Minha vida amorosa



Este que aqui vos fala é Severo Snape, trinta e oito anos, atualmente foragido do Ministério da Magia devido ao assassinato de Alvo Dumbledore.

Não sei o que me levou a perambular pelos recantos mais remotos da minha memória, em busca de lembranças daquilo que alguns chamariam de “vida amorosa” – embora eu nunca tenha tido uma vida sentimental lá muito normal.

É fato que eu nunca fui exatamente um galã.

Quando se é feio e pobre como eu, tendo apenas o talento para se garantir nesse mundo frio e cruel, não resta muito tempo para dedicar ao sexo oposto. É claro que as vezes eu sinto falta de... Digamos... Algo para aquecer minha cama que não sejam bolsas de água quente deixadas pelos elfos.

Mas, vou voltar no passado até aonde minha memória me permitir, traçando os tortuosos caminhos do meu coração – sim, eu tenho um coração. Diabos, quem essas pessoas acham que eu sou? Alguma espécie de monstro incapaz de gostar de alguém? A menos que meu nome tenha sido mudado para Lord Voldemort e eu desconheça desse fato; pelo que eu me lembre, houveram, sim, algumas pessoas que prezaram de meu afeto.

A primeira delas, obviamente, foi minha mãe. Meu primeiro caso de amor.

Mas antes que vocês passem a me julgar além de assassino traidor, alguma espécie de fruto de relacionamentos incestuosos, permitam-me explicar.

Algum trouxa maluco disse certa vez que em algum momento da vida os garotos se apaixonam pela própria mãe. E então vem todo aquele blábláblá científico, de drama psicológico, essas coisas.

Pra mim não é preciso ser um gênio para descobrir o óbvio. A primeira mulher da minha vida foi Eileen Snape, minha adorada mãe. É claro, que eu nunca nutri nenhum desejo carnal por ela, não sou nenhum tipo de maníaco sexual que tem relações com a própria mãe.

Tudo isso que eu digo é para ilustrar que a mente e o coração das pessoas podem ser muito mais complexos do que certos indivíduos julgam. Alguns acham que vida amorosa resume-se a casinhos, a beijos na boca, abraços, mãos com dedos entrelaçados e tudo o mais que advier daí.


Por muito tempo minha cabeça esteve ocupada demais metida em livros de Magia das Trevas para perceber qualquer outra coisa que se passasse ao redor. Mas eis que, em meus tenros quinze anos de idade, aconteceu.

Aconteceu o que acontece a todos os garotos e garotas de quinze anos: Eu me apaixonei.

Não façam essa cara de surpreso; eu também sou humano. Desafio qualquer um que tenha seu corpo inundado por hormônios que façam sua voz mudar, espinhas pipocarem no rosto, pêlos aparecerem em lugares definitivamente suspeitos e as mãos e os pés crescerem numa velocidade alarmante, a não se sentir completamente fora de si.

Claro, vocês nunca verão Severo Snape suspirando atrás de um rabo de saia; até porque isso nunca me aconteceu. Eu era bastante dado a paixões platônicas, por assim dizer.

Certo, a aparência nunca ajudou muito. Aos quinze anos eu tinha os mesmíssimos cabelos negros na altura do ombro ensebados (antes que alguém aí pergunte, sim, EU LAVO O CABELO!), era magricela e desajeitado. Não jogava quadribol bem como o Potter (Potter, maldito Potter!), não era, hum... Digamos, bem-apanhado como Sirius Black e nem sabia declamar poemas lindíssimos à luz da lua (no caso deste, não sob a Lua Cheia) como Lupin. Pettigrew não servia nem mesmo como consolo, já que era um ser totalmente assexuado que preferia um prato de lasanha a sair com uma garota.

O fato é que eu me vi, aos quinze anos, perdidamente apaixonado por Narcisa Black. Ela era alta, loira, graciosa como uma veelas, tendo o mais belo par de pernas que eu já vi na vida. É claro, Lucio Malfoy tratou logo de a tomar para si. Durante os anos em que Narcisa e Lucio namoraram, a garota parecia carimbada com um “Mantenha distância” no meio da testa. Mas é claro que ela nunca, jamais, sob hipótese alguma, se dirigiria a mim a não ser para perguntar as horas ou mandar-me sair de sua frente.

A essa altura vocês já devem estar se perguntando sobre Lílian Evans, não?

Pois bem, quero fazer um esclarecimento: Eu nunca senti nada pela garota. Nunca. Nada, nem amor, nem atração, nem desejo, simplesmente nada. Ela era apenas uma garota chata e mandona, metida a certinha e irritantemente perfeitinha. Eu realmente não entendia porque ela tentava dar uma de “legal” comigo. Certo, eu admito que no episódio após os N.O.M.´s eu lhe fui bastante grato. Só deus sabe o que Potter teria feito com as minhas cuecas se ela não tivesse aparecido a tempo.

