!!
Entregue essas coisas a Lilían, e avise a ela que eu a amo muito.
Richard”

Estava datado no dia em que ela nasceu. Lilían nunca soube que um dia, seu pai havia feito tal coisa. Lá haviam apenas coisas felizes. Eram saquinhos com fotos ou coisas pequenas. Todas com recados engraçados para ela. Em um deles ela encontrou um monte de fios de cabelo branco e um papel com os dizeres: “Viu como você me dava trabalho?” Ao ler tal coisa, ela não pode deixar de sorrir. Em outro, uma foto dela ainda pequena dando língua para a máquina, emburrada sobre a perna direita costurada em uns três centímetros, e o papel com os dizeres “ É sério... você era muito sapeca! Aí você tinha 4 anos e já tinha inventado de subir em árvores... Viu no que deu?” Imediatamente ela levantou a perna direita e avistou, uma pequena cicatriz abaixo do joelho. Mais uma risada. E assim ela passou a última hora, sorrindo com saudades, ao som daquele canto doce, e vendo aquelas imagens tão alegres e reconfortantes. Dormiu, sabe-se lá que horas, sobre fotos e recordações. Triste, mas com uma certeza. Seu pai estava feliz, onde quer que estivesse.

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