Sem escrúpulos



Capítulo 2 – Sem escrúpulos



Sentiu o chão sólido aos seus pés. Estavam no Hospital. Ou o que deveria sê-lo. Vidros quebrados por toda parte, o chão salpicado de sangue, corpos espalhados, gritos ouvidos ao longe. A escuridão possuía completamente o lugar.



- Dumbledore deve estar na ala norte. Nós vamos para a ala sul – anunciou o líder.



Sirius e Lílian andavam lado a lado com as varinhas em punho.



As luzes estavam em sua maioria estouras. Havia estilhaços de vidro por toda a parte.



- Black, Potter! Cubram o corredor nove! – o silêncio era mórbido.



Lílian e Sirius seguiram em linha reta por mais alguns passos junto ao grupo, até virarem tomando o caminho da esquerda e se separando.



Respirando fundo a ruiva acedeu sua varinha para iluminar o corredor.



Sirius ia à frente abrindo caminho. Por mais de uma vez cruzaram com um corpo inerte e frio, sem expressão alguma em sua face.



- Sanguinários! – murmurou o homem entre dentes – Como conseguem ser tão... tão frios!



Ele olhou para mais um rosto inexpressivo de uma mulher que parecia ser uma enfermeira. Ou ter sido, já que estava morta.



- Simples. Não tendo amor a nada a não ser pelo poder e por sua ambição.



Lílian sempre aparentou ser mais frágil do que realmente era. Ao contrário de muitos em sua situação ela não se importava em encontrar pessoas caídas ao chão mortas nem em ouvir gritos de súplica. Tudo isso a abalava, claro, afinal não era uma pessoa totalmente fria, mas aprendera a conviver com tudo construindo uma barreira em sua mente. Algo que a livrava de ir à loucura com tudo o que via, com toda a dor, todo desespero e trevas. Jamais desejaria aquilo para qualquer um. Era por isso que estava ali, justamente para evitar novas mortes.



Continuaram caminhando. Parecia que os gritos tinham cessado. Ou ao menos ficado para trás. O único som ouvido era o de seus passos esmagando os cacos de vidros no chão.



- Isso está silencioso demais.



Ela concordou com a cabeça.



- Podemos estar indo direto a uma armadilha – disse naturalmente sem expressar qualquer preocupação.



- É... Mas não há outro caminho.



- Então... Vamos continuar.



O corredor chegou ao fim. Estavam em uma sala que deveria ser um tipo de estoque. Haviam novamente muitos vidros quebrados e poções espalhadas pelo chão.



Ela examinava os frascos que restavam nas prateleiras ainda de pé, enquanto Sirius andava pelo lugar para confirmar se realmente estavam sozinhos.



- Isto está realmente estranho...



Não sabia o porquê, mas sentia seu coração apertado. Um pressentimento ruim. Sempre fora muito intuitiva, é verdade, mas preferia ignorar esse lado, pois tudo para ela tinha que ter lógica, e maus pressentimentos simplesmente não tinham!



“Lily, é só mais uma missão. Apenas mais uma!



Uma missão em que estou sem o Tiago e preocupada... Ah deixe de besteiras. Ele sabe se cuidar muito bem, e você também!!”



Balançando a cabeça para sair de seu transe seguiu Sirius para a próxima sala.



- Lily, tudo bem?



- Estou ótima! – assegurou.



- Essa entrada dá para outra ala – informou Sirius.



- Bom, por aqui não tem nada, apenas a “sujeira” deles. – ela falou com uma careta de desagrado.



- Vamos seguir ou voltar?



- Voltar é imprudente. Os outros já devem estar longe do ponto inicial e provavelmente eles já sabem que estamos aqui. Seria como ir direto para a boca da cobra.



Ele confirmou com um aceno e completou.



- E risco por risco... Vamos enfrente.



- Exato. E que Merlin nos proteja!



Novamente, com as varinhas acessas, retomaram a caminhada. Entraram na outra ala e novamente encontraram o aposento vazio.O silêncio era tamanho que o único barulho produzido era pelas suas respirações. Havia no lugar leitos destruídos, medicamentos espalhados e as luzes que piscavam completando a aparência tenebrosa.



