Capítulo 13- De repente



Capítulo 13- De repente

Harry abriu os olhos e sentiu a cabeça latejar. Ficou vários minutos deitado em sua cama, antes que tivesse coragem de levantar. Observava o teto. Cenas do dia anterior passavam em sua mente sem trégua. Sem piedade...
Sentiu os olhos se encherem de lágrima, mas não chorou. Ele sabia que aquilo era o certo. Estava feito, e não tinha mais jeito. Sabia que Gina era orgulhosa, e nunca o aceitaria de volta se mudasse de idéia. Esse pensamento fez com que seu peito se apertasse ainda mais e numa forma de defesa, Harry levantou-se energicamente e vestiu-se. Desceu as escadas com a cabeça erguida, mas com os pensamentos distantes...
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Gina abriu os olhos e sentiu-os pesados. Pesados de tantas lágrimas derramadas, pesado de tantas lágrimas que ainda estavam por derramar. Não conseguia aceitar... Não conseguia entender... O que tinha acontecido para que ele mudasse tão de repente? Será que fora algo que ela fizera? E justo agora... Justo agora que ela precisava tanto dele... Sentiu as lágrimas tornarem a escorrer, amargas, rasgando a pele da menina... Torturando seu coração aos pouquinhos...
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-Bom dia Harry!- disseram Rony e Hermione em uníssono. Percebia-se que os dois estavam em dúvida do que fazer, ou falar.
Harry notou que muitas meninas sorriam em sua direção, mas preferia ignora-las.
-Bom-dia.
Ele jogou-se ao lado dos amigos no sofá da Sala Comunal e fechou os olhos por um instante. Sua cabeça ainda doía.
-Você está bem?- perguntou Mione visivelmente preocupada.
-Um pouco de dor de cabeça, nada demais. - Mione fez uma cara compreensiva, mas ele não estava disposto a receber a piedade de ninguém. Não era agora que se tornaria um coitadinho diante das pessoas-E então, como foi o final da festa ontem? Eu acabei indo me deitar mais cedo...
-Ah... - respondeu Rony meio atrapalhado-Nada demais...
Um silêncio constrangedor se instalou, até que Hermione disse:
-Sabe o Frank Allison, do sexto ano? Ele brigou com um outro moleque por causa da Irëth...
-Sério?- perguntou o Harry.
-É... Parece que era a vez dele de dançar com ela, mas o outro passou na frente... Eles começaram a duelar e os dois tiveram que ir pra Ala-Hospitalar, um com orelhas de coelho cor-de-rosa, e outro com um nariz de porco.
Harry começou a rir.
-Você dançou com ela, não dançou Harry?- perguntou Rony, visivelmente interessado.
O menino fez que sim com a cabeça, parando de rir.
-Mas a Gina ficou com ciúmes, e eu não pude dançar muito...
O silêncio novamente. Harry sentiu um nó na garganta e resolveu ir tomar café- da- manhã de repente. Os amigos não fizeram objeção...

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma

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Gina finalmente conseguiu levantar da cama e resolveu tomar um banho. Entrou em baixo do chuveiro e deixou que a água morna escorresse pelo seu corpo. Tentou pensar em outras coisas, mas não conseguia... Aqueles dois orbes verdes voltavam a aparecer em sua mente a cada segundo. Pediu que a água limpasse aquela tristeza de dentro dela, como às vezes fazia, mas dessa vez nem isso era suficiente. Tentou não pensar nos beijos dele, no toque dele, no carinho dele, na voz dele... Mas era inevitável. Sentiu de repente o peso da verdade, de como a vida é inconstante e como as coisas eram passageiras. Assim como a espuma que descia pelo ralo...

