Reencontros



Era sábado. O melhor dia da semana, na opinião de muitos. E esse estava para ser, com certeza, um dos sábados mais bonitos daquele ano em Londres. Havia chovido a noite inteira, mas logo de manhã já se podia ver um sol muito brilhante no céu, além de um magnífico arco-íris. Uma paisagem rara numa cidade tão movimentada. Os relógios marcavam por volta de 7 horas da manhã e, pelo horário, muitos dos cidadãos ainda estavam na cama, dormindo tranquilamente. Na parte mais calma da cidade, porém, havia um rapaz de exatos 22 anos de idade que já estava de pé. Aliás, ele não havia dormido metade da noite. Harry Potter estava sentado na cozinha de sua casa, situada no Largo Grimmauld. Apesar das inúmeras noites muito mal dormidas que já passara, ele mantinha uma expressão constante e alerta. Não que havia algum perigo por perto, mas Harry se acostumara a viver prestando muita atenção em tudo e todos. Seus cabelos negros estavam - e eram - incrivelmente bagunçados e a franja que ele deixara crescer desleixadamente cobria parte de seus olhos, que puxados de sua mãe, eram verdes como duas esmeraldas e escondidos por óculos um tanto grossos. Bem no meio de sua testa, havia a cicatriz pela qual ele era tão famoso e conhecido, em forma de raio. Ele bebericava um copo de água e olhava distraida e fixamente para a janela, sem perceber que lá fora estava um dia esplêndido. Ficou ali por mais duas horas e, quando viu o relógio de pulso assustou-se.
- Tenho que parar de ficar sentado pensando. - ele disse. Sua voz correspondia exatamente ao seu caráter, história e personalidade. Era alerta, decisiva e ligeiramente cansada. Ele andou pela casa e foi até seu quarto, onde trocou de roupa e saiu. Estava caminhando pela rua e, automaticamente, prestando atenção em absolutamente tudo a sua volta.
"Precisa de pintura nova. Tem um buraco do tamanho de um besouro no asfalto. O que aquele sapato faz ali ? O bebê está com calor, não com fome. Aquele cachorro tem 7 ou 8 manchas ?", ele pensava. Porém, todos esses pensamentos foram varridos de sua mente quando ele chegou num beco muito escuro em uma parte pouco movimentada da cidade. Ele entrou lá e simplesmente sumiu. Ou, como os bruxos dizem, aparatou. Sim, Harry Potter era um bruxo. E não só um bruxo qualquer, era o maior do século e um dos maiores da história, de acordo com vários livros e pessoas. Ele próprio discordava disso.
Harry aterrissou num lugar muito bonito. Era campo, a grama era de um verde muitíssimo bonito, haviam muitas árvores e logo à frente, um vilarejo e um lago. Harry recomeçou a andar, seus passos não faziam sequer um vestígio de barulho, embora ele estivesse pisando em grama fofa. Logo chegou no vilarejo. Não era muito grande, haviam pequenas casas pelos lados, além de farmácias, bares e cabines telefônicas. A grama cessava perto das casas e era substituída por pisos de barro seco. Tudo era feito de madeira e pregos e tinha um ar confortavelmente antigo. O rapaz se encaminhou diretamente a uma casa, não muito diferente das outras. Era pequena e mal se entrava pela porta estreita. As janelas pareciam muito velhas e usadas e havia sujeira em muitos cantos. Harry parou em frente a porta e bateu 5 vezes, num ritmo específico. Ele ouviu algo cair no chão, franziu a testa, e logo ouviu passos apressados. Uma jovem abriu a porta e ele sorriu. Ela estava boquiaberta, e imediatamente o abraçou muito forte. Harry se assustou, mas sentiu-se muito bem depois. Eles ficaram ali, apenas abraçados, por algum tempo. Depois ele a soltou muito devagar e a olhou nos olhos. Ela era quase da idade dele, mas parecia bem mais moça. Tinha cabelos compridos e vermelhos cor de fogo e incríveis olhos castanhos que brilhavam a todo momento. E era visível que tivera sardas na infância.
- Você finalmente veio. - ela disse. Havia algo em sua voz que acalmava a qualquer um que trocasse uma palavra com ela e isso era uma das coisas que fazia Gina Weasley ser tão especial.
- Eu disse que nunca te deixaria. - respondeu Harry. Ele acompanhou uma fina lágrima cair pelo olho direito dela e correr pelo seu rosto.
- Não se preocupe - ela falou - é de felicidade. - e sorriu. Ele não pôde se conter, e sorriu também. O único sorriso que ele havia dado nos últimos 5 anos.


