I Don't want to miss a thing

I Don't want to miss a thing



12 - I don’t want to miss a thing



10 de Novembro de 1981.




Sobre o que aconteceu na semana seguinte, uma única coisa poderia ser afirmada: que fora perfeita. Pode até ser considerado um clichê barato, o dos apaixonados que vivem momentos alegres e felizes, onde as coisas mais simples e banais da vida adquirem cor e emoção como se fosse o mais extraordinário dos momentos. Não os culpo por pensarem e se sentirem assim. Devido o momento tenso e sombrio por que passaram, nada mais justo do que ter um bálsamo para as suas dores, uma espécie de bolha mágica que os protegesse de todo o resto.

Às vezes, quando aquele estado de leve torpor se dissipava por algum momento, Remus sentia a angústia da culpa, por não conseguir ficar pesaroso por mais tempo do que gostaria, afinal, os seus melhores amigos estavam mortos. Sem exceção. Porque o Sirius maroto, o seu amigo de infância já não existia e aquele ser desprezível que fora jogado justamente em Azkaban, lhe era um verdadeiro estranho. Um estranho que usara de sua boa-fé e da amizade que lhe fora confiada durante anos, traindo-os repulsivamente.

Entretanto, quando ele achava que aqueles pensamentos sombrios voltavam a povoar sua mente e envenenar os seus sentimentos, Tonks surgia, sempre tão impetuosa e com o seu sorriso provocativo, ocupando todo o seu tempo e os seus pensamentos; tomando os receios e inseguranças de Remus e fazendo picadinho deles. Sem que ele se desse conta disso. Sem que ele conseguisse evitar. Como se ele não tivesse forças para resistir ao que sentia. Totalmente à mercê dela. Mas daí a admitir que estava apaixonado era outra coisa. Sabia em seu íntimo que estava deslumbrado pelo calor dela, pelas suas cores; que a cada dia que passava sentia mais e mais vontade de estar ao lado dela e que ficava simplesmente ansioso, quase angustiado, quando esperava ela aparecer em seu apartamento. Contudo, apegou-se fervorosamente à doutrina de Tonks, deixando todo o resto de lado e apenas “vivendo o momento”, aproveitando cada segundo, cada instante como se fosse o último.

E tinha que dar o braço a torcer, estava sendo um bom aprendiz.


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The daylight's fading slowly
O dia está desaparecendo lentamente
But time with you is standing still
Mas o tempo com você está parado



Como acontecera na semana anterior, Tonks o intimara a sair durante o domingo com ela. Desta vez o local escolhido fora um dos muitos parques em Londres. Um passeio comum, como tantas outras pessoas fizeram naquele dia, na tentativa de se distrair antes de começar mais uma semana estafante de trabalho. Simples. Tranqüilo. Alegre. Absolutamente despreocupado. Falavam sobre tudo e sobre nada; entre beijos e carícias, como qualquer casal de namorados.

Observavam, silenciosos, as primeiras estrelas que despontavam no céu, deitados lado a lado embaixo da sombra de uma amoreira. As mãos estavam unidas e os dedos entrelaçados, como tudo o mais que compartilharam naqueles poucos dias. Remus acariciava levemente as costas da mão garota com o polegar, aquele toque cuidadoso, simples, quase ingênuo; um toque que em sua simplicidade conseguia transmitir tudo o que ele sentia, a cumplicidade sincera que havia entre os dois.

Contudo, depois de um tempo, parecia que o toque do rapaz era mecânico, como se ele estivesse distante, fora de seu corpo. O olhar dele estava perdido na imensidão do céu, como se estivesse procurando por algo. Parecia tão melancólico e tão desamparado; quase sombrio. Tonks percebeu isso, quando se deitou de lado e ficou observando a expressão vazia no rosto de Remus.

E pelo modo como o corpo dele se retesara e parecia tenso Tonks notou rapidamente do que se tratava: a Lua Cheia que nasceria na noite seguinte. Não queria tocar naquele assunto agora, sabia que aquilo incomodava Remus. E ela própria não sabia ao certo como lidar com aquela situação. Preferiu tentar distraí-lo:

-Um galeão pelo seu pensamento! - Tonks rolou para o lado, apoiando o queixo no peito de Remus, tentando chamar a atenção dele e fazer com que ele desviasse os olhos do céu.

