Almost Unreal



Almost Unreal

Roxette

Milagrosamente, Hermione estava sentada no Três Vassouras. Snape não conseguira convencer Dumbledore de que a garota ameaçara Malfoy de morte, embora ela própria estivesse plenamente convencida disso. Claro, ela recebera uma detenção, e passara a noite anterior inteira sob a supervisão de Madame Hooch aparando a cauda de todas as vassouras do colégio. Fora um trabalho excessivamente desgastante e lhe ferira as mãos, mas ela suspirou aliviada por não ter levado algo pior que uma detenção. Sem conseguir encarar os amigos, mesmo porque sua cara não andava muito bem, uma vez que ela andava dormindo pouco, ela se refugiara na única mesa vazia, no fundo do bar, e bebia uma cerveja amanteigada, vendo o vento açoitar as árvores do lado de fora da janela da frente. Estava um dia muito gelado, por causa do vento. Hermione estava amando aquele dia.

Babe, come in from the cold, and put that coat to rest.
Meu amor, saia do frio e tire esse casaco.

Quando a porta do bar se abriu, a garota sentiu um vento gelado passar por baixo da mesa e acometê-la de um arrepio muito involuntário. Se comprimiu contra o encosto da cadeira, odiando que as regras de etiqueta a houvessem feito tirar a capa de Hogwarts. Por entre as cabeças que olhavam em todas as direções, no bar, ela localizou quem estava entrando no local. Com os cabelos varridos pelo vento, Malfoy procurava uma mesa. Rezando para ele não olhar para perto de si, Hermione se encolheu na cadeira, mas foi inútil. O rapaz foi até ela e colocou a mão – que parecia muito mais humana sem o anel – na mesa, perguntando, com voz doce:

— Posso sentar-me?

Do jeito como ele perguntara, Hermione poderia ter dito um “chispa daqui” e tinha certeza que ele não ficaria magoado. Mas, contrariando tudo o que sua cabeça pensava no momento, ela murmurou, a cabeça baixa:

— Tira a capa e pode sentar-se.

Malfoy tirou a capa e colocou-a no encosto da cadeira, mexendo no cabelo para tentar arrumá-lo. Quando desistiu, chamou Madame Rosmerta e pediu uma cerveja amanteigada. A mulher, sorridente, foi buscar, enquanto Hermione terminava a sua garrafa. O rapaz pegou a bebida que a dona do bar lhe estendia e suspirou enquanto a abria. Tomou um primeiro gole e virou-se para a garota a sua frente.

Step inside, take a deep breath, and do what you do best.
Entre aqui, respire fundo, e faça o que você faz melhor.

— O que houve, ontem à noite, depois daquilo? – perguntou ele, baixinho, sem querer constranger a garota.

Hermione colocou a garrafa exatamente entre os dois e murmurou, tamborilando os dedos na mesa:

— Não houve nada de mais – ela sinalizou para que Rosmerta lhe trouxesse outra garrafa. – Peguei uma detenção, mas estou viva, não?

Malfoy sorriu e bebeu mais um gole da sua garrafa. Hermione olhou para ele, incrédula. Ele estava perfeitamente normal, e, no entanto, tão estranho... Podia ainda ver os resquícios daquele sorriso, das lágrimas, da dor, estampados no rosto daquele garoto. Começou a ficar com pena. Pena? Não, já não era mais pena. Era compaixão. Era como se ela gostasse dele.

— Pensei que tinha vindo aqui para tripudiar em cima de mim – murmurou Hermione, após algum tempo apenas fitando o garoto.

— Por que eu faria isso, Hermione? – perguntou ele, pousando a garrafa e olhando-a como se ela tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.

— Porque é isso o que você faz, Mal... – Parou de repente. – Peraí, você me chamou de Hermione? – Ela levou a mão à testa do garoto, preocupada. – Febre você não tem... Tem certeza de que está legal?

Draco suspirou bem fundo e murmurou:

— Eu tenho certeza que eu não estou bem.

