No St. Mungus



Sirius sentiu a cabeça latejar enquanto abria os olhos de leve. Estava tudo embaçado. Aos pucos, no entanto, sua visão foi voltando ao foco e ele se deparou com um teto imaculadamente branco, percebendo que estava deitado.

Com muito esforço ele se sentou na cama que ocupava. O lençol escorregou para o chão, revelando o torso nu, coberto de bandagens e levemente tingido de vermelho. Como um flash, as cenas do ataque voltaram a sua mente, enquanto uma pequena pontada nas costas revelava que a ferida ainda não cicatrizara. Logo, ele não podia estar ali há muito tempo.

Lentamente ele observou o lugar. Parecia muito com a Ala Hospitalar de Hogwarts. Provavelmente estava no St. Mungus. Mas como chegara ali? E onde estavam Lílian e Tiago? Teriam eles sobrevivido ou...

Finalmente ele percebeu que não estava sozinho. Havia alguém, uma garota para ser mais exato, reclinada num pequeno sofá junto a cama dele. Susan. Sirius levantou-se, mas quase imediatamente, se arrependeu. Suas costas doíam terrivelmente. Com um gemido de dor ele voltou para a cama, fazendo barulho suficiente para acordar a italianinha que dormia pacificamente.

- Sirius? - ela perguntou, sentando-se após piscar os olhos repetidas vezes, incomodada com a claridade - Que bom que acordou. Como está se sentindo?

- Meio moído. Quando e como eu vim parar aqui?

- Você e o Tiago apareceram do nada no meio do saguão do hospital ontem de noite. - ela respondeu, aproximando-se.

- E a Lílian?

Susan tirou um pequeno bilhete do casaco.

- Ela deixou isso debaixo da minha porta, avisando que vocês estavam aqui. Eu telefonei ontem pra casa dela antes de sair correndo pra cá, mas quem atendeu foi a mãe do Tiago. D. Miriam estava tão preocupada com o sumiço da "nora" que eu não tive coragem de contar do Tiago.

- E ele? - Sirius perguntou preocupado.

- Acho que ainda não acordou, a Jones me prometeu que avisaria quando ele acordasse. Mas não se preocupe, le só bateu a cabeça e teve alguns arranhões. Você estava bem pior, a ferida não queria fechar de jeito nenhum. Disseram que o que quer que o tivesse cortado, devia estar envenenado. Mas o pessoal daqui faz milagres... - a morena observou com um sorriso.

- É bom mesmo, porque vamos precisar de um milagre bem grande para quando o Tiago acordar e perguntar pela Lily. - Sirius observou tristemente, enquanto brincava com a pulseira que Lílian enfeitiçara para levá-lo até ali.

Susan apanhou o lençol do chão, cobrindo o rapaz com cuidado. Sirius olhou ainda uma vez para ela, parecendo curioso, mas mal virou-se, caiu novamente no sono. Ela observou o rosto pálido dele por alguns instantes antes de virar-se para a janela por onde a claridade do sol penetrava.



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Lílian saiu da Floresta Proibida e ergueu o olhar para o castelo que se erguia impávido à sua frente. Estava toda arranhada, as roupas em desalinho, os cabelos despenteados, mas, pelo menos por hora, estava pouco se importando com isso.

Cansada, ela voltou a andar na direção do castelo. Caminhara por toda a noite pela floresta, em meio a pensamentos febris e sombrios, sem ligar para os ruídos que ocorriam a sua volta.

Depois que Tiago desaparecera, ela foi até a casa de Susan, pois precisava avisar alguém sobre os dois rapazes e a morena era a melhor pessoa para cuidar de ambos. Em seguida aparatara para Hogsmeade e se embrenhara na floresta. Precisava chegar a Hogwarts, mas também tinha que evitar a aproximação de outras pessoas. E, naquele momento, só havia uma pessoa que poderia ajudá-la: Alvo Dumbledore.

Finalmente ela chegou ao portão. Com um gemido de esfoço, a ruiva o abriu e logo aguçou os ouvidos. Não queria correr o risco de encontrar ninguém. Mas o castelo estava silencioso. Aquilo era realmente ótimo.

Logo chegou à gárgula que guardava a entrada da sala de Dumbledore. Só havia um pequeno probleminha. Ela não sabia a senha. E não tinha tempo para adivinhações, precisava entrar antes que alguém aparecesse. Fechando os olhos, ela colocou as mãos sobre a gárgule, sendo envolvida por sua aura. Imediatemente a passagem se abriu.

Ela subiu arfando, enquanto lembrava-se das várias vezes em que acompanhara Tiago naquelas escadas, disposta a arranjar a pior detenção possível na face da Terra para ele. Com esse pensamento, um pequeno sorriso lhe escapou dos lábios, logo substituído por uma lágrima furtiva. Como estaria Tiago?

