Sobre Pequenos Deslizes



"- Você é tão bobinho, Sirius...

- Já disse que é você que me deixa abobado?"

Era quase impossível não render-se a Sirius quando ele falava desse jeito, ainda por cima com aquela cara de “cachorro que caiu da mudança”, mas dessa vez Bella afastou-o, uma sombra tensa cobrindo-lhe a face.

- O que houve, Trix?

- Trix?! – ela ergueu as sobrancelhas, a sombra desaparecendo em um esboço de sorriso.

- É que Bella é redundante – ele explicou com simplicidade– Mas o que houve com você? Se foi o Lestrange eu vou...

Bellatrix achegou-se ao primo, ajeitando a enorme manta cinzenta sobre os dois.

- Não, nada disso... É que, parece coisa da Andie, mas acordei com um péssimo...

Sirius sentiu-a estremecer. Cobriu-lhe cuidadosamente os cabelos com a manta, protegendo-a do incessante sereno típico das noites de Verão. Bella suspirou, então prosseguiu:

- Já faz bem umas duas semanas que você mandou aquela carta para o tio Alphard, não faz?

O rapaz acariciou os braços da prima. De repente algo sinistro pairava sobre a laje, algo maior que a lua rubra debruçada sobre os jovens.

The piercing radiant moon,
The storming of poor June,
All the life running through her hair

- Bem... – Sirius contemplou o céu – Talvez ele tenha achado que fosse alguma piada... Eu posso escrever outra...

Bella insistiu, a cabeça apoiada no peito do primo:

- E se for algo ruim? E se alguém achar a carta?

- Não vão não, Trix... e depois, quem acreditaria?

- Gostaria que fosse assim – ela murmurou, sombriamente, antes de afundar nos braços do primo. Não sabia se estava sendo totalmente sincera. Imaginou se seria capaz de tomar uma decisão, caso o destino a colocasse em prova. Além, os dias tinham sido tão amenos, brincando de "amor proibido" com o Sirius, que tudo apontava para um acontecimento ruim. Muito de longe, a voz de Sirius a chamou para irem dormir.

Approaching guiding light,
Our shallow years in fright,
Dreams are made winding through my head

Sirius acompanhou a prima até o quarto. A noite estava estranha: o pouco luar capaz de atravessar janelas e frestas produzia sombras compridas. Finas e longas pernas de aranhas tateavam na penumbra, tentando alcançar os dois insetinhos que ousavam cruzar o corredor depois da hora devida.

The spiders all in tune,
The evening of the moon,
Dreams are made winding through my head

Bella adormeceu logo que encostou-se aos travesseiros de pena de ganso, ainda assim manteve tensa a fronte branca, como se os pensamentos sombrios lhe perturbassem até os sonhos. Observando-a atentamente, Sirius disse a si mesmo que jamais deixaria que algo de mal acontecesse àquela garota.

- Te amo, Trix – murmurou, deitando ao lado dela e adormecendo quase que instantaneamente.

Through my head,
Before you know,
Before you know I will be waiting all awake

Dreams are made winding through her hair

Walburga Black tinha um importante aviso a dar para a família, mas nem Sirius, nem Bellatrix apareceram a tempo do café-da-manhã. Assim sendo, mandou uma mal-humorada Narcisa ir chamá-los.

Batendo os pés, Narcisa subiu as escadas. Odiava fazer “serviço de elfo”. Chutou a porta do quarto do primo. O cortinado da cama dele estava fechado. Crispando os lábios finos chamou:

- Edgar!

Nada.

- Sirius Edgar! Faça o favor de acordar!

Nada.

Contrariada, a garota bateu a porta do quarto e saiu pelo corredor num passo ligeiramente arrastado. Do alto de seus catorze anos, não via a hora de casar-se com Lucius Malfoy. Ele era um homem rico e bonito, além de ser muito poderoso. Sim, ia ser ótimo! Nunca mais a tia e essa casa imunda, cheia de velharia e muito menos ia ser a aia dos outros. Por que raio Bella tinha que dormir no quarto mais alto? Só porque era a mais velha? Isso sem contar a “Andiota”, é claro. Sem fazer barulho, abriu a porta do quarto da irmã. Uma vez levara um safanão por entrar sem bater. E Bella entrava quando queria no quarto da irmã! Ah, mas ia se vingar um dia... Da irmã estonteantemente bonita e inteligente, sempre chamando a atenção onde fosse... A vadia sempre lhe fazendo sombra. E agora estava “amiguinha” do Sirius Edgar! Outro otário. Bonito... muito! Mas um otário. Ah, é! Tinha que acordar a irmã... Falou com uma voz meiga que em nada lembrava a voz de Andie:

- Belinha, querida-a!

