Entre visitas e gritos



Nota do Autor


Vejo a arte de escrever não só como uma incomparável forma de divertimento, mas algo que nos possibilita o direito de expor as mais diversificadas maneiras de ver o mundo. Ao ler minha FanFic espero que você além do que aqui está escrito, possa como eu ao escrevê-la, sentir a magia que se encontra nas fugas, batalhas, romances e mistérios vivenciados intensamente por Harry Potter.
Desejo também que você possa descobrir que por trás deste mundo fictício idealizado fantasticamente por Joanne Rowling, existem além das grandes aventuras, gloriosos ensinamentos de como enfrentar a vida. Estão todos lá, é só buscar nas estrelas...
Por aqui fico, e anseio sinceramente que a partir de agora tu possa incorporar o jovem bruxo, e viver com ele as mais incríveis emoções! Boa leitura.

Jhonatan Leal.


Prólogo


Após um ano recheado de acontecimentos absolutamente imprevistos, como a trágica morte do seu padrinho Sirius Black, a revelação de segredos cujo foram restritamente guardados durante anos pelo soberano Alvo Dumbledore e as primeiras conseqüências geradas pelo re-surgimento do temível Lord Voldemort, Harry finalmente percebera que os fatos que estavam a sua volta eram bem mais sérios do que ele imaginara.
Por em quanto o jovem órfão encontra-se hospedado na casa dos seus horripilantes tios, os Dursley’s, passando os derradeiros dias das férias de verão. A Ordem da Fênix está mantendo contato constante, e os seus inseparáveis amigos Rony e Hermione não se cansam de enviar cartas onde sempre se demonstram preocupados com o bem estar do garoto. Estando no mundo dos trouxas o mago está absolutamente impossibilitado de saber o que seu rival anda aprontando, o que o deixa ainda mais preocupado. Nossa história toma continuidade iniciando em uma data significante para Harry - 31 de Julho, dia do seu décimo sexto aniversário. Harry Potter jamais faria idéia que fortes e assombrosas surpresas o aguardam não apenas no dia em que se comemora seu nascimento, mas durante todo o ano letivo...