Yea, kick off them shoes, and leave those city streets.
Yea, tire os sapatos e deixe as ruas da cidade.

Ele virou o conteúdo restante da garrafa na boca de uma vez só, como se tivesse falado alguma coisa de errado, e, deixando o dinheiro sobre a mesa, pegou a capa e saiu. Hermione tentou impedi-lo, mas ele não a ouviu, então ela pagou as bebidas e vestiu a capa, correndo para fora do bar e levando uma chicotada do vento gelado em seu rosto quente. Estremeceu de frio, mas virou o rosto para todos os lados, atrás de Malfoy. Encontrou-o indo na direção do final do povoado e, sem hesitar, resolveu ir atrás dele. O vento açoitava seus cabelos com força e seu rosto estava tão frio que chegava a estar amortecido.

Ela seguiu o garoto por um caminho que, percebeu ela depois, já havia feito, rumo à caverna em que encontrara Sirius, cerca de três anos atrás. Ali Draco parou, entrando no ambiente escuro em seguida. Hermione hesitou, mas resolveu entrar, por dois motivos: queria saber o que estava acontecendo com Malfoy e estava congelando do lado de fora. Além de tudo, estava garoando de novo. Logo, logo, choveria, e Hermione não queria pegar chuva de jeito nenhum. Entrou.

Draco estava sentado a um canto, a cabeça encostada na parede, distraído. Hermione tocou-lhe o braço e murmurou o nome do garoto rente ao seu ouvido. Ele pareceu despertar, fitou-a e sorriu. Estava aparvalhado que ela o tivesse seguido, como se preocupando-se com ele. E, sem nenhuma noção do que fazia, a garota o abraçou, compadecida de tudo o que ele estava passando, fosse o que fosse. Ele a apertou contra seu corpo, entristecido, e afagou-lhe os cabelos, murmurando:

— Eu sabia que podia contar com você, sabia disso. Eu não sabia de onde veio toda aquela força com a qual eu enfrentei meu pai, mas agora acho que ela nasceu da perspectiva de viver uma vida diferente, com pessoas diferentes.

I do believe love came our way and fate did arrange for us to meet.
Eu acredito que o amor apareceu no nosso caminho e o destino fez com que nos encontrássemos.

Hermione sorriu, entendendo, enfim, por que ele havia mudado tanto: brigara com o pai. Se libertara das correntes que o aprisionavam. Se libertara da prisão em que vivera durante todo o tempo. Ela acariciou os cabelos do garoto, percebendo várias coisas. E uma delas era que, mesmo sem querer, ela estava gostando dele. Estava gostando realmente muito dele. Praticamente inconscientemente, havia se apaixonado por ele.

Draco afrouxou o abraço, fitando os olhos da garota. Ela era linda. E estava se preocupando com ele.

I love when you do that hocus pocus to me.
Adoro quando você faz aquela magia comigo.
The way that you touch, you’ve got the power to heal.
Seu modo de tocar tem o poder de curar.
You give me that look, it’s almost unreal, it’s almost unreal.
Você me dá aquele olhar, é quase irreal, quase irreal.

Repentinamente, num ímpeto, Hermione perguntou:

— O que está havendo com você, Draco?

— Nada de mais – respondeu ele. – Estou sendo feliz.

— Feliz? – repetiu ela, parecendo não entender. – Por quê?

— Porque eu sei que eu não sou quem eu pensava ser.

A garota começou a pensar numa resposta quando percebeu que não adiantaria falar. Os rostos estavam muito próximos, agora. Ela podia sentir o hálito quente de Draco quase dentro de sua boca. A mão dele repousava sobre a face direita de Hermione, numa carícia leve, sutil, imaginada.