Nada. E a maldita também mantinha as cortinas cerradas.

Talvez a tia não fizesse tanta questão do Edgar, mas Bellatrix tinha que estar lá. Ao menos era uma boa desculpa para o que pretendia.

- Acorda, Belinha! – falou, toda sorrisos, empurrando as cortinas com uma força desnecessária. O sorriso desapareceu, assim como a pouca cor que havia em seu rosto fino – Bellatrix?!

Bella pôs-se sentada e bem acordada na hora. Puxou a varinha sobre o criado-mudo e apontou-a para a irmã:

- O que você faz aqui?

Narcisa apontou para trás de Bella:

- O que ele faz aí?

Bella olhou para trás, como quem tenta enxergar um ente invisível. Deu com Sirius já sentado, uma expressão muito sem-graça no rosto.

- Oi Trix! Oi Ciça!

Surgiu um sorriso triunfante no rosto de Ciça.

- Eu sabia, eu sabia! – ela cantarolou.

Sirius olhou de uma prima para a outra:

- Ciça vai esquecer o que viu, não vai Cicinha?

Narcisa riu pelo nariz. A irmã respondeu por ela, faíscas verdes e azuis saltando da varinha, os dentes rilhados, como se estivesse a pouco de cometer um assassinato:

- Ah, ela vai. Não vai?

Narcisa riu de novo e disse, ainda usando aquele irritante tom cantarolado:

- O meu silêncio tem um preço!

Sirius, muito aturdido, concluiu que Malfoy realmente merecia aquela aguada. Bellatrix permaneceu impassível:

- Escolha a jóia que quiser.

Ciça parecia muito satisfeita consigo mesma e ignorando o fato de ter uma varinha apontada para sua testa, disse:

- Jóias? Não... Talvez algo que realmente lhe seja valioso, que só você tenha...

Prescurtou o quarto com um olhar malicioso. Um tanto rouco, Sirius comentou, imitando o tom cantado da prima:

- Pinta o cabelo de preto!

Bella lançou um olhar silenciador ao primo, então voltou a encarar a irmã:

- Escolha logo.

Mas Ciça já havia escolhido. Apontou Sirius maquiavelicamente:

- Quê?! – dessa vez Bella demonstrou o quanto estava irritada – Ficou louca?

- E você tem que ficar olhando – concluiu Narcisa, o fulgor da vingança brilhando em seus olhos claros. Cada centímetro de seu corpo termia, pensando no ódio da irmã ao vê-la...

- Opa! Opa! – Sirius lançou os braços no ar, fazendo sinal de “tempo” – Ninguém vai me questionar? Eu não vou beijar você! – disse indignado, olhando para a Ciça como se ela fosse um trasgo particularmente feio.

Narcisa sorriu, arreganhando os dentes pequeninos:

- Você não tem escolha, bobinho... É isso ou eu acabo com seu romancezinho secreto!

Sirius abriu a boca para protestar, Bella preparou sua pior maldição, mas a srª. Black foi mais rápida que qualquer um deles:

- CIÇA! CADÊ O EDGAR E A BELLA?! QUE DEMORA!

Enfurecida, Narcisa berrou em resposta:

- JÁ ESTÃO INDO! – então se voltou para os dois, apertando os olhos o máximo que podia – Salvos pelo gongo! – e saiu, jogando a cabeleira loira para trás.

Assim que ela sumiu, Sirius murmurou:

- Doida... varrida!

Bella ofegou, parecendo que acabara de correr e guardou a varinha. Olhava fixamente um ponto qualquer janela afora.

- Se ela contar... Vão me jogar nos braços do Lestrange!

Sirius apenas riu, despreocupado, então falou, próximo ao ouvido da prima:

- Se ela contar... Eu levo você na minha moto, para bem longe...

Um arrepio súbito e conhecido subiu pelas costas da garota e espalhou-se por todo seu corpo, até a ponta dos dedos. Estava prestes a dizer que iria com Sirius para onde fosse.

