Chronos



- Como assim, ela não quer falar comigo?! - a cabeça de Tiago flutuando sinistramente na lareira estava começando a adquirir um tom de vermelho irritado - Emelina, suba lá agora e lembra àquela maluca que ela vai se casar comigo daqui a cinco dias e eu preciso falar com ela!

- Sinto muito, Tiago, mas ela está irredutível. - Susan balançou a cabeça com pesar - Ela jurou que você só voltaria a vê-la no dia do casamento.

- Mas isso... isso... não é justo! Eu quero ver a Lily!

- Não tente irritá-la, Tiago. - Selene aproximou-se da lareira - Ou pode se arrepender. Por que você não pede pra sua mãe te ajudar?

- Eu não vou correr atrás da minha mãe no primeiro momento crítico dessa relação, especialmente antes do casamento. Se ela só quer me ver no dia da cerimônia, eu não vou insistir. Mas vocês podem pedir que ela pelo menos responda minhas corujas?

- Faremos o possível, Tiago. - Alice respondeu - E diga ao Frank que eu só volto pra casa depois do casamento de vocês.

O moreno assentiu, tristemente, logo desaparecendo. A cabeça de Lílian surgiu no alto das escadas, sorridente.

- Ele já foi?

- Já, Lily. - Emelina começou a subir - Pobre coitado... Você não acha que está sendo muito má com ele?

- Todas nós concordamos que eles mereciam uma lição. - Alice se intrometeu - Você se esquece que eles iam nos trocar pelas strippers da despedida de solteiro do Tiago? Por isso queriam nos deixar em casa. Ora, isso é uma vergonha!

- Nós não temos como saber se eles realmente fariam isso, Alice. - Emelina retrucou tranqüilamente - Afinal, não demos chance para isso.

Susan sentou-se no sofá observando as amigas. Há dois dias elas tinham feito uma surpresinha na festa que Sirius preparara para o amigo e desde então tinham acampado na casa de Tiago e Lílian. Até Alice, que era casada, abandonou o marido para ficar com as amigas. Não que elas quisessem terminar seus relacionamentos, longe disso. Mas todas ali tinham convivido tempo suficiente com os marotos para terem estranhas idéias sobre diversão...

- Seja como for, uma semana não vai matá-los. - Lílian sorriu - Até lá, vamos aproveitar essas "férias". O sr. Doge me liberou do trabalho especialmente para que eu pudesse cuidar do casamento.

- Acho que nos vemos no almoço então. - Selene sorriu - Eu tenho que ir ensaiar e acredito que ninguém aqui tenha recebido licença para poder ficar com você, o que é realmente uma pena.

- Mas não se preocupe, Lily, você não vai ficar sozinha. Meu expediente é de tarde. Posso passar a manhã com você. - Emelina se aproximou.

- E à tarde é minha vez. - Alice sorriu - Essa semana vai ser inesquecível em todos os sentidos, meninas.

Lílian sorriu. Havia muito tempo não estavam todas reunidas em paz. Era maravilhoso ter todas ali. Uma a uma, elas se despediram para ir ao trabalho, até que só sobraram ela e Emelina. Passaram a manhã fazendo compras, voltando pra casa pouco antes do almoço, para preparar a comida. Selene, Alice e Susan chegaram quando a mesa já estava posta.

A semana se passou muito rápida. Enquanto na casa de Lílian, as meninas se divertiam de todas as maneiras que podiam, na casa de Sirius, Tiago contava os dias para rever sua querida "pimentinha". Procurara ela no trabalho, ligara, mandara corujas, usara a lareira... e nada. Sirius também estava se queixando por ter sido deixado de lado pela italianinha. Frank estava afundando em depressão pela falta de Alice. Até Fábio Prewett procurara ele para ter notícias de Emelina! O que as mulheres não são capazes de fazer a um homem...

Sequer passara pela cabeça de Tiago que ele encontraria a noiva e suas amigas se fosse à boate Miríade, onde Selene às vezes tocava. Na opinião dele, Lílian estava brava por alguma coisa que ele fizera (provavelmente por causa da despedida de solteiro, ao que Tiago sempre fazia a nota mental de esganar Sirius quando o encontrasse) e passava o dia trancada no quarto pensando se aceitava ou não casar com o idiota que partira seu coração (e depois dizem que as mulheres é que fazem drama...), provavelmente chorando. E as meninas estavam lá para consolá-la. Ledo engano...

