A traiçao



A maior traição da historia foi talvez a de Judas e admito que não é qualquer um capaz de trair com um beijo. Eis ai algo que ao qual me julgava imune, não fosse ela.
Foi um belo plano, se formos dar os devidos créditos. Um inocente diário que acidentalmente caiu no caldeirão de uma bruxinha novata. Lucio foi astuto o bastante para tomar a iniciativa aparentemente tão fantástica a ponto de ocasionar a destruição de uma de minhas tão preciosas Horcrux, mas que de fato me deu motivos para querer retornar a Hogwarts. E voltei, nessa mesma ocasião.
Fui parar nas inocentes mãos de Ginevra Weasley. Criaturinha peculiar aquela. Magra, pele muito clara e salpicada de sardas, cabelos lisos, vermelhos como labaredas, características constantes na família dela pelo que me consta. A aparência em si já era bem fora do comum e juntando isso à personalidade ingênua dela, posso dizer que ela seria quase cativante. Não demorou para ela me descobrir e me tomar como seu melhor amigo.
Fui o confidente mais notável que uma menina poderia querer e ela não era insensível a isso. Contava-me tudo, dês de seus dias monótonos de aula até sua paixão pueril e platônica por Harry Potter. Ridículo, não? Mas o fato é que eu também não fiquei imune a curiosidade dela, eram torrentes de perguntas e especulações e vamos e convenhamos, nunca tive paciência pra isso.
Só agüentei tudo isso para realizar a minha ambição de reabrir a Câmara Secreta, precisava de alguém para fazer o trabalho sujo. Ela reclamou e esperneou no começo, mas acabou fazendo tudo o que eu mandava. Digamos que sou totalmente irresistível quando o assunto é manipular mentes.
Meus planos corriam as mil maravilhas, até chegar a parte final. Eu a levei para a Câmara e finalmente revelei a ela o que eu havia feito e o porque dela estar ali. Eu sugaria sua energia para poder ter um corpo físico novamente e poder me reerguer como Lord Voldemort.
O que se seguiu foi uma sena quase tocante. Ela suplicou a mim para parar aquela loucura, ajoelhou-se aos meus pés em prantos pedindo para que eu recobrasse minha consciência. Digamos que era inútil toda aquela comoção, não fosse o que se seguiu. Em algum momento de seu discurso Gina se levantou e foi em minha direção, a proximidade entre nós aumentou, ela enlaçou meu pescoço com seus braços finos e trêmulos e me beijou.
Não sei dizer o que foi aquilo. Foi repentino e inesperado de mais para eu conseguir entender, mas eu sei que alguma coisa dentro de mim aqueceu e eu quis mais daquilo, muito mais. Tímido, singelo, suave e... Espera ai! Eu estava beijando a minha vitima de onze anos e estava querendo mais! Aquilo não era normal e quando me dei conta eu a empurrei com força contra o chão úmido da Câmara, encarei-a como um animal selvagem encararia sua presa, eu estava quase enlouquecido, não sei se pelo choque ou pelo desejo de obter mais. Ela recuou até chegar a parede de pedra e constatar que não tinha escapatória.
Eu a agarrei pelo braço e a puxei de encontro a outro beijo e aquela maldita não correspondeu. Foi fria, estéril e cruel, depois de ter me feito arder em desejo por mais. Agora ela iria pagar e pagaria caro. Não me controlei e a ultima coisa que me lembro de ter feito antes que ela perdesse a consciência foi ter lhe dado um tapa na face pálida.
Fiquei observando a luta dela contra a morte. Afastei algumas mechas de cabelo ruivo de seu rosto, toquei-lhe a face agora rosada pelo tapa. Angelical era a única palavra que a descreveria.
Minha contemplação não durou muito. Logo o maldito Potter chegou, derrotou meu querido basilísco e destruiu o meu diário. Mas antes que eu desaparecesse por completo pude contemplar a maldita visão de Gina abraçada ao seu amado herói, com o rosto repleto de gratidão e admiração voando para fora da Câmara.
Por algum motivo eu tive ódio, não por ter sido derrotado, mas por olha-la e ver que o beijo que eu tentara obter e me foi negado seria mais tarde oferecido ao meu odiado inimigo e que o nosso primeiro contato fora como na historia de Judas, o selo de uma traição.
Sim ela havia me traído. Eu era seu mestre até poucos instantes atrás e agora ela mostrava em seus olhos lealdade eterna a Potter.
Jurei vingança e que voltaria para ter o que era meu por direito. Mataria Harry e teria o beijo dela, ainda que fosse mais uma traição.
Sou o medo que lhe estremece
Sou o frio repentino sobre seus lábios
E o gosto prateado em sua boca
Passei anos recolhido sem corpo, sem diário e sem meios para reaparecer com a forma de Tom Marvolo Riddle adolescente, a não ser por um pequeno detalhe, eu permanecia muito vivo na memória dela, talvez vivo o suficiente para obter um corpo, já que o diário nada mais era do que memórias guardadas em algo concreto e agora essas mesmas memórias estavam na mente de Gina.
Fui sugando em doses homeopáticas a energia de Gina até ter forças suficientes para poder reaparecer. Seis longos anos depois, numa noite de chuva e lua nova eu a reencontrei.
Bem mais desenvolvida do que a criança mirrada que ela fora anos atrás. De fato uma bela mulher. Estava dormindo em uma das camas do dormitório da Grifinória, havia uma taça de cristal repousada num criado-mudo ao lado da cama. Junto à taça havia também uma foto.
A cólera subiu-me a cabeça ao ver-la abraçada com Potter, sorrindo com cabelos ao vento enquanto ele lhe beijava o pescoço. Virei a foto e tive ganas de matar os dois ao ler a o que estava escrito ali. “Em breve: Harry e Gina Potter”.Olhei de relance para as mãos dela e lá estava a prova, um solitário de brilhantes preso ao dedo anular.
Agora eles pagariam.
Coloquei minhas mãos ao redor do pescoço dela. Sim, eu iria acabar com a frágil Ginevra como deveria ter feito na Câmara. Percebendo a falta de ar ela despertou. Primeiro sem entender nada depois com terror em seus olhos.
“Olá, doce Ginevra. Adivinhe só. Eu estou de volta”. Falei em um sussurro ao pe do ouvido dela. Senti quando ela se arrepiou.
Sou o grito preso na garganta
E os dedos apertados ao redor do pescoço
Sou o sussurro ao pé do ouvido
O arrepio pela espinha

