A carta e o Reencontro

A carta e o Reencontro



TUM. TUM. TUM.

Hermione abre os olhos e puxa o cordão de seu abajur, iluminando o seu quarto trouxa na casa dos pais. Olha a sua volta, procurando pelo barulho que a acordara. E ali estava uma coruja ligeiramente menor do que o normal mas que Hermione sabia que já fora muito menor do que era agora, batendo em sua janela com o bico. Ainda sonolenta e cambaleante, Hermione foi até a janela, abriu os vidros e deixou que a coruja entrasse. A corujinha ficou girando histericamente pelo quarto. Então, olhou para seu relógio digital ao lado da cama. Cinco da madrugada. “Quem diabos estaria escrevendo a uma hora dessas?”. Sentou-se na cama, onde a pequena coruja acabara de pousar,

finalmente tranqüila, com uma carta atada à sua perna.

- Longa viagem, hum, Pichitinho? – murmurou Hermione. Ela desamarrou o pergaminho, desdobrou-o,esfregou os olhos e leu.

Querida Hermione

Eu tomei a iniciativa de tentar reunir todo o pessoal para um reencontro, sabe. Afinal, faz mais de dois anos que não nos vemos Podemos marcar isso o mais breve possível? Estou com saudades.. Queria que você desse a sua opinião sobre a idéia e talvez se está tudo bem para você esse encontro ser amanhã e, quem sabe, sugerir um lugar onde a gente possa se reunir.Beijos.

Gina Weasley

Ps: Desculpe por mandar essa coruja imbecil, mas todas as outras que temos estão em viagem.

Ps²: Isso também foi enviado para Ronald Weasley, Harry Potter, Luna Lovegood, Parvati Patil, Lilá Brown, Simas Finningan, Dino Thomas e Neville Longbottom .

Hermione sorriu quando terminou a leitura, e então releu a carta. ‘Então’, pensou ela, ‘pelo menos eu não sou a única que ainda lembra que os amigos existem’. Lançou um olhar de desgosto aos porta-retratos em seu criado-mudo, onde, em um deles, Harry Potter encarava o teto, com uma expressão de tédio, e às vezes, passava os dedos pelos cabelos rebeldes. O porta-retrato ao lado estava virado com a foto para baixo, pois ali estava Rony, roncando tão alto que Hermione precisava virar o porta-retrato para abafar o som e conseguir dormir. Ela abriu uma gaveta em seu armário e pegou um tinteiro e uma pena. Virou a carta de Gina e escreveu no verso as seguintes palavras:

Sim, eu acho a idéia brilhante, Gina. Acho que não vai ter problema eu faltar no trabalho amanhã. Eu sugiro um lugar diferente, por que não trouxa? Tem um parque de diversões que abriu a alguns quilômetros daqui de casa, e as pessoas estão dizendo ser muito bom. Beijos.

Mione

Amarrou a carta de volta à corujinha, e a soltou pela janela. Ficou observando aquela bola de penas sumir no céu estrelado, porém escuro, enquanto uma fria brisa batia em seu rosto, fazendo seus cabelos voarem. Ela fechou a janela e foi até sua cama. Deitou-se novamente, cobriu-se e lançou um último olhar ao criado-mudo, onde Harry agora olhava para ela com um sorriso.

- Não olhe nem sorria para mim, seu cretino – ela disse, e deu um tapa no porta-retrato, virando-o, como estava o de Rony. Apagou seu abajur e voltou a dormir.

TOC. TOC. TOC.

Hermione abriu os olhos. Os raios de sol atingiram diretamente o seu rosto.

- Hermione, acorde – dizia sua mãe, do outro lado da porta. – Têm alguns amigos seus aqui.

