Pela eternidade



Natal. Tempo de paz e harmonia. Tempo de estar com os amigos e família, de danças, banquetes e presentes. O inverno chegara a Hogwarts mais cedo do que o esperado, e os campos ao redor do castelo cobriam-se com o manto branco da neve.

Sirius apertou contra o corpo a sacola com uma garrafa de champangne que comprara, enquanto caminhava pelas ruas de Hogsmeade, apinhadas de alunos e gente de todos os tipos. Assim que se livrou da multidão, ele ergueu os olhos para um velho casarão no fim do vilarejo. A Casa dos Gritos.

O lugar estava sendo usado já a algum tempo como sede da Ordem. Havia muitos feitiços para guardar o local, mas a maior proteção do lugar ainda eram os boatos que surgiram na época em que Remo passava suas noites de lobo ali. O moreno observou preguiçosamente os arredores da casa antes de puxar a varinha das vestes e tocar o portão.

- Orelhas de caramelo.

Um corredor se materializou diante dele. Sirius entrou, perguntando-se de onde Dumbledore tirava aquelas senhas malucas. Uma voz conhecida cantando uma alegre canção natalina foi a primeira coisa que ele ouviu quando a passagem se fechou. Lentamente ele caminhou pelo corredor, encontrando Lílian encarapitada numa escada, colocando guirlandas nas paredes, os cabelos vermelhos presos num coque frouxo.

- Hei, Lily, porque você não usa a varinha? - ele perguntou, aproximando-se da amiga.

- Não é porque eu posso usar magia que tenho que fazer tudo com a varinha, Sirius. - ela respondeu sorridente, continuando com seu trabalho - Além disso, o ato de decorar a casa para o natal sempre me faz lembrar dos meus pais.

Tiago entrou no corredor, encontrando o amigo.

- Almofadinhas, o que faz aqui tão cedo?

- Estou admirando a vista. - Sirius piscou marotamente para o amigo - A propósito, belas pernas, Lily.

A ruiva praticamente pulou no chão, alisando a saia, enquanto Tiago tentava se decidir se ria ou ficava bravo.

- Sirius, seu cachorro depravado! - Lílian exclamou em voz baixa, o rosto da cor dos cabelos.

- Hei, porque todo mundo me chama de cachorro? - ele perguntou, fazendo uma cara de cachorro sem dono.

- Hum, porque será? - Tiago riu - Pena que Susan tenha ido passar o natal com os pais, eu ia gostar de ver ela te botando coleira e levando para passear agora...

- Você fala como se não estivesse amarrado. - Sirius retrucou, indicando a aliança no dedo dele.

Lílian finalmente se controlou o suficiente para, com um aceno da varinha, acabar de colocar as guirlandas.

- Muito bem, Sirius, porque veio mais cedo? - a ruiva repetiu a pergunta de Tiago.

- Só estava enjoado de ficar em casa sozinho. Então eu decidi vim ajudar com os preparativos da festa. E ler os tópicos da reunião de hoje também. Só pro caso de eu dormir durante o falatório do Fenwick.

Tiago riu e Lílian meneou a cabeça.

- Vocês são dois meninões mesmo... Onde eu estava com a cabeça quando aceitei conviver com vocês?

- Lily, você reclama, reclama, mas no fundo, você nos adora. - Tiago abraçou a esposa, roubando um beijo - Confesse, você sempre foi fã dos marotos.

- Eu nunca vou confessar isso, você se tornaria mais insuportável do que já é... - ela respondeu sorrindo, enquanto o abraçava pelo pescoço.

Sirius pigarreou.

- Não se esqueçam que não estão sozinhos, crianças.

A ruiva soltou-se de Tiago, que lançou para Sirius um olhar não muito amigável.

- Você sempre tem que aparecer para estragar o meu dia, não?

- Oras, se não fosse assim, eu não seria o seu melhor amigo.

Passos ecoaram no corredor atrás de Tiago e Emelina e Alice apareceram.