Mas, finalmente, o dia do casamento chegou. Tiago acordou pontualmente às cinco da manhã. ali a quatro horas, ele estaria novamente na presença da namorada. Só mais quatro horas...

O rapaz levantou com cuidado para não acordar Sirius, que dormia de boca aberta num beliche ao lado dele (a casa estava toda uma bagunça, apenas o quarto de Sirius era habitável, então eles estavam dividindo o aposento). Que saudades de casa! A visão ao acordar era bem mais interessante do que essa... Tiago colocou os óculos no rosto e caminhou até a janela. O sol começava a nascer.

Enquanto isso, Lílian descia as escadas, amparada por Emelina, as duas bocejando. Na cozinha, Alice acabava de preparar o café. Susan e Selene apareceram pouco depois.

- Então, hoje você vai se casar com Tiago Potter, o "cínico arrogante e totalmente abjeto" Tiago Potter... - Susan sorriu irônica para a amiga, que bebericava um chá - As voltas que o mundo dá, não...

Lílian apenas sorriu. Estava nervosa demais para conversar agora. Por algum motivo, desde que acordara, lembranças daqueles anos juntos pipocavam em sua mente a todo segundo. Tanta coisa pela qual tinham passado... Tanta coisa que poderia contar aos seus filhos quando eles crescessem... Ela sorriu com esse último pensamento, lembrando-se das palavras de Tiago. Harry. Harry Potter...


- Lily! - ele gritou enquanto se aproximava da árvore sob a qual duas garotas se abrigavam do sol.

Susan olhou para a ruiva com curiosidade.

- O que o Potter quer com você?

Lílian deu de ombros e levantou-se pouco antes de ele parar diante dela.

- Lily, você vai para Hogmeade amanhã?

- Vou. - ela respondeu sem entender onde o colega queria chegar.

Ele deu seu sorriso mais insinuante.

- Já tem companhia?

A ruiva finalmente entendeu o que o moreno queria, e imediatamente fechou o cenho.

- Eu vou com as garotas. - ela respondeu secamente.

Tiago estranhou a resposta, geralmente as garotas só faltavam começar a pular quando ele se aproximava. Mas mesmo assim, foi em frente.

- Não prefere ir com uma companhia mais... interessante?

- E quem seria uma companhia mais interessante? Você? - ela perguntou com sarcasmo - Sem querer ofender, mas uma múmia seria melhor que a sua companhia. Pelo menos, ela não pode falar besteiras como você.

- Eu...

Lílian ajudou Susan a se levantar e começou a se afastar do garoto.

- A propósito, Potter, é Evans para você.



A campainha tocou estridente e Emelina foi quem atendeu. Lílian ouviu a voz alegre de D. Miriam subindo pelas escadas. Logo a velha senhora entrou no quarto. A ruiva saiu do banheiro envolvida num roupão, sorrindo para a sogra.

- O vestido chegou, querida. - Miriam sorriu, depositando um embrulho na cama.

Logo todas as garotas estavam no quarto, observando ansiosas enquanto Lílian abria o plástico que protegia o vestido.


- Aquele atrevido, baderneiro, cínico... CÍNICO! TIAGO POTTER É UM CÍNICO!

- Acho melhor levá-la para ver Madame Pomfrey. - Selene observou, tentando fingir não ver os olhares das pessoas por quem passavam - Ela precisa de um calmante.

- É cinismo demais! Como é que ele me convida para sair e depois fala de mim pelas costas? EU VOU MATAR AQUELE DESGRAÇADO!

- Acho que nem Madame Pomfrey consegue resultados com essa doida... - Susan disse suspirando, enquanto puxava a ruiva pelo braço.

Enquanto isso, do outro lado do corredor, Tiago se queixava a Sirius.

- Ela é o diabo, isso sim! Qualquer coisa que eu fale ela consegue virar contra mim! Se eu a elogio, sou hipócrita, se não, sou arrogante... Ela está tentando me enlouquecer?

- Calma, Pontas, calma...



- Então, Tiago, daqui a umas horas você vai estar defintivamente amarrado.