-Já quer saber até o que eu penso? - Provocou, abrindo um sorriso enviesado. Então encarou Tonks. Só agora se dava conta de que o olhar dela parecia conter o infinito do universo e mil constelações que brilhavam intensamente para ele, como se lhe sorrissem. E naquele céu não havia o brilho frio e prateado da sua maior inimiga, a amante lasciva que lhe roubava a sanidade durante as noites de lua cheia. No olhar de Tonks havia um brilho quente, acolhedor e provocante. Um fulgor tão intenso que lhe deixava meio flutuando, alheio à realidade.

-Claro! - Ela abrira um sorrisinho sabido e se aproximara dos lábios dele, ficando a milímetros de distância. - Quero saber tudinho!

-Você já sabe o mais importante sobre mim e quer saber ainda mais? - Arqueou as sobrancelhas, tentando parecer sério e falhando miseravelmente.

-Bem, você sabe como eu sou curiosa, né?

-Curiosa... - Remus sussurrou antes de lhe roubar um beijo rápido. - inquieta - lhe beijara novamente, provocando-a. - mas absolutamente adorável!

E ele empurrou para o fundo de sua mente as preocupações com a mudança da lua, quando tomara o rosto da garota entre as mãos e a beijara longamente. Sabia que a fazia fraquejar quando a beijava assim: bem leve no começo, apenas o toque dos lábios, que aos poucos se tornava mais e mais intenso e que, por fim, chegava a ter um quê de selvagem e desesperado, quase faminto. E Remus não podia negar que sentia uma enorme satisfação ao ouvir os suspiros que escapavam dos lábios dela durante os beijos; quando os lábios se encontravam e se afastavam brevemente quando buscavam ar.


I'm waiting for you only
Eu estou esperando apenas por você
The slightest touch and I feel weak
E ao menor toque eu me derreto



-Então vamos fazer um jogo! - Ela se afastou, com um sorriso atrevido, aquele mesmo sorriso que lhe dava um ar misterioso.

Lupin teve certeza que dali não sairia boa coisa. Ergueu uma sobrancelha, desconfiado e um pouco frustrado por Tonks ter interrompido os beijos. Estava ficando dependente dela e aquilo não era nada bom. Não queria parecer tão carente. Mas ainda assim, aceitara o tal “jogo”.

-Calma, Sr. Aluado, não vai doer, não! - Ela provocou, um dedo passeando pelo rosto dele. - É assim: eu faço uma pergunta sobre você e você faz outra sobre mim. Um joguinho justo, não é?

Remus sorriu. Realmente, não iria sair nada de tão inocente daquele “joguinho”. A possibilidade de Tonks perguntar qualquer coisa sobre ele lhe parecia quase assustadora. Ele não costumava ser tão aberto assim e levando-se em conta as maneiras desencanadas dela...

Eles se sentaram de frente um ao outro, muito eretos, os olhares fixos.

-Eu começo! - Tonks se empertigara, tamborilando os dedos nas pernas cruzadas. - Hm, qual o seu time de quadribol?

Remus riu, balançando a cabeça. Aquilo não fazia o estilo de Tonks: começar com perguntas sutis e despretensiosas. Ela iria aprontar algo, ele tinha quase certeza disso.

-Tornados! - Ele respondeu risonho, ao ver a careta de indignação dela quando murmurara um: “time de perdedores”. - Mas porque esse mistério todo pra saber o meu time de quadribol?

-Na verdade eu não estou muito interessada no seu time de quadribol que, francamente, é uma droga, Remus! Sério. O Cannons é muitíssimo melhor! - Arregalou os olhos, enquanto sorria. - Mas essas perguntas bobas servem para conhecer a pessoa melhor. Por exemplo, agora eu sei que você não entende nada de quadribol!

Remus abriu e fechou a boca algumas vezes, pensando em algo para argumentar, mas não conseguiu.

-Tá, agora é a sua vez. - Tonks falou, mordendo o lábio inferior. - Me pergunta alguma coisa.

-O que, por exemplo? - o rapaz franziu as sobrancelhas.

-Qualquer coisa!

Lupin ficou pensativo por um tempo, tentando buscar no fundo de sua mente alguma coisa que lhe interessasse saber, alguma curiosidade, mesmo que mínima. Não sabia realmente o que perguntar. Tonks era normalmente muito espontânea, falava o que pensava e não era muito difícil conhecê-la. Acabou optando por uma pergunta quase infantil, sem saber o que falar:

-O seu primeiro beijo... quando foi? - Lupin perguntou, espantando-se com a sua ousadia.

-Aos doze anos! - Tonks deu de ombros com naturalidade. - Ele era vizinho dos meus avós. E a experiência não foi muito agradável...

-Porque?

-Hm...falta de prática, sabe... - E fez uma careta engraçada. - E o seu, quando foi?