- SIRIUS EDGAR! BELLAAA! ONDE VOCÊS ESTÃO?!?!?!

Sirius fez uma careta e deslizou para fora da cama – Megera! – atravessou o quarto e parando junto a porta, piscou para prima – Te vejo lá embaixo, Trix!

***

O clima na mesa dos Black só estava pior que a fornalha que eram as ruas londrinas naquela manhã de agosto. Bella e Ciça fuzilavam-se com o olhar, sussurrando uma a outra palavras indecorosas, ofensas do mais baixo calibre. Sirius desejava que parassem, por ele o assunto já se encerara, tinha certeza que a loira jamais daria com a língua nos dentes. Um Régulos totalmente alheio perguntou:

- Por que estão tão mal-humorados? Morreu alguém?

Uma xícara de porcelana escapou por entre os dedos trêmulos de Druella, a mulher soluçou e enterrou os dedos nas mãos ossudas, desatando em um choro histérico.

Régulos avermelhou até a raiz dos cabelos escuros, ciente ter dito algo que não devia. Walburga levantou-se de sopetão e ordenou que Monstro, o elfo doméstico, retirasse a mesa. Logo que o elfo saiu, sobrecarregado de bules e bandejas, a matriarca encarou um a um os familiares para então falar, baixa e perigosamente:

- Quis reunir todos essa manhã para comunicá-los o falecimento de nossos caros Alphard e Órion...

- Quê? – Sirius cuspiu metade do seu café de volta à xícara – Como assim...?

- Cale-se, Edgar! – a matriarca replicou, sem encará-lo. Correu mais uma vez o olhar de rapina pelos parentes. Narcisa arregalara os olhos, agitando-se num tremor nervoso, uma cópia da mãe. Bella cobrira os lábios com as mãos e Régulos afundara quase que totalmente na cadeira de espaldar alto, parecendo passar definitivamente mal. Terrivelmente satisfeita com a reação deles, a mulher continuou a explicar:

- Assassinados – Walburga explicou, seu olhar rancoroso agora pousado na irmã – Aparentemente duelaram entre si... Até a morte de ambos.

- Mentira! – Sirius contestou-a – Fale a verdade, quem os matou?

Atrás da matriarca, Bella agitou negativamente a cabeça “Cale-se, tente não piorar...”, mas o primo encarava obstinadamente a própria mãe, esperando uma resposta.

Walburga não disse nada, tateou a mesa, como se procurasse algo pesado o suficiente para lançar no filho, mas Monstro levara toda a baixela. Lívida de fúria, derramou berros sobre Sirius:

- Como ousa me desafiar! SEU INSOLENTE! Não cabe a VOCÊ duvidar das mensagens que passo à família!!! TRAIDORZINHO IMUNDO!!!!

Régulos afundou mais ainda na cadeira, como se a mãe não gritasse com o irmão, e sim com ele. Druella guinchou, escandalizada e Ciça correu a passar os braços finos em torno dos ombros da progenitora. Bellatrix mordeu os lábios, uma fina ruguinha formando-se em sua testa, era como se a manutenção da impassibilidade pudesse abafar os gritos agudos da tia. No teto, os lustres balançarem, teméritos de uma solene queda.

Aí tudo silenciou. Arfando, os olhos semi-cerrados e a pele, macilenta da bochechas tremendo compulsivamente, a srª. Black tornou a sentar-se. O grito lhe aliviara parte da ira. Assim sendo, depois de um pigarro, seguiu o discurso:

- Será depois de amanhã a cerimônia fúnebre. Condolentes com nossa família, os Malfoy colocaram sua mansão à nossa disposição.

Os olhos azuis de Ciça faiscaram momentaneamente, como quase sempre que alguém dizia “Malfoy”, logo em seguida, apertou o abraço em tornos dos ombros de Druella:

- Mamãe vai precisar de mim, não vai?

- Suponho – Bellatrix falou pela primeira vez desde que se sentara à mesa – Que queira ir mais cedo à mansão somente ajudar nos preparativos do funeral, não é?

Ciça notou o sarcasmo e respondeu em desafio:

- É, é sim!

Bella estreitou os olhos para a irmã:

- Seu pai está morto, sua idiota!

- Eu sei!

