Harry - Descoberta



- Capítulo Três -

Harry


Já havia alguns minutos desde que Sara e eu havíamos dançado. Depois de algumas músicas resolvemos voltar para o castelo: todos deviam estar preocupados e eu não queria expô-la a nenhum perigo.
Estávamos andando na margem no lago, conversando. Ela segurava meu antebraço com medo de cair na fina camada de limo que cobria parte da grama e escutava eu falar sobre os jogos de Quadribol. Se tinha uma coisa que Sara era, essa coisa era boa ouvinte.
- Ah Harry, mais o Malfoy também não sabe perder, né! - ela falou, saltando um tronco que estava no caminho.
- É... Tenho que concordar. - respondi, segurando seu braço com firmeza, para que ela não caísse.
Tenho que confessar, gosto de ter que cuidar dela. Eu me preocupo com ela, já virou uma coisa habitual.
Sara é meiga, inteligente e forte. Mais ela sabe tão bem quanto eu que se a coisa ficar realmente séria, ela pode ter uma crise de pânico, ou pior: quando fica muito nervosa ela tem crises de riso. Não preciso dizer que isso não ajudou em nada quando fomos descobertos por Snape em uma dos nossos passeios noturnos em Hogwarts, não é?
De repente ela parou e virou-se para mim com violência, com a mesma expressão que fazia quando havia algo de errado.
- O que foi? - perguntei. Ela segurou meus braços.
- Harry, hoje é o último dia em Hogwarts! Há esta hora deveríamos estar embarcando no Expresso!
Eu parei para pensar. Tinha que ser rápido: Não poderia deixar Sara perder o Expresso ou levar uma bronca da Minerva.
A noite já começa à cair. Estávamos no inverno e anoitecia muito mais rápido. Às vezes nem víamos o tempo passar. Ela jogou os cabelos para trás dos ombros e mordeu o lábio inferior.
- Ta.. E o que vamos fazer? - perguntei, percebendo que não teria nenhuma idéia à tempo. - Não temos como chegar no Expresso à tempo.
- Ah... Temos sim. - ela disse com um sorriso maroto, enquanto arrumava a gola da minha jaqueta de frio.

Foi inevitável: mesmo com toda aquela roupa de frio, senti-me arrepiar. Uma vontade indescritível de abraçá-la e tê-la colada à mim surgiu, mais me controlei. Ela era uma garota, confesso que muito bonita, mais era para mim como irmã. E na certa só senti isso pelo fato de sermos adolescentes e dela ter aquele jeito irritantemente sensual.
- Qual? - perguntei, fingindo não me importar por ela estar me empurrando para trás com sua atitude e aproximando-se cada vez mais de mim.
- Harry... Nós não podemos "correr" até lá, mais podemos "voar"... - ela disse, me dando um toque. Eu sorri: como é que ela conseguia ter uma idéia dessas?
- Certo. - respondi, mantendo o sorriso.

Sara era surpreendentemente esperta. Apanhei minha varinha no bolso da calça e apontando para o céu chamei minha vassoura.
Ela sentou-se na grama e ficou esperando que a vassoura chegasse.
- Coloca uma música pra gente ouvir. - pedi, sentando ao lado dela.
- Hum.. tá. Que tipo de música?
- Qualquer uma.
- Ta bom... - ela respondeu pegando o IPood.

A noite que caía estava muito estrelada. Eu olhei um pouco para o céu, procurando alguma estrela cadente. A lua cheia saía timidamente de trás das nuvens e batia no lago, dando um visual lindo à noite e possibilitando um pouco de luz. Sara deu o play e colocou o aparelho sobre a grama, entre nós dois.
Naquele momento me senti, mais uma vez, divido: não sabia se ficava com raiva por ela ter nos separado com aquele aparelho ou se me sentia feliz, por estar, mesmo que durante algumas músicas, salvo da provocante sensualidade dela. Era incrível, mais até os cabelos, olhos, boca, sorriso... Cada pedacinho do corpo dela me seduzia. Sentia que ela não tinha culpa, era o jeito dela. Mas às vezes eu preferia me afastar à cair na tentação.