-Aos quatorze! - Ele murmurou, sem saber se ria ou se corava diante das lembranças daquela época: havia sido uma aposta entre os marotos e quem perdesse teria que passar por um desafio. E Remus não se lembrava de ter se sentido tão constrangido após pagar a aposta. - Mas prefiro não dar os detalhes.

-Ahhh, mas eu queria tanto saber dos detalhes sórdidos! - Tonks abrira um sorriso malicioso, dando uma piscadela cúmplice. - Ok, próxima pergunta: se você soubesse que o mundo fosse acabar amanhã, o que você faria hoje?


I cannot lie
E não posso mentir
From you I cannot hide
De você eu não posso me esconder
And I'm losing the will to try
E eu estou perdendo a vontade de tentar
Can't hide it, Can't fight it
Não posso esconder isso, Não posso lutar contra isso



-Ei, não era a minha vez de fazer a pergunta? - Remus protestou, sorrindo marotamente.

-Aquela pergunta não vale! E, além disso, você está apenas me cedendo a sua vez, como um bom cavalheiro! E então, o que você faria?

A noite havia chegado silenciosa e sutil e grossas nuvens de um cinza chumbo pairavam sobre eles, ocultando as estrelas. Uma rajada de vento gélido agitou os cabelos cereja de Tonks, deixando-os despenteados e caindo sobre seus olhos, enquanto ela aguardava a resposta de Remus, que parecia pensativo.

-Eu acho que vai chover! - Remus comentou, olhando para o alto.

-Não desvia de assunto, Sr. Lupin!

-Não, é sério; eu acho que vai chover!

E mal havia dito isso, gotas grossas e geladas começaram a cair do céu, transformando-se rapidamente numa torrencial tempestade. Um clarão iluminou o céu, seguido de um trovão. As pessoas que estavam no parque começaram a correr, procurando por abrigo, enquanto os dois ficavam ali, sem saber ao certo o que fazer.

Tonks se levantou e puxou o rapaz pela mão, correndo para se proteger em baixo de uma árvore frondosa. Ficaram por um tempo ali, ofegantes, meio risonhos, a roupa colando no corpo frio.

-Hora de voltar, não é? - Lupin abraçou a garota de maneira protetora, tentando abriga-la da chuva. - A não ser que você queira tomar um banho de chuva e, quem sabe, rolar um pouco na grama!

-Ora, mas veja só, como o Sr. Aluado está me saindo sarcástico! - Alfinetou, dando um soquinho no braço dele.

Mas ele apenas intensificou o abraçou, tendo a certeza de que ela estava ali, segura, junto dele. Concentrou-se por breves segundos e desaparatou, levando a garota consigo. No instante seguinte estavam em frente ao prédio onde o rapaz morava. Entraram apressados, em parte por causa da agonia por estarem usando roupas molhadas que, agora, começavam a pesar no corpo.

-Mas já é outra moça? - Uma voz feminina e roufenha esganiçou-se do meio do corredor do primeiro andar, enquanto Remus e Tonks começavam a subir as escadinhas estreitas que levavam ao apartamento do rapaz que ficava no segundo andar. Ele estacou, meio surpreso, meio acanhado, quando se deparou com uma senhora que beirava os setenta anos.

A senhora olhou com reprovação o estado deplorável dele e de Tonks, que estavam molhados até os ossos e deixando pegadas molhadas por onde haviam passado. Ela tinha cabelos muito brancos, presos num coque apertado e linhas severas no rosto sisudo.

-Eu não esperava essa atitude de um rapaz feito o senhor, Sr. Lupin.

-Me desculpe, Sra. Blackwood! - Lupin usou o seu tom de voz mais polido e educado. - Posso secar o chão num minuto!

Tonks não sabia se ria da situação ou se oferecia ajuda para limpar o chão. Mas sendo estabanada como era, preferiu ficar na sua. Vai que ela acabava piorando a situação?

Com um gesto simples da varinha, o rapaz secara tudo, mas a Sra. Blackwood ainda parecia reprovar as atitudes dele. Lupin lhe desejara um “boa noite” murmurado e começou a subir as escadas que levavam até seu apartamento apressadamente, quase correndo, de mãos dadas com Tonks. Queria se ver livre das vistas daquela mulher.

-Qual é o problema com a mulher? - Tonks perguntou, enquanto Lupin abria a porta de seu apartamento. - Ela não gosta de você?

-A Sra. Blackwood é a senhoria do prédio e ela é um pouco rígida demais, sabe!

-Rígida demais? - Tonks o interrompeu, divertida. - A mulher é um cruzamento do Filch com a Madame Pince.