Hermione pulou da cama. “O que? Amigos meus aqui?”. Ela se aprontou num instante, e desceu correndo as escadas. Chegou à sala, e parou no batente da porta, boquiaberta. Largados em seus dois sofás estavam Rony e Harry, ambos usando calças jeans trouxas e camisas, mas as de Harry caíam bem melhor do que as de Rony, que estavam grandes, amareladas e amassadas. A um canto, encostados à parede, estavam Gina, Neville e Luna. Gina usava uma calça jeans justa e uma blusa tomara-que-caia vermelha. Neville vestia um bermudão e uma camiseta, ambos grandes demais para ele. Luna estava usando um vestido longo e largo, cor de palha com bolinhas vermelhas, que parecia uma mistura de roupas hippies com o que as trouxas chamavam de saída de praia. Parvati, Lilá, Simas e Dino estavam sentados nos braços dos sofás. As duas amigas estavam de saias jeans extremamente estranhas que chegavam na metade da canela e blusinhas normais de manga curta. Simas e Dino os dois com o tipo de roupas que homens trouxas usavam para ir a festas de gala. Calça social, camisa e um sobretudo. ‘Combinação perfeita’, pensou Hermione, desanimada.

Ela não podia negar que fora um momento constrangedor quando ela entrou na sala, com sua saia plissada, botinhas de cano curto e blusa justa de manga longa, disse “Oi” e todos a olharam por alguns segundos, que pareceram horas. Mas minutos depois, já tinham cumprimentado e já estavam animados, conversando e lembrando dos velhos tempos da escola. Porém, Hermione tentava evitar olhar para Harry, apesar de que podia sentir os olhos verdes do ‘amigo’ a encarando infinitamente.

- Então, Mione... Nós concordamos em passar o dia no tal parque que você mencionou na carta.

Hermione sorriu e olhou para o relógio de parede da sala.

- Está abrindo agora. Que tal irmos?

- É perto daqui? – disse Luna, enquanto Hermione destrancava a porta para saírem – A que distância nós devemos aparatar?

Hermione riu.

- Devem ser uns oito quarteirões. Vamos andando, mesmo!

- Faz muito tempo que eu não ando tanto assim... – comentou Harry, rindo.

Hermione parou de girar a chave na porta, virou-se e o encarou pela primeira vez em mais de dois anos. ‘Nossa’, pensou ela. Ele estava bem atrás dela, e quando ela se virou, estavam apenas a alguns centímetros de distância. Todos os outros ficaram em silêncio. Ele a encarou de volta, e sorriu. Com um grande esforço, ela despregou o olhar daqueles olhos verdes e virou a cara com toda a força, fazendo as pontas de seu cabelo baterem no rosto dele. Dino e Simas abafaram risadas, mas Rony não se preocupou em abafar a sua.

- Então, vamos de ônibus, já que o Sr. Potter não pode fazer muito esforço – ela acrescentou, sarcástica, enquanto abria a porta para os amigos saírem.

- Eu ouvi dizer que os ônibus trouxas têm só um andar. – disse Luna, enquanto todos eles cruzavam o jardim rumo ao portão – Mas meu pai não acredita. Ele diz que os trouxas tentaram copiar o nosso Nôitibus, só que ficou uma porcaria. Não dá nem pra se mexer de tão apertado.

Os outros riram.

- Ridículo. Eles nem vêem o Nôitibus para copiarem alguma coisa – disse Harry.

Hermione abriu o portão, eles saíram e cruzaram a rua. A garota verificou o relógio.

- Vai passar um ônibus para o parque dentro de 30 segundos. – ela disse, séria.

Todos riram.

- É verdade! – exclamou Hermione, ofendida.

E de repente, um barulho de um ônibus em movimento encheu o ar. Eles esticaram o pescoço e viram um ônibus subindo a rua e parando diante deles, a porta abrindo-se com um ruído.

- Nossa – disse Harry – A Sra.Potter não se engana, certo?

