Quadribol



QUADRIBOL


Lily acordou de extremo bom-humor na manhã seguinte. Acertara os detalhes de seu plano com Hermione e tudo caminhava as mil maravilhas. Nada podia dar errado. James também levantou feliz. Estava certo de que conquistaria Lily, e esse pensamento o alegrava. Aquele seria um belo dia para todos. O café da manhã foi um pouco esquisito. Ninguém falava absolutamente nada: Lily porque tinha vergonha de dar em cima de James, e James por ter medo de denunciar que ainda gostava muito de Lily se abrisse a boca. Harry e Ron também permaneciam quietos por não quererem deixar escapar que tinham um plano, e Hermione decidiu que ficar em silêncio era o melhor que tinha a fazer. Apesar de ninguém falar nada, um clima de felicidade estava instalado na mesa. Quando todos acabaram de comer, a situação ficou um pouco incômoda. Hermione, que era a menos decidida a ficar quieta, disse:


-Vamos? A primeira aula deve começar logo.


Todos assentiram sem dizer uma palavra. A princípio Lily tentou manter uma distância razoável de James, mas depois decidiu que era melhor ficar perto dele. Abriu a boca diversas vezes para tentar puxar algum assunto, mas viu que conversar com James Potter era muito mais difícil do que parecia. E para piorar, ele não parecia interessado em falar com ela. Ela poderia até dizer que ele a estava ignorando. Mas não, não era possível! Certamente era só impressão.

Por outro lado, James estava achando muito difícil controlar seus instintos sedutores e ficar sem falar com Lily. Ele teve a impressão de que ela estava tentando dizer alguma coisa...Mas ela sempre o ignorava, não podia ser! Caminhavam enquanto pensavam e logo chegaram na sala de aula. Era Feitiços, e Flitwick começou a ensinar como deixar objetos invisíveis. Harry se sentou com Ron e Hermione resolveu se sentar com Parvati, para dar chance de Lily e James conversarem. Os dois estavam bem desconfortáveis, botar seus planos em prática era bem mais difícil do que imaginavam. Depois de 20 minutos trabalhando sem se falar, Lily resolveu que era hora de deixar sua timidez de lado. Se queria mesmo acabar com Potter, deveria ser mais corajosa e tomar a iniciativa. Então tentou iniciar uma conversa:


-Então, James, está achando o feitiço muito difícil? - havia um tom de embaraço presente em sua voz. Seu nervosismo era evidente. Lily definitivamente não era o tipo de menina que costumava dar em cima de garotos, afinal tinha coisas mais importantes para fazer, como estudar.


-Não. - James, pelo contrário, era muito hábil na arte da dissimulação. Podia perfeitamente esconder seus sentimentos, e sua voz estava cheia de frieza e com uma dose de descaso que deixou Lily desconcertada. “Ela não pode estar fazendo o que eu acho que ela está fazendo”, pensou.


-Entendo...Eu também não... - ótimo. Definitivamente tinha começado com o pé direito. Seu primeiro assunto tinha fracassado. Ela não era boa em conversas casuais! Mas não desistiria...Porém, esse não era o único problema: ele parecia bem disposto a encerrar qualquer tipo de conversa. Tão atípico. “Ele não pode estar fazendo o que eu acho que ele está fazendo”, pensou preocupada. - Eu gosto bastante de feitiços, e você?


-Gosto também. - Ela estava fazendo AQUILO. Estava dando em cima dele! James era muito experiente em relação a mulheres, e normalmente percebia rápido aquele tipo de coisa. Mas havia uma menina em especial que ele conhecia bem: Lily. Sabia todas suas reações e naquele momento ela estava nervosa. Ele tinha certeza disso. “Bem”, pensou ele, “Assim tudo fica mais fácil. Ela vai dar em cima de mim, eu vou esnobá-la e ela acabará se apaixonando. Primeiro, porque isso é inevitável, e segundo porque vai acontecer com ela exatamente o que aconteceu comigo. Ela vai ficar tanto no meu pé que reconhecerá as minhas qualidades. Assim, vai ficar louca por mim. Perfeito”.