-Normalmente eu me dou bem com a senhoria, mas ela anda cismada comigo nas últimas semanas... - E abriu apressadamente a porta do apartamento, parecendo um pouco constrangido. - Ela andou me chamando de umas coisas um pouco... hm... fortes demais!

-Como o que?

-Deixa pra lá... - Tentou desviar de assunto, sem sucesso. A enorme curiosidade de Tonks havia sido aguçada. - Bem, ela me chamou de “promíscuo”, nessa semana. Diz que cada dia uma garota diferente aparece aqui no prédio atrás de mim e que isso aqui vai acabar virando um pardieiro.

-Eu não acredito! - Tonks pôs a mão na boca, os olhos arregalados, tentando sufocar as gargalhadas. - Ela te chamou de promíscuo por minha causa? - O rapaz aquiescera. - E você não explicou pra ela que eu sou uma metamorfomaga?

-A Sra. Blackwood é uma bruxa abortada, então eu suponho que falar de habilidades mágicas pra ela não seja uma boa idéia... - Lupin ponderou, enquanto tirava o casaco quase ensopado de Tonks e o pendurava perto da pequena lareira que ficava na sala. - Vem cá! - E voltando a usar a sua varinha, secara toda a água que encharcava ambos, deixando-os secos e aquecidos novamente.

Enquanto terminava de fazer a sua tarefa, notou que Tonks estava estranhamente calada, os olhos cravados nele.

-Aconteceu algo, Nymphadora? - Perguntou, encaminhando-se para o quarto para guardar o próprio casaco.


So go on, go on
Então vamos lá, vamos lá
Come on leave me breathless
Venha e me deixe sem folêgo
Tempt me, tease me until I can't deny
Seduza-me, provoque-me até que eu não posso mais negar



-Você não respondeu a minha pergunta! - Tonks falou, ainda sem desviar os olhos de Remus.

-Ah, a pergunta... - Remus sorriu, encostando-se no parapeito da janela, os braços cruzados. - O que eu faria se hoje fosse o meu último dia, não é isso?

-Exatamente! - Tonks se aproximou do local onde o rapaz estava, envolvendo o pescoço dele com os braços; os olhares fixos um no outro. - O que você faria?

E havia algo de diferente em Tonks. Lupin não sabia dizer ao certo o que era, mas tinha a mais absoluta certeza disso. Talvez fosse o modo como as pupilas dela estavam dilatadas ou o olhar expectante, como se quisesse lhe transmitir alguma mensagem secreta através dele.

O que ele faria se aquela fosse a sua última noite? Ele não precisava pensar muito para obter a resposta: iria querer passar a noite com aquela garota, juntos e esquecer todo o resto: esquecer o quanto a sua vida fora marcada pelo sofrimento, o quanto a dor da saudade daqueles que lhe foram queridos doía, o quanto o seu futuro parecia sombrio e solitário; iria abandonar-se nos braços de sua doce Ninfa, sem pensar em mais nada.

“Então se entregue” - uma vozinha dizia dentro de sua mente, incentivando-o, incitando-o a fazer algo que ele tinha medo de fazer: liberar completamente os seus desejos, deixar-se comandar pelos instintos.


This lovin' feeling
Esse adorável sentimento
Make me long for your kiss
Que me faz ficar aqui pelos seus beijos
Go on, go on, yeah. Come on
Vamos lá, vamos lá, sim, Vamos lá



Mas será que “querer” e “fazer” poderiam significar a mesma coisa?

Lupin estava prestes a descobrir isso...

Tonks compreendera a resposta dele quando fora beijada com ardor, quando sentira aquelas mãos de toque quente a abraçarem com força e que começaram a explorar a sua cintura por dentro da camiseta colorida. Houve um breve segundo de hesitação da parte dela, quando sentira as mãos do rapaz se tornarem cada vez mais ousadas, e o seu corpo sendo pressionado contra a parede do quarto.

-Se você não quiser... - Remus murmurou, a voz mais baixa e rouca do que o normal. E apesar de haver um brilho quase febril nos olhos âmbar, ele olhara Tonks daquela mesma maneira serena. - achar que seja cedo demais...


And if there's no tomorrow
E se não houver amanhã
And all we have is here and now
E tudo o que temos for aqui e agora
I'm happy just to have you
Eu estou feliz em apenas ter você
You're all the love I need somehow
Você é todo o amor que eu preciso, de todas as formas



A resposta que ele recebera fora sentir novamente os lábios macios e quentes de Tonks cobrindo os seus e a língua atrevida invadindo sua boca, invadindo o seu mundo, fazendo com que todos os seus valores e estigmas ficassem esquecidos em algum lugar distante. E não havia somente o beijo, mas também as mãos ousadas e um pouco desajeitadas que tentavam abrir a camisa dele, deslizando por seu peito, o abraçando, o envolvendo; ele não tinha chances de fuga, como uma fera enjaulada.

