A profecia de Sibila



A primavera chegara com toda a sua força em Hogwarts. No escritório do diretor, Dorcas tentava mais uma vez convencer Dumbledore a procurar Snape.

- Professor, depois dos últimos ataques, mais do que nunca, precisamos de alguém que possa nos dizer o que está acontecendo entre os comensais. Só através de Severo nós podemos...

- Dorcas, eu analisei sua proposta nos últimos meses. Tavez não seja seguro nos arriscar dessa maneira, mas de Voldemort já sabe que sabe da existência da Ordem, acredito que terei de aceitar a sua sugestão.

A garota sorriu, voltando a se sentar, já que se levantara angustiada para provar seus argumentos.

- Então o senhor vai procurar Severo?

- Marque um encontro com ele, senhorita Meadowes. Acredito que amanhã eu esteja livre para conversarmos.

Ela assentiu e voltou a se levantar, despedindo-se do diretor.

- Até breve, professor Dumbledore.

- Até, Dorcas.

Dorcas deixou o escritório e Dumbledore ficou sozinho, pensativo. Era um passo arriscado, mas se Severo Snape realmente concordasse em ser um espião da Ordem, isso seria de grande ajuda. Mas outros pensamentos também preocupavam-no. Se Voldemort realmente sabia sobre eles, é porque alguém da Ordem dissera a ele.

Marlene e Edgar... Teriam sido tristes coincidências ou o início de uma luta silenciosa, em que eles estavam cegos demais para saber quem eram seus amigos e seus inimigos? Fawkes soltou um trinado fraco e Dumbledore voltou-se para a fênix. E ainda havia os Potter. Eles tinham que ser protegidos. Voldemort os queria, em especial, à guardiã. E o poder de Lílian poderia decidir os destinos da guerra.

Ela não voltara a falar sobre a Antiga magia. Talvez ainda estivesse trabalhando nas traduções dos livros que ele lhe dera. Mal sabia Dumbledore que ela jogara todos os volumes no fogo, após a visão da abertura do Caronte. Ele foi tirado de seus pensamentos por uma coruja que entrara pela janela aberta. Rapidamente ele tirou da pata dela o pequeno bilhete que ela lhe trazia.

- Parece que temos trabalho hoje. Os rumos da Adivinhação são muito imprecisos, mas ela tem uma descendência que, no mínimo, por questão de educação, devemos conhecer...


--------------------------------------------------------------------------------


Uma ampulheta. Gota após gota, o líquido que a enchia escoava para a parte de baixo. O tempo estava passando... Só faltava um pouco mais agora... Apenas mais um pouco... Antes, porém que a ampulheta pudesse terminar de marcar o seu tempo, algo fez com que ela caísse no chão. O vidro se arrebentou e o líquido vermelho espalhou-se pelo chão.

Tiago, sentado numa mesinha perto da cama onde Lílian dormia, observou o semblante da esposa se contrair e logo chegou à conclusão de que ela estava tendo mais um de seus terríveis pesadelos. Ele observou com carinho a barriga dela, que a cada dia ficava maior e levantou-se. Talvez fosse melhor acordá-la. Mas antes que pudesse cumprir seus intentos, o corpo da ruiva voltou a relaxar.

- Lily? - ele chamou num sussurro.

Não houve resposta. Ela continuava dormindo. Talvez fosse melhor deixá-la assim. Resignando-se, ele voltou a se sentar para trabalhar. Os relatórios avolumavam-se em sua escrivaninha de tal modo que Sirius se perguntava se não estariam dando cria. Era tanto trabalho que o auror agora levava metade dos papéis para casa e trabalhava até altas horas da noite.

Mas ele não conseguiu voltar a se concentrar no trabalho. Sorrindo, ele se deixou ficar observando Lílian dormir, enquanto imaginava tempos futuros, tempos de paz... Harry ia ter um pai que ia precisar mais de babador do que ele, Tiago pensou por um segundo. Seria tudo tão perfeito se não houvesse aquela história de Antiga magia e Voldemort e comensais...

Ele meneou a cabeça para si mesmo e voltou os olhos para os papéis.

- Vai dar tudo certo, Harry. Eu vou proteger você e a mamãe, não se preocupe. - ele sussurrou para si mesmo antes de continuar a trabalhar.