Ninguém mais ouviu o comentário, pois todos já estavam subindo para o ônibus. Hermione e Harry ficaram por último. Os dois estavam olhando um para o outro. Harry tinha uma expressão de desafio, e ali teriam ficado se o motorista do ônibus não tivesse berrado “Vocês vão subir ou não?”. Hermione voltou sua atenção para Harry e sibilou, com uma expressão de profundo ódio:

- Eu não sou Sra.Potter há muito tempo. Qual o problema com você, Harry?

Harry parou de sorrir

- Eu é que pergunto, Hermione. Eu decidi te perdoar por me ignorar esse tempo todo e você age desse jeito? - e subiu para o ônibus.

‘Cínico’, ela pensou, enquanto lutava contra uma lágrima decidida a cair. ‘Não ignorei ninguém. Você que me esqueceu.’

Entrou no ônibus e procurou um assento vazio. Tinha apenas um, o último lá no fundo. Ao lado dele, Harry Potter.

‘Mas que droga!’. Ela atravessou o ônibus, foi até o assento vazio e sentou-se. Cruzou as pernas, os braços, e virou o rosto na direção oposta em que Harry estava.

O ônibus começou a andar, e aquele silêncio de Harry estava incomodando Hermione. No fundo, no fundo, ela queria que ele se desculpasse. Que admitisse tudo que fez, dissesse que se arrependa e que ainda a amava. Até hoje ela pensava se teria feito a coisa certa naquele dia, em Hogwarts...

FLASHBACK

Hermione estava no Salão Comunal esperando Harry voltar do Treino de Quadribol. Toda sexta-feira era assim. Ela ficava lendo até Harry voltar do treino, ele chegava, tomava banho e os dois saíam para passear pelo castelo. Mas aquela sexta-feira seria diferente. O buraco do retrato girou, e Harry entrou. Hermione continuou lendo o livro, como se ele não tivesse ali. O garoto jogou a vassoura no chão, chegou por trás da poltrona de Hermione, a abraçou e lhe beijou o pescoço.

Então, ela levantou-se da poltrona e se afastou.

- Como você consegue, Harry?

- Consigo o que, Mione? – perguntou ele, sorrindo.

- Ser tão... Tão... Fingido!

Ele a encarou, confuso.

- Como assim, Mione? - ele perguntou, sacudindo a cabeça e sorrindo, meio incerto.

- Eu to falando que você não precisa mais ser falso. Eu já sei de tudo.

- Hermione, eu ainda não sei do que você tá falando? Como assim, falso? – ele disse, começando a se preocupar – O que inventaram dessa vez?

Hermione não respondeu, mas deu as costas ao garoto e começou a andar em direção aos dormitórios, mas Harry correu atrás dela e a segurou pelo braço.

- Hermione! O que está havendo?

Ele respirou profundamente.

- Não seja ridículo. Será que não passou pela sua cabeça que uma hora eu iria descobrir? Eu não quero mais saber de você, Harry. Eu não preciso de pessoas como você. Acabou tudo, certo?

Ela andou até a escadaria do dormitório feminino, deixando um Harry completamente arrasado para trás.

- MAS POR QUÊ, HERMIONE? – ele berrou. Alguns alunos do terceiro ano, que estavam ali perto, viraram para ele e gritaram.

- Cala a boca, ou. Estamos tentando estudar.

- Ah, cala a boca vocês! – gritou Harry – Não tão vendo que tão atrapalhando o clímax? Onde eu estava? POR QUÊ, HERMIONE?

Ela respondeu sem se virar, sem parar de andar.

- Porque eu mereço coisa melhor que você. – e sumiu.

Harry ficou ali parado, encarando a porta do dormitório feminino, enquanto os alunos do terceiro ano gargalhavam.

FIM DO FLASHBACK

Custava ele admitir tudo que fez, dizer que ainda gostava dela? Tudo voltaria a ser como antes. Não, mas ele preferia bater o pé e dizer que ele não tinha feito nada. Já Harry, pensava que Hermione poderia ao menos lhe ter escrito uma carta, pelo menos para explicar o que houve. Ela levantou acusações contra ele, terminou tudo e não deu uma única razão. Ela não fora descente. Devia é se desculpar por tê-lo tratado daquele jeito.