Dali em diante, as coisas pareciam ter acontecido sem que eles se dessem realmente conta do que estavam fazendo.

Em pouco tempo as roupas estavam espalhadas pelo quarto e Remus nunca seria capaz de descrever a sensação maravilhosa que era sentir o corpo nu macio e quente daquela garota sob o seu. Ou então como era delirante ouvir ela murmurar coisas, chamar o seu nome, dizer o quanto o queria enquanto faziam amor, mas ao mesmo tempo em que havia um certo ar inocente naquela garota, sempre com o seu jeito de menina-mulher.

Era tudo muito único, muito onírico. Pode parecer besteira, uma coisa banal a ser dita, mas ele nunca se sentira assim com ninguém antes. De onde surgira toda aquela intimidade? Ele tinha a impressão de que não era a primeira vez que faziam aquilo, como se já fossem velhos amantes. Os olhares trocados transmitiam os sentimentos, as carícias ensinavam um ao outro o segredo do universo e os beijos não continham apenas o desejo apaixonado de possuir o outro, mas também toda a cumplicidade e companheirismo conquistado.

A satisfação e o sentimento de plenitude que Remus sentira quando se abandonara cansado e feliz, com Tonks aninhada em seus braços ficaria gravada em sua mente para sempre. E respondendo a pergunta que Tonks lhe fizera, ele diria que se o mundo acabasse amanhã, hoje ele iria apenas amá-la.


It's like a dream
É como um sonho
Although I'm not asleep
Embora eu não esteja dormindo
And I never want to wake up
E eu nunca quero acordar
Don't lose it, Don't leave it
Não perca isso, Não deixe isso



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11 de Novembro de 1981.


Felicidade era pouco para definir o que Nymphadora Tonks estava sentindo. Poucas vezes ela se sentira assim tão... adulta, tão mulher, tão consciente disso. Seria hipocrisia dizer que Remus fora o primeiro homem em sua vida, porque durante o sexto ano tivera um namorado e as coisas haviam avançado um pouco com ele. Mas nenhum de seus ex-namorados, nenhum de seus “casinhos” tolos e infantis teriam o mesmo valor. Ela estava apaixonada e isso mudava tudo.

Na manhã seguinte, uma Tonks muito cantarolante e sorridente adentrara o bar-hospedaria do Caldeirão Furado. Como naquela noite haveria lua cheia, Remus foi categórico ao dizer que preferia passar o dia sozinho e Tonks não teve outra alternativa a não ser concordar. Protestou, obviamente, mas concordou, pensando que seria apenas uma semana e que logo em seguida poderia voltar a procurá-lo.

-Lindo dia, não é Tom? - A metamorfomaga cumprimentou o dono da hospedaria, encaminhando-se para as escadas que levavam para os quartos.

-Srta. Tonks! - Ele a chamou, mas já era tarde, a garota já havia sumido pelas escadarias.

Mas quando se aproximara da porta de seu quarto alugado, não pôde conter a surpresa de ver que esta se encontrava entreaberta. Quando pensou em tirar a sua varinha do bolso do casaco comprido, uma voz serena a saudou:

-Bom dia, Nymphadora, como vai?

Ela não pôde conter uma exclamação de surpresa ao se deparar com ninguém menos do que Albus Dumbledore, acomodado confortavelmente numa das poltronas que ficavam no aposento, a encarando por detrás de seus óculos de meia-lua.

-Professor, como... como o Senhor me achou aqui? - A garota perguntou, aturdida, largando-se na outra poltrona e passando as mãos pelos cabelos curtos e coloridos.

-Aproveitei o domingo para fazer uma visita ao Beco Diagonal e conversar com o meu amigo Tom, da hospedaria. É sempre útil ter um bom relacionamento com donos de estabelecimento! - Dumbledore tentou amenizar o clima, ao ver que Tonks parecia quase exasperada. - Tom comentou comigo que havia uma metamorfamaga hospedada aqui. Bem, o seu dom não é muito comum, muito menos o seu nome.

-Oh, merlin, é sempre o maldito "Nymphadora" que me entrega. - Tonks reclamou, cruzando os braços. - Droga!