CADAGRUNS


-- CAPÍTULO UM –
Entre visitas e gritos


Um denso nevoeiro deslizava sobre a rua dos Alfeneiros na mórbida noite de verão. No céu o brilho das estrelas se ofuscou entre as grandes camadas de nuvens turvas e pesadas de água, que deslizavam lentamente na atmosfera. As folhas das belas árvores podadas da alameda dançavam ao som do vento quente, que espalhava mormaço entre os seres da região. Já haviam se passado das vinte e duas horas do dia trinta de Julho, quando grandes cortinas de repentinas gotas inundaram a rua e começaram a martelar as janelas e telhados das casas, anunciando a chegada da tradicional chuva de verão.
Os trovões que roncavam tão alto quanto gigantes foram suficientes para acordar o jovem de sono leve, que jazia em uma cama tão empoeirada quanto o seu próprio quarto, na casa de número quatro. Harry Potter continuou deitado entre a coberta surrada e mal lavada, cujo não era mais o suficiente grande para cobrir todo o seu corpo, pois o garoto vinha crescendo tão rápido e instantaneamente quanto um Dragão Norueguês. Ao abrir os irradiantes olhos verdes de brilho peculiar, o menino que finalmente virara rapaz sentou-se sem pressa na cama, pôs os óculos de aros redondos, acendeu o abajur sobre o criado-mudo e apanhou cuidadosamente um livro que estava em cima do mesmo.
Os finos raios dourados de luz vindos do abajur iluminaram as antigas fotos existentes no livro aberto sobre o colo do garoto. Harry lembrou que aquele álbum de fotografias dado pelo atrapalhado gigante Rúbeo Hagrid em seu primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts, não lhe traria boas recordações. Não que ele não gostasse das pessoas que lá estavam retratadas, mas lhe era muito doloroso saber que os ali presentes já estavam em sua maioria mortos.
Lutando contra a dor que o sufocava, Harry virou a página em que se via um majestoso castelo e vislumbrou a foto de um jovem casal que o fitavam com grandes sorrisos nos lábios, segurando entre longos mantos brancos um pequenino bebê. Com os dedos trêmulos e úmidos de ansiedade, Harry acariciou levemente os rostos de seus pais, que pareciam não cansarem de sorrir. Contemplou aquela foto durante horas, imaginando onde e como eles estariam naquele momento, idealizando como teria sido sua vida se tivesse morado com eles e não com os tios maquiavélicos. Desejou ter um pai que se orgulhasse ao velo jogar quadribol, uma mãe que o desse carinho e o acomodasse... Harry ambicionava algo que a sua pequena fortuna guardada nas profundezas do Banco Gringotes jamais poderia comprar. O órfão bruxo cobiçava o que todos tinham, mas que lhe fora roubado antes mesmo de aprender a andar e a falar. No exato momento em que o relógio sob a cabeceira indicou meia-noite, Harry Potter desejou mais do que nunca ter uma família.
O bruxo adolescente continuou admirando as fotos, mas as pálpebras de seus olhos aos poucos ficaram tão ou mais pesadas que o seu inaturável primo Duda. Do lado de fora da casa, uma infinidade de raios chocavam-se violentamente contra o chão. Os trovões já estavam ensurdecedores e a chuva se elevara ainda mais, acompanhada dos relâmpagos que pareciam gigantescos flash’s disparados por máquinas fotográficas no céu nublado.
Harry já estava cochilando com o álbum entre as mãos, quando fora novamente despertado por barulhos que vinham do lado externo da casa. Acontece que desta vez não foi a forte pancada da chuva nem os graves ruídos produzidos pelos trovões que o acordaram, mas silvos extremamente agudos, cujo lembravam gritos desesperados de dor. O jovem se assustou ao perceber que os berros se prolongavam e ganhavam intensidade cada vez mais, chegando a superar o volume da melodia realizada pelas centenas de gotas que colidiam com o chão. Preocupado, o bruxo deslocou-se delicadamente de sua cama até a janela quadrada do quarto, com esperanças de ver quem eram os donos dos peculiares grunhidos.
O rapaz chegou a achatar o nariz na vidraça com fracassadas tentativas de saber quem ou o que estava originando tais sons. Mas a rua dos Alfeneiros continuava deserta e pacata, sendo banhada pela chuva que formava micro correntezas no meio-fio das calçadas. Os terríveis gritos de agonia não cessaram, ecoaram com ainda mais vigor, assemelhando-se cada vez mais com fortes exclamações de sofrimento.
Após alguns minutos analisando o cruel som que invadia seus ouvidos provocando o batimento acelerado de seu coração, Harry não teve dúvidas que uma pessoa estaria sendo brutalmente torturada a poucos metros de sua casa. Passou minuciosamente os olhos entre os domicílios que transpareciam na vidraça molhada e aguçou os ouvidos. Acontece que algo absolutamente inesperado tirou a atenção de Harry. O que o jovem órfão viu no segundo seguinte fez seu estômago saltar em sua barriga. Seu coração foi envolvido por uma brisa gélida e seu corpo baixou a temperatura tão rápido como um piscar de olhos.
Entre os relâmpagos, raios e trovões, saiu das nuvens chuvosas um imponente animal. Ele possuía longas asas cobertas de penas brancas, grandes garras e um magnífico corpo de cavalo. O hipogrifo deslizava no ar fazendo graciosos movimentos com asas que estavam encharcadas de água. O bicho aos poucos foi se aproximando do solo asfaltado da antiga rua dos Alfeneiros, fixando seus olhos brilhantes na casa de número 4. Parecia que estava voando há horas por sua respiração ofegante ao chegar no chão plano. Não tardou para Harry perceber que aquele era Bicuço, o animal de estimação do seu falecido padrinho. Uma pessoa encapuzada por uma comprida capa negra estava montada no animal.
Harry não acreditava no que estava vendo. Aos poucos suas pernas pareciam não agüentarem o próprio corpo, pois tremiam como se ele estivesse no meio de uma nevasca. O garoto sentiu finalmente acontecer o que esperou durante o verão inteiro. Ele sempre soubera que Sirius Black não havia morrido, “ele apenas tinha entrado dentro daquele véu esfarrapado, só isso”. As pessoas realmente estavam enganadas quanto à morte de Black, inclusive Dumbledore. E agora ele veio, seu padrinho, no dia do seu aniversário para lhe fazer uma surpresa. Em quanto à pessoa lá fora desceu do animal e pareceu consultar um pedaço de pergaminho, Harry saiu correndo do seu quarto em direção ao andar inferior. No instante que passou pelas salas, escadas e corredores o garoto ficou imaginando qual seria a reação de seus amigos ao saberem que Sirius estava tão vivo quanto ele.
Ao chegar no hall, o jovem bruxo apanhou uma chave velha, enfiou-a na porta de entrada, girou-a, e abriu o portal com entusiasmo. Deu longos passos até a calçada da rua, onde certamente reveria a pessoa que ele amava tanto quanto seu próprio pai. Seus olhos estavam aos poucos se inundando de lágrimas, sua respiração ganhou ainda mais veemência e Harry sentiu os cabelos da nuca se arrepiarem. Para sua infelicidade a misteriosa Alfeneiros estava deserta e sombria, recebendo os últimos pingos de chuva que caiam do céu para refrescar as árvores e gramados secos. “Mas ele estava aqui, eu o vi!”, pensou o garoto que estava desesperado, procurando o inexistente em todos os lugares.
Depois de uma exausta busca, o órfão sentou-se sobre a calçada, contemplando as estrelas que retornaram a cintilar após o término da tempestade. Um festival de imagens passou na mente de Harry como em um filme. Ele recordou cada momento emocionante que viveu com seu padrinho, desde a primeira vez em que o viu transformado em cachorro na rua Magnólia até os últimos segundos de Black, quando ele caiu drasticamente no véu negro. A vida havia sido novamente cruel com o garoto, por uma fração de segundos ele imaginou que finalmente tinha recebido o que lhe tiraram, mas para seu desanimo, ele estava sendo iludido mais uma vez. Harry nem percebera que os estranhos gritos haviam acabado, só conseguia pensar no porque de seu padrinho ter partido antes mesmo de vê-lo. “A chuva estava bastante intensa, e pela janela embaçada não deu para ver a fisionomia de Sirius, que utilizava uma capa preta para se proteger da água” – pensou Harry. Mas estranhamente uma voz em sua mente lhe dava certeza: Era o Sirius Black!.

