:: capitulo dois::



Mais tarde, quando esperavam pela sobremesa, Gina pediu licença aos amigos para ir ao banheiro.

Estava passando pelo salão reservado quando a porta se abriu e um grupo de quatro homens surgiu no corredor. Dois deles eram aurores no ministério, o terceiro era um desconhecido, e o quarto...

O choque fez seu coração bater mais depressa. Parada e boquiaberta, ficou olhando para o quarto homem do grupo com um misto de terror e incredulidade.

Era ele! O homem de seus sonhos! O amante imaginário! Mas como poderia ser ele, se a criatura era apenas produto de sua imaginação? Não era possível! Devia estar imaginando...Alucinando...Havia bebido champanhe demais.

Fechou os olhos e contou ate dez antes de abri-los. O homem continuava no mesmo lugar, olhando pra ela. Era como se o sangue houvesse sido drenado de suas veias, como se fosse apenas um corpo vazio. O pânico a invadiu. Tentou mover-se e não conseguiu. Tentou falar, mas nenhum som brotou de sua garganta bloqueada por um nó. O medo era mais forte que todos os outros sentimentos. Queria mover-se. Queria falar. Mas não conseguia. E com certeza devastadora, soube que ia desmaiar.



Gina abriu os olhos e constatou que estava nos aposentos pessoais de Rosmerta. Rony e Mione a estudavam com ansiedade e apreensão.

- querida o que aconteceu? - Mione perguntou preocupada segurando sua mão. Os dedos buscaram a veia em seu pulso e a profissional tomou o lugar da amiga.

Determinada, Gina sentou-se.

- estou bem. Foi só um desmaio- sussurrou, chocada demais para revelar o verdadeiro motivo do desmaio- nunca tolerei bebidas alcoólicas.

De qualquer maneira, Rony e Mione insistiram para que ela dormisse em seu antigo quarto na casa do casal. Tensa a medica e amiga sugeriu que ela devia realizar alguns exames de rotina.

- não há nada de errado comigo- Gina insistiu.- foi apenas o choque...

- choque? Que tipo de choque?

- eu... pensei ter visto alguém. E ...bem, deve ter sido um engano, imaginei alguém. Sei que foi isso, por que é impossível...

- quem era? Quem vc pensou ter visto, Gina?

- ninguém. Como disse, foi só um engano.- mas ao estender a mão para pegar a xícara de cha que Rony havia preparado, começou a tremer tanto que teve de deixa-la onde estava. Cobrindo o rosto com as mãos, admitiu:- oh, Mione, eu o vi... o homem dos meus sonhos. Ele estava... eu sei que é impossível, que ele não existe mas...

- esta ficando muito agitada. Vou lhe dar algo para relaxar e dormir, e amanha conversaremos com mais calma.

Apoiada nos travesseiros, Gina ofereceu um sorriso pálido. Sabia que a amiga estava certa, como sempre.

Vários minutos mais tarde, Mione voltou ao quarto com um copo de água e dois comprimidos. Com uma ternura quase maternal, ela ajudou a tomar o remédio e ajeitou as cobertas sobre seu corpo.

- lamento ter arruinado sua noite.

A frase tremula foi a ultima que Gina pronunciou antes de começar a sentir os efeitos do medicamento.

Mais calma, estranhou a própria reação intensa e infantil. Por causa de uma semelhança imaginaria entre um desconhecido e o homem com quem sonhava constantemente, seu amante imaginário, perdera os sentidos no meio do restaurante lotado. Pensando bem, o homem criado por sua imaginação jamais teria olhado como aquele desconhecido, com uma hostilidade fria e agressiva nos olhos azuis e um desprezo cuja a intensidade rivalizava com a da raiva estampada em seu rosto.

Sonolenta, fechou os olhos e ouviu o som da porta se fechando. Mione ainda descia a escada quando ela adormeceu.

- suspeito que a emoção da noite e as lembranças provocadas causaram o episodio- a medica comentou com o marido quando o encontrou na sala.

- não sei...eu reconheci ele

- eu tb, é uma possibilidade. Afinal Gina não recuperou totalmente a memória por completo. Ela se lembra de ter chegado a aqui, mas não sabe quando isso aconteceu. É difícil imaginar alguém tão intimo a ponto de ser responsável pelos sonhos que ela relata não a tenha procurado depois do acidente. Os jornais anunciaram o fato.

- tem razão, é pouco provável- Rony concordou- mas não entendo por que o Malfoy tenha voltado...



Gina dormia. Os lábios estavam distendidos num sorriso e o corpo era tomado por uma mistura de nervosismo e excitação.

- deus, você é linda... vai me deixar vê-la e toca-la? É tudo que eu quero...

Mãos quentes e experientes começaram a despi-la, provocando uma ansiedade que logo deu lugar ao prazer. O corpo correspondia aos apelos verbais enquanto ia sendo desnudado e tocado, acariciado, e desepertado. A sensação era nova e agradável.