-Eu teria vindo antes para conversarmos, mas não sei se a Srta. tem acompanhado as notícias d’O Profeta Diário, mas durante essa semana alguns comensais atacaram a família Longbotton e eu estive ocupado por causa dos julgamentos. - Albus falou, sua voz denotando cansaço.

-Eu sei, diretor. - Tonks estava séria, apesar de ter um pé inquieto se agitando. - Foi a minha “querida” titia Bellatrix, quem comandou o ataque. - e resmungara algo como “louca psicótica” em seguida.

-Suponho que a sua tentativa de voltar para o futuro tenha dado errado, não é mesmo? - Dumbledore perguntou gentilmente.

Tonks suspirou pesadamente. Não havia como evitar, mesmo que tencionasse mentir, não seria capaz disso. Dumbledore tinha um jeito de olhar e falar tão poderosos, que seria impossível mentir para ele. Não teve alternativa, contou tudo o que acontecera desde que tentara voltar para o futuro, ajudada por Sirius. Até mesmo discutiram algumas coisas a respeito da prisão de Black, mas sem se aprofundarem demais no assunto.

-Entende, Diretor, eu tinha encontrado o Remus todo perdido e... - Tonks mordera o lábio inferior, sentido toda aquela felicidade se esvair de seu peito. - eu não podia deixar ele sozinho, sabe...

-Suponho que sim! - O que outras pessoas poderiam encarar como uma trapalhada adolescente, Dumbledore dedicava uma sincera atenção. - Mas acho que já chegou o momento de levá-la até a sua época, não é mesmo?

Uma lágrima, teimosa e amarga, subiu até os olhos da garota, mas ela não demonstrou isso.

-Nymphadora, eu sinto tanto ter de fazer isso, mas é estritamente necessário. - Albus tocara o braço da garota carinhosamente. Aquela voz serena estava deixando Tonks mais angustiada ainda, porque sabia que o velho mestre tinha razão e que ela teria que ir embora. - Já pensou nas conseqüências que a sua viagem ao passado poderiam acarretar? E a Srta. ainda teve sorte de ter voltado para esse ano, onde encontrara pessoas que a conhecessem.

-Eu sei, diretor, mas é que...

-É que a Srta. não quer deixar Remus sozinho, não é isso? - o diretor completara. - Gostaria de ter um tempo para poder se despedir dele?

Tonks ficou pensativa por um tempo, encarando os próprios joelhos. Suponhamos que ela fosse mesmo se despedir de Remus: será que ela teria coragem de lhe contar a verdade? E se contasse, será que ele iria acreditar? Será que não iria pensar que apenas ficaram juntos por um capricho dela e que agora que a lua cheia havia chegado, ela tomara consciência do quanto ele poderia ser perigoso? Pelo pouco que convivera com Remus, sabia que ele poderia perfeitamente pensar assim, o quanto os seus traumas e inseguranças influenciavam na sua maneira de raciocinar e agir.

-Diretor, eu não sei se vou conseguir fazer isso. Me despedir, entende...

-Essa é uma decisão apenas sua, Nymphadora! Eu apenas estou aqui para tentar ajudá-la, mas não posso decidir por você. Gostaria de ter um tempo?

-Não, professor! - A voz falhou um pouco, as lágrimas começaram a embaçar a sua visão, mas Tonks foi firme em sua decisão. - Ter que explicar que eu vou ter que ir embora vai ser difícil demais... não que eu não tenha coragem pra isso, afinal, sou uma grifinória. - tentou sorrir, sem sucesso. - mas eu não saberia fazer isso. “Mesmo tendo a certeza de que o Remus irá me odiar pra sempre”, completou em pensamento.


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Tonks não precisou de muito tempo para trocar de roupa e arrumar o seu malão. Dumbledore a aguardava pacientemente no andar inferior da hospedaria, para que eles pudessem sair.

-Já sabe aparatar, Nymphadora? - o diretor perguntara, enquanto se encaminhavam para os fundos do bar-hospedaria.

-Sim, senhor, já sou maior de idade! -A garota respondeu, arrastando o malão atrás de si.

-Poderia aparatar até a estação de King’s Cross? Segundo o que me disse, foi lá que a Srta. fez a sua viagem ao passado, então suponho que será lá que tentaremos fazer a viagem no tempo.

A garota aquiescera e com um sonoro “crack”, desapareceu. Logo em seguida foi a vez do diretor. Reapareceram quase instantaneamente na estação de trem; as pessoas pareciam tão preocupadas e apressadas que passavam por eles, sem reparar muito nas chamativas vestes magenta do diretor.

-Diretor como o Senhor pretende me mandar de volta?