O rapaz não respondeu. Sirius bateu de leve na porta do banheiro pela terceira vez.

- Pontas? Ansioso para seu casamento?

Nenhuma resposta.

- Tiago, cê tá vivo?

Nada ainda. Com um suspiro, Sirius abriu a porta. Tiago estava com a cabeça quase enfiada na pia, pálido.

- Pontas?!

- Sirius, e se ela não aparecer?


- Deixe-me pensar... Comemorar o quinto ano em que VOCÊ é apanhador e VOCÊ ganha a taça de quadribol para a Grifinória em Hogsmeade? É realmente uma proposta irrecusável, mas eu não pretendo estragar sua festa, Potter. E, conhecendo meu temperamento, eu com certeza faria você beber cerveja amanteigada pelo nariz. Então, porque simplesmente me deixa em paz e vai comemorar com Black, Lupin e Pettigrew? - ela falou sarcasticamente, embora tentasse manter a calma a todo custo.

- Seria interessante experimentar cerveja amanteigada pelo nariz. Se eu fizer isso, você vai comigo? - ele perguntou com um sorriso.

- Porque não tenta? Se você fizer isso eu posso PENSAR na possibilidade, embora tenha esperanças de que você morra asfixiado antes disso... Quer saber, Potter, não faça isso. Seria deprimente demais você chegar a tal ponto.

- Mas se você vai PENSAR na possibilidade...

- Os pensamentos serão todos negativos, pode ter certeza. - ela o cortou antes que perdesse o controle e arremessasse o que estivesse mais próximo de sua mão. Teria que dormir ali de novo e não queria ter Potter por companhia na Ala hospitalar com alguma rachadura no crânio...

- É uma pena... Mas não se preocupe. Ainda temos seis meses de aulas e possibilidades de encontros, Lily.

- Não me chame de Lily. - ela disse num tom perigosamente baixo - E nem nos meus pesadelos eu sairia com você, Potter.

Tiago suspirou, decidindo sair dali antes que levasse algum tapa ou coisa do tipo. Abrindo a porta, ele olhou uma última vez para a ruiva.

- Até mais tarde, Lily.

Ele mal pode desviar do livro que veio voando em sua direção. Sorrindo, ele seguiu para a torre da Grifinória. Ainda tinha uma vitória a comemorar...



- Desencana, Tiago. É lógico que ela vai aparecer. Ela te ama.

- Mas...

- Nada de mas. Toma um banho que eu vou providenciar alguma coisa comestível. O Aluado e o Rabicho devem chegar daqui a pouco.

Sirius deixou o banheiro e Tiago sorriu, ainda trêmulo, lembrando da primeira vez em que vira Lílian, que na época ainda vivia aos tapas com ele, dormindo pacificamente.


*PAF*

Lílian acordou assustada com o barulho e ligou a luz, encontrando Tiago com uma segunda marca no rosto feita pela mão dela.

- Será possível que nem dormindo você me deixa chegar perto?!

A garota puxou o robe, que estava pendurado ao lado da cama, onde deixara sua varinha, para Tiago, que passava a mão pelo rosto vermelho enquanto se levantava.

- O que está fazendo aqui? - ela perguntou, tentando permanecer calma e falhando miseravelmente, enquanto seu rosto adquiria tons intensos de vermelho.

- Eu precisava conversar.

- ÀS TRÊS DA MANHÃ?! - ela apontou para o pequeno relógio na cabeceira - Você bebeu, só pode ter sido isso.

Lílian levantou-se e, para surpresa do rapaz, aproximou o rosto do dele. Antes, no entanto, que ele pudesse reagir, ela afastou-se de novo com o semblante sério.

- Não bebeu. O que é tão urgente que você não podia esperar amanhecer, fazendo-o invadir o apartamento de Susan?

- Sirius.

A garota suspirou.

- Vá pra sala. Eu vou lavar o rosto e tomar um café. Mas antes, devolva minha varinha.

- Você promete não me azarar?

Lílian riu sarcasticamente.

- Potter, se eu tivesse a certeza de que a sua "visita" é uma perda de tempo, você já estava voando pela janela. Mas talvez resulte em algo, e o Sirius está realmente arrasado. Acho que vale à pena o sacrifício de ouvir o que você tem a dizer.

O rapaz entregou a varinha a ela e seguiu-a até o banheiro.