Mais uma vez checaram todo o lugar, proferindo feitiços para ver se haviam armadilhas ou maldições, mas nada foi encontrado.



- Estou começando a achar que querem nos fazer de bobos!



- Bem tipo deles. Apavorar a caça antes de dar o bote.



- Bem, vamos voltar Sirius, daqui não há saída e por aqui não acharemos nada.



Voltaram pelo corredor frio, ainda silencioso. Lílian tinha o olhar baixo à procura de vestígios que pudessem indicar um caminho, mas havia apenas vidro.



Retornaram ao salão que distinguiram sendo o depósito.



Lílian sentiu seu coração pulsar. Sentia a presença de outras pessoas. Não estavam mais sozinhos. Ergueu rosto, mas preferia não tê-lo feito.



Sentiu seu sangue congelar. O ar que respirava já não parecia mais ser suficiente, o chão pareceu abandonar seus pés.



Como um flash suas próprias palavras ecoaram em sua mente.



“Bem, vamos voltar Sirius, daqui não há saída e por aqui não acharemos nada.”



Era isso! Caíra em uma armadilha, tinham os prendidos lá, não haveria saída! Como fora tola!



Não conseguiu mais pensar. Estava no meio de uma batalha e se queria sair viva, teria que lutar. Sirius duelava com dois comensais, berrando instruções para ela. Logo os outros da ordem achavam-se ali e a batalha se iniciara.



Lílian derrotou um comensal, mas logo outros três avançaram sobre ela. Sirius a ajudava, mas tudo parecia em vão. Estavam cercados...







***







O tranqüilo Vilarejo não era mais nem sombra do que fora um dia. O começo do entardecer fazia com que os raios avermelhados do sol se estendessem pela planície. Havia no ar um rastro de medo, terror e o cheiro da morte.



Quando a equipe dos aurores havia chegado ao lugar, o caos estava instalado.



Pessoas corriam para abrigos e suplicavam por socorro. Ouviam-se gritos e choros de crianças. Muitos estabelecimentos, dentre eles o famoso bar Três Vassouras, haviam sido tomados e parcialmente arruinados. Uma névoa negra encobria a região onde mais havia duelos. Não havia armadilhas nem planos arquitetados. O ataque era simples e imediato.



Remo tentava proteger a população. Havia perdido Tiago de vista logo que chegaram. Estava preocupado com o amigo, mas não podia dar-se ao luxo de largar tudo e ir procurá-lo.



Tiago lutava para chegar ao líder dos comensais. De dois em dois investiam contra ele, mas havia Longbottom para ajudá-lo.



O suor escorria por seu rosto. Estava cansado e com o peito arfante, mas não lhe importava seu estado físico. Não ligava para os hematomas ou para o corte no rosto. Seu coração pulsava desesperado. Estava preocupado com ela. Sabia que as forças principais não estavam alí, havia constatado, assim que desaparatou no vilarejo, que o hospital era o alvo principal. Estava ali para proteger Hogwarts e impedir que mais inocentes se envolvessem naquela batalha sangrenta. Mas quanto antes tudo acabasse, quanto antes pudesse ter sua pequena segura em seus braços, melhor seria.



- Potter – virou-se repentinamente. Reconhecia aquela voz arrastada. Sabia que só podia ser de mais um daquela escória. Agora de onde se lembrava? Seria de Hogwarts ou de uma das batalhas anteriores? Era conhecido, isto era fato visto que sabia seu nome.



- Vejo que você durou muito bem sozinho até agora.



- Seja homem e descubra esse rosto. Eu costumo encarar meus inimigos. – seu olhar cintilava toda sua coragem e determinação.



Ouviu uma risada rouca e se possível tão arrastada quanto a voz.



- Engraçado. Eu costumo vencer meus inimigos



- O qu..?



A pergunta de Tiago Potter nunca chegou a ser completada. Sentiu-se atingir pelas costas. O ar faltou aos pulmões já sem forças, a visão girou e mergulhado no breu total rendeu-se ao cansaço.



- Sem medir os meios – a voz finalizou.



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