-É realmente uma matéria legal. - Não estava dando certo. Escola era um assunto que não combinava com James Potter! Mas do que ele gostava? Sobre o que eles podiam conversar? Não tinham nada em comum! Era só pensar...Quais eram as coisas que Potter fazia? Dar em cima de meninas, se exibir, tentar bater o recorde de maior número de regras quebradas em um curto espaço de tempo, encher o saco de Lily, voar...Era isso!! Quadribol! E agora ela tinha certeza: ele a estava ignorando! “Se bem que isso facilita as coisas”, pensou, “Eu vou ser tão insistente que ele vai se cansar. Vai ficar tão acostumado a me ignorar que acabará incorporando essa atitude! Que nem aconteceu comigo! Não que eu um dia tenha gostado dele... Bem, o importante é que isso é ótimo! Perfeito”. - Você tem que me dar uma aula de Quadribol, se lembra? Eu estava pensando, será que pode ser hoje? Se não for te incomodar, é claro...


-Bom... - Tudo o que ele mais queria era estar perto de Lily, ficar com ela fora da aula. Mas ele tinha que esnobá-la...Como era difícil ignorar uma menina tão linda como ela! A não ser que ele aproveitasse para lhe dar um gelo na tal aula. Ele jogaria Quadribol, veria Lily e ainda conseguiria botar seu plano em prática. Aceitaria. - Por mim tudo bem. Desde que a aula não seja muito longa, eu não estou muito animado hoje.


-Claro! - ela disse sorrindo. Era exatamente essa a resposta que esperava. A aula de hoje era fundamental para a execução de seu plano, e não tinha como dar errado. Acertara os mínimos detalhes com Hermione, era algo a prova de erros.


-A que horas a gente se encontra? - perguntou ele.


-As cinco no campo de Quadribol. Está bom pra você?


-Perfeito. - respondeu ele tornando a olhar para o vaso que estava tentando fazer desaparecer. Ao contrário do que havia dito anteriormente para Lily, estava tendo um pouco de dificuldades com o feitiço. Era um bom aluno, mas o que estavam aprendendo naquela aula era muito complexo. Aparentemente não havia razões para mentir para a menina, mas ele era precavido: se dissesse que estava com problemas, ela se ofereceria para ajudá-lo. E ele não ia ter como recusar...


-Você está bem sério hoje...É uma pena, adoro quando você sorri... - Que nojo. Ia vomitar, estava REALMENTE passando mal. Ela tinha cantado James Potter. Isso mesmo. Cantado Potter! O nojento, asqueroso, metido, tudo-de-ruim do Potter! Ela nunca tinha cantado ninguém, e tinha que começar logo com ele? Era demais para uma só pessoa.


-Obrigado. - disse ele tentando parecer sério. Ele sabia o quanto aquilo devia ter custado a ela. Mas era fato que ele tinha um sorriso lindo. E bem no fundo ela devia concordar com isso, só que tentava negar por razões inexplicáveis. Ele era legal com ela! Nunca fazia nada de errado! Por que ela não podia simplesmente confessar que o amava? Naquele momento, apesar de ela não saber, ele sorriu como nunca sorrira antes. Sorrira internamente, se contendo para não deixar aquela felicidade transbordar.


E então eles se calaram. Por mais estranho que parecesse, para Lily aquele silêncio valeu mais do que horas de conversa. Sentiu-se estranhamente confortável, depois de um momento de alternância entre ódio e mal-estar. Tentou não gostar daquela sensação, mas não conseguiu. Ficou apenas lá, observando James. Quando sentiu que o estava olhando há muito tempo e se convenceu de que não era saudável observá-lo por mais de 2 minutos, desviou o olhar e se concentrou em seu feitiço. Concentrou-se tão bem que conseguiu realizar com perfeição o feitiço antes mesmo de Hermione, ganhando assim 20 pontos para a Grifinória. A aula já estava acabando, e os minutos finais passaram muito rápido. Saíram da sala um pouco mais leves, Harry e Ron reclamavam da aula enquanto James ouvia, e Hermione e Lily comentavam o quão interessante era o feitiço que tinham acabado de aprender.