- Que dizer que me ouvir é um sacrifício, mas que você é capaz de fazer isso por ele. O que mais é capaz de fazer, Lílian?

Ela acabou de lavar o rosto e o secou, enquanto notava uma pontada de raiva na voz do moreno.

- Vamos começar deixando algo bem claro, Potter: eu e Sirius somos AMIGOS. Preciso soletrar? Ele tem agido praticamente como se fosse um irmão. E você parece ter se esquecido também que ele gosta da Camille.

- E você? Gosta de alguém? - Tiago perguntou, não conseguindo refrear a ansiedade.

A garota corou. Por sorte acabara de apagar a luz e estavam de novo no escuro.

- Não é da sua conta.

Ela saiu do banheiro com Tiago praticamente em seus calcanhares.

- Claro que é da minha conta!

- E porque seria?

- Porque eu GOSTO de você!



Susan terminou de abotoar o vestido e Lílian se aproximou do espelho. O vestido era justo até a cintura, abrindo numa saia levemente rodada que cobria seus pés, num mundo de rendas e brilhos. Alças finas permitiam um decote de ombro a ombro, desnudando o colo da ruiva. Selene cacheara o cabelo ruivo, prendendo-o atrás das orelhas. Miriam aproximou-se sorrindo.

- Está linda, minha querida. Agora só falta um detalhe.


- Está com ciúmes agora, Lily?

- Não, Sirius. - Lílian virou-se para ele - Aquele patife está bêbado.

Ela apontou para as garrafas e Sirius balançou a cabeça contrariado.

- Você sabe que isso é sua culpa, né? Porque arrastou ele de volta pra mesa quando ele tinha o momento mais sublime da vida dele? Lily, o Pontas realmente gosta de você.

- Você já se perguntou se eu gosto dele também? Além disso, eu não quero me machucar, nem machucar ele.

- Se você continuar pensando assim, vai acabar ficando para tia... Vamos lá, Lily, onde está seu espírito de grifinória?

- Não é tão simples, Sirius. Eu queria que a gente pudesse mandar no coração. "Ame sicrano, odeie fulano..." Seria muito mais simples. Pelo menos eu não estaria tão confusa.

- Ahá! Se você está confusa, então é porque também sente alguma coisa pelo Tiago! Fala sério, Lily, se a gente pudesse mandar no coração, a vida não teria nenhuma graça. O que seria de mim sem as explosões da Camille, por exemplo?

- Certo, seria muito tedioso... - a ruiva observou, sorrindo, enquanto seus olhos seguiam Tiago pelo salão.

- Bem, o amor não é real. É ilógico.

- E teimoso. Além de burro, burro, burro.

Sirius segurou-se para não gargalhar da garota. Sem perceber ela acabara de lhe dar a certeza que ela gostava do amigo. Ele acompanhou o olhar dela, e viu Tiago cercado de garotas. Se não tirasse ele de lá, o maroto ia fazer uma besteira e atrairia a fúria de Lílian, que, embora não quisesse admitir, estava se mordendo de ciúme.



A mãe de Tiago tirou de uma sacola uma caixa de veludo.

- Eu usei em meu casamento. E gostaria muito que a noiva de meu único filho também a usasse.

Lílian abriu o fecho, revelando uma pequena tiara de pérolas e uma gargantilha no mesmo estilo.

- D. Miriam, eu...

- Aceite, Lílian. - a senhora sorriu, tirando a gargantilha da caixa e prendendo-a no pescoço da ruiva - Você é, a partir desse instante, minha segunda filha.

A ruiva fungou.

- Ei, nada de chorar! - Alice aproximou-se - Eu não coloquei ainda um feitiço para que a maquiagem não se desmanche!

As outras garotas riram e Lílian colocou a tiara na cabeça. As pérolas contrastavam intensamente com o cabelo vermelho dela.

- Obrigada. - ela sussurrou para Miriam.


- Lily. - o moreno voltou-se para ela, não notando a careta de desgosto dela ao ouvi-lo chamando-a pelo apelido - Você quer dançar?

- Tiago... - ela fez um supremo esforço para não falar "Potter". Afinal, ali eles eram irmãos - ...eu estou ocupada. Estou-

-...pensando, só pra variar. - ele a cortou, levantando-se e estendendo a mão para ela - Ora vamos, Lily, aproveite um pouco a oportunidade de estar aqui!