Um trovão pôde ser ouvido do lado de fora da caverna. Ele baixou a mão, fazendo com que Hermione corasse e olhasse para fora. Estava chovendo, mas ela não podia ficar ali com ele. Havia pouco tempo, ela o odiava, e vice-versa. Sentimentos não mudam tão rápido assim. Sem mais uma palavra sequer, ela se ergueu, encarando o lado de fora da caverna com apreensão. Hesitou por um momento, e olhou para o garoto, sentado naquele canto, simplesmente vulnerável. Olhando para ela com aquele olhar. Aquele sorriso. Ela balançou a cabeça e saiu, encarando a chuva de braços abertos. Era muito para tão pouco tempo. Ela não conseguia aceitar.

Correu pelo mesmo caminho pelo qual havia ido, rumo ao povoado. Estava chorando. Não sabia como, mas, entre os pingos d’água que lhe feriam a face corriam dois filetes quentes de lágrimas que mais pareciam ácido, corroendo tudo por onde passavam. Sentia a dor porejar, uma dor que divergia daquela dor de um ferimento, sendo mais profunda e quase... prazerosa? Tratou de afastar isso tudo da cabeça. Queria voltar a Hogwarts.

Estava quase chegando ao portão com os javalis alados quando uma mão a segurou pelo braço. Temendo, Hermione voltou-se para trás. Não era Draco, era Harry. E, com ele guiando-a, ela voltou ao castelo. Tremendo como nunca, ela adentrou o Salão Principal. Chorando como nunca, ela deixou Harry e correu até a Sala Comunal da Grifinória. Estava de noite.

Hey, we can’t stop the rain, let’s find a place by the fire.
Ei, não podemos parar a chuva, vamos achar um lugar perto do fogo.

Sentindo-se culpada pelo que sabia estar sentindo, Hermione subiu as escadas até o dormitório feminino, indo até o banheiro e se despindo. Entrou na banheira com o rosto ainda molhado de lágrimas, que a água quente ajudava a fazer desgrudar de sua pele. Ainda podia sentir o toque suave de Draco, e isso a deixou mais tensa ainda. Mergulhou, sentindo que não adiantaria, e ficou submersa por alguns instantes. Colocou a cabeça para fora da água e tateou até encontrar o xampu. Lavou o cabelo, tentando tirar da cabeça a imagem daquele garoto. Depois, lavou-se e abriu o tampão da banheira, vendo a água escorrer pelo ralo, suave, levando a apreensão, mas nunca a culpa. Se ergueu e se enrolou em uma toalha, sentindo a água escorrer da franja e trilhar seu rosto. Se olhou no espelho. Estava irreconhecível. Não por fora, obviamente, mas por dentro.

O clique da porta sendo aberta a despertou, subitamente. Hermione virou-se, os cabelos molhados açoitando-lhe o rosto. A pessoa parada à porta era Gina, fitando-a quase compadecida. Estivera preocupada com a garota, e Hermione sabia. Baixando a cabeça, ela saiu do banheiro, encontrando o dormitório deserto. Gina foi atrás da garota.

— O que está havendo? – perguntou a ruiva.

— Nada, Gina, estou bem, eu juro – murmurou Hermione, se vestindo e enxugando o cabelo com a toalha. – Não é nada de mais.

— Eu sei que é complicado para você cumprir uma detenção por uma coisa que você não fez, mas todos já passamos por isso, e passaremos novamente, talvez, então, você não precisa se...

— Isso não é o problema – disse Hermione, sentando-se na cama. – Eu quero ficar... me deixa sozinha um pouco, Gina, por favor.

— Só não suma novamente – pediu a garota. – Ficamos preocupados com você, isso não é do seu feitio.

— Eu sei – murmurou a outra. – Diga aos meninos que eu estou legal. Te vejo amanhã, estou cansada.

Gina concordou com a cabeça e saiu do dormitório. Hermione se jogou na cama e ficou fitando o cortinado vermelho-sangue por algum tempo. Estava tudo saindo do lugar, tão bagunçado... Mas não valia a pena esperar que tudo voltasse ao normal ou se ajeitasse, ela sabia. Suspirando, se virou na cama, se cobrindo com o lençol. Nunca voltaria ao normal, e ela sabia disso. Não é brincando com o coração que aprendemos a entender o que sentimos. Fechou os olhos e sentiu, com prazer, que o sono a estava acometendo.

