Epílogo



Epílogo


18 de Julho de 1994.



O quarto estava mergulhado em agradável penumbra, enquanto alguns poucos e fracos raios de luz entravam pela janela entreaberta.

Apesar de ser madrugada, Remus Lupin permanecia acordado, observando, enlevado, a jovem que dormia tranqüilamente ao seu lado.

Ele mal conseguia acreditar que aquilo era verdade, que Nymphadora estava ali, ao seu alcance, tão entregue quanto ele.Ele estava feliz, como há muito tempo não se sentia. Seria verdade ou seria mais uma ilusão, um sonho?

Mas aquilo estava acontecendo de verdade, era real. Era real sentir a respiração morna e compassada dela acariciando o seu pescoço; era real o calor da pele dela que lhe aquecia; era real ver as longas mechas dos cabelos coloridos dela adoravelmente espalhadas sobre o travesseiro. Era real a plenitude que sentia.

Com um leve ressonar, Tonks mudou de posição durante o sono, deitando-se de bruços e deixando as costas nuas descobertas. Dormia tão profundamente que não sentira Remus lhe acariciando o rosto ternamente, velando por seu sono. Poderia passar a noite assim, que não se importaria.

Era certo que vez ou outra um pensamento incômodo lhe visitava a mente: o fato de que nada iria mudar a sua condição de Licantropo, um amaldiçoado. Por mais que Tonks afirmasse que eles poderiam contornar essa situação, ele se sentia indigno de estar com ela, de lhe abraçar e de lhe beijar os lábios...

As coisas pareciam estar caminhando bem entre os dois no começo, logo após se reencontrarem. E então surgiu ela: a lua cheia, em sua plenitude, roubando os momentos que Lupin e Tonks poderiam desfrutar juntos. E com ela trouxe para Lupin não só o desespero de sentir o seu corpo ceder lugar à um instinto animal, assassino e imundo, mas trouxe também uma leve insegurança que parecia minar toda a tranqüilidade das últimas semanas: e se Tonks sumisse novamente como acontecera da última vez?

Entretanto, assim que a lua voltou a minguar, lá estava a garota impaciente e preocupada, ansiosa por poder estar ao lado dele em todos os momentos; sempre amiga e companheira. Ela estava presente, afirmando que sempre o estaria; sempre que ele precisasse.

Eram nesses momentos que ele pensava o quanto a vida era injusta. O quanto era injusto que ele fosse um lobisomem, pobre, velho... O quanto era injusto que ele não fosse a pessoa que Tonks merecia. Às vezes pensando que ele, talvez, estivesse empatando a vida dela.

Mas ele tinha que afastar aquelas sombras de seu coração. As coisas estavam mudando. Ele estava mudando. E esperava que fosse para melhor.

No silêncio da noite, um leve farfalhar de asas lhe chamou a atenção. Quando se soergueu na cama, avistou uma coruja pousada no parapeito da janela, encarando-o com seus grandes olhos atentos.

Gentilmente, Remus se desvencilhou da jovem que dormia abraçada a ele e se aproximou da janela.

Com dignidade, a coruja inclinou a cabeça como se estivesse lhe fazendo uma reverência, indicando uma carta firmemente presa em seu bico. Quando se viu livre de seu encargo, piou baixinho e alçou vôo, deixando o homem para trás com uma carta endereçada a ele.


“Caro Aluado,

Infelizmente não tivemos tempo de conversar melhor. Tantas eram as coisas a serem ditas e a serem ouvidas. Tanto que deveríamos nos falar, mas devido o momento não nos foi possível.
Mas de algo tenho certeza: um dia conseguiremos colocar todos os assuntos em dia e voltaremos a estar juntos, como quando éramos apenas uns adolescentes idiotas que não se preocupavam com o futuro. Tudo irá ficar bem.
Peço que não tente manter contato comigo por um tempo. Não posso lhe dizer onde estou já que poderiam achar que você está me acobertando, mas pode ficar sossegado, estou bem e estou feliz que você saiba de toda a verdade. Assim como Harry, você era a pessoa a que mais interessava essa história. Quando conseguir me estabelecer melhor, procurarei por você.


Nos veremos em breve, amigo.


Almofadinhas”



Remus releu a carta ainda umas duas vezes, antes de sentir o seu espírito serenar. Sirius estava bem. Não conseguiu conter um sorriso de alívio. Tudo estava indo bem...

Até mesmo as estrelas daquela noite pareciam sorrir para ele. Fazia muitos anos que Remus não se permitia olhar o céu daquela forma, sem a angústia da expectativa pela chegada da Lua Cheia. Mas ele não tinha porque se preocupar, a luz que iluminava aquela noite agradável de verão vinha daqueles pequenos pontos brilhantes e multicoloridos. Eram as suas noites favoritas, as da Lua Nova. Para alguns bruxos poderiam significar uma época em que os poderes místicos enfraqueciam, mas para ele significava tranqüilidade por não sentir o desespero da aproximação da Lua Cheia e nem o desgaste físico que eram os primeiros dias da Lua Minguante.

O barulho de algo caindo no chão, seguido de um “reparo” murmurado por uma voz sonolenta, denunciou que Tonks estava acordada. Ainda sem se afastar da janela e segurando a carta que Sirius lhe enviara, Remus ficou observando a metamorfomaga se enroscar no lençol e caminhar - meio aos tropeços - até ele.

-O que é isso? - Ela perguntou, bocejando. Mas os olhos atentos e curiosos mostravam que ela estava bem desperta.