- Entre.
- Tem certeza ?
- É claro. Não há mais o que temer.
- Eu sei. - ele respondeu e entrou. O interior era tão enorme quanto a frente da casa. Era tudo tão espaçoso que seus olhos não conseguiam saber pra onde olhar e ninguém que havia estado nela havia visto com clareza todos os seus cantos. Ele abriu a boca, surpreso. Logo que entrou, pôde ver que haviam não uma, mas duas escadas adiante. No lado direito, havia uma magnífica porta de algum material extremamente bonito e caro. No lado esquerdo, havia uma porta idêntica. Ele olhou a grande sala em que estava e calculou que apenas naquele cômodo da casa ele deveria ter que andar uns 500 passos longos para ir de um lado a outro.
- É... - ele começou a falar, rouco, tanto porque sua voz era assim como porque ele estava maravilhado - é... - ele não conseguia achar a palavra - é tão... cansativo. - ele terminou, franzindo a testa e virando a cabeça - que estava virada para cima, tentando ver todo o teto - para olhar para ela.
- Achei que ia falar que é grande. - ela retrucou, num tom levemente bravo, seu tom de sempre e irônico, o qual ela nunca usava.
- Bem, é enorme, sim, com certeza. - ele disse, ainda olhando para ela. De repente ele ficou sério.
- Que foi ? - ela perguntou, preocupada. Ele continuou a olhar para ela.
- Não sei. Faz tanto tempo que não te vejo e agora simplesmente não consigo parar de te olhar. - ele respondeu, parecendo não conseguir se conter antes de falar, pois logo depois ficou muito vermelho. Ela, no entanto, sorriu timidamente.
- Sabe... - ele começou a falar, ficando de frente para ela - seu cabelo continua da mesma cor, mas agora ele está mais ondulado que cacheado. - e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou - E os seus olhos também. - ele deu uma pequena risada - Estão do mesmo jeito como estavam quando os vi pela última vez. - e riu novamente. Desta vez ela riu junto.
- Você, por outro lado, está muito mudado. - ela disse, com os olhos fixos nos olhos dele - Deixou o cabelo crescer, como tanto gostava, mas mesmo assim ele continua sem jeito e continua desse vermelho tão vivo. - ela mantinha os olhos parados e, curiosamente, eles brilhavam - E, ah, como você amadureceu. Nunca pensei que você pudesse ter esse começo de barba de que tanto falávamos. - e os dois riram levemente, lembrando-se de velhos tempos - Mas o que eu mais gosto em você ainda está aqui. Seus olhos continuam me acalmando, Rony. - ela se calou e olhou para ele, tristemente.
- Estava com tanta saudade, sabia ? - ela disse.
- Sabia. - ele respondeu. Queria dizer que também estava. Queria dizer que quase explodira de tanta saudade. Que não aguentara ficar tanto tempo sem ela. Que queria abraçá-la mais que tudo. E então, sem aviso, foi ela quem o abraçou. Ele correspondeu ao abraço muito timidamente.
- Agora podemos recomeçar. - ele sussurrou no ouvido dela, parecia não ligar que estava expondo seus sentimentos, coisa que fazia com extrema dificuldade.
E então, Hermione Granger sorriu feliz, pois estava novamente com o menino que amava, e ele se transformara num homem. Ela, agora, podia começar sua vida com Ronald Weasley de onde haviam parado.

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