***

Draco saiu da caverna desolado. Temia ter constrangido Hermione, e ele sabia que ela era a única agora que o olharia sem julgá-lo, fosse por ter deixado a família ou por estar apaixonado... Apaixonado? Sacudiu a cabeça com força para tirar essa idéia da mente. Não podia estar apaixonado... Nunca estivera, em toda a sua vida... Olhou para o céu, de onde a chuva caía, açoitando as árvores e ferindo-lhe a pele. Suspirou fundo. Uma voz estridente o tirou de seus devaneios.

— Draco! – A garota que subia a elevação que levava até a caverna era nenhuma outra que não Pansy Parkinson. – Você está todo molhado! Vamos, vamos até o Três Vassouras, lá você poderá se aquecer, e...

— Eu vou voltar para Hogwarts – sentenciou Draco, num ímpeto furioso. – Não me siga.

Pisando duro, mas completamente sentido por dentro, Draco rumou para a saída do povoado, e dali para o castelo, deixando para trás uma Pansy completamente desnorteada. Entrou na Sala Comunal da Sonserina bufando. Blás Zabini, que, por um milagre chamado Emilia Bulstrode, tinha resolvido ficar no castelo, saiu da frente para que Draco não colidisse em cheio com ele.

Draco foi até o dormitório e se jogou na cama. O cortinado verde nunca lhe parecera tão agourento e sufocante. Olhou para o teto, paredes e janela, mas não conseguiu suportar a idéia de que uma das pessoas que mais prezava na vida estava agora provavelmente trancada em um dormitório escuro, dormindo a sono solto, e deixando-o preocupado, desolado, perdido, para trás. Repreendeu-se em seguida. Ela não tinha culpa, não podia saber o quanto ele aprendera a amá-la. Suspirou, tirando a capa, o suéter, a camisa e os sapatos, se cobrindo em seguida e virando-se para o lado, numa tentativa frustrada de adormecer. Não adiantou muito, uma vez que ele não conseguia relaxar o suficiente para sequer fechar os olhos.

Sometimes I feel, strange as it seems, you’ve been in my dreams all my life.
Às vezes eu sinto, por estranho que pareça, que você esteve nos meus sonhos a vida toda.

Hermione acordou de manhã cedo com a cabeça latejando muito. Não conseguiu suportar a idéia de que, em plena segunda-feira, ela não conseguira descansar o suficiente. Agüentar Poções seria terrível, ainda mais com o sorriso de Draco incomodando-lhe a mente. Levantou-se e foi até o banheiro. Sentindo-se completamente dopada, ela abriu a torneira e colocou a cabeça embaixo d’água. Despertou, um tanto assustada, e olhou ao redor. O banheiro excessivamente branco parecia dotado de uma desolação que nem ela imaginava ser possível. Criando, lentamente, aversão àquele ambiente, a garota enxugou o rosto e arrombou a porta, tamanha a força com que a abriu. Sem ligar para as outras meninas, que começavam a despertar por causa do barulho, ela foi até o malão e procurou por uma muda limpa de uniforme. Trocou-se e desceu as escadas do dormitório, saindo pelo buraco do retrato – e deixando para trás uma Mulher Gorda excessivamente mau-humorada – e seguindo, plenas seis e meia da manhã, pelos corredores desertos do castelo de Hogwarts.

Odiando estar sozinha àquele horário, e com o estômago doendo de fome, Hermione foi até a cozinha. Desaprovava o trabalho dos elfos, obviamente, mas não podia controlar. Foi até o quadro da fruteira e, com dedos preguiçosos, fez cócegas na pêra, que se torceu e contorceu até originar a maçaneta verde, que ela puxou, entrando. Vagando por entre os pequenos seres com orelhinhas de morcego, Hermione tentou encontrar Dobby, admitindo, pouco depois, que de nada adiantaria. Sentou-se em um banquinho e esperou que os elfos a fossem servir, mas pouco depois se repreendeu. Coitados, recém-acordados e tendo que lidar com uma completa estranha dentro da cozinha! Levantou-se e estava quase saindo da cozinha quando uma mãozinha segurou sua saia. Ela olhou para baixo e viu o pequeno elfo doméstico que procurava.