Enquanto falavam, caminhavam até as masmorras para ter aula de Poções. Assim que entraram na sala, se calaram. Sentaram nas mesmas duplas da aula anterior, para o desgosto de Lily. Ela odiava sentar com James, mas sabia que aquilo era necessário para conseguir o que queria: que ele a largasse de vez. Snape chegou na sala logo em seguida e, assim que seus pés passaram a porta, todos ficaram quietos. Ele parecia estar mais mal-humorado do que de costume, se é que isso era possível. Sua presença estava mais intimidadora do que nunca. O único que parecia estar tranqüilo era James. Ele girava sua pena calmamente por entre os dedos, enquanto o resto da classe olhava fixamente para um ponto à frente, tentando evitar o olhar do professor e provocar a fúria deste por ter uma conduta inapropriada. Snape era naturalmente irritado e azedo, mas seu humor vinha piorando gradativamente desde que James e Lily tinham chegado. Ele tinha esperanças de que aquelas lembranças de seu passado perturbador fossem embora logo, mas isso não acontecia, e parecia que eles iam ficar por mais um tempo, que, infelizmente, era indefinido, segundo o diretor. A única coisa que o animava era saber que Black e os outros perturbados não estavam lá. Mas essa única causa de alegria acabou-se assim que percebeu que eles podiam chegar a qualquer momento! E por isso ele andava tão rabugento, tendo pesadelos acordado. Agora que finalmente aquele Black tinha morrido, ele podia ter o azar de aturá-lo em sua pior forma: a de adolescente. Era muito azar para uma só pessoa! E agora, como se não tivesse problemas suficientes, ainda tinha que agüentar uma turma de fedelhos. Iria dá-los a pior aula que já tinham tido. Atazanar aluninhos indefesos era a melhor maneira de descontar a raiva...


-Peguem seus caldeirões - disse com uma voz rouca e carregada de perversidade. - Hoje vou ensinar para vocês como preparar a Poção do Desânimo. É dificílima e aqueles estúpidos o bastante para não prestar muita atenção em cada mínimo movimento de braço, vão ter que escrever 3 rolos de pergaminho sobre a importância de ser atento. Sem contar a lição que vou passar para todos...


Até Hermione mordeu os lábios, preocupada. Normalmente era, ou parecia, muito segura. Mas à medida que Snape ia mostrando como se preparar, ela ia ficando mais preocupada. Era REALMENTE algo muito difícil. Aquilo era matéria do último ano. Na verdade, aquilo nunca devia ser ensinado! Era quase impossível! Ron estava com as mãos tremendo, tudo o que menos precisava era lição extra. Como se as que já tinha pendente não fossem suficiente! Lily lia as instruções cuidadosamente, passando os olhos pelas mesmas palavras diversas vezes, irradiando nervosismo. Harry também lia as instruções, apreensivo. As suas notas de poções já eram ruins e só podiam piorar com a nota daquela poção. James, se estava preocupado, não parecia muito. Poções não era uma matéria que ele chamava de difícil, e Seboso era a pessoa de quem ele menos tinha medo. Enquanto todos derrubavam seus ingredientes de tão assustados, James apenas lia as instruções como se fossem as de uma simples Poção de Queda de Cabelo. Lily em um momento perguntou-lhe como fazia para ficar tão calmo, ao que ele respondeu com um gesto casual com a mão. Snape contemplava satisfeito o desespero dos alunos. Neville estava particularmente afobado e jogara um vidro de ácido nas pontas do cabelo de Parvati, que gritou assustada. Ele resolveu então dar algumas explicações adicionais sobre a poção, mas não por piedade, e sim por saber que isso os deixaria mais aterrorizados:


-A Poção do Desânimo, se preparada corretamente, faz com que aquele que a tomar fique sem ânimo para nada. Não tem vontade de comer, dormir, falar. Fica basicamente em estado vegetal por algumas horas. - ao ver a cara de pavor dos alunos, continuou - Não se preocupem, em algum tempo o efeito passará, é garantido. - todos respiraram aliviados, mas ele foi em frente, sibilando - Como eu disse, SE preparada corretamente. Um erro pode ser fatal. E sou obrigado a dizer que todos vão ter que beber a poção do parceiro. Torçam para dar tudo certo...Quando acabarem, venham me pedir o antídoto para sua dupla. - mais uma vez todos suspiraram - Mas é importante dizer que isso só funcionará para as poções corretas...Agora trabalhem!