Então, em fins do sétimo ano, Lucio Malfoy anunciou seu noivado com Narcisa. Isso realmente não fez muita diferença; eu já disse que o número de vezes que ela se dirigiu a mim corresponde exatamente à quantidade de neurônios de Sirius Black: Algum número entre zero e um.

Mas vocês se esqueceram do pequeno detalhe de que eu era um adolescente com profundos complexos de rejeição e inferioridade que acabava de ver anunciado o noivado da garota por qual fora apaixonado por quase três anos.

Naquela noite eu tomei tanto uísque de fogo que fui parar na ala hospitalar de coma alcoólico. Meu primeiro porre, e em seqüência, meu primeiro beijo.

Foi um episódio bastante desagradável. Eu estava lá pela décima terceira cerveja amanteigada (misturada com generosas doses de uísque de fogo), quando me levantei e disse que beijaria qualquer uma que me aparecesse na frente. É claro que eu não esperava que alguém aparecesse; desde quando garotas caiam aos meus pés assim?

Mas apareceu, e não era exatamente uma garota qualquer. Era uma jovem Sibila Trelawney, já de posse de seus enormes óculos que mais pareciam lentes de microscópio tal o grau de aumento que elas proporcionavam aos olhos da mulher, mas sem a atual cobertura de xales e cachecóis que devem aumentar seu volume e peso total em pelo menos 200%.

Desse momento em diante eu me lembro de pouca coisa, primeiro porque estava simplesmente bêbado demais, segundo porque creio ser este um mecanismo do meu cérebro de me proteger do suicídio que eu poderia vir a cometer caso lembrasse do ocorrido.

Eu beijei Sibila Trelawney.

Acho que o que me salvou de virar alvo de dardos de Hogwarts foi o fato de ambos estarmos num bar pouco freqüentado por alunos, o Hog´s Head.

Ou vai ver as pessoas simplesmente deduziram que ser lembrado de ter um dia beijado Sibila Trelawney fosse o suficiente para fazer aflorar em qualquer um o pior. E no meu caso, recém-alistado nas fileiras de Comensais da Morte, o pior poderia significar uma combinação das Maldições Imperdoáveis muito bem aplicadas.

Quando acordei no dia seguinte com uma horrível ressaca, só consegui prometer a mim mesmo que me manteria o mais longe possível das mulheres. Para mim, particularmente, elas significavam problemas.

Devo dizer que foi fácil para mim cumprir essa promessa. Era simplesmente ser eu mesmo. Severo Snape funcionava como um magnífico repelente de mulheres. A curto prazo isso não foi o problema, mas a solução. Como disse, ainda estava me recuperando do traumático primeiro beijo em Sibila Trelawney.

Mas a médio e longo prazo isso significou virar assunto entre as rodinhas de comensais. Não que o Lorde das Trevas dê conta da opção sexual de seus seguidores, mas aquelas fofocas estavam realmente começando a incomodar.

Eu tinha vinte e um anos quando Lúcio Malfoy, já casado, puxou-me para um canto e me questionou, de uma forma bem direta, o porquê de eu não aparecer nunca com uma mulher. Ou com um homem.

Diabos, agora todos achavam que eu fosse gay!

Algumas semanas depois eu tive a chance de provar que não era. Durante a despedida de solteiro de Mulciber, envolvendo um bolo bastante grande,strippers fantasiadas e balões de gás em formas muito sugestivas.

Essa foi a minha primeira vez. Não foi desagradável, embora a mulher insistisse em me algemar na cama e parecesse querer despejar um vidro inteiro de chantilly em cima de mim.

Nesse mesmo ano o Lorde das Trevas caiu pela primeira vez, padecendo por causa do famoso Harry Potter.

Alguns meses antes eu tinha voltado para o lado de Dumbledore. Não houve nada de especial nisso; Dumbledore simplesmente aceitou minha palavra de que eu estava sinceramente arrependido do que fiz; e estava mesmo. Deveria explicar a vocês que eu continuo fiel a Dumbledore, apesar dos acontecimentos recentes, mas afinal, estou relatando minha vida amorosa, não estou?

Então, ainda na tenra idade de vinte e dois anos, passei a lecionar em Hogwarts. Um tanto inexperiente, mas eu devo admitir que sempre fui um grande preparador de poções. Admito, é claro, que meus métodos de ensino são um pouco inortodoxos, mas que posso fazer se esses alunos não passam de um bando de cabeças-ocas?

Trancafiado em Hogwarts eu não tinha mesmo tempo para pensar em mulheres. Aliás, as únicas que me cercavam eram professoras (É, a Sibila também faz parte do staff mas Graças a Deus ela nunca mencionou o ocorrido há onze anos atrás) e as alunas – nunca me passaria pela cabeça um caso com uma delas.

Mas isso foi até eu conhecer a Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, em meu terceiro ano como professor.

Lia Tyler era simplesmente maravilhosa. Cabelos negros esvoaçantes, olhos igualmente escuros e dona do mais belo par de pernas (talvez superadas apenas pelas de Narcisa Malfoy) que eu via em muito tempo. Certo, eu admito, existe alguma coisa entre eu e pernas femininas. Elas simplesmente me atraem.

