...Não Querendo Enxergar...

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Capítulo 5


- Ótimo – exclamou ela pondo-se de pé – Ótimo! – repetiu, furiosa, parando a sua frente – Você sabia que eu não me importava! Então qual é o seu problema? O que mais você esperava que eu fizesse? – ele levantou-se também, alarmado.
- Tonks...
- Não me velha com esse olhar doce e calmo e compreensível, tá legal, e não TOQUE em mim – gritou quando ele fez menção de segurar seus ombros – Eu cansei disso, não quero mais saber! Você me fez sofrer muito esse ano para consertar tudo com uma história. Mas quer saber? Eu vou parar de me arrastar atrás de você! – as lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto, vermelho e cheio de dor, os olhos negros brilhavam de mágoa. Ela suspirou lentamente, como se lhe custasse um grande esforço e, fitando-o nos olhos, disse, com a voz agora controlada – Desculpe. Mas eu não posso agüentar mais isso, Remus. Não vai dar certo. Eu... – ela engoliu em seco – eu vou embora.
Ela deu meia volta e não tinha dado sequer dois passos, quando sentiu-o agarrar seu braço firmemente. E, embora a mantesse firme próxima a ele, seu toque era tão suave em sua pele, tão quente, macio, que ela teve medo de romper em lágrimas. Era tão mais simples quando eram apenas amigos... Mas ela agora não queria encontrar seus olhos, sabia que quando realmente se encarassem suas pernas ficariam bambas, o ar lhe faltaria nos pulmões e ela enfim acabaria cedendo.
- Tonks, por favor, precisa ouvir até o final. Não estou pedindo que... que fique comigo ou não, depois disso, mas gostaria que ouvisse tudo. Só estou tentando... consertar a situação. Por favor – insistiu ele.
Ela deu meia volta e seus olhares se cruzaram. A reação já fora esperada. Suas pernas tremeram, e, ofegante, ela ouviu a própria voz dizendo: “tudo bem”. Sentou-se novamente embaixo da árvore, mas obrigou-se a ficar longe dele, não se envolver novamente. Uma brisa leve percorreu os jardins, e fê-la sentir-se mais calma por um momento.
- Continue.
- Bom – ele sorriu, aliviado – obrigada.
- Continue – repetiu secamente.
- Certo – ele sentou-se ao lado dela – muito bem.
“Ele, ainda assim, continuou a evitá-la, mas não havia mais argumentos a que recorrer. A não ser a única verdade, a que ele tentara afastar o tempo todo. Que ele tinha medo. Medo de amar e se ferir, medo de ter um relacionamento normal, sendo ele alguém tão... diferente, tão anormal...
“Todos os que sabiam o que estava acontecendo tentavam abrir seus olhos, fazê-lo enxergar o que estava diante de seus olhos. A guerra lá fora não era nada comparada a que se realizava dentro dele. Queria fugir e voltar no tempo, fingir que nada estava acontecendo, mas ao mesmo tempo...”

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Eu entrei silenciosamente na sede da Ordem, tentando não chamar a atenção. Era muito tarde, e eu estava em um estado lastimável, tendo passado por mais uma noite de lua cheia particularmente conturbada, com muitos cortes e arranhões, e, talvez, um pouco de febre. Mas, principalmente, cansado. Entrei na cozinha para preparar uma xícara de chá, quando ela chegou. Na verdade era a última pessoa com quem queria falar
no momento, por que sabia exatamente qual seria o rumo daquela conversa. Era sempre o mesmo.
- Ah, olá, Remus – suspirei pesadamente, mas ela não pareceu notar, ou então, fingiu não ouvir. Analisou severamente meu rosto e então perguntou – Você está bem?
- Boa noite, Molly. Não pensei que ainda estivesse acordada. E claro, estou sim, estou ótimo.
Por alguns instantes, a cozinha ficou em completo silêncio. Então ela abriu a boca outra vez e dessa vez eu sabia o que viria. Era sempre a mesma pergunta, desde que Ninfadora deixara de frequentar a sede.
- Tem visto Tonks, ultimamente, Remus?
- Sabe que não estou mantendo contato com ninguém, Molly – disse depois de um longo gole de chá – Não a tem visto por aqui?
- Oh, não. Ela tem estado um tanto mal. Não está vindo muito para cá, entende. Mas achei que você – frisou ela – devia saber disso. Afinal, todos sabemos o quê a está abatendo, não é? – disse ela em uma ironia que não era a sua habitual.
Ela suspirou, enquanto eu tomava mais um gole. Não queria responder, por que sabia que ela tinha razão.
- Agora ouça, Remus. Eu sei que você está tentando fingir que não é nada, que não é problema seu, mas, por favor. Tonks é uma garota muito especial...
- Uma garota, Molly! É nova demais para...!
- Ela não é criança, Remus! Ela sabe o que quer, e o que é melhor para ela. Por quê não tenta facilitar as coisas? Você está colocando obstáculos ridículos nisso, está querendo se iludir, quando tudo podia ser resolvido tão simplesmente.
Eu continuei calado, sem chances de reclamar. Era difícil argumentar quando havia tanta verdade no que ela dizia.
- Vá procurá-la. Você a ama, Remus, precisa dela.
E essa, eu percebi, era a maior de todas elas.

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“... ele a amava mais do que tudo.”

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