O testamento



_ ...Depois da morte de sua mãe, toda a minha vida foi dedicada aos Dragões. Nunca pensei em nada além, e por isso a única coisa que me restou foi a mansão Malfoy. E agora ela é sua. E por mais que você repita que nunca fará parte ou terá qualquer ligação com o nome Malfoy, deixe-me lembra-lo de um pequeno detalhe: você é órfão e sem um lugar para viver fora do orfanato.
Willian terminou de ler e olhou para Allison que o ouvia atentamente, segurando-se para não rir.
_ E ele estava muito certo, não acha? _ perguntou ela sorrindo.
_ E o que você acha dessa ruína? – retrucou Willian apontando para a mansão logo em frente deles. Allison estufou o peito e contemplou a construção de pedras com um brilho nos olhos.
_ Eu acho que será uma esplendida sede para o nosso futuro jornal!
_ E as crianças vão adorar o quintal! _ exclamou Mariah parando entre eles _ Com licença que a Sra. Weasley vai inspecionar o recinto! Matthew! Me ajuda a subir essas escadas!
Matthew passou pelos amigos carregando uma cesta e disse antes de ajudar a esposa a subir os degraus:
_ Eu falei para ela que não deveria ter vindo! Mas tentem contrariar ela nesse estado.
Allison e Willian não puderam deixar de rir ao verem Matthew ajudando uma Mariah com a sua barriga de nove meses a subir. Já haviam se passado cinco anos desde a formatura deles em Hogwarts, e muitas coisa tinham mudado nesse tempo.
Logo depois da formatura, Allison e Willian haviam conseguido estágios no Profeta Diário, ele como fotógrafo e ela como assistente da mais popular jornalista de lá. Hoje já haviam conseguido mais reconhecimento para o trabalho deles, mas nada conseguia derrubar o sonho de Allison de ter seu próprio jornal.
Já Matthew fora descoberto por um olheiro no último ano de Hogwarts e foi escalado para o Montrose Magies, e já haviam se destacado ao ponto de ser convidado para a seleção. Mariah tinha fracassado na carreira que escolhera no ministério, mas descobriu um grande dom para administração, e acabou assumindo o cargo de empresária de Matthew. Depois de alguns tempos juntos, eles pareciam ter deixado as diferenças de lado, e se casaram com uma grande festa. Com direito a participação de todos os Weasley. Mariah contou para Allison no dia do casamento que, no fundo, sempre achara Matthew uma gracinha.
_ Não vão entrar?! _ Matthew perguntou assim que conseguiu ajudar Mariah a subir.
_ Eu ainda acho que seria a melhor esquecermos desse lugar. _ disse Willian _ Aqui foi o esconderijo dos Dragões por muito tempo. Deve estar repleto de magia negra e armadilhas!
_ Não seja bobo, Will! Ela foi revistada pedra-por-pedra pelos aurors, inclusive pelo professor Potter, e eu tenho certeza de que está limpa!... Bom, não muito limpa, mas nós damos um jeito. Vamos!
Allison puxou de uma vez e destrancou a porta com a chave que veio junto com o testamento. A porta abriu acompanhada pelo rangido das dobradiças velhas, e a luz iluminou um grande salão que Willian só tinha visto uma vez na vida.
_ Eu realmente esperava não estar nesse lugar de novo. _ falou Willian frente a reação maravilhada que surgiu no rosto de Allison.
_ Olha só esse salão! _ Allison tentava inspecionar todos os cantos dele de uma só vez _ Por que não me contou como era antes?
_ Alguma dúvida que você teria me arrastado aqui na mesma hora?
_ Uau! _ Matthew também olhava abobado em volta acompanhado por Mariah _ Se esses Dragões Negros tivessem escolhido jogar quadribol a invés de matar pessoas, poderiam ter feito um campo coberto aqui!
_ Uma bela de uma recepção, não acha Mariah? _ perguntou Allison.
_ Depois de abrirmos essas cortinas e tirarmos essas camadas de pó, isso aqui vai fazer inveja até ao átrio do ministério! Vamos começar?
_ O quê?! _ assustou-se Matthew _ Está pensando em fazer faxina nesse casarão com essa barriga?