Lily olhou para James apreensiva. Ele parecia muito tranqüilo, mas ela não gostava nada disso. E se ele fizesse tudo errado? Ela ia pagar por aquilo! Ela podia até morrer! Não, não seria legal morrer. Sua vida estava nas mãos de James Potter. Não sabia se aquilo era mais nauseante ou patético. Foi então que ela disse, com a voz tremendo:


-Por favor, faça direito!


-Eu faço TUDO direito - disse ele levantando as sobrancelhas e a encarando com naturalidade. Queria dizer algo mais, queria conversar mais com ela, mas não podia. Tinha que se sacrificar, mas valeria a pena, pois no final ela ficaria com ele. - Não se preocupe.


Ela não respondeu nada, apenas olhou para os ingredientes a sua frente com o olhar pesaroso. Começou então a preparar. Primeiro picou alguns ingredientes de forma que parecia que aquilo era um monte de pó. Seus dedos estavam até cansados, mas não podia se desconcentrar. Afinal era a vida de Potter que estava em jogo. Se bem que, se ela errasse ninguém ia perceber...Ela seria inocente, e Potter...Não, não, cruel demais. Às vezes ela pensava em matar Potter, mas eram só idéias que ela nunca botaria em prática. Ela era uma pessoa boa, e não sujaria suas mãos com aquele garoto. Além disso, dessa forma Harry não nasceria, e ele era um menino legal. E só ele podia matar Voldemort, ou seja, o mundo dependia dela. Na verdade, do filho dela com James Potter. Era, portanto, necessário que ela se casasse com ele...Destino infeliz! Mesmo sabendo que no fim seria obrigada a ficar com ele, tentava ao máximo esquecer esse fato e procurava adiá-lo. Ia dar o maior trabalho possível, ia resistir até o fim, até...Até aquilo acontecer. Ainda não entendia como justo ela ia se apaixonar por alguém como ele. Ela detestava, odiava pessoas idiotas daquele jeito. Foi então que sentiu que havia cortado o dedo. Havia uma pequena gota de sangue perto da unha. Ela colocou o dedo na boca e resolveu prestar mais atenção no que estava fazendo. Mesmo que não se importasse com Potter, se importava com a nota, e precisava fazer aquela maldita poção direito. Snape, que não perdoava nenhum erro, fez questão de passar perto de Lily e fazer um comentário:


-Essa raiz está cortada em tamanhos muito irregulares e você já devia ter colocado a água e a essência no caldeirão. E o que é isso? - disse ele, observando Lily com o dedo na boca -Dedo cortado? Isso significa 10 pontos a menos para a Grifinória. - muitos alunos o olharam indignados, mas ele não se abalou. Apenas sorriu. - Esse é um exemplo claro de incompetência. Vocês podem ver que eu não sou tolerante, nem piedoso. Portanto, se não quiserem que a casa de vocês fique com o saldo de pontos negativos, é melhor não errarem mais.


Hermione levantou a mão, decidida. Snape observou-a por alguns minutos e a autorizou a falar.


-Estamos em uma escola, não estamos? - perguntou ela. Ele assentiu, sem saber onde ela queria chegar - As pessoas freqüentam escolas para aprender, e como aprender sem errar? É impossível. - então se calou, muito segura de si.


-Menos 20 pontos pela ousadia, Srta Granger. Não cabe a você discutir o meu método de ensino. Eu a aconselharia a se calar, pois eu não vou aceitar mais demonstrações de pretensão como essa. A senhorita pensa que sabe de tudo, mas, na verdade, é só uma pequena ignorante. - os olhos de Hermione se encheram de lágrimas, mas ela não deixou nenhuma escapar. Apenas voltou os olhos para o caldeirão e continuou a preparar a sua poção.


Lily também estava quieta, e James percebeu isso. Contudo, achou melhor ficar calado também. Foi então que ela disse numa voz quase inaudível:


-Será que eu sou mesmo um exemplo de incompetência?


-Não. - respondeu James após um momento de incerteza. Decerto não devia ficar consolando-a, mas ela parecia tão triste...


