Harry - Como Tudo Começou



- Capítulo Um -

Harry


Estava sentado na ponte, pensando. No terceiro ano, naquele mesmo lugar, o professor Lupin tinha me dito que eu parecia com meus pais. O sol se escondia atrás das expeças nuvens cinza-claro, deixando a imensa Hogwarts coberta por uma neblina. Aquele parecia ser o único lugar que fugia à tal regra. Enquanto olhava para o horizonte, senti um toque suave pousar sobre meu ombro direito.
- Hey Harry - sussurrou ela -, já acabou. Está tudo bem agora.

A voz dela soou reconfortante e suave. Sara deu a volta e sentou-se no chão ao meu lado. Dei uma espiada por cima do ombro: os cabelos castanhos, antes curtos e que não ultrapassavam os ombros, agora estavam compridos até a cintura. Sua pele morena estava um pouco pálida e as bochechas, salientes por causa do frio. Era estranho ver e conviver com uma brasileira, porém, divertido. Sara tinha muitos costumes estranhos, como, por exemplo, cumprimentar as pessoas com beijos no rosto. Sempre que ela encontrava uma brasileira, era a maior festa: as duas se abraçavam como se fossem grandes amigas e tagarelavam sem parar em português. Todos reparavam e, por isso, Sara era uma verdadeira figura na nossa escola. É claro, ela tinha suas inimigas. Geralmente garotas da Corvinal e da Sonserina, que a julgavam uma "imigrante". Mas ela parecia não se importar com isso, pois se dava muito bem com as Grinfinórias e as Lufanas. Pessoalmente, adorava conversar com ela. Sara abraçou os joelhos e ficou olhando para o horizonte comigo.

- Sabe Harry... Você não teve culpa. Simplesmente aconteceu. Lord Voldemort é cruel e implacável. Você mostrou-se leal ao seus sentimentos.

Era a primeira vez que ouvia Sara Connely pronunciar o nome do bruxo que matou meus pais. Sara sempre fora uma garota diferente e divertida mas, confesso, um pouco medrosa. Às vezes se mostrava tão determinada, que atropelaria Voldemort se ele se colocasse em seu caminho. Já outras, sentia-se insegura e preferia ficar com Hermione pesquisando na Biblioteca do que ir me ajudar.

Eu gostava de Sara. Ela era meio "Hermione Granger" sabe, tinha aquele jeito inteligente e sagaz. Aliás, as duas eram ótimas amigas. Viviam indo à biblioteca juntas, se trancando no quarto para terem "conversas de garotas" e soltando aqueles sorrisinhos quando passava algum garoto que elas admiravam. Às vezes eu ficava bravo com isso. Me sentia deslocado. Mas, apesar de tudo, gostava de conversar com Sara ou de rir das suas piadas. Ela tinha uma espécie de super bom humor, alguma coisa que sempre nos levantava o astral. Sara era única.

Apesar de tudo, eu continuava a vagar meus pensamentos pelo o que havia acontecido na noite anterior. Dumbledore estava morto e, inexplicavelmente, a imagem de Cedrico morto ainda estava bem viva em minha mente. Apoiei os braços em meus joelhos dobrados e continuei a olhar para o horizonte, em busca de alguma explicação. Não fazia a mínima idéia do que iria acontecer à Hogwarts.

Ela passou um braço por cima do meu ombro e o outro rente ao meu peito, me abraçando. Depois encostou a cabeça no meu ombro e percebi que ela fechava os olhos. - Está tudo bem agora, Harry. - disse num suspiro.
Sara me pareceu calma. De certa forma, achei tudo aquilo muito estranho. Conhecia Sara como a palma da minha mão: desde o primeiro ano éramos amigos e eu a via como uma irmã. Ela me dava força, me ajudava a estudar e já havia se metido em boas enrascadas por minha causa. É claro que eu odiava colocá-la em maus lençóis, mas às vezes acontecia. Em outras, ela se intrometia e era tão cabeça dura, que não importava o quanto dissesse que iria trancá-la no quarto, ela me seguia. E pior: é que sempre me ajudava nas horas mais tensas e acabava tudo bem. Me senti estranho quando ela me abraçou, mais continuei quieto.

Eu não sei por quanto tempo ficamos parados olhando para o horizonte enquanto ela me abraçava. Só sei que em certo momento, ela soltou-se de mim. De repente desejei que ela continuasse assim. Respirei fundo, tentando organizar minhas idéias: aquela era Sara Connely minha melhor amiga, o tipo de garota com quem eu adorava passar horas conversando. Não o tipo de garota que eu desejaria beijar.