_ E por que não? Me alcança mais um daqueles sanduíches de atum da cesta. E não vou fazer esforço algum! É só achar algumas vassouras que eu as coloco para trabalhar. É isso que eu faço, se esqueceu? Cuido do trabalho dos outros.
_ Vou ver essas outras salas! _ anunciou Allison antes de sumir por um corredor.
_ Cuidado! Não sabemos que tipo de animal mágico pode ter se criado aqui! _ disse Willian para ela lembrando no mesmo instante do basilisco que quase o fez de ração _ Hum... vou olhar lá em cima. _ ele tentou avisar para Matthew que tentava lembrar uma Mariah devoradora de sanduíches de atum de que ela deveria ficaram em repouso absoluto.
Willian deixou os dois se acertarem e subiu para o outro andar. Conforme ele andava, abria as janelas e as cortinas com um aceno de varinha. O aspecto desse andar não estava muito diferente do térreo. Eles com certeza precisariam mais de dois meses para colocar todo em ordem.
Ele entrou em uma sala escura e abriu as cortinas. Logo reconheceu a lareira da sala onde encontraram o professor Potter amordaçado naquele dia. Coberto novamente, mas ainda caído no chão, estava o quadro que mostrou que aquela mansão era dele também. Ele tirou o pano preto de cima e se deparou novamente com a pintura de seu pai quando garoto. Agora, analisando a pintura de perto, ele podia ver que não havia como o professor Potter ter se enganado. O garoto da pintura era exatamente igual a ele naquela época, menos pelos olhos, que eram iguais ao daquela garotinha da foto na casa da avó de Matthew, sua avó também agora.
Mais uma vez ele lembrou do que a mãe de Matthew havia lhe dito quando voltou para a escola, depois de tudo. Ele não havia conseguido salvar o seu pai como ela dissera. Draco Malfoy tinha se matado em Azkabam antes mesmo de Willian poder pensar direito no que tinha acontecido. Ele recebera uma carta com o testamento de seu pai e a chave da mansão. E até esse dia, ele havia guardado essas duas coisas em segredo, esperando não precisar delas nunca. Mas a vontade de Allison sempre falou mais forte para ele. E ver o sonho dela ser quebrado em cacos por aquela jornalista d’O Profeta Diário não estava em seus planos. _ Você demorou mais do que eu havia previsto.
Uma voz cortou o fio de pensamento de Willian. Uma voz estranhamente conhecida.
_ Surpreso em me ver?
Willian virou-se e viu alguém escorado na porta com os braços cruzados o observando.
_ Vo-você morreu! _ conseguiu dizer Willian.
_ É mesmo? _ perguntou Draco olhando para as próprias mãos _ Então acho que esqueci de deixar o meu corpo para trás...
_ O que está fazendo aqui?!
_ Eliminando algumas pragas rastejantes e esperando que você resolve-se aparecer.
_ Mas... Por quê?!
_ Bom, _ ele entrou na sala e sentou em uma das cadeiras da antiga mesa de reuniões dos Dragões Negros _ Nunca subestime um dragão, foi o que eu falei para o Potter. Mas ele achava que eu tinha ma certa tendência a mentir.
_ E fingir que está morto não é uma mentira?
_ Depende do ponto de vista. Se eu não me matasse, eles teriam sugado a minha alma.
_ Era isso que merecia!
_ Acha? _ ele franziu a testa _ Eu acho que ficar preso aqui durante esses anos todos já está sendo uma tortura merecida.
_ O que quer?
_ Nada. Somente permanecer no sótão dessa casa que foi onde eu fiquei até agora.
Willian o encarou e Draco manteve o ar determinado. Então Willian seguiu com passos firmes e parecendo furioso em direção a porta.
_ Vai me denunciar para os aurors? _ perguntou Draco cruzando os braços atrás da cabeça.
Willian parou na porta e falou ainda de costas:
_ Não deixe que ninguém te veja se quiser ficar aqui! _ e saiu sem dizer mais nada.
Draco sorriu e olhou para o quadro, onde o garoto loiro de olhos acinzentados o encarava com indiferença.
_ Eu sabia que ele era diferente de você...   

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