Entre comensais



Pedro largou os pepéis em cima da mesa do cubículo em que trabalhava no Profeta Diário. Ninguém ali reconhecia seu talento. Há quase três anos trabalhava omo ajudante na estúpida seção de achados e perdidos. Oras, aquilo era ridículo! Ele podia perfeitamente estar assinando a coluna de fofocas, tinha tino e informações para isso, mas quem disse que seus superiores idiotas o ouviam?

Queria poder mandar o jornal e a diretoria se danarem, mas, infelizmente, não podia. Precisava do emprego, acima de tudo pela mãe. Dóris Pettigrew já fora uma mulher muito forte, mas hoje... Hoje a velha senhora estava inválida e quase senil, tendo só o único filho para cuidar dela.

- Olá, Pettigrew. - falou uma voz feminina.

O rapaz ergueu a cabeça, encontrando o olhar arguto de Rita Skeeter. Detestava aquela mulher, provavelmente porque ela era tudo o que ele gostaria de ser.

- Olá, Skeeter. O que a faz vir aqui em meu humilde cubículo? - ele perguntou levemente sarcástico.

- Ver a que nível degradante um ser humano pode chegar. - ela disse com um sorriso, no mesmo tom que ele - Você costumava ser notícia em Hogwarts, mas aqui não passa de um medíocre... Ah, me desculpe, eu esqueci que Potter, Black e Lupin não estão aqui para protegê-lo.

- Certo, Skeeter. - ele disse cansado - Já riu o suficiente. Posso ir agora ou você vai querer me trancar em seu zoológico? Ah, desculpe, eu me esqueci que você já é uma macaca enjaulada.

Antes que ela pudesse responder, Pedro recolheu suas coisas e aparatou, reaparecendo na sala de sua casa, onde sua mãe brincava com um vaso de flores, sujando-se toda de terra. Enquanto a levantava, pedro refletia que, de certo modo, Rita tinha razão. Desde que saíra de Hogwarts, transformara-se num perdedor.

- Vamos, mamãe, vamos tomar um banho. - ele disse carinhoso.

A velha senhora sorriu debilmente para ele e com um suspiro, Pedro a fez tomar banho e a colocou para dormir antes de decidir atacar a geladeira. Com um pote de sorvete e duas enormes barras de chocolate, ele se dirigiu para a sala a fim de ouvir rádio enquanto se empanturrava. Mas ele não chegou a cumprir seu objetivo.

No meio da sala, parada e olhando para ele com o sorriso malicioso que parecia ser a marca registrada da família, estava Bellatrix Black. Ele deixou tudo o que carregava cair no chão com estrépito. Passara os últimos anos se escondendo do Lorde e de todos os outros comensais, por isso aquela visita certamente não era uma simples cortesia.

- Longo tempo, não é, Pettigrew?

- O-olá, Black? O que está fazendo aqui?

Ela abriu ainda mais o sorriso, aproximando-se dele.

- Vai ter uma grande honra hoje, Pettigrew. O Lorde que ter uma conversa com você, cara a cara.

- Cara a cara? - ele perguntou sem disfarçar a tremedeira - Mas eu não fiz nada!

- Exato, Pettigrew, você não fez nada. - ela disse, deixando o sorriso morrer enquanto seus olhos adquiriam um brilho perigoso - Nada... Você se negou a usar a Avada para receber sua Marca Negra e passou os últimos anos fugindo de nós.

- Eu não...

- Cale-se, Pettigrew. Não é a mim que deve se justificar, embora você me tenha feito perder muito do meu tempo - ela tirou um pequeno relógio do bolso, junto com a varinha, e apontou para ele - Imperio!

Pedro ficou rígido e ela o pegou pela mão, colocando sobre a palma dele o relógio que era, na verdade, uma chave do portal.



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Snape respirou fundo enquanto ouvia os gritos dos prisioneiros que estavam no calabouço. Era sempre assim: eles começavam gritando, o medo e o desespero visíveis e depois, se calavam. Azkaban também era assim. Só que nas masmorras do Lorde das Trevas só existiam inocentes.

Lentamente ele caminhou por aqueles seres que um dia tinham sido chamados de humanos. O lugar todo fedia e aqueles que já não estavam em completa apatia o olhavam num misto de desprezo e pedido de piedade. Ele parou diante de uma das últimas celas, onde uma mulher estava sentada em silêncio, sozinha.