— Minha senhora! – disse Dobby, com uma reverência que o dobrou em dois. – Está com fome, está?

— Para ser sincera, Dobby, estou... – confessou Hermione. – Mas não se preocupe, logo o café será servido...

— Não, senhorita, não é nenhum incômodo, não, não! – exclamou o elfo, abanando a cabeça e as orelhas. – Tem mais pessoas aqui, tem sim! Meu antigo dono, sim, ele está aqui, sim! Veio conversar com Dobby, tem conversado com Dobby desde o começo do ano, tem sim!

Hermione a princípio não se lembrou de quem Dobby falava, mas empalideceu ao ver o garoto que estava sentado, perto de um fogão, com uma xícara de chocolate quente nas mãos. Virou-se e tentou sair despercebida, mas Dobby acabou por dizer:

— Senhor, tem uma garota aqui, amiga de Harry Potter, senhor, tem! Você a conhece, não conhece?

A garota sentiu seu corpo ser atravessado por uma onda gelada quando aqueles olhos cinzentos a fitaram de cima a baixo, indo da cabeça aos pés e voltando, umas duas ou três vezes. Parecia que ele estava tão incrédulo quanto ela.

— D-Draco? – hesitou Hermione.

— Eu mesmo – afirmou ele. – O que houve?

— Não consigo dormir direito – A garota não queria dizer, por nada no mundo, que o motivo de sua insônia era ele. – Digamos que tive um... pesadelo.

— Sonhou comigo, não foi? – sibilou ele, enquanto Dobby procurava outra caneca e enchia de chocolate quente.

A garota negou com a cabeça, mas não pôde evitar um sorriso. A cor subiu rapidamente ao seu rosto, e ela sacudiu a cabeça com força, como se tentasse fazê-la se esvair. Draco, percebendo isso, ergueu a cabeça da garota e perguntou:

— E o que houve no sonho? – Ele não pôde evitar um sorriso um tanto... malicioso.

— Basicamente... – começou Hermione, parando em seguida. – Pera aí, por que você acha que eu sonhei com você? Eu nem te falei nada!

— Acabou de confessar – sentenciou ele. – De qualquer maneira, eu sonhei com você, também... Sonho com você há... três anos? Talvez um pouco mais.

I love when you do that hocus pocus to me.
Adoro quando você faz aquela magia comigo.
The way that you touch, you’ve got the power to heal.
Seu modo de tocar tem o poder de curar.
You give me that look, it’s almost unreal, it’s almost unreal.
Você me dá aquele olhar, é quase irreal, quase irreal.

Ela corou furiosamente, se erguendo e exclamando, para Dobby e os outros elfos:

— Eu já vou, volto... Eu nem sei se eu volto!

— Mas a senhorita nem comeu! – objetou o elfo.

— Você – Draco a segurou pelo braço e a fez sentar-se novamente – fica.

Hermione o olhou de um jeito que teria desarmado o mais corajoso dos adolescentes e boa parte dos membros da Ordem da Fênix. O rapaz, porém, mal percebeu. Olhava para a mão da garota, para onde a sua havia escorregado. Ela, percebendo isso, se desvencilhou, sem delicadeza alguma, dele.

— Tome – Ele lhe estendeu a caneca de chocolate. – Beba, e depois você pode pular do corujal, tá legal? Eu não vou mais te importunar se você não estiver afim.

Ela concordou com a cabeça e bebeu o chocolate. O doce lembrou-lhe vagamente do sonho que ela tivera. Não que realmente fosse algo constragedor, mas a deixara um tanto... tensa. Ainda mais porque ela sabia que podia acontecer. Pensou na chuva, naquela quinta-feira, na detenção, naquela lágrima, e, pela tricentésima vez, naquele sorriso. Aquele sorriso. Aquilo que a perturbava noite e dia, e noite novamente.