-Obrigada. - disse ela olhando para ele com uma simpatia, que não era forçada -Você é muito gentil.


-Não adianta tentar me elogiar agora. Eu não quero mais nada com você. - respondeu ele voltando a usar o tom de voz frio. Doía muito falar aquilo, mas era necessário. - Como eu já disse, vou sair com Julia.


Ela não disse nada, mas não pôde deixar de pensar: “Será que vai mesmo sair com ela, Potter? Isso é o que nós vamos ver...”. Sorriu, ao pensar em seu plano. Ele nunca ia sair com ela...O tempo passou e ela conseguiu acabar a poção. Ficou satisfeita ao observar que a cor estava quase azul turquesa, como esperado. Colocou-a em um frasco e viu que James já estava com tudo pronto também. Ron estava aflito, pois sua poção estava mais para verde do que para azul, a de Harry estava azul escura, enquanto a de Lily e Hermione estava quase na cor perfeita, só que levemente arroxeada. Neville tinha queimado três caldeirões e terminava de misturar afoitamente um liquido quase rosa e muito mais pastoso do que deveria ser. James, por outro lado, exibia uma poção perfeita, na cor e consistência corretas. Ele tinha trabalhado muito duro nessa aula, pois percebera que Snape estava bravo e não queria perder pontos para a casa. Além disso, não queria que nada acontecesse com Lily...Ao perceber que sua poção estava pronta e ao constatar aliviada que a cor desta estava muito boa, ela perguntou:


-Pronto?


-Sim - respondeu ele, acordando de seus pensamentos. Então estendeu o frasco para ela. Lily pegou-o com a mão levemente trêmula. Algumas outras duplas já haviam bebido. Levou então o frasco à boca e deixou o liquido descer por entre os lábios. Nessa hora sentiu a coisa mais esquisita que já sentira. Uma sensação de tranqüilidade e ao mesmo tempo de muito desânimo. Seus olhos se desfocaram e ela ficou parada, observando o nada, livre de todo tipo de pensamento. Não importava mais o seu plano, não ligava para nada, queria apenas ficar parada, presa naquele momento...Não se importou quando um liquido chegou à sua boca. Não conseguia pensar em mais nada, tamanho o desânimo e cansaço que sentia...Mas aí acordou. Voltou a enxergar tudo claramente, e a primeira coisa que viu foi o rosto de James a uma distância extremamente desagradável e perturbadora. Ela abriu a boca para falar algo, mas ele se distanciou e perguntou antes que ela pudesse articular alguma frase com sentido:


-Está tudo bem?


-Sim... - respondeu ela, aturdida. - Por quanto tempo eu fiquei assim?


-Uns 30 segundos.


-Nossa! - ela ficou surpresa - Pareceu uma eternidade...


Ele franziu a testa, mas não disse nada. Apenas olhou ao redor e viu que muitos alunos pareciam recém acordados de um transe. Lily sacudiu a cabeça para acordar de vez e estendeu seu frasco para James. Ele olhou bem para o liquido que estava lá e fez uma careta. A cor não estava muito ruim, mas ele sentia que não era aconselhável tomar aquilo. Mas então, quando já ia beber, Snape avisou que a aula havia acabado. Dean Thomas, que era dupla de Neville, respirou aliviado porque não tivera tempo de tomar aquela poção. Hermione parecia satisfeita, pois Parvati tinha bebido e aparentemente tudo dera certo. A menina ainda estava um pouco tonta, mas não tinha por que se preocupar, já que ela assim normalmente, disse Mione.