-Usando um vira-tempo! - Albus respondera, tirando uma pequena ampulheta dourada de dentro da capa. - Mas primeiro vamos procurar um local mais apropriado para fazer isso. - Tonks o seguia de perto, carregando o seu malão. - Ah, sim, aqui parece ideal.

Pararam próximo a barreira que separava as plataformas nove e dez. Tonks não tinha muita certeza se o que iria fazer estava muito certo. Além da expectativa em saber se iria conseguir “voltar para o futuro”, havia aquele sentimento ruim de algo que ela iria deixar incompleto no passado.

-Será que as pessoas não vão reparar no que a gente vai fazer? - A garota perguntou, franzindo as sobrancelhas.

-Minha cara, as pessoas só vêem aquilo que querem ver! - Dumbledore replicara, passando a corrente do vira-tempo pelo próprio pescoço. - Por favor, se puder se aproximar um pouco mais... - e passara a corrente pelo pescoço de Tonks. - Certamente a sensação não será das mais agradáveis, mas acho que pode ser suportável.

Dumbledore dera uma pancadinha na pequena ampulheta dourada com a sua varinha, parecendo muito compenetrado. Uma sensação esquisita começou a invadir Tonks, que acabara por fechar os olhos na tentativa de evitar o possível enjôo. A estação de trem havia sumido, e era como se estivesse dentro de um redemoinho de cores e formas difusas. Quando voltara a abrir os olhos, depois de ter a certeza de que se sentia um pouco mais “firme”, podia jurar que não havia nada de diferente.

-E então? - Ela perguntou, olhando ao redor. No fundo, o desejo secreto de que a viagem no tempo tivesse melado era grande, mas ela se limitara a aguardar a resposta.

-Observe! - Albus apontara para o meio da multidão, onde uma garota com cabelos vermelho-sangue andava apressadamente, arrastando o malão atrás de si.

-Sou eu! - Tonks arregalou os olhos, as mãos tapando a boca. - Eu tô aqui e lá ao mesmo tempo?

-Certamente! Aquela é a Srta. pouco tempo antes de fazer a viagem ao passado...

-E assim que ela... ou melhor, eu... o senhor entende, né? Então, assim que o meu outro eu atravessar a passagem, irá voltar pra 1976...

-Exatamente. Agora só nos resta saber se quando a Srta. atravessar a passagem novamente, irá para 1976 ou...

-Para 1990. - Tonks completou. Voltou a encarar a passagem que separava as plataformas e viu a outra Tonks atravessar a barreira e sumir. - Bom, acho que agora é a minha vez, não é?

-Boa sorte, Nymphadora! - Dumbledore sorrira com amabilidade, apoiando uma de suas mãos enrugadas no ombro da garota. - Vou me certificar de que tudo irá acontecer corretamente. - E fez com que ela o olhasse nos olhos. - E não se preocupe com Remus. Não pense que ele irá se magoar com o seu desaparecimento, mas pense no que vocês viveram nos últimos dias e no quanto isso fez bem a ele. Agora vá, senão irá perder o seu trem!

-Até mais, professor Dumbledore!

Tonks se aproximou da barreira encantada, carregando, além do seu malão pesado, um sentimento esquisito de vazio; como se uma parte dela tivesse ficado para trás, literalmente no passado. Deu um último aceno para Dumbledore, que a observava e atravessou o portal. Não sentiu nada de diferente ao atravessar a barreira e no instante seguinte, colocava os pés na plataforma 9 ¾, vendo a balbúrdia dos estudantes que embarcavam no expresso de Hogwarts.

Antes que pudesse distinguir algum rosto conhecido, uma massa de cabelos negros e cacheados entrara no seu campo de visão e sentiu braços ágeis envolverem o seu pescoço num abraço apertado.

-Tonks!

-Kate? - A metamorfomaga se afastou um pouco e viu a amiga de tantos anos, lhe sorrindo alegremente.

-Abraço coletivo! - Um outro par de braços envolveu Tonks e Kate num abraço mais forte ainda, quase erguendo as duas garotas no ar. - E aí, Tonks?

-Carlinhos, a gente não tá conseguindo respirar! - Kate reclamou, tentando empurrar o amigo, Carlinhos Weasley, que parecia se divertir com o aborrecimento da morena.

-Carlinhos... Kate... - Tonks sorrira, um riso meio choroso, voltando a puxar os dois para um abraço. - Gente, como eu senti saudades de vocês.

-Ei, Tonks, porque isso?! - Kate rira, puxando Tonks e Carlinhos pela mão, em direção ao expresso de Hogwarts. - A gente se falou ontem mesmo pela lareira!