- Ei Harry... - começou ela, enquanto ajoelhava-se em minha frente e segurava minhas duas mãos. - Seus amigos estão preocupados com você. Estão te procurando faz um bom tempo. Eles... Eu sei que você precisa ficar um pouco sozinho, e respeito isso. Então.. Se quiser que eu vá embora e te deixe aqui pensando, eu não me importarei.

Fiquei levemente divido: Sara me passava conforto, tranqüilidade. Era como se ao lado dela esquecesse todos os meus problemas. Mais eu precisava de um tempo só. Ainda estava um pouco intrigado e assustado com tudo. Queria tirar - ou ao menos tentar - algumas conclusões por conta própria. No momento, como ela se ofereceu para sair, não achei nada demais. Acenei positivamente com a cabeça, concordando com ela.

- Certo, Harry. Eu te entendo. - Ela soltou minhas mãos aos poucos e se levantou - Agora... - disse ela num longo suspiro - Meu pai me mandou uma coruja, quer saber se você não prefere passar suas férias, ou parte delas, em minha casa. Se você quiser, nós vamos estar te esperando na plataforma 9 3/4, próximo a uma coluna de mármore branca. Faça como quiser.

Eu agradeci com um sorriso. O pai de Sara, Sr. Connely, era o chefe do Departamento de Transportes Mágicos. Nos conhecemos no quinto ano e nos tornamos bons amigos. Mas ao observar Sara sair andando sozinha, me senti miserável: Como eu a deixaria ir embora depois de tudo o que ela havia feito por mim? Eu praticamente a abandonara durante o ano inteiro, mas mesmo assim, ela estava me ajudando.
Um desconforto tomou conta de mim. Sabia que estava fazendo a coisa errada. Sara não tinha culpa de Snape ter matado o Professor Dumbledore, muito menos de eu me sentir responsável por aquilo, já que, de certa forma, era por minha culpa que tantos haviam morrido.

Levantei-me mais que depressa e gritei : - Sara! Sara, me espere!
Ela parou rapidamente e virou-se para mim com um sorriso curioso no rosto: - O que é?
Senti vontade de sorrir. Adorava aquele olhar curioso dela, aquele sorriso que te instigava a conhecê-la. Adorava tê-la como amiga.

Coloquei uma das mãos nos bolsos e passei a outra pelo cabelo, meio sem jeito - É... Bem... Volta aqui! Eu queria te agradecer! Obrigado por estar aqui comigo.
Ela correu em minha direção.
- E obrigada por me fazer não ir embora. - respondeu ela já bem próxima de mim. Sara pulou em minha direção e me abraçou - Isso significa que você vai lá para a minha casa? - perguntou ela com os lábios quase tocando meu ouvido.
Senti um arrepio por toda a espinha, e tive certeza de que ela viu os pelos da minha nuca se arrepiarem.
- Isto quer dizer que nós podemos dar uma volta por aí antes de ir embora... - respondi, já recuperando o bom humor.
Estava feliz por Sara ter voltado a ser a mesma. Ela sempre me fazia rir e ficar de bem, mesmo que eu não quisesse isso.
- Estraga prazeres! - replicou ela - Harry, você não me dá UMA chance, não é mesmo?
Eu fiquei paralisado com aquela pergunta. Sara adorava me fazer perguntas com duplo sentindo. Não sei se a intenção dela havia sido esta, mais fiquei na dúvida: como assim eu não dava chances a ela? E de que tipo de chances ela estava falando?
- Eu... Claro que eu dou!
- Dá mesmo? - ela perguntou ao tirar sua cabeça de cima do meu ombro e me encarar.
- D- Dou. - respondi sem certeza do que estava falando.
- Então, você vai para a minha casa?
- Eu.. Eu acho... - respirei fundo, entregando os pontos - tá, eu vou!

O rosto dela iluminou-se em um sorriso. Às vezes era difícil dizer não para ela quando estávamos nos encarando. Volta e meia eu me sentia completamente idiota e esquecia tudo o que poderia falar à Sara. Estava aprendendo a lidar com isso. Às vezes era difícil ser amigo de uma menina como ela: atraente, bonita, misteriosa. Mas, de certa forma, já estava acostumado.

- Tá, e para onde nós vamos agora? - ela perguntou novamente, apoiando as mãos em meus ombros.

"Nós" - pensei - "Como se fôssemos um casal". Não pude evitar meu coração de bater um pouco mais acelerado. Era estranho reparar em como ela falava de "nós" de uma forma tão natural. Eu nunca havia reparado nisso antes, acho que sempre estive acostumado. Sara Connely, a melhor amiga de Hermione Granger e minha amiga também. Sempre andávamos juntos e eu as considerava como minhas irmãs mais novas, como alguém a quem eu devia proteção e carinho. Gostava de cuidar delas, saber se estavam bem. Gostava de ter que me preocupar com elas. Mais por que havia reparado nisso agora?