E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto


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Harry estava sentado na mesa da Grifinória, tomando seu café-da-manhã. Na verdade, não conseguia comer nada e agradeceu por Hermione não estar por perto para obrigá-lo. Ouviu cochichos e sussurros a sua volta, e sentia os olhares em cima de si, só que dessa vez não se importava com isso. Era como se fosse outra pessoa sentada ali, perdido em pensamentos, no meio de toda aquela baderna. Era como se ele não fosse mais ele mesmo, como se estivesse faltando algo.
Sentiu alguém cutucar timidamente. Virou-se instantaneamente, sentindo no fundo, um desejo de que fosse Gina. Mas não era. Uma garota de cabelos castanhos presos num rabo de cavalo e olhos amendoados o olhava, entre assustada, tímida e fascinada.
-Posso ajudar?- ele disse, mais grosseiramente do que desejava.
-Nã... Nã... É que... Eu só... – ela suspirou e disse de uma vez-É verdade que você terminou com a Weslay?- Harry não respondeu então ela completou rapidamente-É o que todos estão dizendo...
Ele sentiu sua paciência e sua calma se esvaírem rapidamente.
-Claro... O que todos estão dizendo, não é? As pessoas não têm nada melhor pra fazer? Eu já tenho muitos problemas pra ter que me preocupar com o que “todos dizem” de mim. E se eu terminei ou não com a Gina é problema único e exclusivamente meu.
A menina o olhava espantada. Quando ele acabou, ela corou terrivelmente e saiu correndo. Harry se sentiu sem-graça pela explosão, mas não culpado. Quem sabe assim não o deixavam em paz um pouco?

De repente da calma fez-se o vento
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Gina acabou de se vestir e olhou-se no espelho. As olheiras ela disfarçava com maquiagem. Mas os olhos vermelhos... Esse ela não conseguira disfarçar. Não conseguiria esconder de ninguém a dor que estava sentindo. Nunca imaginou que poderia sentir algo assim. Um dor tão lacerante, tão terrível, que a fazia sentir-se uma sombra. Sentia que já não era nem metade do que um dia fora...
Apesar de tudo, ela reuniu coragem e desceu para o Salão Comunal. Sabia que não conseguiria comer nada, mas não custava tentar. Estava com medo de encarar as pessoas, que elas ficassem relembrando a todo o momento a única coisa de sua vida que ela queria, mas não conseguia esquecer...
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Entrou no salão e parou. Ele estava lá. Sentado conversando com uma menina. Ele sentiu um nó na garganta Claro, como ela pudera ser tão burra? Ele terminara com ela. Ele não sentia mais nada. Ele se recuperara, e quem sabe já estava em outra? Como ela poderia esperar que ele, Harry Potter, ficasse pelos cantos se lamentando?
Pensou em voltar para o dormitório e passar o resto do dia lá, quando a menina saiu de perto dele e seus olhos se encontraram. Harry a olhava, simplesmente.

Harry teve que se segurar para não demonstrar tudo que sentia ao vê-la ali, na porta. Tão linda, e tão triste. Ele sentiu-se mal por saber que era a causa daquela sombra sobre os olhos dela... Mas ele sabia que não poderia fazer nada. Não podia voltar atrás. Não agora. Juntou toda a força que tinha para olhá-la sem sentimentos. Para mostrar que realmente acabara. Mesmo sabendo que não era verdade...

Que dos olhos desfez a última chama

Encarar aqueles olhos verdes foi a pior coisa que Gina teve que fazer em sua vida. Eles estavam tão... Frios. Como se... Como se tudo... Ah! Mas Gina ainda mantivera aquela esperança que pelo menos... Pelo menos ele honraria sua palavra... Que ele pelo menos a amasse ainda... Que houvesse realmente um bom motivo para tudo aquilo... Gina sentiu-se derrotada depois de tudo aquilo. Quer dizer que era assim que seriam as coisas agora? Era assim que ele queria? Então, ótimo. Ela também não se lamentaria mais.

Harry a encarou, e percebeu o olhar que a menina lhe lançara. Era um olhar triste, sem dúvida, mas ao mesmo tempo... Repleto de raiva, mágoa... Sim, agora ele tinha certeza. Ele sentia... Ela nunca o aceitaria novamente, não importa o que acontecesse.

E da paixão fez-se o pressentimento

Os dois se encararam por mais um momento, imóveis. A respiração de ambos saia dolorosamente. Como se aqueles olhares tirassem o fôlego e toda energia um do outro. Como se tivessem hipnotizados. Enfeitiçados...

