Tensão prestes a se quebrar

Tensão prestes a se quebrar



Hermione foi abrindo os olhos vagarosamente, as imagens ainda estavam sem foco. Reconheceu Gina, que tentava pegar uma mala na prateleira de cima e logo depois Harry que foi ajudá-la. “Dormi demais” pensou a garota. De repente, se deu conta que estava encostada em algo macio e foi virando o rosto para ver o que era. Ela sentiu um baque dentro de si quando viu o rosto de Rony tão perto dela. “Tão lindo”. Esse pensamento a fez corar. Ela não sabia o que fazer, estava imóvel, petrificada até o ultimo dedo. Rony estava tão perto que seus cabelos cor de fogo encostavam no rosto dela. Algo a estava hipnotizando, ela não sabia ao certo o que era, talvez fosse aquelas sardas ou aquela boca carnuda, ou quem sabe o conjunto todo, a única certeza que tinha é que uma vontade avassaladora de chegar mais perto foi tomando conta dela. Uma certa febre foi surgindo, um tremor involuntário na sua mão e ela não pensou duas vezes antes de encostar a ponta dos dedos no rosto do garoto. Esse gesto fez Rony mexer um pouco, mas não quebrou o contato entre eles. O garoto foi abrindo os olhos e Hermione se viu refletir naqueles olhos tão azuis.
-Er..Hermione? O que está acontecendo?
Aquela pergunta fez a garota sair do transe que estava. Uma verdade esbofeteou o rosto dela e ela se amaldiçoou pelo que estava fazendo. Seus dedos ainda encostavam no rosto de Rony e sua cabeça ainda se encaixava em seu ombro. Ela não sabia o que era pior, se era o fato de estar tão perto dele naquela posição patética ou a vermelhidão que tomara conta de seu rosto. Rony continuava imóvel, prendendo a respiração e com a boca entreaberta transparecendo uma face muito nervosa. “Vamos Hermione, faça alguma coisa” finalmente o cérebro dela começou a funcionar, mas antes que pudesse se mover uma voz a interrompeu.
-Desculpem atrapalhar o momento romântico de vocês, mas nós já chegamos.
Gina disse aquilo numa voz normal, como se não fosse uma coisa muito rara de se ver, o que de fato era verdade, pois aqueles momentos “estranhos” entre Rony e Hermione estavam acontecendo com mais freqüência ultimamente. Harry teve a impressão que o amigo ia explodir ou pular em cima da irmã, mas o que viu foi uma Hermione muito atrapalhada se levantar de supetão e tentar tirar um malão da prateleira superior. Gina já tinha saído e Harry não sabia se esperava os amigos ou os deixava sozinho, mas o fato de Hermione não estar tendo sucesso com o que fazia e Rony ainda estar aéreo pelo que aconteceu fez com que ele fosse ajudar a amiga. O malão estava muito pesado de fato, e ele teve certeza que grande parte era por causa dos livros de Hermione. O som que o
malão fez ao bater no chão retirou Rony de seus pensamentos. Ele então se deu conta da situação e disse apenas olhando para Harry:
-Po-pode deixar. Eu mesmo levo.
Rony saiu arrastando o malão sem olhar para trás. Harry e Hermione vinham andando sem trocar uma palavra, mas ele percebeu que a amiga mexia no cabelo nervosamente.

O jantar não foi animado como antes. Era estranho. Definitivamente estranho não ver aqueles óculos de meia lua ao centro da mesa dos professores. Harry brincava com a comida, estava com milhões de pensamentos na cabeça e com uma expressão casada. Hemione olhou para o amigo que estava sentada ao seu lado e sentiu-se triste por ele. Colocou a mão em cima da mão do amigo e apertou fortemente.
-NÓS vamos conseguir, Harry.
Os dois trocaram sorrisos sinceros e o garoto sabia que se tivesse uma irmã, ele queria que fosse exatamente como Mione. Rony, porém, olhava aquilo com uma cara emburrada. “Droga, ciúmes deles dois de novo não” O garoto já havia sentido ciúmes dos melhores amigos no quarto ano, quando Rita Skeeter publicara mentiras sobre a relação deles. Os olhos de Rony encontraram os de Hermione e ela teve certeza que ele estava desaprovando aquilo. Eles não precisavam falar nada, se conheciam demais, ela então retirou a mão de cima da mão de Harry sem quebrar o contato visual com Rony. Era impressão dela ou o ruivo estava sorrindo? Sim, ele estava. Era um sorriso meio inclinado, meio moleque e o preferido de Hermione.

O jantar havia terminado, os alunos já estavam em seus respectivos dormitórios e os monitores estavam fazendo sua primeira ronda.
-Eu não acredito nisso, no primeiro dia nós já estamos fazendo ronda? Por Merlim..eu estou morto.
-Ora Rony, deixe de reclamar, estamos quase terminando.
-Fácil você dizer, dormiu a viagem toda!
Um sentimento de arrependimento por ter dito aquilo invadiu Rony. Aqueles momentos entre eles era um assunto proibido, nunca falavam sobre o que acontecia pois no mínimo acabavam brigando e colocando Viktor Krum no meio e agora, provavelmente, Lilá. Hermione corou, lembrando o que tinha acontecido no trem. Ela realmente tinha dormido a viagem toda, mas Rony também dormiu! Ao menos ele estava, quando ela acordou.
-Ora, você também dormiu!
-Não dormi, não!
-Quando eu acordei, você ainda estava dormindo e..
Hermione parou de falar, era muito difícil para ela. A conversa estava indo para um caminho perigoso, a tensão entre eles era muito grande e delicada. Rony mudou muito. Antes ele fugia disso, tinha medo, não sabia o que fazer. Talvez o namoro com Lilá tenha o ajudado a amadurecer, mas ele continuava sem jeito com garotas, principalmente quando a garota era Hermione Granger. Ele apenas respirou fundo e sem olhar para ela disse:
-É..eu lembro, foi você quem me acordou.
Hermione sentiu cócegas dentre de si. Ele realmente queria continuar com aquela conversa? Os dois conversavam mas continuavam a andar, fingindo ser uma conversa banal. Mas a garota sentia sensações estranhas a cada insinuação do amigo e ele por mais que tentasse ficar no controle da situação sentia as mãos suarem e o coração bater de uma forma descompassada.