O resto do dia passou rápido demais. Logo era a hora da tal aula de Quadribol. Lily estava em seu dormitório quando olhou pela janela para checar as condições do tempo. James diria que era um dia perfeito: sem nuvens, porém sem chuva ou sol. O vento parecia bom também, apesar dela não entender nada de vôo. Suspirou e balançou a cabeça, estava na hora e ela tinha que ir. Primeiro, porque Dumbledore mandara, e segundo, porque ela tinha algo importante para botar em prática. Disse até logo para Hermione, que estava deitada de bruços lendo um livro de História da Magia, e desceu as escadas. James não estava no Salão Comunal, apesar de ser um pouco cedo, observou. “Deve estar com Adams”, pensou com desgosto e amargura. Mas algo a alegrava: tinha repassado todo o plano com Hermione e corrigido os últimos e mínimos defeitos. Agora sim estava perfeito. Caminhou vagarosamente até o campo de Quadribol, aproveitando a brisa leve da tarde. Realmente o dia estava bonito. Chegando lá, deitou-se na grama e fechou os olhos. Não demorou muito para abri-los, pois James chegou logo depois. Carregava duas vassouras, uma caixa que parecia muito pesada e vestia os uniformes da Grifinória. Estava incrivelmente bonito, pensou Lily antes de se recriminar.


-Peguei emprestadas as vassouras de Harry e Ron, já que não trouxe a minha. Mas essas são incrivelmente melhores! Nunca pensei que fosse ver uma vassoura dessas! - disse ele animadamente, como se estivesse louco para montar e sair voando. Lily, por outro lado, não estava tão animada. Sentia enjôos horríveis quando voava e sentia um medo incrível. Apesar disso, segurou (relutantemente, diga-se de passagem) a vassoura de Ron que James lhe estendeu. Ele abriu a caixa e ela pôde ver os balaços, a goles e o pomo de ouro. Ele parecia feliz como uma criança que acabara de ganhar um brinquedo ou pirulito novo. Começou a explicar qual era a função de cada bola, mas ela o interrompeu:


-Eu vivo há alguns anos em Hogwarts, eu sei o que essas bolas fazem, Potter - disse Lily. Então, apressou-se em corrigir - Eu quero dizer que você não precisa gastar o nosso tempo com essas coisas inúteis, podemos logo partir para a ação, não acha, meu apanhador? -ridículo. Que tipo de conversa era aquela? Ela estava muito próxima dele e tentara falar de um modo sedutor, mas tudo o que conseguira fôra parecer patética. Definitivamente precisava de experiência e prática.


-Então vamos começar a aula prática - disse James, se afastando dela, subindo na vassoura e voando. Ela apenas abrira a boca e olhou-o. Tudo bem que ela tinha sido ridícula, mas ele tinha que fazer alguma coisa. Qualquer coisa, dar risada, ficar surpreso...Mas ignorar era demais! Indignada, subiu na vassoura e começou a voar também. Parou na frente dele e ele disse:


-Bem, para começar você vai voar em círculos. Isso é para testar sua coordenação motora -disse ele ao ver seu olhar que dizia claramente “para que fazer isso? Que estúpido!”. Ela, porém, não começou logo. Já que já bancara a idiota, iria até o fim!


-Tem certeza de que quer fazer isso? Eu tenho idéias bem diferentes sobre o que é um bom treino...


-Pois é, mas acontece que EU estou no comando. - dessa vez ele teve que se esforçar muito para conter o sorriso. Definitivamente estava mais interessado em fazer o que Lily estava sugerindo do que em vê-la voar. Não que isso não fosse ser legal, até mesmo porque ia ser hilário. Ela não tinha o menor talento para Quadribol. Mas tinha que se manter firme, apesar de a tentação ser muito grande...


-Eu não estou reclamando, adoro homens poderosos... - disse ela se aproximando dele. Altura mais James Potter era definitivamente uma combinação nauseante. E ela esperava NUNCA MAIS ter que passar por aquilo!


-Então acho que você devia namorar o Malfoy, pois ele é monitor... - ele estava rejeitando Lily e jogando-a nos braços de Malfoy! Quando ele iria imaginar que isso podia acontecer? Essa situação só era mais provável do que vê-lo beijando o Seboso!


-Qual deles? - perguntou.


-Tanto faz, os dois são monitores. Lucius e Draco.


-Pois é, mas eu não gosto de loiros... - ela insistiu.


-O Ron é monitor e é ruivo...Os filhos de vocês iam ser uns amores! Ruivinhos... - ele se afastou, continuando na defensiva.


-Não tanto quanto o NOSSO filho... - “Nosso filho” ...ECA! Era tudo que ela podia dizer no momento. Não que Harry fosse chato, ele era um amor, mas era filho dela com Potter. Nojento.