E do momento imóvel fez-se o drama

Gina pareceu acordar e sentou-se na ponta oposta da mesa, ao lado de algumas pessoas da sua turma. Harry levantou-se e se dirigiu a entrada do castelo, não sem antes dar uma última olhada naqueles cabelos ruivos que o faziam queimar por dentro.
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Gina foi passear pelos jardins. Antes, claro, verificou se Harry não estava lá. Andou pro entre as árvores e sentou-se num lugar mais isolado, onde poderia se esconder dos freqüentes comentários e muxoxos. Tirou os sapatos e repousou os pés na água, tentando relaxar. Mas pelo contrário, aquilo tudo só atiçou ainda mais sua mente, fazendo com que ela se lembrasse de um certo dia, semanas atrás...

Flashback
”-Harry, aonde você está me levando?- perguntou uma garota ruiva de olhos vendados, enquanto trazia os braços esticados a frente como que para se proteger.
-Já estamos chegando... - disse o menino divertido, a empurrando para frente delicadamente.
-Você adora fazer isso, né?
-Te surpreender?
-Não, me matar de preocupação...
Ela riu e ele fechou a cara. Passado um momento de silêncio, ela tornou a falar:
-Sério Harry, aonde você está me levando? Já é tarde e se alguém nos pegar, vamos levar suspensões!
-Não se preocupe, ninguém vai nos ver...
Eles andaram por mais um tempo, até Gina sentir que não estava mais andando sobre pedra, e sim, grama.
-Harry...
-Chegamos!
Ele tirou a venda e ela pode observar que estavam próximos ao lago, só que numa parte onde não se via o castelo. Harry arrumara algumas coisas em cima de uma toalha, parecido com os pic-nics trouxas.
-Não sei se você gosta de lanchar ao ar livre... - ele disse num sorriso tímido.
-Adoro!- ela disse animada e o beijou levemente.
Os dois sentaram e começaram a comer. Ele tinha preparado vários lanches e comprado muitos doces da Dedosdemel. Conversavam sobre as aulas, as coisas do dia-a-dia, e mais animadamente, sobre quadribol.
-Eu ainda acho que se mudasse a defesa...
-Harry-Gina disse de repente-Vem cá...
Ela se levantou e chegou perto da borda do lago. Ele a seguiu.
-Ta uma noite tão gostosa...
-É mesmo... -disse Harry meio desconfiado.
Ela o puxou pela mão, e o enlaçando no pescoço, começou a beijá-lo. Ele respondeu com fervor, mas pouco depois sentiu as mãos de Gina sobre seu peito e sentiu-se caindo. Ele não teve muito tempo antes de sentir a água fria gelando seu corpo até a pouco tão quente. Gina ria na borda.
-Está bom o banho?
-Ótimo... – respondeu, sorrindo maliciosamente.
Gina pareceu perceber suas intenções e se afastou rapidamente. Ela começou a correr pro lado contrário, mas logo sentiu braços gelados a abraçando pela cintura. Com a força de tanto quadribol, ele a levantou e a levou a te o lago, pulando na água com Gina ainda nos seus braços. Ela se assustou com a queda, mas logo os dois emergiram rindo. Começaram a fazer uma guerra de água e foram se aproximando, aproximando, até se entregarem de corpo em alma a um beijo apaixonado.”


Gina não pode impedir uma lágrima de escorrer enquanto entrava na água, de roupa e tudo, tentando aliviar um pouco sua aflição...

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante

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Harry buscou sua vassoura e resolveu dar uma volta, treinar um pouco. Voou por sobre a Floresta Proibida. Não se importava agora se levaria uma detenção agora. Só o que importava era que estava só. Terrivelmente só...
As pessoas admiravam seu vôo do chão, aplaudindo e gritando o que fez com que Harry se isolasse no Campo de Quadribol. Péssima idéia. O lugar estava cheio de lembranças. Lembranças dela. Quando ela entrou pro time, todos os bons momentos que passaram juntos treinando, e aquele treino em especial onde Harry teve coragem de finalmente dizer tudo o que sentia, quando eles finalmente se entenderam depois de tanto tempo...
Ele sentia-se capaz, até, de sentir o perfume dela no ar. Como se fosse uma maldição, algo que o perseguia por todos os lados... Uma maldição que ele não queria se livrar...

E de sozinho o que se fez contente
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O Sol já se punha ao longe. Harry observava o espetáculo no céu sentado nas arquibancadas. A Firebolt jazia ao lado. A primeira estrela da noite apareceu no céu, e enquanto a olhava, Harry não pode deixar de lembrar de algo que acontecera algumas semanas atrás...