A ruiva estava pronta para dar uma resposta quando se lembrou de seu primeiro encontro com Helena. Ela precisava ser menos racional, foi o que a mulher dissera. Tinha que "se deixar levar" um pouco. Talvez isso afinal lhe rendesse alguma resposta.

Tiago se surpreendeu quando ela aceitou a mão que ele oferecia. Tinha certeza que ia levar um fora. os dois seguiram para a roda da fogueira, onde todos batiam palmas enquanto cítaras e flautas enchiam de som o ar. Seguindo os movimentos dos outros, os dois grifinórios logo começaram a dançar alegremente.



Tiago observou o salão nobre da casa dos Potter, saudoso, enquanto seus amigos conferenciavam. Por onze anos o mundo para ele se resumiu àquela casa. Embora Hogwarts sempre fosse para ele seu verdadeiro lar, aquela casarão ainda lhe trazia muitas lembranças.

- Bom dia, meu filho.

Tiago se virou para o pai. Assim como ele, Raymond usava uma sobrecasaca negra. A capa de bruxo escorregava dos ombros de ambos e eles se encararam longamente antes de filho abraçar pai.

- Então você vai casar.

- Porque todo mundo parece se espantar com isso? - Tiago perguntou com um meio sorriso.

- Nervoso? - Raymond sorriu de volta.

- Um pouco. Existe alguma possibilidade de eu ser abandonado no altar?

Raymond balançou a cabeça.

- Duvido muito. Você herdou o charme dos Potter. Somos irresistíveis.

Remo sorriu ao ouvir isso. Tal pai, tal filho... Sirius aproximou-se, abraçando Raymond também. O patriarca dos Potter sorriu. Sirius era como um segundo filho. Ele e Tiago provavelmente tinham dado mais dor de cabeça para ele do que para qualquer outro pai de alunos de Hogwarts...


- Você é uma tonta, é isso! Como alguém pode resistir tanto tempo a mim? Você...

- Começou de novo a sessão de tortura com o "eu-sou-o-arrogante-Potter"?

- E você não é nem um pouquinho arrogante não é, senhorita Evans?

A ruiva começou a perder a paciência.

- Potter, será que dá pra calar a boca?

- Ah, a verdade dói, não é? - ele disse, desistindo de secar os óculos e colocando-os de volta, ainda sentado dentro d'água - Você também é orgulhosa, cabeça-dura, histérica, chata, convencida só porque é a toda poderosa monitora-chefe,...

Enquanto o moreno desfiava um rosário de defeitos da ruiva, Lílian, depositando a cesta no chão, começou a entrar na água. Se ele não ia se calar por bem, ia por mal mesmo. Tiago só a notou através dos óculos embaçados quando ela estava bem diante dele, com água até os joelhos.

- ...e detestável, petulante, e, e... - ele começou a gaguejar à medida em que a garota se abaixava, agarrando-o pela gravata para em seguida colar os lábios aos dele.

Tiago ficou em choque, mas o contato não durou mais de dois segundos, pois tão subitamente quanto começou, a ruiva interrompeu o beijo, soltando a gravata dele, erguendo-se rápida. Ele voltou a cair sentado dentro d'água com toda a força enquanto ela passava a mão pelo rosto.

- Ai, meu Pai, que foi que eu fiz?

Lentamente Tiago levantou-se e segurou a mão que ela mantinha no rosto corado, entrelaçando seus dedos com os dela.

- Porque fez isso? - ele perguntou baixinho.

Ela ergueu a cabeça, os olhos brilhantes.

- Eu... eu não sei... - ela ia dizer "esqueci", pois realmente esquecera porque o beijara.

Tiago levou a mão livre à face da garota, passeando com os dedos pela pele sedosa até tocar os lábios dela, vermelhos e levemente úmidos. Lílian fechou os olhos, desejando que ele nunca findasse o toque. Ela sentiu a mão dele escorregando até sua nuca. Com um passo, o rapaz venceu o pequeno espaço que separava os corpos dos dois.