- Lily, você se importa em nos ajudar com o jantar? Eu acho que aquela carne ainda está viva. - Alice falou séria.

As três saíram e Tiago abriu um sorriso.

- Eu enfeiticei o peru para dançar sempre que elas tentassem colocá-lo no forno...

- E depois eu é que sou imaturo... - Sirius riu, aproximando-se do amigo.



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- Eu tenho certeza, professor Dumbledore. - Dorcas reafirmou - Procure-o. Ele vai ceder.

O velho diretor olhou pensativamente para a moça. Dorcas não perdera o olhar tristonho que adquirira quando presa nas masmorras de Voldemort, mas sua aparência era muito diferente daquela que ele vira quando ela conseguiu fugir.

- Isso é um assunto delicado, Dorcas. Ter um espião entre os Comensais da morte seria fundamental para nós, mas teríamos que ter muita confiança na pessoa qua aceitasse essa missão. A festa está começando, vamos aproveitar esses poucos momentos de paz que temos. Eu prometo que irei pensar na sua idéia.

- Severo não irá decepcioná-lo, professor. - ela respondeu decidida - Apenas dê uma chance a ele. Eu o tenho encontrado com regularidade e se ele quisesse, poderia ter me matado dezenas de vezes. Mas não o fez.

Dumbledore suspirou.

- Verei o que posso fazer, Dorcas. Agora, porque não se junta a seus companheiros?

Ela assentiu e o diretor aproximou-se de um homem um pouco mais jovem que ele, com olhos azuis iguais aos seus.

- Aberforth, tem certeza do que está fazendo? - Dumbledore perguntou baixo ao se aproximar do irmão - A missão que reservou para si é quase suicídio.

- Eu estou velho, Dumbledore. - o homem respondeu - Se eu morrer, não se perderá grande coisa. Mas esses jovens ainda têm muito o que viver. Eu vou conseguir afastar os gigantes de Voldemort, ou pelo menos expulsá-los de nossas terras. É fundamental que possamos dispersar o exército do lorde das Trevas.

- Os gigantes já não são muitos, mas ainda são muito fortes. - Dumbledore observou - Espero que tenha sorte irmão.

Antes que Aberforth pudesse responder, Frank aproximou-se.

- Alice quer tirar uma foto. Vamos todos ficar juntos. - o rapaz sorriu, indicando aos dois homens o espaço deles.

Sirius levantou a taça assim que Alice se aproximou, todos olhando para a câmera.

- Todos repitam comigo: Tio Voldie fede!

Como um coro, os membros da Ordem levantaram suas taças.

- TIO VOLDIE FEDE!

Um flash de luz. Alice sorriu.

- E essa fica para a eternidade.



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- Então, Rabicho, você já sabe onde os Potter vão passar seu fim de ano?

Pedro olhou para os próprios pés. Não tinha coragem de encarar Voldemort. Não dissera uma palavra sobre a última reunião da Ordem e, tudo o que pudesse esconder de seu milorde, ele esconderia. Mas, se olhasse para aqueles olhos vermelhos, o medo o faria desatar a língua.

Mas porque isso? Não fora tão fácil revelar ao Lorde sobre a Antiga Magia? orque agora relutava? Não precisava pensar muito para encontrar a resposta. Ele traíra os amigos para salvar sua vida. Os fins justificam os meios, quando tudo aquilo acabasse, eles voltariam a se reunir sem medo da sombra dos Comensais e de seu Lorde das trevas.

Só o que precisava fazer era se manter quieto. Ou mentir. Desde que Voldemort não desconfiasse que seu espião estava fraquejando, tudo estaria bem.

- Eu não sei, milorde.

Voldemort sorriu, brincando com a varinha entre seus dedos.

- Não sabe, Rabicho? E, imagino, não moveu nem uma palha para descobrir, não é?

Pedro se assustou, mas respirou fundo.

- Eu...