Às vezes eu imagino o mundo sem você
Mas a maioria das vezes fico feliz por tê-lo encontrado
É uma teia complicada que você tece na minha cabeça
Tanto prazer, com tanta dor
Como é que ficamos sempre nessa?
Você não me sai da cabeça
E me salva em cima da hora
Eu me divirto nos altos
Curto os baixos
Porque pelo menos eu me sinto viva
Eu nunca vivi tantos dias emocionantes
Mas a vida é boa
Eu sinto você
Eu sinto você



Ela parecia um pouco longe. Na verdade, parecia estar viajando na letra da música. Cantarolava baixinho, enquanto olhava para as estrelas comigo. Eu virei para ela e a observei um pouco. Depois sorri para mim: ela ficava linda sob a luz do luar. Acho que se fosse outro garoto e se Sara e eu não nos conhecêssemos como nos conhecíamos, eu a beijaria bem ali.
- Sara... Você... Você nunca me falou nada sobre estar apaixonada. Nós já nos conhecemos a tanto tempo e você nunca tocou no assunto...
- "Quando você passa sinto a luz, sinto o amor, sinto um frio na barriga.." - ela terminou de cantar, juntamente com a música. - Você também não gosta muito de falar sobre a Cho... - ela rebateu, segurando a ponta das mangas da blusa de frio que usava.

Era uma das estratégias dela me usar contra mim mesmo. Não que fosse por maldade, era a forma dela de se defender das pessoas.
Sara encolheu-se quando uma brisa passou. Eu a observei e sorri: tinha que admitir, ela era linda. Usava um suéter rosa de lã bem justo, com as mangas mais compridas, que passavam de seus pulsos e alcançavam a ponta de seus dedos e um calça jeans. Ela gostava muito de usar roupas trouxas quando não estávamos estudando. Segundo ela, porque passava pouco tempo no mundo trouxa e às vezes sentia falta de algumas coisas.
- Então.. Quer dizer que você também se apaixonou e deu tudo errado? - perguntei.
Estava ficando curioso. Sara nunca havia me contado nada sobre ela que envolvesse o amor.
Ela riu.
- Infelizmente, não cheguei nem perto de me decepcionar. - respondeu, virando o rosto para mim, ainda sorrindo. Ela parecia rir da minha "ingenuidade". Uma brisa mais suave passou, levando os cabelos dela para trás.
Franzi o cenho, em uma expressão de dúvida: - Como assim?
- Ele não deve ter a mínima idéia de que sou apaixonada por ele. - falou, olhando para mim.
Uma pontada de ciúme ardeu em meu peito. Eu passava tanto tempo com ela que não gostava da idéia de dividi-la com outro cara. Mais ia ser uma coisa que eu teria que aceitar.
- Já tentou falar isso pra ele? - perguntei, enquanto outra música trouxa começava a tocar no Ipood.

Ela olhou para mim: ficou séria. De repente, me senti culpado por pressioná-la a falar sobre aquilo. Se ela nunca havia me falado sobre nada, talvez não fosse para mim saber. Esse devia ser o tipo de segredo que ela contava à Hermione. Deveria ser sobre isso que elas conversavam em suas famosas "Conversas de Meninas".

Se eu pudesse dizer o que quero dizer
Diria que eu quero ir com você pra longe
Estar com você todas as noites
E te abraçar bem forte...