Ela reabriu os olhos, sentindo a respiração dele sobre sua face, enquanto a mão em sua nuca deslizava até a cintura. Tiago soltou a mão da dela, acompanhando o destino da primeira. Sem pensar direito no que estava fazendo, ela envolveu com os braços livres o pescoço de Tiago.

Finalmente os lábios dos dois se tocaram, de início timidamente, até que Lílian os entreabriu, permitindo que Tiago aprofundasse o beijo. Ela sentiu como se tivesse uma companhia completa de balé sapateando em seu estômago.



Lílian entrou no carro que a levaria para a casa dos Potter sentindo a mesma sensação que sentira a anos atrás, quando beijara Tiago pela primeira vez... como se uma companhia de balé estivesse fazendo piruetas em seu estômago. Miriam se sentou ao lado dela, assim como Susan e Hestia, as duas madrinhas.

Faltava muito pouco agora...


O terceiro laço foi desfeito, mas Lílian não percebeu isso. Sua mente estava muito ocupada com os dedos de Tiago em suas costas, que pareciam deixar um ratro de fogo e nos lábios dele sobre os seus. O casaco e a camisa dele jaziam aos seus pés.

Tiago levantou-a do chão com cuidado, carregando-a até a cama. Há muito que perdera o controle. Não importava se eram muito novos ou se até pouco tempo atrás viviam como cão e gato. Amava Lílian. E sabia que ela também o amava na mesma intensidade. Que o mundo fosse pro Inferno. Só o que queria agora era ter a ruivinha perto de si.



Dumbledore aproximou-se com Tibério Ogden, o juiz que faria a cerimônia.

- Olá, Tiago. - o velho diretor sorriu, aproximando-se do ex-aluno.

- É um prazer tê-lo aqui, professor. - Tiago abraçou o velho, praticamente um segundo pai - Não sei se seria a mesma coisa se não tivesse vindo.

- Um pobre velho como eu... - Dumbledore riu - Vocês passariam muito melhor sem mim.

Sirius sorriu, aproximando-se.

- Ninguém conseguiria passar sem o senhor, professor Dumbledore.

Os olhos safira do diretor brilhavam. Nada era mais gratificante para ele do que ver aqueles rapazes e garotas que tinham sido confiados à guarda dela por sete anos. Muito do que eles eram, deviam a Hogwarts. E isso era seu maior orgulho.


- Lily, eu poderia usar muitos adjetivos para qualificar você, mas "fácil" certamente não está na minha lista. Ao contrário, eu não conheço ninguém mais difícil que você!

Ela ergueu a cabeça, corada.

- Mais um motivo para acab...

Ela não chegou a dizer o que acabariam pois Tiago a interrompeu com um beijo, só se afastando quando começou a sufocar sem ar.

- Eu não vou deixar você fazer isso. Primeiro porque eu sei que você não suportaria viver sem mim.

- Você é, definitivamente, a pessoa mais arrogante que eu conheci, conheço e vou conhecer. - ela respondeu, olhando para ele de braços cruzados.

- Segundo porque se alguém tem culpa no que aconteceu àquela noite, essa culpa é minha, já que não foi você quem começou a tirar minha roupa.

- Grande consolo, sem dúvida alguma... - ela continuou, corada e emburrada.

- Terceiro, porque finalmente você está começando a agir menos com essa cabeça dura e mais com o que realmente sente.

- Hades vai dar pulinhos de alegria quando souber que consegui afinal perder a razão. - ela retrucou sarcástica.

- Quarto e mais importante. - Tiago continuou, sem se abalar com os comentários ácidos dela - Porque eu te amo.



Lílian segurou de leve o pingente de Hades, escondido no meio das flores do buquê. Esse hábito era, depois de anos, quase automático. Nunca deveria se distanciar daquele pingente. Mas uma vez ela o fizera. Uma vez ela deixara aquele cordão para trás, apenas uma vez...


Ela segurou o pingente com força, arrancando o cordão de seu pescoço, que ficou levemente vermelho. Sem se importar com a dor que sentia, ela observou as lágrimas se misturarem com o brilho prateado da aura em sua mão.

- Adeus, Tiago. - ela disse num sussurro, abrindo a mão.

O cordão caiu sobre o peito do rapaz e, pouco depois, o moreno desapareceu. Ao longe, o sol finalmente começava a se pôr.