--------------------------------------------------------------------------------


Severo observou a rua escura, enquanto ao fundo brilhavam as luzes de um parque de diversões trouxa. Sentado na grama, junto a um centenário salgueiro que deitava suas folhas num pequeno lago diante de si, o comensal esperava. Passos leves denunciaram que ele tinha companhia. O rapaz não se virou, nem mesmo quando o dono dos passos sentou-se ao seu lado.

- Boa noite, Severo. - a voz doce de Dorcas cumprimentou.

- O que quer agora, Meadowes?

- Sabe, eu tenho certeza que, um dia, você vai conseguir dizer meu primeiro nome. - ela sorriu e ele se viu tentado a corresponder, mas permaneceu impassível - Ora, vamos, Severo, você não pode ser um bloco de gelo permanente!

- Você me chamou aqui para discutir se eu devo ser mais frio ou mais polido? - ele perguntou seco.

Ela suspirou.

- Não. Escute, eu conversei com Dumbledore. - ele rolou os olhos e ela respirou fundo - Sei que já tinhamos discutido isso antes e você não concordou, mas, pelo menos converse com ele!

- E o que devo conversar com aquele diretor gagá? Talvez uma nova decoração para as masmorras do Lorde das Trevas... - ele retrucou sarcástico.

- Você sabe do que estou falando, Severo. - ela levantou-se, triste - Eu acredito em você. E quero provar aos outros que eles também podem confiar.

- O que faz você pensar que eu seja uma pessoa tão confiável? Não passa pela sua cabeça que eu possa fingir que me junto a vocês e depois traí-los para o Lorde? - ele perguntou, levantando-se também.

- Você salvou minha vida. - ela respondeu num fio de voz - Só o que estou tentando fazer é pagar essa dívida, salvando a sua também. Se seu lorde for derrotado, você será mandado para Azkaban.

- Eu nunca cobrei essa dívida. - ele respondeu sério - E nem vou cobrar. Então, se é só isso, acho que devemos nos despedir aqui.

Ela abaixou a cabeça, mordendo os lábios enquanto ele a observava em silêncio. Quando Severo preparou-se para aparatar, no entanto, ela praticamente pendurou-se no pescoço dele, roubando um beijo. Quando se separaram, ela estava mais vermelha que o brasão da grifinória, casa à qual pertencera, e ele parecia perplexo demais para falar alguma coisa.

- Eu não estou fazendo isso apenas para pagar uma dívida, Severo. - ela disse quando recobrou o fôlego - Esteja aqui amanhã na hora do almoço. O professor Dumbledore vai estar esperando.

Com essas palavras, ela desaparatou e ele voltou a ficar sozinho. Um vento frio soprou, trazendo os gritos alegres que vinham do parque. O salgueiro balançou-se levemente, criando pequenas ondas na água. Severo suspirou.

- Até amanhã... - ele murmurou para o nada, antes de desaparecer também.


--------------------------------------------------------------------------------


Voldemort sorriu, enquanto abotoava a pesada capa negra. Um comensal estava parado junto ao umbral da porta.

- Muito bem, Wilkes. Fico feliz que tenha descoberto o esconderijo da nossa doce ex-prisioneira. Estou pensando em fazer uma visita a ela hoje. Vamos aproveitar e fazer uma farra no vilarejo dela. Avise os outros comensais. Diga a eles que estão livres para se divertirem com os trouxas da vila. E não se esqueça de dizer que, se encontrarem a pequena antes de mim, não toquem um dedo nela. A senhorita Meadowes é minha, entendeu?

- Sim, milorde. - o comensal fez uma breve reverência com a cabeça e saiu do aposento.

- Hoje é dia de festa... - Voldemort cantarolou, sorrindo - Temos que nos preparar para a ocasião...


--------------------------------------------------------------------------------


- Pense bem, Snape. - Dumbledore disse, levantando-se - Pense se realmente vale à pena continuar como está.

Severo observou o diretor, mas permaneceu em silêncio, como durante toda aquela conversa. Dumbledore suspirou resignado. Fizera o que podia. Dorcas tinha razão, o rapaz tinha dúvidas sobre aquele a quem servia. Mas isso seria o suficiente para que ele se exposse desse modo, tornando-se um espião no meio daqueles que ele conhecera a vida inteira como companheiros?

- Eu tenho que ir. Há uma candidata para professora me esperando... - Dumbledore parou de súbito - A propósito, eu me lembrei agora que você era um excelente aluno de poções. Em breve a professora Estricnina vai se aposentar. Se desejar se juntar a nós... O cargo poderá ser seu.