-Não gosto da perspectiva... - disse ele, tentando parecer enojado.


-Eu acho ótima...Acho até que a gente podia começar a acelerar o processo e se beijar agora... - “Por favor, diga não, por favor, diga não... Eu não quero beijar Potter!”, pensou ela.


-Acho que a gente tem coisa mais importante pra fazer... - “ ‘Mais importante?’ O que pode ser mais importante do que beijar Lily Evans? O que Sirius diria se estivesse aqui? Provavelmente que eu afrouxei... Eu disse que não queria beijar Lily! É tudo o que eu quero! Droga!”, pensou ele. - Pode começar a voar.


Lily achou que já tinha dado em cima dele o suficiente e que se fizesse mais do que aquilo naquele momento provavelmente teria um ataque. E a qualquer hora ele podia dizer sim e...melhor nem imaginar! Começou então a voar. Era muito mais difícil do que ela pensava e ia virando a vassoura de modo desajeitado, com medo de olhar para baixo. James apenas observava, dando algumas voltas em torno do campo algumas vezes. Para ele parecia tão natural! Como? Era impossível manobrar aquilo! Fez aquilo por alguns minutos, que para ela pareceram horas, quando ele disse:


-Podemos mudar de exercício?


-Ah - ela pensou que fosse desmontar da vassoura - Claro! Ainda bem que você quer mudar de exercício!


Ele riu.


-Eu estava pensando...Você estava voando meio... - ele pareceu desconcertado.


-Mal.


-Isso! - ele riu de novo. Sabia que não era adequado rir, mas até Lily ria com ele de vez em quando. - Então, acho que a gente tem que treinar mais vôo. Antes de praticar com os balaços!


-Balaços? - ela perguntou boquiaberta - Mais vôo?


-O que você esperava? Natação? - perguntou ele como se aquilo fosse muito simples e claro - Estamos praticando Quadribol.


-Eu sei... - suspirou ela. - Já que eu tenho que me conformar, o que eu faço então?


-Voe passando por esses obstáculos. - ele agitou a varinha e vários aros apareceram no ar. Também apareceram algumas coisas que lembravam um cone trouxa - Você tem que passar pelos aros e passar por entre esses cones. Sim, eu sei como eles se chamam -respondeu ele ao ver sua cara de dúvida - Eu fiz aula de Estudo dos Trouxas, sei muita coisa! - ele só não disse que fazia essa aula só para saber como era o mundo em que ela vivia. Assim eles podiam ter assunto caso saíssem...


-Certo. - ela suspirou novamente e começou. Se ela achava que o último exercício era difícil, com certeza mudou de opinião. Aquilo era ridículo perto do que ela tinha que fazer agora! Estava com tanta dificuldade que quase caiu da vassoura umas três vezes, no mínimo. James estava rindo muito. Então, quando ela ficou pendurada no cabo da vassoura, ele teve um pouco de compaixão e resolveu ajudá-la.


-Não é assim que se faz - disse ele parando um pouco de rir e balançando a cabeça. Ela olhou e murmurou um “Jura?”, mas ele não ouviu. Aproximou-se dela com a Firebolt de Harry e disse - Suba aqui.


-E a vassoura do Ron? - perguntou ela surpresa e sem saber o que falar.


-Você a segura e a gente a leva até lá embaixo... - ele sorriu. Ela assentiu e subiu na vassoura com dificuldade. Quase caiu, mas ele a segurou. Então ele começou a voar em direção ao chão. Ela teve que segurar em sua cintura para não cair e fechou os olhos, apavorada. Ele sorriu bastante, pois ela não podia vê-lo. Era uma sensação ótima ter os braços de Lily em volta de sua cintura. Eles pousaram e deixaram a vassoura de Ron no chão. Tornaram a subir e ela o segurou com mais força. De fato era bom voar...Mas ela nunca admitiria para ele...Então ele continuou -Você precisa dominar a vassoura, segurá-la com força e tentar manter o equilíbrio. Deixa eu te mostrar como se faz. Depois a gente troca de lugar e eu te ajudo. Aí você tenta sozinha! Certo?