- Elas não deviam ter chegado? Já são nove e meia! - Tiago sussurrou num tom urgente para Sirius, que esperava ao seu lado.

- Pontas, relaxa. É tradição a noiva se atrasar. Fique calmo, a lily não vai te abandonar no altar. Você está ficando paranóico.

- Não, Almofadinhas. Eu só não suportaria perdê-la de novo...


- Você acha que é tão fácil esquecer? Será que não conseguiu entender, depois de todos esses anos que eu AMO você?

- Tiago, por favor, vá embora. Desista. Procure outra pessoa que possa...

- E você acha que eu não tentei? - ele perguntou encarando-a com insistência - Você acha que eu não tentei me livrar da sua lembrança, que não tentei... Merlin, eu quase enlouqueci, Lily. Eu tentava me concentrar nas suas palavras, tentava ficar com raiva de você...Mas eu não consegui.

Ele levantou a mão, como se fosse limpar as lágrimas que escorrim pelo rosto dela. Mas Lílian deu um passo para trás.

- Desista, Tiago. - ela pediu num sussurro.

- Eu não vou desistir de você, Lily - ele retrucou, anormalmente sério - Nunca. Nem que o troco seja a morte, eu quero você. E eu não me importo se...

- MAS EU ME IMPORTO! - ela gritou, não deixando que ele continuasse - Vá embora, Tiago. Por Deus, VÁ EMBORA!

Ele suspirou enquanto ela mirava nele os olhos verdes, agora extremamente vermelhos. Ele assentiu com a cabeça, voltando para a porta.

- Eu vou, Lílian. Mas essa história ainda não terminou. - ele sorriu de leve - Tenha certeza que não vai se livrar de mim tão fácil...



Finalmente, o casarão apareceu numa curva da estrada. Lílian suspirou, sentindo-se bem mais leve. Dali a alguns instantes, não seria mais Lílian Evans. Dali a alguns instantes, ela seria Lílian Potter. Realmente, como dissera susan mais cedo, as voltas que a vida dá...


Ele parou diante da porta que ligava a cabine dela a dele. Lílian estava vermelha e por algum motivo ele lembrou-se de uma noite de lua cheia, numa detenção à beira do lago.

- Eu também te amo.

Ele sorriu.

- Isso está ficando muito piegas... É melhor eu ir antes que eu me meta debaixo desse lençol.

Lílian observou o rapaz desaparecer e voltou a se deitar.

- Tudo vai acabar bem. - ela disse para si mesma, sorrindo.



Gideão apareceu na porta do salão e Tiago soltou um suspiro de alívio. Ele escoltara o carro que levava Lílian. Se ele estava ali, significava que a ruiva também estava. Em alguns instantes, ela iria aparecer.

Prewett se aproximou de Sirius, cochichando alguma coisa e logo os dois saíram do salão. Tiago respirou fundo. Não precisava se preocupar. Sirius ia entrar com Lílian, por isso saíra. Ele voltou-se para a pequena "platéia". A irmã da ruiva não viera. Só havia bruxos ali, quase todos amigos deles. Esperava que isso não aborrecesse a namorada.

Ele sorriu. Em breve, ela não seria apenas sua namorada. Seria sua esposa. Para sempre.


Mandando as precauções às favas, Tiago tocou o rosto dela. A ruiva fechou os olhos, deixando uma lágrima se misturar ao riso cansado. Ele acariciou a face dela por alguns instantes, sentindo-se explodir de felicidade, os lábios curvados num misto de riso e suspiro enquanto começava a chorar.

- Lily! - ele exclamou alegre, abraçando-a com força.

Ela retornou o abraço, escondendo o rosto no pescoço dele. Como ansiara por aquilo, como pedira aos céus para voltar a tê-lo tão perto de si...

Tiago finalmente a soltou, beijando todo o seu rosto, sentindo o gosto salgado das lágrimas de ambos até finalmente encontrar os lábios da ruiva. Lílian se deixou perder num mar de sensações que conhecia muito bem e que sabia que apenas Tiago era capaz de fazê-la sentir.