Contas prateadas surgiram próximos aos cílios da caçula, as faces tingindo-se de carmim até a raiz da cabeleira loira. Sirius fez menção de dizer alguma coisa, mas Walburga foi mais rápida, continuando sua prelação em um tom de voz enfático que faria qualquer um emudecer:

- Então durante o funeral espero que mostrem comportamento adequado. Fui clara?

- Sim, senhora. – disseram quatro vozes entediadas, Druella choramingando ao fundo. Sirius considerou seriamente produzir algum ruído grosseiro com a boca, porém decidiu por não contrariar a mãe, não por ela, mas realmente sentia muito pelo tio Alphard. Órion nem tanto, o conhecera pouco e lhe lembrava demais seu próprio pai. Já o tio Alphard... Em todas as poucas boas lembranças da infância ele estava presente (ele e Andrômeda também), coisas a ver com vassouras de brinquedo, um primeiro vôo, um nó de gravata impossível, uma goles e um vaso quebrado... Uma "indulgência", ferro rangendo num parquinho trouxa... Essas coisas... Depois o tio foi para os E.U.A e o sobrinho para Hogwarts, trocaram algumas cartas bem humoradas e só. Mesmo assim... Sirius apertou os olhos, contendo um marejar insistente. Por que esse tipo de coisa parecia tão irreal?

O rapaz despertou das reminiscências com a voz de sua mãe lhes “dispensando”.

- Podem ir – ela disse e Sirius ia levantando-se, seus olhos em busca dos de Bella – menos Edgar e Bellatrix.

Bella fugiu dos olhos de Sirius e tornou a sentar-se. Ele fez o mesmo, tentando entender porque a prima fazia-se de fria, aí lembrou-se que era Bellatrix Helena Black a pessoa com quem estava se relacionando. “Esculpida em gelo” lhe dissera tio Alphard uma vez, e a garota tinha só nove anos! Outra lembrança. Afastou o longo desfile de pensamentos sombrios e entrelaçou os dedos, os braços apoiados na mesa perolada, encarando a mãe do modo mais digno que podia. Só faltava ela ter descoberto tudo! E a julgar pela expressão sinistramente satisfeita com que Narcisa subia as escadas...

Walburga encarou o filho, dispensando-lhe todo o desprezo que era capaz – o que não era pouca coisa – enfiou a mão nos bolsos das vestes negras e enfunadas. Por um momento Sirius achou que ela iria sacar a varinha e azará-lo, mas a matriarca apenas puxou um envelope lacrado e amassado. Atirou-o para o rapaz:

- Do seu tio Alphard, encontraram no colete dele, talvez tenha sido uma das últimas coisas que fez...

Ignorando o sarcasmo da mãe, Sirius rompeu o lacre e tirou o pergaminho de dentro do envelope. Leu muito rápido:

xx, agosto de 1976
Não posso lhe dizer muito, mas já conversei com Órion e há muito mais do que você imagina em jogo.
Digo apenas para você(s) voltarem a Hogwarts e aproveitarem ao máximo as salas vazias e etc... Farei o possível – vou acreditar que têm certeza do que fazem – para lhes ajudar.

Afetuosamente,
Tio Alphard

Sirius repassou mentalmente a carta. Era isso... Entrara em uma sinuca sem solução, ao menos tinha certeza que não fora um “duelo” o motivo da morte de seu tio, afinal ele e Órion estavam chegando a um consenso! Nunca antes seu cérebro trabalhara tão depressa, formando emaranhados de conclusões uma atrás da outra.

- Então? – perguntou Walburga, os olhos fixos na carta.

Sirius olhou novamente o envelope, havia uma segunda mensagem:

Á família Black:
Se algo acontecer a mim, metade do ouro contido no meu cofre, número 183, em Gringotes, passará à posse de Sirius Edgar Black, meu mui caro sobrinho. A outra metade será repassada a outro dono cuja identidade por hora não revelarei.

Abaixo - assino,
Alphard Black II

Trêmulo, o rapaz ergueu os olhos do pergaminho. Alphard morrera, então...

- Ficou tudo para mim – murmurou, a carta apertada em seus dedos.

- Quê? – perguntou a srª. Black, os olhos ameaçando projetarem-se para fora da órbitas - Você está dizendo que...

- Eu sou o herdeiro de Alphard – Sirius explicou, sabia que a mãe sempre ambicionara por essa pequena fortuna – Mas talvez eu não queira... – resolveu provocá-la - Talvez doe para o St. Mungus...