Flashback
”Harry levara Gina para um pic-nic na beira do lago. Os dois tinham “entrado” na água, e depois de se divertirem, saíram para se secar. Os dois deitaram lado a lado sobre a toalha, tentando espantar o frio que o vento lhes trazia. Gina encostou a cabeça em seu peito, enquanto ele repousava sua mão sobre a cintura dela.
-Harry...
-Hum... – ele respondeu olhando para ela.
-Você sente falta dos seus pais? Quer dizer... Você era pequeno quando tudo aconteceu e...
Ele suspirou.
-Sim, eu sinto Gi... Não exatamente deles, sabe? Eu realmente não me lembro de muita coisa... Mas sinto falta do que minha vida poderia ter sido, se eles estivessem aqui...
Gina o apertou com ainda mais força. Harry sentiu-se sem-graça. Nunca falara sobre isso com ninguém...
-Se eu pudesse fazer algo por você... Você sabe que eu faria qualquer coisa, né?
-Sei Gi... Eu sei minha ruivinha...
Ela sorriu levemente.
-Já pensou em ter filhos, Harry?
Ele pensou por um instante, mas por fim disse:
-Não sei... Talvez já tenha pensado... Eu tenho um pouco de medo, não sei se seria um bom pai...
-Você seria incrível...
Ele corou.
-E tem toda essa coisa de Voldemort... Eu posso morrer e tudo mais...
Gina colocou um dedo suavemente em seus lábios, calando-o.
-Não diga isso... Nunca, ouviu? Você vai sair vencedor no final... E nós teremos lindos filhinhos...
Ele sorriu alegremente e beijou os cabelos dela.
-É por isso que eu te amo sabia...
-Também te amo...
-Você é tudo pra mim. Minha namorada... Minha irmã... Minha companheira... Minha amante- Gina corou nessa parte- Minha amiga...
Gina riu com gosto e o enlaçou em um carinhoso beijo.”


Fez-se do amigo próximo o distante

Sim, e foi por isso que ele terminou com ela. Porque queria dar tudo isso pra ela. Queria tudo isso pra ele mesmo. Uma família, um futuro, alguém que se ama ao lado. Sem o risco constante de perdê-la. Sim, estava feito. E afinal de contas, era o certo... Harry se levantou. Sentia uma nova força dentro de si. Andou em direção ao castelo, determinado a seguir sua missão, seu destino. Decidido acabar logo com tudo aquilo, para quem sabe, poder ser feliz no final ao lado da sua ruivinha...

Fez-se da vida uma aventura errante

Gina levantou-se. Estava pronta. Sentia-se pronta. Foi em direção ao castelo, com a idéia fixa de contar tudo a Mione, de se preparar para o que ia encarar. Estava pronta para levar aquilo adiante... Estava pronta para lutar pelo seu sonho... Pelo seu amor... E pelas sementes que são plantados nos mais doces dias de nossas vidas...

De repente, não mais que de repente
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N/A: Espero que tenham gostado... Eu escrevi esse capítulo com muito carinho. Perdoem-me pela demora. Minha vida tava uma confusão, mas agora ta tudo entrando nos eixos. Espero que vocês me perdoem, e continuem acompanhando a fic. O próximo capítulo não demora. Juro por merlim!

Agradeço muito a quem comentou nesse tempo, que não desistiu. Que teve paciência. Meus agradecimentos a
Sophia Saint Claire, Amanda Delacourt Black, Mary Gryffindor, Jamile Aroucha, H.N.Lupin, Luh, Patrícia Silva, Natty Piments, Lissa Evans, Mari Black.

Não vou comentar um por um porque não dá agora... Mas a partir do próximo, eu volto a fazer isso, ok? A partir de agora, a história num vai ter tanto romance... As coisas vão começar a se acertar...


Mil perdões e muito obrigada!
Pérola Black
10/12/06

E pra quem não sabe, o poema desse capítulo é o "Soneto de Separação" de Vinícius de Moraes. Ele também é encontrado musicado pelo Tom Jobim, e cantado pela Elis Regina. Vale a pena ouvir...

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