Cada sentido dela parecia anestesiado pela simples presença dele. Lílian sentira todo seu ar sumir no instante em que entrara no salão, o braço dado a Sirius. Como Tiago podia afetá-la daquela maneira? Era insanidade. Mas, mesmo que tudo aquilo fosse completamente insano, não havia nada mais que ela quisesse do que estar ali, caminhando na direção de Tiago Potter, o idiota arrogante, o pateta irresponsável, tão estupidamente irresistível, tão simplesmente apaixonante... Céus, havia tanto a se dizer!

Quando Sirius a entregou ao amigo, desejando um boa sorte, ela sabia que não precisava de sorte nenhuma se tivesse aquele maldito maroto ao seu lado. Tiago tomou a mão dela entre as suas, beijando-as suavemente, e ela podia ler no olhar e no sorriso dele o quanto ele estava feliz. E não duvidava que ele pudesse fazer o mesmo.

Tiago não ouviu uma palavra do que o juiz dizia. Estava muito ocupado decorando cada pedacinho daquele rosto na memória. Passara uma semana longe dela e era como se tivesse passado séculos. O que o amor não pode fazer a uma pessoa?

- Tiago. - ele a ouviu murmurar e saiu de seu sonho dourado. Todos o olhavam em expectativa. Lílian o observava com um meio sorriso - Seus votos.

Os votos. estava tão absorto em observá-la que não ouvira quando pediram que fizesse seus votos.

- Minha pimentinha... - ele sorriu ao vê-la contorcer o rosto - sabe, eu às vezes me pergunto se você me enfeitiçou, ou coisa do tipo, já que não entendo como alguém pode amar tanto. Porque eu amo cada sorriso seu, cada olhar repleto de alegria, cada fungada da sua alergia. Amo irritá-la para ver você corar e depois poder pedir perdão. Amo sua amizade, e até seus achaques e piripaques. Amo esses cabelos cor de fogo, esses olhos brilhantes... Amo fazer amor contigo todas as noites, tê-la sempre entre os meus braços, sempre perto de mim. Amo vê-la cozinhando pra mim, amo ajudá-la enquanto isso e amo até mesmo ir de vez em quando para a panela em seu lugar, só para ver seu rostinho surpreso. Amo cada linha que escreves, cada nota que cantas, cada suspiro que dás. Amo cada parte do teu corpo e da tua alma, amo você mais do que posso suportar, e se te amasse menos, não seria eu. Amo você com cada fibra e pensamento e a única coisa que preciso para ser feliz é tê-la ao meu lado.

Ele beijou a mão dela levemente antes de colocar a aliança. Lílian respirou fundo tentando não chorar ou não seria capaz de fazer seus votos.

- Você não me deixou muita coisa para dizer, meu caro Pontas. - ela sorriu - E se alguém aqui tivesse sido enfeitiçado, tenha certeza que fui eu a vítima. Eu escondi por muito tempo o que sentia, mas uma vozinha muito chata intiulada consciência sempre repetia que aqueles duelos verbais eram mais do que raiva. E tudo o que você fazia e falava era o suficiente para me deixar totalmente confusa. Mas, ao final das contas, eu descobri que não pudia fugir do que sentia, não podia simplesmente dar as costas a esse sentimento. Eu tinha medo de me apaixonar, porque sabia que quando isso acontecesse eu ia me entregar por completa. E foi exatamente o que aconteceu. E eu não me arrependo disso. Já passamos por poucas e boas juntas e, se quer realmente saber, eu passaria por tudo de novo se tivesse você ao meu lado. A vida é realmente irônica, não? Eu que jurava para todos que preferia sair com a lula gigante do que com você, estou aqui, agora, olhando nos seus olhos e repetindo o que já está cansado de saber. Eu amo você, Tiago Potter. E você vai me ter pra sempre, porque eu também não consigo imaginar numa vida sem a sua existência!

Tremendo, ela colocou a aliança no dedo dele.

- Como disse a srta. Evans, ou mlehor, Sra. Potter, não existe muito mais a ser dito. - Ogden sorriu, segurando a mão dos dois bruxos sob as suas - Almas gêmeas, metades, como queiram chamar, vocês agora são realmente um do outro.

Lílian sentiu Tiago abraçar sua cintura e logo ela estava no ar, girando com ele, enquanto seus lábios se encontravam por entre as lágrimas. Os convidados batiam palmas, mas nenhum dos dois parecia ouvir. Finalmente eram marido e mulher, por aquele dia e para sempre, um do outro.

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