- Não. Mais eu daria tudo por um pouco de coragem, Harry. - ela falou, me encarando.
Por um momento senti o olhar dela me invadir. Senti que ela gostava mesmo dele. Senti que ele era eu. Foi a sensação mais estranha que já havia acontecido comigo. Ela abaixou a cabeça, com um ar triste.
- E.. Por que nunca disse nada disso a ele antes? Foi só.. Falta de coragem? - perguntei de novo, a encarando também.
Sara olhou um pouco para o Ipood, depois para mim.
- Eu.. Já estive várias vezes prestes a dizer tudo. Mais na hora H ele sempre me trata como uma amiga. E aí, eu percebo que é só isso que eu sou para ele: uma amiga. Tenho medo de estragar nossa amizade, a única coisa que consegui ao lado dele. - ela respondeu, sincera. - Sabe.. Quando você começa uma coisa desse tipo não há como voltar atrás. Não se pode fazer o planeta parar de girar e impedir que o dia vire noite. Não se pode anular uma declaração de amor. É a ordem natural das coisas, Harry.

Ela estava certa. Não se podia anular uma coisa dessas. Nesses casos, palavras valiam tanto quanto documentos assinados.
Fiquei pensando: Sara não tinha muitos amigos homens. Na verdade, eu era um dos poucos se não, o único. Ela e Rony eram amigos, mais duvidava que fosse passar disso. Sem contar que ela acreditava que ele e Hermione deveriam ficar juntos. Era estranho, mais agora eu queria saber se ele era, ao menos, um aluno de Hogwarts. Queria saber quem era o outro. Não que eu me sentisse traído, não. Mais me sentia como se estivesse prestes a perder algo... Algo que eu não queria perder.
- Você tem que tentar. - aconselhei. Era a única coisa que poderia dizer.
- E você acha que ele ficaria chateado se eu dissesse isso pra ele?
Fiquei sem saber o que responder. A verdade é que eu não queria vê-la com outro.
- Você gosta dele à muito tempo?
- Ah.. Desde que cheguei à Hogwarts, Harry! No começo, foi mais amizade. Gostava do jeito com que ele me tratava, sabe. Pra ele eu nunca fui uma "imigrante". - ela respondeu, bufando ao pronunciar "imigrante". Sara tinha um pai inglês e uma mãe brasileira. - Só que, com o tempo as coisas mudaram. - pausa. Ela mordiscou o canto do lábio, em dúvida. Depois prosseguiu - Se fosse você: se eu dissesse que te amo. O que você faria?

Silêncio.
Era difícil me colocar no lugar do sortudo desse cara. Era difícil pensar no que diria se por acaso ela me amasse. Mas pelo menos eu sabia de uma coisa: era um amigo dela de Hogwarts.
- Eu acho que... Eu nunca havia pensado nisso. Sabe, esse é o tipo de coisa que a gente não espera escutar. Mais quando escuta, gosta. É gostoso saber que se é amado.

Ela olhou para mim, com os olhos mel pestanejando. Parecia estar pensando se o meu conselho seria realmente bom. Confesso que aquele conselho não foi dos melhores. Ou pelo menos, não foi o certo. Ela poderia sim, perder a amizade desse cara se eles não soubessem dar a volta por cima. Eu não sabia se havia mesmo dito aquilo, muito menos de onde havia tirado aquelas palavras. Acho que, no fundo, era o que eu sentia.
Ela colocou o IPood no colo e, aproximando-se de mim, apoiou a cabeça no meu ombro. Eu passei a mão por trás e segurei sua cintura, em um gesto que a fez sorrir. Era gostoso ver o sorriso dela de tão perto assim. Era gostoso saber que nós podíamos ficar tão próximos sem ter medo do que o outro iria pensar. De repente, senti uma onda de calor. Era estranho, eu já havia a abraçado tantas vezes!
- Harry, veja! Uma estrela cadente! - ela falou, apontando para o céu e me despertando dos meus pensamentos.
Corri com o olhar para o céu estrelado.
- Faça um pedido. - ela sussurrou, já fechando os olhos.