Percebendo que algo estava errado, Draco perguntou o que estava havendo. Sem perceber, ela respondeu, simplesmente:

— Digamos que se você parasse de sorrir daquele jeito que anda me importunando, eu ficaria um pouco mais tranqüila. O que você fez, treinou no espelho? Porque está realmente funcionando, se você quer me deixar louca!

Ela levou a mão à boca, mas já era tarde demais. Arregalando os olhos e hesitando várias vezes, ela pousou a caneca e, agradecendo Dobby, saiu correndo pela porta da cozinha. Não conseguia acreditar que havia falado aquilo! Uma mão a segurou quando ela estava saindo do corredor.

— Você disse que ia me deixar em paz! – bradou Hermione.

— Se você não quisesse – sibilou ele.

— E quem disse que eu quero? – perguntou ela, sarcástica.

— Todos os músculos da sua face, seus pensamentos e todo o tipo de reação que você não consegue controlar... É o suficiente?

— Eu não... eu nunca... eu... me deixa!

Ela tentou se desvencilhar do rapaz, mas ele a segurou firmemente, sem feri-la.

— Dá pra me soltar?

— Nunca – respondeu ele, simples. – Há muitas coisas que você precisa me explicar.

— Draco, pelo amor de Merlin, já deve ser umas sete e meia, eu não quero que me vejam com você, por favor...

— Tarde demais, Hermione – Ela sobressaltou-se ao ouvir seu nome proferido com aquela veemência. – Você já está muito perto de mim.

Ela sentiu todos os músculos de seu corpo se retesarem quando percebeu que o que ele dizia era a mais pura verdade. Entre os dois havia pouco menos de dois centímetros. Ela não percebeu que Draco a puxara para perto dele, e, mesmo que quisesse reagir, sentia que já não seria nem possível nem necessário. O rapaz tocava-lhe a face com tanta sutileza que ela não conseguia resistir. Ela sentiu seus olhos se fecharem enquanto os lábios dele se tornavam presentes quase colados aos seus.

— Senhor! – Hermione olhou o pequeno ser que irrompia da cozinha. Era um elfo, que ela ouvira Dobby chamando de Lundun. – O senhor esqueceu isso aqui!

O elfo foi até Draco e entregou-lhe uma caixinha de veludo, que cabia na palma da mão do garoto. Fez uma reverência e voltou para seu lugar, na cozinha. Draco suspirou e olhou firmemente a face de Hermione, que corara ao extremo e parecia completamente desnorteada.

It’s a crazy world out there.
É um mundo louco lá fora.

— Bom, nós paramos aonde? – perguntou ele, com a face mais inocente do mundo.

— Paramos onde não deveríamos ter chegado! – exclamou ela, tentando fazer com que Draco a soltasse. Não funcionou. – Por favor, Draco, me solta, por favor...

— Nem que Merlin ressuscitasse e me pedisse de joelhos – disse ele, parecendo incrédulo com a objeção. – Por favor, apenas um... Apenas um, e eu juro que acaba.

— Você sabe que se eu começar...

— Tente – pediu ele. – Apenas tente.

Sentindo seu coração acelerar de tal modo que parecia querer sair pela boca, ela mordeu o lábio. Draco tocou-lhe os lábios macios e desfez a expressão severa e derrotada que se alojara na face dela. Tocou-lhe a face de um modo gentil e doce, fazendo-a fechar os olhos e apenas senti-lo. Não era como se ela quisesse... Era algo mais. Mais forte e mais complexo, quase como se precisasse disso para viver. Ela sentia o hálito morno, tenso, dele, cingir-lhe a boca, quase apreensiva. O toque suave dele a guiava. E, finalmente, os lábios dos dois se colaram, num princípio de carícia, de amor. Ele apoiou a nuca da garota, querendo aproveitar cada segundo daquele que era seu único objetivo: aquele rosto, aquela garota. Aquele toque.