Druella parara de chorar, atenta à conversa. Bella olhava do primo para a tia, entendendo a situação numa rapidez incrível:

- Você não pode não aceitar uma herança, Sirius!!!

- Quieta, Bella! – disse a srª. Black – Edgar, deixe-me ver isso!

Sirius enfiou o testamento nas mãos de garra, a primeira mensagem citava Bella, e mesmo que indiretamente, não queria provocar nenhuma suspeita. Walburga leu rápido, o rosto passando da raiva ao mais puro desgosto à medida que avançava no texto. Lançou um olhar cortante ao primogênito. Sirius perguntou-se se não fora trocado na maternidade. Ouviu a voz rosnada de Walburga dizer algo muito desagradável:

- Imagino que esteja muito contente com a morte do seu tio, não é?

Sirius não respondeu, secou uma lágrima estúpida e apanhou de volta a carta que Walburga lhe estendia.

- Certo então... Herdeiro. Saia daqui que tenho que falar com sua prima.

Ao ouvir seu nome, Bella endireitou-se na cadeira, exibindo um ar bastante altivo. Sirius saiu pela enorme porta, mas em vez de subir as escadas, parou próximo a porta, os ouvidos bem alertas. Walburga deu as costas à porta que indicava, voltou-se para Bellatrix e tentando parecer mais agradável, aproximou-se para falar:

- Você sabe que não é mais uma criança, Bella. Já deixou de ser uma há muito tempo.

Bella permaneceu em silêncio. Sirius aprumou os ouvidos. A srª. Black pigarreou e continuou a prelação, quase maternal.

- Sendo assim... – Sirius soube que algo de desagradável estava por vir – Eu e sua mãe resolvemos adiantar seu casamento com o Lestrange – ela frisou bem o nome – para logo depois do período em luto, ou seja, em outubro.

Druella ergueu o rosto manchando pela maquiagem que se desfizera com as lágrimas e tomou as mãos da filha entre as suas.

- Derrama lágrimas de emoção, não é, Belinha?

Mais tarde...

- Hei, Trix!

Bella atravessava pesarosamente o corredor dos elfos decapitados, quando alguém chamou-a de uma porta lateral. Fingiu não ouvir, mas Sirius puxou-a para dentro do depósito empoeirado.

- O que foi agora? – ela perguntou, mal-humorada, enquanto o primo trancava a porta.

- Temos que conversar – Sirius disse, apontando um pufe velhíssimo para prima. Bella sentou-se, tomando cuidado para não amarrotar as vestes escuras de luto – Sobre o que está acontecendo.

- Olhe, daqui a pouco a Druella vai me chamar para ir... – Bella suspirou, contendo ao máximo as lágrimas insistentes. Decidira que fora na laje, há quase três semanas, a última vez que chorara – Estou com medo, Sirius. A sua carta não serviu em nada e meu pai está morto... Eu sei que foram eles e provavelmente Lestrange está envolvido e...

Sirius abraçou-a, os dedos enfiados entre as madeixas negras. Bella tinha isso de ser sempre fria e forte, como uma barreira intransponível e então, repentinamente, parecia apenas uma garotinha assustada, de respiração ofegante e olhar amedrontado.

- Não se preocupe, eu vou aceitar a herança e quer saber, não aceitaria se não fosse por você... Talvez fosse a idéia do tio Alphard: eu posso comprar uma casa bem longe daqui, só para nós dois, o que me diz?

A respiração voltando ligeiramente ao normal, Bellatrix afastou-se dos braços de Sirius.

- Sem meu pai, sem meu tio, a Walburga fará o que quiser, ou seja, vai me jogar o mais rápido possível ao Rodolfo, e vai imaginar uma maneira de se livrar de você também, pode ter certeza!

- Então, a gente tem que ir embora o mais... – Sirius insistiu, talvez pela enésima vez. Bella interrompeu-o, uma ruguinha pensativa formando-se em sua fronte:

- Não, não... Nós temos que nos afastar...

- Quê?!

- Por pouco tempo – ela explicou – Até voltarmos para Hogwarts... Menos de duas semanas, Sirius! Na escola teremos mais liberdade e será... Fácil se decidir!

Ambos se encararam longamente. Sirius segurou o rosto da prima entre suas mãos. Por que tão intenso se tão impossível? Beijaram-se com avidez. Por que tão impossível se tão intenso?

Dreams are made winding through her hair!

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