-Certo... - ela não estava muito certa disso. Mal conseguia abrir os olhos! A sensação era agradável sim, mas ela ainda tinha pavor de altura! Então eles voaram por alguns instantes. Dessa vez o tempo passou muito rápido e ela conseguiu até olhar para baixo. Depois de um tempo assim, eles conseguiram trocar de lugar, após uma manobra arriscada de James e alguns gritos de Lily. Então ela ficou no comando. Dessa vez ele segurou em sua cintura, e ela começou a voar. Suas mãos ainda tremiam, então ele as segurou. Assim, foi guiando seus movimentos.


-Faça assim, Lily, segure com mais força... - ele dizia com calma. Sabia que não devia estar agindo assim, pois ia contra as regras de ignorá-la, mas não podia evitar! E desse modo a aula passou muito rápido. Ela começou a guiar a vassoura e fez algum progresso. Pelo menos estava mais confiante.


Passados alguns minutos, ele pegou a outra vassoura e deixou-a voar por conta própria. Ela se saiu bem, cometendo apenas alguns deslizes. Conseguiu dessa forma voar em círculos e atravessar obstáculos simples. Aquela aula estava sendo muito produtiva e tanto Lily quanto James estavam se divertindo. Às vezes ela lembrava de passar-lhe alguma cantada e ele às vezes se lembrava de ser frio com ela, mas na maior parte das vezes eles não agiram de nenhum dos dois jeitos: divertiram-se juntos. Foi então que James perguntou se podia acrescentar alguns balaços. Lily ficou receosa, mas disse que sim, pois ele prometeu controlá-los na medida do possível. E então ele os liberou. Ela começou bem, desviou corretamente em quase todas as vezes. Nas que não conseguia, James a salvava e assim ela não se machucava. De fato ele era um ótimo professor, era paciente e prestativo. Ela como aluna não era tão boa: tinha medo e de vez em quando tinha um de seus ataques histéricos. Ainda assim conseguiu controlá-los na maioria das vezes. Mas então algo aconteceu: Lily estava voando, quando desviou de uma forma desajeitada de um balaço. James correu para impedi-lo de bater nela e, quando nenhum dos dois estava de olho, o outro bateu em suas costas, fazendo-a cair no chão.


-Lily! - gritou James. Tentou voar para o solo, em sua direção, mas não deu tempo. Ela caiu desacordada. Ele pousou e começou a sacudi-la levemente. - Lily? Lily? Responda...Você está acordada?


Mas ela não respondeu. Ele não sabia o que fazer...Estava desesperado. Ele sabia que a Lily do passado não ia morrer, pois a prova disso era Harry. Mas a Lily no futuro...Não entendia direito dessas coisas de viagem no tempo e estava muito preocupado. Ela continuava sem responder e ele sentiu algumas lágrimas vindo em seus olhos. Os balaços continuavam voando, mas no momento ele não se importava.


-Lily? Por favor, acorde. - ele se sentou no chão e colocou a cabeça dela em seu colo - Eu preciso te levar para a enfermaria...Eu não vou deixar que nada aconteça com você...Eu disse que não me importava mais, que gostava da Julia, mas era mentira...Lily, eu amo você...Só você...


-James! - ele virou-se e viu Julia Adams, com os olhos cheios de lágrimas.


-Julia? - ela virou-se e não parou ao ouvi-lo chamar seu nome.


Hermione surgiu por trás dela e correu na direção de Lily. Disse:


-Eu acho que não há muito que você possa fazer. Ela ouviu tudo...Bem, tente ir atrás dela, eu vou levar Lily para a enfermaria. Nos vemos lá. - Ele pareceu indeciso por um minuto. Não podia deixá-la lá! Mas Hermione disse que ficaria tudo bem. Assim, ele assentiu e correu na direção da menina que se afastava correndo. Hermione se ajoelhou e se aproximou da amiga que estava caída no chão.


Assim que ele sumiu de vista, Lily se levantou, se sentou ao lado da amiga e sorriu:


-Bom trabalho, Hermione.




N/A: É isso!! Acabei mais um capítulo! Pode não ter ficado totalmente claro o que aconteceu no final, mas eu vou explicar melhor no capítulo que vem! Bjos!

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