Sem entender, sem sequer tentar compreender, Hermione deixou-se levar por aquele garoto. Simplesmente deixou-se levar. Quando cessaram o beijo, a garota estava um tanto surpresa, mas nada se comparava ao prazer que ele sabia que ela sentira. Sentindo que uma lágrima se formava no canto de seu olho, ela abaixou a cabeça. Ele a ergueu e limpou a lágrima com um carinho.

— Ei, foi tão ruim? – perguntou ele, parecendo preocupado.

— Muito pelo contrário – Ela o enlaçou, apoiando a cabeça em seu ombro. – Eu disse que se eu começasse...

— Você começou, não começou? – sentenciou ele. – Tarde demais para voltar atrás.

Sorrindo, ela olhou para o caminho que levava até o Salão Principal. Ele negou com a cabeça e puxou-a novamente para o corredor da cozinha. Sem entender, Hermione perguntou:

— O que é que está havendo com você?

Let’s hope our prayers are in good hands tonight.
Tomara que nossas preces estejam em boas mãos essa noite.

— Você está acontecendo comigo, apenas isso – disse ele, mexendo no bolso da capa.

— E o que é que você está procurando?

— Dá pra esperar? – pediu ele, sem fitá-la. – Não vou estragar a surpresa!

Draco remexeu os bolsos até encontrar a caixinha de veludo que Lundun lhe devolvera. Com um suspiro de alívio, ele a abriu e, verificando se tudo estava bem, fechou novamente.

— Pára tudo! – exclamou ela. – O que é isso? Ah, nem vem, pode me contar!

— Prefere que eu mostre? – perguntou ele, se ajoelhando.

— Ah, não!

— Ah, sim – Ele abriu a caixinha. – Você aceita namorar, noivar, casar e viver a vida inteira comigo?

Hermione virou-se, incrédula e corada. O.k., se isso era um sonho, então que ela nunca acordasse. Virou-se novamente para ele, sem conseguir articular uma palavra.

— Tomarei esse silêncio como um sim – disse ele, pegando a mão dela e colocando nela o anel.

— Mas...

— Hermione Jane Granger, se você me disser não, eu pulo da torre de Astronomia! – exclamou Draco ameaçando sair correndo.

— Pára!

Sem aviso nenhum, a garota se lançou ao pescoço dele, sussurrando-lhe ao ouvido:

— Se eu dissesse não, eu pularia da torre de Astronomia.

Ele sorriu, encorajando-a. e, pela primeira vez, desde que percebera o que sentia, ela agiu por si mesma. Sem vergonha ou remorso, beijou o rapaz, sentindo que nada mais importava. O coração da garota estava apertado. Queria estar ao lado dele, para sempre, queria, sim. Era arrependimento, dor, paixão, tudo unido em um coração só. Era muito confuso, mas simplesmente perfeito. Simplesmente perfeito.

E, quando eles se separaram, ele sorriu. Aquele sorriso.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Bom, último capítulo postado, finalmente... Graças à minha primuxa do coração que quase me bateu quando eu resolvi fazer chantagem... Mas tudo bem, né? Tô viva, então... Até a próxima, see ya, e muito obrigada pelos comments!!!

Respondendo:

Juja Malfoy: Eu sei que não é muito justo fazer chantagem... Desculpa.

Dana^_^: Bom... conselho seguido, minina... Fic terminada... Mais uma a caminho... ^^

Claes-Chan: Aprende a confiar no shipper, minina! Bom... Agora você viu algo de D/Hr, né?

ThaMyRis: Obrigada pelo elogio... Vou ler sua fic, prometo.

Cleo Weasley: Obrigada! Bom, postei a fic toda... Finalmente... ^^

Luisa: Postei... Agora, você leu???

Clara M. Granger: Escreverei, pode confiar em mim... Adoro D/Hr também...

Samantha Granger Weasley: Pelo nome, você é R/Hr... Valeu por comentar na minha fic!!!

Nah Potter Malfoy: Muito obrigada... Ainda bem que gostou ^^

^^Kissus^^

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