Sabia que aquela era sua primeira experiência com um homem, sua primeira vez, e ele havia garantido que a escolha, a decisão final seria dela. Se quisesse, só teria que exigir que parasse, e nada aconteceria. Mas não queria que ele parasse. Queria...

Os dedos alimentavam o desejo, despertando uma paixão que era de alguma forma conhecida, um sentimento do qual sempre soubera ser capaz, mas que ate então estivera trancado dentro dela, escondido em algum recanto para o qual só ele tinha a chave.
Amava-o tanto... E o desejava com ardor. O que considerava inviável com qualquer outro era perfeito com ele. O corpo ecoava a força do que estava sentindo...o ardor da paixao... o amor. Só precisava fitá-lo para sentir-se derreter.

A maneira como ele pronunciava o seu nome era mais poética do que todos os sonetos. O jeito como a olhava era mais lindo do que todas as canções. E os sentimentos que despertava eram intensos e assustadores. Ele a excitava, confundia, provocando a vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, preenchendo-a com tanta felicidade que chegava a sentir medo. Com ele senti-a quase imortal, mas, contrariamente, também experimentava a própria fragilidade em sua versão mais extremada, como se a dependência daquele amor pudesse destruí-la, como se a simples idéia de perde-lo pudesse leva-la à ruína.

- alguém já disse que sua boca é muito sexy?- ele acompanhou o contorno com a ponta de um dedo, sorrindo ao ver que Gina entreabria os lábios para captura-lo e suga-lo.

No sonho ela gemia num prazer sem censura, o corpo movendo-se em busca do contato com o amante.

O sol da tarde penetrava pelas janelas amplas. Se abrisse os olhos, sabia que veria lá embaixo o tom púrpura das montanhas distantes, e se ficasse em pé veria a água cristalina do rio correndo manso e poderoso. Mesmo distante, podia ouvir o som constante, quase como se sentisse a força da correnteza, da mesma forma que sentia o pulsar másculo no interior do próprio corpo. Podia sentir o desejo nas mão que a tocavam.

- se quer que eu pare, é melhor dizer agora- ele sussurrou com uma voz rouca- depois será tarde demais.

Mas não diria nada. Amava-o o bastante para enfrentar a experiência assustadora tão diferente dos beijos puros que trocara com os namorados de infância.

- sou muito,muito mais velho que você- ele repetia com insistência.

Mas, em vez de afasta-la, a confissão persistente só intensificava o interesse e o desejo que sentia por ele, como se o imbuísse de um caráter místico, mágico, um conhecimento e uma sabedoria que despertavam seu corpo anseios incontroláveis.

E agora estava próxima do momento da revelação, o momento em que...

Gina emitiu um grito agudo e acordou assustada, o corpo banhado em suor e a mente confusa. Sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos. O sonho havia sido tão nítido, tão real... e o amante imaginario aproximava-se cada vez mais de um ser vivo, de uma entidade que podia adquirir vida fora dos limites de sua mente.

Tremula, fechou os olhos e lembrou o momento em que havia beijado a pequena cicatriz na tempora do amante, o mesmo sinal que vira no desconhecido que a levara a desmaiar. Quantas vezes sonhara com aquela cicatriz sem se dar conta?

Não sabia. Só sabia que uma certa tensão o dominara no momento em que a beijara. A reação era tão familiar quanto o próprio refelxo. Mas como era possível? O que estava acontecendo? Estaria desenvolvendo algum tipo de sexto sentido, alguma percepção diferenciada, como a capacidade de prever o futuro? Estariam eles destinados a um encontro? Talvez os sonhos fossem o caminho encontrado pelo destino para preveni-la e prepara-la para o que estava por vir. A idéia alimentou o medo que a fazia tremer.
Estivera muito perto da morte. Embora nunca houvesse comentado com ninguém, havia experimentado a sensação descrita por ourtas pessoas na mesma situação, indivíduos cujas vidas também estiveram em risco. Havia sido como se estivesse correndo para um local maravilhoso e acolhedor, como se fosse empurrada através da escuridão na direção da luz. Depois sentira a força súbita e irresistível que a empurrara no sentido contrario. Ouvira a voz impessoal anunciando que ainda não era seu momento de partir.

Teria essa experiência desenvolvido nela a habilidade de presentir os eventos importantes que ainda ocorreriam em sua vida?

Teria o anseio secreto de encontrar alguém especial, alguém a quem pudesse amar com a segurança gerada pela certeza da retribuição, afetando seu equilíbrio a ponto de estar vivendo em sonhos o que ainda estava por acontecer na realidade? Seria o amante imaginário uma figura real que encontraria no futuro?

Impossível. Absurdo. Talvez... mas quantos mistérios desafiavam a razão e a lógica?
O medo que sentira no inicio da noite, o choque, o pânico, tudo desaparecia em vista da excitação que beirava a euforia. O amante imaginário não era apenas um sonho. Era real. Era....entusiasmada, Gina fechou os olhos e tentou sentir novamente o calor daquelas mãos. Só depois de muito tempo conseguiu voltar a dormir, e quando finalmente fechou os olhos, estava convencida de que o encontro coma personificação do homem de seus sonhos havia sido um ato do destino, um evento para o qual a imaginação tentara prepara-la.