- Tiago Potter é um de seus melhores amigos e ele sequer confiou em você o suficiente para dizer onde vai passar o fim do ano? A quem está tentando enganar?

- Milorde, eu...

- Crucio.

Não foi Voldemort que lançou o feitiço. Bellatrix apareceu na entrada do salão, apontando a varinha para Pedro, que se contorcia no chão. A morena sorria sadicamente enquanto Voldemort apreciava o espetáculo.

- É o suficiente, Bella. - Pedro parou de se contorcer e Voldemort se levantou, aproximando-se dele - O caminho que escolheu não tem volta, meu caro Rabicho. Enquanto se prestar aos meus propósitos, você vive. Recuse-se a me fornecer suas informações, e eu não terei piedade.

Com a respiração entrecortada, Pedro olhou profundamente para os olhos vermelhos de seu lorde.

- A mansão dos Potter. É lá que Lílian e Tiago vão passar o fim do ano.



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Miriam observou orgulhosa o filho e a nora conversando junto a um dos janelões que davam para o jardim. Eles formavam um belo casal. Ela sentiu alguém apertar sua mão e voltou-se para Raymond, que sorria.

- Acha que eles já sabem? - ele perguntou curioso.

- Não. Com toda essa correria do trabalho de ambos, duvido que tenham percebido qualquer coisa. Talvez as amigas dela do st. Mungus tenham descoberto, mas acredito que não tenham contado ou Tiago estaria querendo que ela passasse o tempo todo deitada descansando, exatamente como você queria fazer comigo.

- Bem, é uma mudança muito sutil para ser percebida por qualquer um. Eu gostaria de estar junto deles quando descobrirem.

- Podemos contar agora. - a velha senhora sorriu.

- Não. Deixe que eles descubram sozinhos. - Raymond olhou para o velho relógio sobre a lareira - Faltam dez minutos para começarmos um novo ano. Porque Sirius não veio? Ele sempre está aqui nessas ocasiões.

- Parece que ele arranjou uma namorada... - Miriam respondeu.

- Ele podia ter trazido ela também. Somos como segundos pais para ele, Sirius devia nos apresentar a futura sra. Black.

- Raymond...

O velho riu gostosamente enquanto Miriam voltava a atenção para os dois jovens, que agora se aproximavam deles.

- Já fizeram suas resoluções de ano novo? - Tiago perguntou, sentando-se no chão, aos pés da mãe, enquanto Lílian, com a mão entrelaçada a dele, fazia o mesmo.

Miriam piscou o olho para o marido.

- Quero encher a casa de netos. Só que para isso, eu dependo de vocês dois...

Lílian e Tiago se encararam, levemente vermelhos e o rapaz voltou-se para o relógio.

- Cinco minutos para o ano novo. E você, papai, quais as suas resoluções de ano novo?

- Vou ensinar meus netos a jogar xadrez.

- Vocês dois estão muito engraçadinhos hoje... - Lílian riu - Deviam ter feito mais filhos se queriam tanto terem netos.

- Você não pretende nos dar netinhos, Lily? - Miriam perguntou com uma cara pidona.

- Não são tempos de se pensar em filhos, mamãe. - Tiago respondeu calmamente - Quando essa guerra acabar, eu prometo que vou dar a vocês um time de quadribol composto por netos. Podemos até pensar num nome para o time... Que tal "Potters King", ou...

- Tiago, por favor, poupe-nos das suas brilhantes idéias. - Lílian respondeu - veja bem o meu tamanho. Acha que eu ia sobreviver a sete partos?

- Você está se esquecendo do time reserva...

Lílian apenas bufou em resposta e Raymond sorriu. "A se vocês soubessem...", ele pensou divertido.

- Gente, eu sei que a conversa está interessante, mas olhem o relógio. - Miriam apontou para o objeto sobre a lareira - Quinze segundos para o romper do ano.

- Quatorze, treze, doze, onze, dez... - Tiago começou a contagem regressiva - ...nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois...