Finalmente chegaram em frente ao quadro da mulher gorda. Os nervos de Hermione já estavam colidindo com aquela conversa e Rony já não tinha tanta certeza se queria prolongar ela por mais tempo, estava muito perigosa. O problema é que os dois eram definitivamente orgulhosos e nunca davam o braço a torcer.
-Se foi eu que te acordei, então como você ainda diz que não dormiu?
-Eu não dormi! Eu cochilei Hermione, diferente de você que passou a viagem dormindo numa boa.
-Numa boa? Eu estou sentindo dor no pescoço até agora!
Rony fechou a cara e sentiu o orgulho ferido, disparou antes de pensar:
-Ha, então a posição estava tão ruim assim?
“O que?” Pensou Hermione. Aquela conversa já tinha passado de todos os limites que existiam entre eles e aquela pergunta de Rony era a prova disso. Ela ficou com olhos arregalados, sem saber o que responder. Estava prestando mais atenção nas orelhas do amigo que estavam ficando vermelhas.
-Que gritaria é essa?
A mulher do quadro tinha acordado com a discussão dos dois, e eles agradeceram por ela ter acabado aquela situação constrangedora.
-Desculpe acorda-la, mas nós estávamos fazendo a ronda. Disse Hermione.
-Tudo bem, mas fiquem sabendo que a cada dia que passa vocês dois parecem piorar!
-Como assim? Indagou Rony confuso.
-Meu queridos, desde quando vocês pisaram em Hogwarts as brigas de vocês ficaram bem conhecidas.
-Mas..
-Não, nada de “mas”. Já está tarde. Qual é a senha?
-Balinha de abóbora.
-Entrem, em silencio, por favor.
Os dois entraram contrariados, pois a mulher gorda parecia não querer prolongar a conversa.
-Tudo foi sua culpa Rony!
-Como é?
-É, se você não tivesse começado a gente não teria acordado ela.
-Ora Hermione, ela teria que acordar de qualquer jeito para nós entrarmos.
-É, mas não daquele jeito, ela deve ter levado um susto enorme.
-Seja o que for, mas a culpa não foi só minha.
-Foi você que começou a conversa..
-E você continuou.
-Não vou discutir com você no meu primeiro dia em Hogwarts. Boa noite!
A garota se virou furiosamente e subiu as escadas que dava para o dormitório. “Garotas” pensou Rony. Ele estava muito cansado, era verdade que havia dormido, mas não foi por muito tempo, só havia “cochilado”. Ele foi para seu dormitório, tirou a farda e vestiu seu pijama. Ao deitar na cama uma sensação de felicidade tomou conta dele, era tão bom estar de volta, poder estar perto de seus amigos novamente. Ele havia sentido muita falta das rondas com Hermione, mas jamais admitiria aquilo para a amiga, seria obvio demais. Ela estava povoando os pensamentos dele mais do que nunca. Antes de dormir Rony ficava pensando em tudo, guerra, Harry, quadribol, sapinhos de chocolate, mas no fim sempre acabava naquela garota de cabelos cheios e olhos castanhos. “Eu estou ficando doido”. Na verdade, ele sabia muito bem que não estava ficando doido. Tinha sido difícil admitir para si mesmo que estava perdidamente apaixonado pela melhor amiga, mas depois do quarto ano ele percebeu que aqueles ataques de ciúmes não eram nada normal. Ele queria dormir, queria muito. Mas o rosto de Hermione não sumia da sua cabeça, o cheiro dela ainda estava impregnado no ombro dele e a lembrança dela dormindo ao seu lado o fazia sentir desejos reprimidos.

No dormitório das meninas, uma garota de cabelos cheios se mexia de um lado para o outro na cama. “Rony” era tudo o que ela podia pensar. Era incrível como aquele ruivo a deixava assim, sem conseguir dormir. Hermione já tinha perdido as contas de quantas vezes já tinha demorado a dormir porque o amigo não saía de sua cabeça. Ela colocou o travesseiro no seu rosto para abafar um suspiro profundo, estava ficando muito difícil. Fazia praticamente 7 anos que ela o amava. Sim, amor. Porque no começo ela achou que estava confundindo os sentimentos, mas ela percebeu que o que ela sentia por ele era diferente do que sentia por Harry. Rony a deixava sem fôlego, nervosa, vermelha com um simples olhar. Ela se sentia inquieta, febril, indefesa e estúpida toda vez que seu corpo tocava o dele. “Rony, Rony, Rony” Ela afundou a cabeça no travesseiro mais ainda. Será que um dia ela teria coragem de contar? Depois de tanto tempo ainda teria sentido dizer o que estava dentro dela? E se Rony não gostasse mesmo dela? E se a amizade deles terminasse? E como ela podia pensar nisso em uma hora dessas, quando uma guerra estava prestes a começar? O sono foi vencendo e ela conseguiu finalmente dormir, mas até em seus sonhos Rony a perseguia.

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