Os cabelos desgrenhados caíam sobre a face suja e ela já respirava com dificuldade. Tinham-na trazido há pouco tempo, mas o rapaz tinha quase certeza que ela não duraria muito. A moça levantou a cabeça levemente ao ouvir os passos dele, mirando-o com os olhos de um castanho esverdeado tristonho. Como se fosse falar algo, ela abriu a boca, mas, em seguida, voltou a baixar a cabeça.

Snape observou-a em silêncio antes de passar a outra cela em que um homem forte o olhava com evidente desprezo. Os dois se entreolharam por alguns instantes antes do primeiro enfiar uma chave na grade de ferro, abrindo-a.

- O lorde o perdoou, Travers. Saia logo antes que eu decida esquecer as ordens dele e deixe você apodrecendo aí.

O outro comensal não pestanejou, saindo praticamente correndo daquele inferno. Snape voltou a trancar a cela e parou de novo diante da moça de olhos tristes. Ela não se mexeu dessa vez, nem ele desejou que ela assim o fizesse. Finalmente ele deu as costas a ela, saindo do calabouço, a cabeça estranhamente pesada.



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Bellatrix empurrou-o diante do Lorde e saiu logo em seguida, para pavor de Pettigrew. Voldemort observou-o, divertido, com seus olhos vermelho-sangue, enquanto uma enorme cobra dormia, enrolada a seus pés.

- Ora, ora, ora... Quem apareceu para fazer uma visita! - o bruxo riu sarcasticamente - Estava com saudades, Pettigrew. Você não aparece há um bom tempo...

- Me-meu Lorde, eu... eu estive ocupado e...

- Ocupado fugindo de mim? Achou mesmo que poderia me deixar depois de tudo o que demos a você?

- Eu nunca...

- Mas também, quem se importa, não é verdade? - Voldemort disse como para si mesmo - Porque eu deveria me importar com a presença de um inútil como você? Que não é digno de receber nem a minha marca? É realmente melhor para todos que uma vida tão medíocre desapareça da Terra.

- Não, meu senhor! - Petigrew pediu ajoelhado, quase chorando de terror - Eu posso ser útil, mestre. O senhor não encontraria nunca alguém melhor que eu para espionar seus inimigos!

- E desde quando você tem sutileza suficiente para ser um espião? Ora, Pettigrew, não me faça rir.

- Dê-me apenas mais um minuto de vida, meu Lorde! - ele pediu aterrorizado quando o bruxo levantou a varinha - Apenas mais um minuto e eu provarei que posso ser útil e contarei ao senhor coisas que nem imagina, coisas que poderão auxiliá-lo. Por favor, milorde!

Voldemort baixou a varinha, divertido.

- Se isso for um blefe, Pettigrew, eu farei com que você sofra ao invés de lhe dar uma morte rápida e indolor.

Pedro se ergueu, nervoso. Não podia mais fugir, tinha que, finalmente, escolher que lado ficar. E não era apenas uma questão de escolha, mas de sobrevivência. Trair seus amigos era a única maneira de se conservar vivo. Além disso, quando Voldemort soubesse de Lílian e sobre a Antiga Magia, certamente o cumularia de honras. Respirando fundo, ele fechou os olhos, sentindo cada célula de seu corpo mudando, transformando-se em outras, fazendo com que o corpo dele desaparecesse aos poucos para dar lugar a um pequeno rato.

A gargalhada de Voldemort invadiu o salão enquanto Pettigrew voltava ao normal.

- Como foi que se transformou num animago? Você não teria capacidade de fazer isso sozinho.

Pedro sentiu uma onda de raiva subindo-lhe pela garganta, mas conteve-se.

- Meus amigos. Eles me ajudaram para que pudéssemos burlar as regras da escola, perambular por Hogwarts e Hogsmeade e coisas do tipo.

Por algum motivo que ele não parou para entender, estava tentando proteger pelo menos o segredo de Remo.

- Black, Potter e Lupin. Se não fossem tão ligados a Dumbledore... Então, meu caro Pettigrew, você é um rato?

- os garotos costumavam me chamar de Rabicho. Como eu era o menor deles, sempre me esgueirava pela escola, ouvindo todo tipo de conversa. Foi assim que eu cheguei ao senhor.

- Muito bem, "Rabicho". Imagino que nessas andanças tenha descoberto coisas mais interessantes que simples namoricos de colegiais. Você disse que sabia de algo que poderia me auxiliar?

- Sim, milorde. - Pedro respondeu um pouco mais confiante - Há segredos que sei serem de seu interesse. Já ouviu falar na Antiga magia?

- Não, Rabicho, mas será um prazer ouvi-lo explicar...

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