Finalmente ela chegou ao escritório do direto. Não era supresa para ela que Dumbledore já a estivesse esperando, ela sempre tivera a impressão de que ele era onisciente. Fawkes estava encolhida, com muitas penas soltas. A ruiva percebeu que logo a fênix morreria.

- Bom dia, professor. - ela cumprimentou cansada.

Os olhos de Dumbledore brilharam por trás dos óculos de meia lua. Ele deu um meio sorriso, indicando a cadeira à frente dele com a cabeça.

- Bom dia, Lílian.

Ela se sentou e, por alguns instantes, eles se encararam silenciosamente.

- Imagino que já saiba porque estou aqui.

Dumbledore nunca parecera tão velho quanto naquele momento. Ele permaneceu em silêncio, contemplando o nascer do sol que penetrava pela janela aberta do escritório. Em seus quadros, os antigos diretores observavam-na com pesar. Passos soaram atrás dela.

- Sim, Lily, ele sabe porque está aqui. - ela virou-se, encontrando Gideão, que também parecia ter passado a noite em claro - Eu contei a ele.

Ela estreitou os olhos, mas foi Dumbledore quem respondeu.

- Moody mandou Gideão pouco antes de tudo acontecer. Ele não pode fazer nada, mas assistiu Voldemort amaldiçoá-la.

Ela voltou-se novamente para o professor, com um brilho ansioso nos olhos.

- E o senhor pode me ajudar?

- Não. Está além dos meus poderes ajudá-la.

Lílian teria chorado se já não tivesse derramado todas as lágrimas que possuía. Nesse momento, Fawkes deu um pio alto e seu corpo se incendiou. A ruiva observou o fogo consumir a ave, tentando imaginar porque não se consumia também, só que de tristeza. Perdida nesses pensamentos, ela não percebeu quando Dumbledore afastou-se, voltando em seguida com um cálice fumegante.

- Beba.

Ela virou-se para ele espantada.

- Como?

- Beba. Você está ardendo em febre. Essa poção vai ajudá-la.

- Porque se peocupa? - ela sorriu ironicamente, uma raiva intensa começando a lhe queimar o peito - Porque não me deixa morrer? Seria melhor que...

Gideão olhou tristemente para a ruiva, mas manteve-se em silêncio.

- Beba, Lílian. - o diretor disse firmemente - Vou considerar o que acaba de dizer como um acesso febril. Já imaginou o que Tiago sentiria ao ouvi-la dizer isso?

- E O QUE IMPORTA?! - ela gritou, levantando-se - O que importa se eu nunca mais vou poder chegar perto dele ou de qualquer outra pessoa?

Ela sentiu a mão forte de Gideão segurá-la pelo braço, virando-a para ele. O que teria acontecido se ele não estivesse de luva? Era algo que ela não queria sequer cogitar.

- Você não pode se entregar dessa maneira! Deve haver uma saída, Lílian, você não precisa se isolar do mundo, não precisa morrer. Por mais distante que você estava de mim, eu sempre me consolei por saber que, pelo menos, você era feliz. E eu não vou deixar você se entregar desse jeito!

Ela se soltou de Gideão, assustada, e voltou-se para Dumbledore.

- Beba, Lílian. - Dumbledore repetiu gentilmente - E depois descanse. Você precisa descansar. Depois nós veremos o que fazer. Mas você não deve desistir antes mesmo de começar a lutar.

Lílian olhou para a poção por alguns instantes antes de virá-la garganta abaixo. Fumaça começou a sair de suas orelhas e Gideão abriu um pequeno sorriso. A ruiva sentiu que seu corpo voltava a se aquecer. Quando o efeito da poção passou, Dumbledore abriu uma passagem, revelando um confortável dormitório.

- Vá dormir, Lílian. Quando acordar, vermeos o que se pode fazer.



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Estava tudo girando quando Tiago piscou os olhos com força, sentindo uma pontada na nuca. Lentamente a imagem de um cortinado entrou em foco. Ele se sentou na cama e passou a mão pelo rosto, sentindo algo atado em seu pulso. Um cordão de onde pendia um pequeno dragão.

- Lily? - ele chamou, afastando o cortinado.

- Ela não está aqui.

Tiago virou-se para a porta do quarto, que acabara de ser aberta. Alastor Moody estava parado no umbral, olhando para o moreno.

- Cadê a Lily?

- Dumbledore me mandou uma coruja na hora do almoço. Ele a designou para alguma missão da Ordem.

Tiago arqueou a sobrancelha, a sensação estranha que o perseguia a alguns dias voltando.