- Gina, como se sente?

Sonolenta, ela abriu os olhos e viu Mione entrando no quarto com uma xícara de cha de café.

- não sei- admitiu- aqueles comprimidos me nocautearam.- devagar, sentou-se na cama e encarou a amiga com determinação.- Mione, você...acredita em destino?

- não sei. O que quer dizer com destino?

- o homem que vi ontem no restaurante ontem à noite. A principio pensei ter imaginado tudo aquilo. Tive certeza de que não podia ter imaginado tudo aquilo. Tive certeza de que não podia ter visto o homem com quem sonho constantemente. Mas depois sonhei com ele novamente e então soube...

- o que? Pode falar comigo.

- acho que o nosso encontro foi planejado pelo destino e...- parou e balançou a cabeça, identificando a incredulidade no rosto da amiga. - sei que tudo isso parece absurdo, mas que outra explicação pode haver? Por que sonho com ele todas as noites? De onde vem a sensação de já conhecer esse homem?

Mione sentou-se na cama e deixou a xícara sobre o criado-mudo. Gina era uma jovem adorável, alguém a quem amava como uma filha que nunca tivera, mas também era uma mulher vulnerável. A gravidade do acidente e o trauma gerado por ele haviam roubado a energia que deveria ter sido usada em seu processo de amadurecimento, a energia que fira desviada para a sua recuperação física.

Não que Gina fosse pouco inteligente. De maneira nenhuma. Conseguira conquistar o diploma e tinha um interesse pelo mundo e pelas pessoas que, em alguns sentidos, a tornava mais madura que outros jovens de sua idade. Mas ela não havia amadurecido como mulher, não tivera tempo e oportunidade de viver experiências sexuais, cometer enganos, erros de
julgamento, enfim, mergulhar em todas aquelas loucuras tão próprias da juventude em sua jornada através dos anos turbulentos entre o final da adolescência e a metade da terceira década de vida. A gora ela dava sinais de preferir um amante imaginário a um homem de carne e osso, de acreditar mais no destino do que na realidade.

- acha que estou sendo tola, não é?- Gina perguntou constrangida.

- não. Mas talvez....ja pensou que esse homem pode parecer familiar por ser realmente um conhecido?

- refere-se ao homem dos meus sonhos?

- ao homem com quem sonha- Mione corrigiu- talvez tenha essa sensação de familiaridade por conhece-lo de verdade.

- o que? Isso é impossível!

- minha querida, ainda existem alguns espaços em branco na sua memória. As semanas que antecederam o acidente, o episodio propriamente ditos e as semanas seguintes, quando estava em coma...nao se lembra desses períodos.

- sim, eu sei. Mas não posso te-lo conhecido... não somo sinto...como acontece... se fosse verdade...- parou e balançou a cabeça- não, Mione. O que esta sugerindo é simplesmente inviável. Eu saberia se ele... se nos...nao- repetiu.

- confesso que a idéia parece improvável, ms senti que devia menciona-la.

- eu entendo. Mas se esse homem me conhecesse, não acha que ele teria aparecido depois daquele anuncio que pos nos jornais? Não, minha amiga. Não conheço o homem que invade meus sonhos todas as noites- e sorriu- lamento o susto que dei em todos com aquele desmaio ontem a noite- acrescentou com o tom mais prosaico- deve ter sido o efeito do encontro inesperado depois de duas taças de champanhe.

- bem, foi uma noite muito emocionante- Mione comentou sorrindo.

- você tem sido tão boa pra mim!

- pode estar certa de que tem me recompensado por tudo o que fiz.e vai me dar sobrinhos!- provocou, amenizando a tensão antes de exclamar- céus! Prometi a Rony que o ajudaria com as malas.vamos viajar para aquela conferencia amanha e...ah, a quem estou tentando enganar? Ele é muito melhor nisso que eu.

Gina suspirou.

- quatro dias no Rio de Janeiro... que maravilha!

- nem tanto. A conferencia ocupara três dias inteiros, e quando conseguir me recuperar do cansaço provocado pelas explicações de Rony e pela diferença entre os horários...

- pare de reclamar! Você sabe que vai adorar minuto da viagem. Quando fomos a Roma no ano passado, fui eu que tive que voltar para o hotel e descansar!

- é verdade. Foi uma viagem maravilhosa, não?- Mione se levantou- fique deitada e descanse. Pode estar se sentindo bem, mas seu corpo ainda esta tentando superar o choque.
- foi só um desmaio, Mione.

- mesmo assim, teve de concordar com a medica e amiga quando, horas mais tarde, ela anunciou que a levaria ao hospital para alguns exames.

- ah, Mione!- o joven curandeiro brincou depois de certificar-se de que não havia nada de errado com Gina- ela adora te proteger.

- tem razão!- Gina concordou sorrindo.

Depois corou ao perceber como ele a olhava com misto de admiração e interesse.





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