Uns assentos à frente, Luna olhava para os assentos do ônibus e dizia em voz alta para Gina e o resto do ônibus.

- Onde estão as camas? Que coisa mais esquisita, não é? – disse ela, para Gina.

- Ai, meu Deus. Esquisita é você – murmurou Gina, corada.

- Eu não sou esquisita! Esse Nôitibus de cadeira e de um andar só é que é. – retrucou Luna, ofendida.

- Luna, cala a boca – disse Rony, do assento da frente. – Você está parecendo uma idiota.

Gina escondeu a cara nas mãos quando o ônibus inteiro lançava olhares curiosos para eles.

- Cala a boca você. Idiota é só quem faz idiotice, Ronald – disse ela.

- E você acha que está fazendo o que? Dançando a hula?

Luna mostrou a língua para Rony e cruzou os braços.

Parvati, do lado de Luna, lançou um olhar estranho para o vestido de Luna e acrescentou:

- A roupa é adequada.

- Xiu, você. Você tá parecendo uma esdatúrdia com essa roupa!

Parvati a ignorou, afinal, nem sabia o que era esdatúrdia mesmo.

- O que é isso? – perguntou Gina.

- Nossa, você nunca ouviu falar? – Luna arregalou os olhos para a amiga - Meu pai me disse uma vez que...

Lá no fundo, Harry disse algo pela primeira vez desde que Hermione sentara ali.

- A Luna não mudou nada.

- E você mudou? – perguntou ela, sem olhá-lo.

Harry a encarou.

- Que que eu tenho a ver com isso?

Hermione respirou profundamente, e o olhou.

- Harry, depois de tudo o que você fez comigo no último ano de Hogwarts, você provavelmente deve ter mudado bastante, porque agora você está fingindo que nada aconteceu, está dando em cima de mim como se nunca tivesse havido nada entre nós.

Harry gargalhou..

- Então, eu estou dando em cima de você? – ele disse, rindo.

- É o que parece – disse ela, cruzando os braços e fazendo biquinho. Ela estava com uma expressão enraivecida, mas Harry conseguiu enxergar um sorriso bem ali no cantinho daqueles lábios.

- Sei, sei...Mas porque não podemos esquecer o que quer que seja que aconteceu aquele dia em que você pirou e me dispensou e começar de novo?

- Esquecer aquilo? Não se dá pra esquecer tão facilmente, quem você pensa que eu sou? – ela exclamou, num tom falsamente inconformado.

- Será que você tá lembrada que até hoje você não me disse o que diabos foi que eu fiz? Será que você não se importa se me dizer? Será que não acha adequado que pelo menos eu fique sabendo do que fui acusado? – disse Harry, num tom de quem conta uma piada.

- E precisa? Alguém precisa te dizer o que você fez?

- Ok, Mione. Presta atenção. Não importa mais o que quer que você diz que eu tenha feito. Já faz tempo, vamos esquecer, certo? Se você não quer me dizer o que eu fiz, então pelo menos esqueça isso. Pra tudo voltar ao normal.

Hermione bufou.

- Eu não vou esquecer!- O ônibus parou. Hermione olhou pela janela. – É aqui. – Levantou-se e foi até a porta do ônibus, os outros seguiram-na. Ela estendeu uma nota de dinheiro trouxa para o motorista, e eles desceram.

Hermione ficou ao lado de Gina e Luna, querendo se afastar de Harry. Como ele podia ser tão falso? Depois de tê-la trocado por aquela garota da Lufa-lufa, ele não assumia o que tinha feito e a pedia para esquecer? ‘Não, não... Cretinice demais’. Porém, Gina saiu de perto de Luna e Hermione e parou entre Harry e Rony.

O ônibus partiu, e eles viraram para a entrada do parque.

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