Por algum tempo a observei tentando captar sinais de olhares em minha direção. Frustrei-me, é claro.

Lia Tyler nunca olhou ou falou comigo que não fosse para pedir para passar o sal. No final do ano, cumprindo a maldição, ela foi embora.
Mais algum tempo passaria – na verdade, exatos quatro anos – antes que algo tornasse a acontecer entre eu e uma mulher.

Devo admitir que Madame Rosmerta (sim, a dona do Três Vassouras) é uma mulher realmente atraente. Assim que ela tomou a direção do bar, eu ia bebericar Cervejas Amanteigadas umas três vezes por semana só para desfrutar da sublime visão de quando ela se debruçava para servir as canecas de bebida espumante e abençoar a Lei da Gravidade atuando sobre seu decote folgado.

Eu tinha certeza de que ela fazia aquilo de propósito. Qual não foi minha surpresa ao constatar que ela estava sempre aumentando a quantidade de ofertas de um novo copo de bebida.

Num Dia dos Namorados do qual eu fugi da escola, desesperado para me ver livre daqueles cupidos horrendos, herança de Gilderoy Lockhart, tremendo só de pensa nas idéias que Trelawney poderia ter se se lembrasse daquela fatídica noite em meu sétimo ano no Hog´s Head, Madame Rosmerta estava se excedendo nas ofertas de copos de bebida. Mal eu dava o primeiro gole no copo, lá vinha ela e seu Santo Decote despejar mais Cerveja Amanteigada.

É claro que a partir de um certo ponto se tornou insuportável apenas assistir; e eu já estava querendo participar do espetáculo.

A partir daí vocês já podem deduzir o que aconteceu entre eu e Madame Rosmerta.
Mas esse tipo de contato superficial acaba se tornando enfadonho depois de um tempo, então dei no pé antes que Rosmerta começasse a cobrar pedidos de casamento ou coisas do gênero.

A partir daí mantive um papel digno de Eunuco por um bom tempo. Já estava na casa dos trinta quando me apaixonei pela segunda vez. Mas é claro, não foi pela segunda vez. Eu me vi resgatando sentimentos a respeito de Narcisa agora Malfoy e suas pernas quilométricas. O que realmente dificultava as coisas era o fato dela ter um filho e ser casada com um dos queridinhos do Lorde das Trevas.

Durante um jantar na Mansão Malfoy, não pude deixar de sentir um pouco de ciúmes perante a relação relativamente afetuosa que Narcisa mantinha com Lúcio e Draco.

Narcisa nunca havia sido uma boa bruxa, mas boa o bastante para ingressar na Ordem das Trevas ao lado do marido. Tentar qualquer coisa seria suicídio.

Mais uma vez empurrei os sentimentos o mais fundo possível em meu ser – o que se tornara relativamente fácil depois de anos treinando Oclumência com afinco – e tratei de esquecer Narcisa.

Infelizmente, nesse meio-tempo sou obrigado a relembrar de outra lembrança infeliz envolvendo Sibila Trelawney (de fato, qualquer coisa que envolva essa mulher só pode resultar em lembranças infelizes) e ingredientes errados numa poção do sono-sem-sonho.
Como grande mestre de poções que sou, não lembro de muitos erros que tenha cometido ao longo de minha carreira acadêmica. Nesse dia, infelizmente, algum elfo retardado havia trocado os frascos de Pêlo de Acromântula com Sumo de Dama-da-noite, que se imersa em formol, adquire uma coloração idêntica ao pêlo de Acromãntula. Assim eu confundi esses dois ingredientes e acabei transformando uma poção sono-sem-sonho em poção do amor à primeira vista.
Infelizmente Sibila havia escolhido exatamente aquela hora para vir à minha sala anunciar que previra uma morte muito dolorosa para mim a partir de sua Bola de Cristal.
Mais uma vez, vocês podem deduzir o que aconteceu. Uma dica: Até encontrar meu estoque pessoal de bezoares, gastei aproximadamente 10% de meu salário em buquês de rosas e caixas de chocolate.
Dumbledore infelizmente não permitiu que eu lançasse um Obliviate em Trelawney, de modo que eu terei de conviver com mais essa lembrança vergonhosa.
Novamente, me fiz de Eunuco por dois anos. Até que surgiu a oportunidade perfeita de por em prática tudo o que eu planejava em meus devaneios com Narcisa.
Lucio estava preso e Narcisa veio a mim implorar ajuda para Draco que estava numa missão suicida em nome do Lorde das Trevas. Ora, não me achem um aproveitador; não sou nenhum santo pra começar!
Ou alguém aí realmente acha que eu teria feito um Voto Perpétuo de graça? E por causa de tudo isso, aqui estou, Severo Snape, trinta e oito anos, foragido do Ministério pelo assassinato de Alvo Dumbledore.


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