Antes que o relógio pudesse badalar, uma explosão foi ouvida nos jardins da mansão. Tiago e Lílian praticamente pularam em pé, enquanto Miriam e Raymond se entreolhavam apreensivos. Outra explosão, e dessa vez a porta de entrada voou longe. Lílian estreitou os olhos, enquanto uma leve tontura a invadia.

Parado no umbral, a silhueta negra recortada contra o pálido luar, estava Voldemort. Três outros vultos estavam com ele. A ruiva reconheceu dois deles pelos olhos. Lúcio Malfoy e Bellatrix Black.

- Feliz ano novo! - voldemort saudou, sorrindo - Ainda temos taças de champangne para os recém-chegados, Raymond Potter?

O velho ergueu a varinha, mas antes que pudesse avançar, Tiago o segurou.

- Não está aqui para fazer uma visita apenas aos meus pais. - ele disse num tom sarcástico.

- Tiago Potter... Sabe, eu queria ter vindo ao seu casamento, mas não me mandaram convite. - os olhos vermelhos de cobra pararam sobre Lílian - E aí está a nova senhora Potter. É uma pena que vá ficar viúva tão cedo...

A ruiva apenas retornou o olhar, carregado de ódio. Jamais poderia perdoar toda a dor que ele já a fizera sentir. Ela apontou a varinha para Voldemort.

- REDUCTO!

Mais uma explosão. Uma parede desabou, mas Voldemort e seus comensais estavam intactos. Bellatrix apontou a varinha para Lílian.

- Diffindo!

Um corte surgiu no colo de Lílian, mas ela não pareceu sentir. Ao redor delas, os outros também lutavam, mas a ruiva agora só via Bellatrix. Aquela noite, uma das duas teria que desparecer.

Enquanto isso, Tiago lutava com os dois outros comensais, protegendo a mãe. E, para Raymond, sobrara o próprio Lorde das Trevas.

- Maldita sangue-ruim. - Bellatrix sussurrou ao ser atingida na barriga por uma azaração ferreante.

Os olhos de Lílian brilharam ao ouvir a velha ofensa que os sonserinos sempre reservavam para ela.

- Posso ser uma sangue-ruim, mas ainda sou melhor que você, sua idiota. Seu maldito orgulho de sangue-puro vai levá-la para a morte... - Lílian sorriu malignamente - ...ou, melhor ainda, para Azkaban. Expelliarmus!

- Protego! - Bellatrix conseguiu se desviar do feitiço - Não vai conseguir vencer assim... Lute de igual para igual comigo... Com as maldições imperdoáveis... com as mesmas maldições que acabaram com seus pais...

Lílian sentiu-se gelar por dentro.

- Do que está falando?

- Há seis anos, numa noite de lua como essa, duas pessoas receberam a marca negra. - Bellatrix sorriu - E, como prova de lealdade, elas tiveram que usar o feitiço da morte.

De algum ponto distante de sua mente, Lílian ouviu gritos. Os gritos de agonia de sua mãe. Aquilo já acontecera antes. A ruiva fixou os olhos nas orbes azuis de sua adversária. Podia ver, refletido neles, o que acontecera na noite em que seus pais perderam a vida. Podia sentir a dor deles, enquanto as gargalhadas de Lúcio Malfoy e Bellatrix Black ecoavam. E podia até mesmo enxergar a face sombria de Severo Snape, aquele que indicara os Evans à morte.

- CRUCIO! - Lílian gritou, sentindo prazer ao ouvir o grito de Bellatrix, que fora pega de surpresa pela maldição.

A ruiva extravasou todo o seu ódio, de forma tão violenta que Bellatrix desmaiou. O outro comensal que lutava com Tiago aproximou-se da morena, e ambos sumiram. A tontura voltou a invadir os sentidos de Lílian, mas antes que ela desmaiasse, ainda pode ouvir um grito de triunfo.

Do outro lado da sala, Raymond Potter acabava de tombar. Morto.

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