- O que aconteceu?

- Você e o Sirius chegaram de noite, apareceram no meio do saguão do hospital não se sabe como. Uma amiga de vocês, ao que me parece, recebeu um bilhete da sua namorada, avisando que vocês estavam aqui. Foi Lílian quem os trouxe aqui. Agora, o que aconteceu exatamente, eu ainda não sei, estou aqui justamente para descobrir.

- E o Sirius?

- Sua mãe e a outra garota estão com ele no quarto vizinho.

Tiago assentiu, voltando a sentar na cama. Pouco depois, Miriam Potter entrou no quarto, dando um enorme suspiro de alívio ao ver o filho acordado. Logo atrás vinha Sirius, apoiado em Susan.

- Você me deu um grande susto, seu peralta! - Miriam disse sorrindo, enquanto beijava a face dele.

- É, eu sei... A senhora sabe quando temos alta?

- A Hestia disse que amanhã de manhã - Sirius respondeu - Vão tirar minhas bandagens hoje, mas eu vou ter que ficar com uma babá para poder sair do hospital...

Susan sorriu levemente. Sirius passaria a semana em sua casa. Isso não era uma perspectiva maravilhosa? Se Lílian não tivesse sumido tão misteriosamente, a morena já estaria soltando fogos de artifício.

- Espero que tenham aprendido a não dar uma de heróis à toa. - Olho-Tonto interrompeu com um grunhido - Não quero perder meus melhores homens tão fácil.

- Eu não acredito que ouvi isso... - Sirius olhou espantado para o seu chefe - Eu tô sonhando? Ele finalmente admitiu que nos ama?

- Black, se quer mesmo ter alta amanhã, é bom não começar com gracinhas...

- Mas eu sou inocente!

- Claro, inocente... - foi a vez de Susan falar - Você é a inocência em pessoa, e eu sou Paracelsus.

Tiago observou com um sorriso a pequena dscussão. Mas sua mente estava bem distante dali, juntamente com um pressentimento muito estranho sobre uma certa ruiva.



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- Está melhor? - Dumbledore perguntou, empurrando uma xícara de chá na direção dela.

Lílian apenas sentiu com a cabeça, pegando a xícara e levando-a aos lábios. Gideão não estava ali dessa vez e Fawkes, que já renascera, nem de longe parecia a imponente ave com a qual ela se acostumara.

- Você já tem alguma idéia do que fazer? - o professor perguntou, enquanto observava-a atentamente.

- Eu preciso dos livros que o senhor me deu. Helena conseguiu, de alguma forma, reverter a maldição. Embora eu não acredite na possibilidade de encontrar o uqe preciso naqueles livros, tenho que começar por eles.

Dumbledore sorriu fracamente.

- E Tiago?

Lílian depositou a xícara sobre a mesa. Ainda não decidira o que fazer com Tiago. Como poderia dizer a ele que estavam definitivamente separados? Ele não iria deixá-la. Ela sabia que ele jamais a deixaria, mesmo que isso significasse a morte.

- Eu não tenho forças para encará-lo. - ela confessou com o coração apertado.

Dumbledore ficou em silêncio e ela agradeceu por isso. Não queria pensar em Tiago por hora.

- E você já sabe onde vai ficar?

- Não tinha pensado nisso ainda... - ela observou.

- Eu tomei a liberdade de avisar a Moody e a Doge que você estava em missão para a Ordem e consegui que o St. Mungus aceitasse uma licença de um ano de aperfeiçoamento em um hospital na França. Gideão tem um chalé no norte, nas montanhas. Ele ofereceu para que você ficasse lá enquanto eu sustento essa história. De acordo com Gideão, nem corujas vão encontrar você lá.

Lílian sorriu timidamente.

- É perfeito, professor.

Dumbledore abriu uma gaveta, retirando dela uma chave dourada e entregando à ruiva.

- É a chave da casa e também uma chave de portal. Gideão disse que ela vai ativar daqui a duas horas. Use a lareira do meu quarto para ir a sua casa e pegar o que precisa. Gideão disse que há mantimentos suficientes no chalé e que no final da semana ele vai levar mais algumas coisas que você possa precisar.

Ela assentiu e levantou-se.

- Obrigada por tudo, professor Dumbledore.

- vai dar tudo certo, Lílian. - ele sorriu - Agora é melhor você ir.

- certo. Mas, professor... Se Tiago vier atrás de mim... Não conte a ele nada do que aconteceu.

Dumbledore olhou-a atentamente.

- Eu prometo. Não direi nada a Tiago.

Ela saiu do escritório sentindo-se um pouco melhor do que quando chegara ali. Não muito, é verdade, mas já era um começo...

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