Fechei os olhos e fiquei pensando no que deveria pedir. Era estranho, mais eu não tinha nada à pedir para a estrela. Foi aí que eu pensei em Sara: em como estava me sentindo estranho perto dela. Podia fazer um pedido sobre ela. Podia pedir que ela conseguisse contar ao tal garoto o que sentia. Mais só que havia um probleminha: eu NÃO queria que ela contasse isso para o garoto e que fossem felizes para sempre. Eu NÃO queria que desse tudo certo para eles e foi uma coisa que na hora eu admiti. Foi ridículo, mais meu pedido foi justamente o contrário: que desse tudo errado com ele e que nós continuássemos amigos para sempre. Foi egoísta, eu sei. Mais na hora não resisti à tentação.

- Pronto. - ela falou baixinho, abrindo os olhos.
- O que você pediu? - perguntei, observando como os olhos dela estavam brilhantes. Tão brilhantes como quando se está apaixonado.
Ela riu - Eu não posso te contar, se não o meu desejo não se realiza, né Harry!? - respondeu, dando um leve empurrão no meu ombro.
- O.K., me desculpe! - respondi levantando as mãos, em sinal de rendição.
Silêncio.
Ela apoiou a cabeça no meu ombro novamente, enquanto cantarolava baixinho a música que estava tocando. Eu olhei para ela. Meu coração batia descompassado e sentia a minha respiração acelerar. Era estranho aquilo. Minhas mãos estavam levemente molhadas e eu sentia um misto de prazer e nervosismo ao estar ao lado dela.
Sara observava ingenuamente as estrelas e continuava a cantar sua música. Parecia tranqüila com aquela situação. Aquela tranqüilidade toda me deixou ainda mais nervoso: eu sabia que estava acontecendo alguma coisa. Mais por que ela não se importava com o que estava acontecendo? Parecia que ela nem ao menos notava que havia algo especial acontecendo entre a gente! Estávamos praticamente nos agarrando e ela não estava nem aí! Por que a Sara certinha que eu conhecia estava se comportando como uma garota qualquer, que usa todos os métodos para seduzir um garoto?
Respirei fundo, tentando me acalmar. Aquilo era ridículo. Sara e eu sempre nos tratamos como irmãos, era óbvio que ela não se importaria se eu a abraçasse daquela forma. Mais será que ela não percebia que havia algo mais?
Apertei os lábios. Tinha que admitir, ela estava me deixando confuso. Queria entender por que sentia raiva dela. Eu já havia a abraçado tantas vezes. Por que dessa vez era diferente?
Outra brisa passou, fazendo com que ela se encolhesse ao meu lado. Sara mantinha o olhar fixo na imensa bola prateada que refletia no lago. Eu olhei para ela de esguela: Queria descobrir o que havia de errado conosco. Sempre fomos os melhores amigos, quase irmãos. Tinha que entender por que ela fingia que não estava acontecendo nada se eu sentia um frio na barriga toda vez que a respiração dela roçava de leve meu pescoço.
Olhei para ela, forçando-a a tirar sua cabeça de meu ombro. Ela me olhou confusa. Eu posso jurar que ia discutir com ela, estava de cabeça quente. Mais quando os olhos mel dela fitaram preocupados os meus, estremeci: não poderia fazer aquilo. Não poderia brigar com ela, porque ela não tinha culpa nenhuma.
Era eu quem estava errado. Eu.
Naquele momento descobri que estava me apaixonando por uma das minhas melhores amigas. Passei a mão no cabelos com força. Ela continuava a me fitar preocupada.
- Harry.. O que foi? - ela sussurrou.
Senti o olhar dela percorrer cada pedacinho de mim, em busca de alguma resposta. O mais intrigante, é que ela não tirou os olhos dos meus.
- É que.. Queria saber se você está com frio. - menti, não queria que ela descobrisse tudo. Não queria que ela descobrisse que eu ia brigar com ela como um idiota. Sara sorriu.
- Obrigada Harry - ela respondeu, colocando a cabeça em meu ombro novamente -, mas eu estou bem.
Acariciei seus cabelos compridos e macios e respirei fundo. Agora, tinha duas opções: me afastar e voltar a vê-la só como amiga ou descobrir quem era o outro e tirá-lo da jogada.

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