-Espera... espera um pouco! - Tonks falou, franzindo a testa. A metamorfomaga olhou ao redor, na estação apinhada de gente, com a estranha sensação de que estava sendo observada. Era algo tão forte, que ela sentiu o tal “olhar” acompanhá-la até que embarcasse no trem.

-O que foi, ô filhote de camaleão? - Carlinhos perguntou, abraçando a amiga pelos ombros, enquanto procuravam alguma cabine vazia. Mas Tonks parecia não prestar muita atenção ao que o amigo dizia. Assim que os três amigos entraram na cabine, Tonks correu para a janela, olhando com atenção as pessoas que ainda estavam ali.

-O que deu nela? - Kate cutucou Carlinhos, indicando Tonks com a cabeça. O outro apenas encolheu os ombros, sem saber o que dizer. - Tonks?!

-Ahn?

-Garota, fala o que tá acontecendo, porque a gente tá ficando preocupado, oras!

Tonks abriu e fechou a boca algumas vezes, antes de dar de ombros, enquanto se acomodava.

Mais uma coisa sem explicação, mais uma coisa que ficaria guardada somente para ela. Um dia, talvez, ela contasse para alguém o que aconteceu, mas, por enquanto, era melhor deixar como estava. Quem iria acreditar, afinal?

A viagem para a escola fora como todas as outras de seus anos anteriores: as mesmas implicâncias entre os alunos da Sonserina e da Grifinória, as mesmas brincadeiras entre os colegas, as mesmas reclamações de Carlinhos por perder no Snap Explosivo para os irmãos mais novos. Tudo como Tonks conhecera em seu tempo. Mas ela própria mudara um pouco e por mais que estivesse acostumada com as suas próprias mudanças, iria demorar um pouco a se habituar com a velha Tonks.

Enquanto observava a paisagem mudar, quando começaram a sair de Londres, enfim teve tempo de pensar nas coisas que aconteceram nas últimas vinte e quatro horas. Primeiro todo aquele clima intenso e caloroso, mas ao mesmo tempo delicado que era estar com Remus; ainda era capaz de sentir o toque das carícias dele lhe explorando o corpo, lhe provocando arrepios; ou então quando entravam num assunto qualquer e ela falava alguma besteira, somente para fazê-lo sorrir, aquele sorriso meio maroto, meio reservado que lhe conferia aquele jeito todo misterioso, que só Remus sabia ter.

Uma das características mais marcantes de Tonks era o seu espírito imprudente. Quantas vezes Andrômeda não lhe dissera que um dia Tonks poderia vir a se magoar com isso, com essa mania de se lançar de cabeça em tudo, sem pensar nas conseqüências de seus atos.

E naquele momento, ela se perguntou se a sua mãe não teria razão.

Analisando tudo o que acontecera com ela, pesando todos os momentos que passara inclusive levando-se em conta a angústia que passara, sem pestanejar, Tonks afirmaria que viveria tudo de novo.


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Notas do Remus: A noite que eu e Tonks passamos juntos fora simplesmente maravilhosa. Por mais que não quisesse admitir, eu começava a vislumbrar um futuro ao lado dela. Quase podia dizer que era um homem feliz, completo.
Mas no dia seguinte ela não aparecera. E no outro também não. Tonks havia partido, da mesma maneira que aparecera: repentinamente, levando consigo as suas cores, o seu calor e a minha pouca alegria.
E eu tive certeza que, naquele ano, o inverno chegara mais cedo para mim...



****

Pra compensar a minha demora, chego aqui com um capítulo super, hiper, mega gigantesco. 15 páginas do Word, só para compensar todo esse tempo sem atualização.
Porque demorei tanto? Primeiro, por causa do vestibular (siim, eu passei!!!) e segundo porque tinha travado completamente com essa fic. Tentei, tentei, mas tava difícil de sair o capítulo. Acho que foi por causa das diferentes emoções e tal (fico até com nó na garganta de pensar na separação deles... snif) e também porque estaria encerrando mais uma fase dessa fic.
E notem uma coisa: os meus capítulos nunca são 100% felizinhos, SEMPRE tem alguma coisa pra atrapalhar ou algo meio tristinho. Enfim, já tenho um trechinho do próximo capítulo, vou tentar atualizar mais depressa, ok?
Música tema: “Breathless”- The Corrs (aliás, fiquei ouvindo essa banda direto pra ver se conseguia ter alguma inspiração.)
Obrigado a quem comentou, aos mudinhos e etc.

(depois posto os agradecimentos direito...rs..)

See ya!

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