- Hum.. Podemos dar uma volta no lago, o que acha?
- Gosto da idéia. Se você não pular nele e me deixar pensando que você está morto... - ela disse, mencionando uma prova do Torneio Tribruxo em que eu demorei tanto para subir à tona em que ela pensou que eu havia morrido.
Ri - Pode ficar sossegada. Se eu for, te levo junto.

Sara encarou-me por mais alguns instantes, com os olhos brilhando. Depois soltou-se de meus braços e, andando ao meu lado, enganchou seu braço no meu. Nós nos tratávamos como irmãos, eu já estava acostuma a tê-la abraçada a mim. Mais neste dia, senti um misterioso prazer ao tê-la nessa condição.
- Harry Potter, se você fizer isso e eu sobreviver deste choque, eu juro que te mato!

Ela parou subitamente. - Ai Harry, desculpe! Eu não queria ter falado nada disso, desculpe!
Sara ficou um pouco desconcertada. Ela, obviamente, não queria mencionar a palavra "morte" perto de mim.

- Tudo bem - falei sinceramente - Eu gosto das suas brincadeiras.
Sara continuou andando ao meu lado pensativa. Estávamos quase terminando de atravessar a ponte quando ela voltou a falar.

- Sabe Harry, eu te admiro muito. Você sobreviveu a tudo... Até ao Cruccius. Eu queria poder aprender um pouco com você.

Sorri. Senti que ela havia falado aquilo com sinceridade, mais achei que de confissões melancólicas a minha vida já estava cheia. Queria poder voltar a rir com ela. Queria que ela voltasse a ser a mesma Sara palhaça e atrapalhada que era antes, sempre me fazendo sorrir ou perguntando coisas fúteis nas horas mais ternas.

- Se quiser eu te ensino quando estivermos na sua casa. - falei sorrindo.
- Só se tiver material didático: "Guia de como ser Harry Potter"... Certo?
- Certo. - concordei rindo - Pode deixar, vou providenciar isso.
Sara sorriu e olhou para o horizonte, pensativa. Não sei o que aconteceu naquela hora, mas senti um calafrio por perceber que estávamos de braços dados, segurando um a mão do outro. Aquilo na certa já havia acontecido muitas vezes, mais aquela foi diferente. Era difícil não reparar na beleza de Sara: cabelos castanhos longos com as pontas onduladas, olhos cor mel, boca delicada.. E o caráter dela que, definitivamente, a deixava ainda mais linda. Tentei não pensar naquilo naquele momento. Tinha que me concentrar em como destruiria as Horcruxes de Lord Voldemor. O pior é que, com Sara por perto, as coisas ficariam mais difíceis, pois ela adorava se intrometer na situação. Respirei fundo, enquanto terminávamos de cruzar a ponte.






Algum tempo depois, estávamos os dois sentados à beira do lago, às gargalhadas. Sara estava me contando de todo o seu esforço para fazer cartazes de "campanha" ao meu favor, durante o Torneio Tribruxo. Uma das minhas atividades preferidas com ela era relembrar o passado. E me dei conta de que ha muito tempo não fazia isso com ela.
Era bom estar com ela, rir com ela. Sara é daquele tipo de garota que tem um hiper bom humor, algo que te contagia com as palavras, que faz o assunto render. É impossível não gostar do seu jeito cômico, que transforma qualquer crise em gargalhadas. De certa forma, a companhia dela ameniza um pouco as coisas.
Estar na companhia de Sara depois de tanto tempo sem nos falar, me vez lembrar o quanto eu gostava dela. Sempre que estávamos juntos e começávamos a rir, eu me perguntava por que nunca tinha me apaixonado por ela. Sara estava perto de mim o tempo todo, e eu não vi. Me sentia totalmente relaxado ao lado dela, como se nos conhecêssemos desde sempre. Com ela podia confidenciar segredos ou apenas deitar e ficar olhando as estrelas, pensando na vida ou encontrando constelações. Às vezes penso que daria tudo para mudar o passado.
Subitamente, me veio um pensamento à cabeça: "Será que Cho havia feito cartazes a meu favor? Não que eu soubesse, afinal, ela e Cedrico estavam juntos. Por que então, eu havia dado todas às atenções à ela e não a Sara, que estava me apoiando sem esperar receber nada em troca? Ela fazia tudo por boa vontade, e não se importou pelo fato de eu - miseravelmente - ter esquecido de agradecê-la ou de trocar ao menos algumas palavras a mais por dia com ela, que não fossem "Oi, Tudo Bem, Vou Indo, Tchau". Nossa amizade havia ficado muito esquecida durante aquele ano, eu não lembrava como era bom poder conversar com aquela garota. Tinha que aprender a dar mais valor à quem realmente se importava comigo".
- Hey Harry.. Que demonstração brilhante de dança foi aquela, durante o Baile de Inverno? - ela me perguntou, novamente pegando algum acontecimento passado.
Eu corei.
- Você viu?
- Anham. Mas como não ver Harry Potter no meio de um Salão dançando?
- Bem.. Eu não estava muito afim de dançar.. Nem sei dançar...
- Professora Minerva ensinou. - ela me lembrou.
- É, mais é que... - tentei responder encabulado.
- É que queria dançar com a Cho, não é?
Continuei encabulado e calado. Ela me olhava naturalmente, como uma irmã. Como se me dissesse: "pode falar, estamos só nós dois aqui". Só que, inexplicavelmente, eu começava a sentir vergonha de mencionar meu curto romance perto dela.
- Vem Harry, vou te ensinar a dançar!
Ela se levantou e limpou a calça jeans que estava usando.
- Quê?
- Levanta, eu vou te ensinar a dançar! Para você ver que eu também tenho idéias brilhantes e corajosas!! - continuou ela me fazendo rir e ao mesmo tempo corar ainda mais.