Ela tentou gritar. Se debater. Nessa luta desesperada acabou esbarrando na taça que estava no criado-mudo. Eu ainda era o pesadelo dela, isso me dava uma satisfação intima, saber que eu era inesquecível de alguma forma e a vela recém apagada, que esta também no criado, denunciava o medo daquilo que vem do escuro.
Sou o medo do escuro
O som cristalino do estilhaçar da taça
Sou o terror em seus olhos
Sou tudo em você

Não havia mais som para ser proferido pela boca rosada dela. Apenas pequenas exclamações de medo. Ela ficava linda daquele jeito e eu me sentia mais uma vez seu Senhor. Sim, seria interessante tê-la de novo, me obedecendo, me dando de bom grado aquilo que havia me negado anos atrás, nada que uma Imperius não resolvesse.
Você se perdeu em palavras
Quando eu lhe traí
Você se perdeu por completo
Em uma traição de lábios, línguas e gostos

Não esperei muito tempo para buscar o que eu queria, com as mãos ainda fechadas em seu pescoço eu a beijei. De maneira furiosa, dolorida, quente e insensível ao que ela estivesse sentindo. Ela não respondeu de imediato, mas eu continuei forçando até que ela não tivesse resistência.
O ar começou a faltar para ela, mais do que antes e logo ela não se mexia. Soltei minhas mãos do pescoço dela. Vi em seu rosto os olhos castanhos arregalados, a pele sem cor, mas ainda quente. Lá estava ela, sem respirar, sem se mexer, sem vida. Inclinei o pescoço dela levemente e afastei-lhe os cabelos para poder observar melhor a pele da região. Peguei minha varinha e desenhei a fogo no local uma serpente. Levantei-me da cama e completei o ritual de seis anos atrás, um tapa em seu rosto lívido. Logo eu também não existiria mais, já que as lembranças dela haviam se perdido. Então me restava morrer também, sem remorso ou culpa, apenas morrer ao lado dela e deixando para o pobre noivinho Potter a certeza de que eu era muito mais que meras recordações da pequena. Eu fui o primeiro e agora seria o ultimo, ao menos isso eu havia roubado dele, a certeza de ter Gina, seja no céu, na terra ou no quito dos infernos, mas eu a teria e estaria para sempre marcado e atrelado à ela, afinal eu era tudo o que existia naquele corpo que jazia sobre a cama.
E como Romeu e Julieta, mortos lado a lado e como Judas e Jesus fomos traídos e nos traímos com um beijo.
Sou agora a lembrança
E o fogo rosado do vinho em sua face
Sou o seu pior pesadelo
Sou tudo em você



----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Olá pessoal. Minha primeira fic postada, espero que gostem. Deixem comentarios e sugestoes por favor.
Bjus para todos
Gabriela

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.