-Sirius me escreveu... - Remus explicou, entregando a carta para que a jovem lesse. A essa altura ela já sabia de toda a história acerca da inocência de Sirius e, apesar de não poder declarar abertamente ao mundo que acreditava nisso por causa de sua posição no Ministério, ela mal conseguia conter a empolgação de saber a verdade.

-É uma pena que ele ainda não tenha conseguido provar a própria inocência. - Tonks abraçou Lupin pela cintura, os dois em frente à janela do quarto dela. - Eu queria tanto revê-lo. E eu acho que ele ia ficar feliz em saber sobre nós dois, né?

-Ele ficaria feliz sim! - Remus sorriu, pensando que certamente o amigo ficaria feliz, mas que também era possível que lhe torrasse a paciência em saber como o maroto mais reservado, finalmente, tomara uma atitude.

-Eu queria tanto poder falar a verdade para a minha mãe... - Tonks suspirou. - Ela sempre acreditou que o Sirius fosse inocente e sempre me disse isso quando eu era criança. Acho que foi por isso que eu fiquei tão amiga dele antes, sabe - e acrescentou. -... no passado.

-Infelizmente isso ainda não vai ser possível, Nymphadora. - Remus ficou sério. - Não enquanto Pettigrew não for encontrado. Ninguém acreditará na inocência de Sirius sem isso.

Os dois ficaram em silêncio, cada qual imerso em seus próprios pensamentos. Ainda abraçados, em frente à janela do quarto de Tonks, ficaram observando a paisagem aparentemente tranqüila da Londres noturna. Era realmente uma noite bonita e agradável; como se cada estrela disposta no céu brilhasse unicamente para eles. E de repente, um daqueles pontinhos brilhantes rasgou os céus velozmente, deixando um rastro prateado para trás.

-Uma Estrela Cadente... - Tonks apontou para o céu. - Quando eu era criança minha mãe dizia que eram Black’s decadentes. Os famosos banidos da “tradicional tapeçaria dos Black”!

-Você acredita que Estrelas Cadentes possam atender pedidos? - Remus perguntou distraidamente, os olhos fixos no céu estrelado.

-Bom, parece meio bobo, sabe. - Tonks sorriu travessamente, olhando atentamente para o rosto do homem que a abraçava. - Digo, nós somos bruxos, nós podemos conjurar estrelas cadentes à vontade, né?

-Desse jeito você acaba com o romantismo da coisa. - Remus sorriu jovialmente. - Vou começar a me sentir um idiota assim.

-Pára tudo! - Tonks arregalou os olhos, risonha. - Então você está admitindo que já fez pedidos à estrelas cadentes?

-Eu não disse isso!

-Mas deu a entender que sim! - Tonks deu um sorrisinho sabido. Ela estreitou o abraço e sussurrou perto do ouvido dele: - Me conta o que você pediu?

-Sinto muito! - Lupin tentou parecer sério. - Dizem que se você conta o que pediu, o pedido não se realiza!

-Remus! - Tonks protestou. - Me conta, vai...

-Nem sob tortura!

-Ah, então é assim? - Tonks fingiu indiferença ao se desvencilhar do abraço de Lupin. - Eu não ligo, tá! Nem tô curiosa pra saber, viu! - E um pouco desajeitada, tentou ajustar o lençol que estava enroscado em seu corpo, quando se afastava de Lupin.

Ele sorriu novamente, ao ver a expressão da garota que era um misto de curiosidade e indignação e a puxou gentilmente pelo braço. E Tonks mal teve tempo de esboçar uma reação, quando sentiu os lábios de Lupin cobrirem os seus e beija-la com uma doçura inigualável ao que ela correspondeu com o mesmo ardor, com o mesmo carinho, entrega e paixão. O beijo se aprofundava, assim como as carícias se tornavam intensas. Os corpos pulsavam, ansiando por se tornarem um. O homem nunca achou que fosse sentir todo aquele desejo passional de estar com alguém, como sentia com Nymphadora Tonks.

A mesma Nymphadora que perturbara o Remus maroto com um beijo atrevido na biblioteca de Hogwarts; a mesma Nymphadora que o acalentara anos depois, quando o chão parecia ter desaparecido embaixo dos seus pés e ele achara que estaria completamente sozinho no mundo; a mesma Nymphadora por quem ele cometera a insensatez de passar por cima de suas convicções e inseguranças somente para reencontrá-la.

E como não se intrigar com o fato daquele sentimento inexplicável ter durado por todos aqueles anos? Como não se espantar com o fato de Tonks sempre tê-lo aceitado? E ainda havia o mistério que rondava a estranha viagem no tempo que ela fizera que permanecia e provavelmente sempre o seria, um verdadeiro enigma.

Lá estava ele, novamente, tentando, em sua racionalidade, explicar coisas que não cabiam a ele compreender dessa forma, mas apenas sentir. Apenas sentir, experimentar, provar aquele novo mundo que lhe fora revelado.

O inverno passara e Tonks trouxera o calor do verão de volta à sua vida.

Tonks procurou olhar Lupin nos olhos quando finalmente conseguiram se afastar e sorriu para ele. Novamente Remus viu aquele brilho diferente nos olhos negros dela, aquele olhar misterioso que parecia transmitir o segredo ancestral de toda a vida.

-Amo você! - Ela sussurrou e voltou à beijá-lo.

E Remus Lupin não podia afirmar se estrelas cadentes seriam capazes de realizar pedidos feitos em noites solitárias, mas ele tinha certeza que, de alguma forma, o seu pedido fora atendido.






Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.