Ela segurou minha mão e me puxou. Eu pensei em puxá-la para baixo, como já fizera tantas vezes. Na certa, ela iria arrancar toda a grama do chão que pudesse e jogar em mim, enquanto diria que eu não prestava, que eu não tinha jeito. Diria mais: que o "gene" maroto era uma maldição. Depois sairia batendo o pé para dentro do castelo, aí eu a seguiria, a pegaria no caminho e pediria desculpas. Sim, poderia ter desencadeado uma verdadeira "guerrinha", mas o invés disso resolvi levantar.
- Bem, esta mão você coloca na minha cintura - disse ela ao colocar minha mão sobre sua cintura - esta você usa para segurar a minha. Viu? Até aqui não foi tão difícil..
- É... - respondi acanhado.
- Agora é só me acompanhar: 1,2,3... 1,2,3... 1,2,3... 1,2,3...
Ela começou a se movimentar e eu a acompanhei. Os lábios dela moviam-se discretamente enquanto contava baixinho os números dos passos que dávamos. Tinha prestado atenção na aula da professora Minerva, então, em determinado ponto eu a levantei no ar e depois voltamos a dançar.
- Viu só? Você já está até me guiando! - comentou ela, enquanto eu a tomava em meus braços novamente. Senti um leve arrepio percorrer minha espinha quando, ao descê-la, seu rosto passou acirrado ao meu.
- É, parece bem mais fácil agora. - admiti enquanto ela sorria.
- Obrigada. Você só precisava relaxar. E claro, a parceira certa ajuda muito. - concluiu ela com um sorriso maroto.

Eu a levantei e a girei no ar. Sara era absolutamente leve. Eu a guiava como se estivesse levando uma bailarina. Senti uma estranha sensação ao dançar com ela, mas era algo bom. Sara era bonita, inteligente, nos conhecíamos de longa data e eu nunca havia dançado com ela, pelo menos, não daquela forma. Concluí que era algo mais do que provar do fruto proibido - afinal, ela era como uma irmã para mim. Era um misto de prazer em tê-la em meus braços com a ansiedade de não ter o controle da situação - não saber o que aconteceria. Sentia uma prazerosa sensação de estar com os pés e mãos atados, de apenas deixá-la levar a situação que havia criado e que eu, inexplicavelmente, me sentia incapaz de controlar.
Depois de um tempo ela parou de dançar, mas não soltei sua cintura. Até hoje não sei se foi porque esqueci, ou porque eu estava atordoado demais com aqueles olhos cor de mel e a boca rosada tão próximos de mim. Pensava em como seria a sensação de sentir meus lábios tocar os dela, envolve-la em meus braços, e ouvi-la dizendo que me amava. Estava tão envolto em meus pensamentos, que nem ao menos lembrei que aquilo não era o tipo de coisa que se pensava sobre amigos. Ela prendeu os cabelos para cima e colocou as mãos em meu ombro.
- Harry... Pode me soltar agora. - sussurrou ela sem jeito.
Silêncio.
- Harry! Eu disse que.. Bem, se você quiser, pode me soltar agora... - insistiu ela docemente, fazendo de tudo para que aquilo não parecesse um "fora".
Silêncio.
- Ah.. O que foi? - perguntei, despertando dos meus pensamentos.
- Esquece. - respondeu ela suspirando. - Se você prefere, podemos ficar em pé olhando um para a cara do outro. Só espero que seja divertido.
- Hum.. tá.

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