As sobrancelhas de Severo arquearam.

- Colocaria um comensal como professor de seus alunos, mesmo sabendo que eu poderia simplesmente usar isso para conseguir mais seguidores para o Lorde das trevas?

Dumbledore sorriu. Finalmente conseguira arrancar algumas palavras do rapaz.

- A senhorita Meadowes confia em você. Acredito então que eu também deva confiar. Espero uma resposta sua, Severo Snape.

Ele desaparatou e Severo, com as mãos nos bolsos da capa, começou a caminhar, pensativo.


--------------------------------------------------------------------------------


O cabeça de javali estava, como sempre, quase vazio quando Dumbledore penetrou no recinto. Sentada numa mesa afastada, estava uma mulher franzina, com grandes óculos fundo de garrafa, que brilharam quando avistaram o diretor.

- Professor Alvo Dumbledore. - ela disse numa voz misteriosa, quando ele se aproximou.

- E a senhora deve ser Sibila Trelawney. - ele disse com um meio sorriso, sentando-se à mesa - Estou encantado em conhecê-la.

Sentado junto ao balcão do pub, um rapazinho de olhos azuis brilhantes escutava à conversa atento. Régulo Black puxou o capuz para esconder o rosto, enquanto apurava os ouvidos. Provavelmente seria só mais uma conversa chata, como todas as outras que ele ouvira de Dumbledore, desde que fora designado para seguir o velho.

Resignado, ele entornou uma garrafa de cerveja amanteigada. E voltou a ficar atento na conversa.


--------------------------------------------------------------------------------


Dorcas respirou pesadamente, esperando aquilo acabar. Voldemort brincara com seu corpo até o limite de sua resistência. As sucessivas cruciatus tinham findado toda a resistência que ela possuía. Os olhos dela vagaram pela sala, até a mesa onde, em uma ampulheta, a areia terminava de escoar. O homem de olhos vermelhos seguiu o olhar dela. Ele sorriu.

- Como prometido, senhorita Meadowes, sua vida termina junto com o último grão de areia que cai daquela ampulheta. Dê um olá à Morte por mim.

Ele ergueu a varinha e ela fechou os olhos. Em seu último pensamento, ela pediu que Severo aceitasse a chance que lhe era oferecida. A voz grave de Voldemort voltou a ferir seus ouvidos.

- Avada Kedavra!


--------------------------------------------------------------------------------


- Bem, então, se é só isso, acho que devo me retirar. - Dumbledore disse com um meio sorriso torto. Ao final, aquela visita não passara de perda de tempo.

No entanto, antes que ele pudesse se distanciar da mesa, Sibila segurou firmemente o braço dele, com uma força que qualquer um, ao vê-la, não diria que ela possuía. Os olhos dela dilataram-se e foi com a voz rouca e praticamente irreconhecível que ela se pronunciou.

- Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima. Nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... - uma confusão ocorreu às costas de diretor, mas ele estava por demais absorto para perceber isso - E o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... E um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...

Repentinamente, Sibila aprumou-se na cadeira, e olhou para o diretor com a face levemente desapontada.

- Então o senhor pretende abolir o ensino das artes da adivinhação em Hogwarts? - ela perguntou num tom choroso, a voz de volta ao normal.

Dumbledore voltou a se sentar, o semblante preocupado. Aquilo não fora um teatro, ele bem o sabia. Era melhor manter aquela mulher por perto.

- Esteja amanhã com suas coisas em Hogwarts. - ele sorriu - E seja bem vinda, professora Trelawney.

Ela o observou curiosa enquanto ele voltava a se levantar, saindo do pub. Meia hora depois, ele estava de volta a Hogwarts, diante de sua penseira, com um fino fio prateado saindo de sua cabeça.

- "Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar..." - repetiu a voz de Sibila, reaparecendo na superfície da bacia.

Quatro corujas adentraram o escritório nesse momento. As três primeiras traziam notícias alarmantes sobre mais um ataque. Uma delas era uma carta oficial do Ministério e as outras eram de Moody e Doge. Mais um membro da Ordem fora assassinado. A quarta coruja trazia apenas um pequeno bilhete com uma única palavra.

"Aceito."

Dumbledore suspirou. Quantos mais teriam que morrer até o fim daquela guerra? Pegando pena e tinta, ele redigiu um bilhete para Severo Snape. Dera sua cartada final. Agora teria que esperar os próximos passos de Voldemort.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.