- O que fazes no meio da rua à uma hora dessas? – Perguntou-lhe uma voz a suas costas. Um forte cheiro de tabaco e bebida invadiu o ar.

Harry levantou-se da calçada e deparou com um homem de pernas curtas, vestes surradas e olhos inchados. Estava fumando um velho cachimbo sujo, soltando grandes baforadas de fumaça.

- Mundungo você viu ele não viu? Eu sei que viu! Onde está ele? – Começou a perguntar o garoto com esperanças de saber algo sobre a vinda repentina de Sirius.

- Do que você está falando? Você viu os Desalmados também?– Disse o homem que parecia estar mais que tranqüilo, soltando enormes camadas de fumaça verde pela boca. – É, infeli...

- Você sabe muito bem do que eu estou falando! – interrompeu Harry - Quer dizer que ele está realmente vivo? Fale, eu sei que você também o viu!

- Não sei o que você viu, ouviu, sentiu – retrucou Mudungo em tom autoritário – Mas é muito perigoso ficar perambulando de madrugada por aí, rapaz! E depois do que aconteceu agora a pouco então...

- O que foi que aconteceu agora a pouco?

- Agora a pouco? Eu disse agora a pouco? – falou o homem como se estivesse acordado de um sonho – É... hum... Não é bem agora a pouco. Desde que Você-Sabe-Quem se reergueu as coisas estão ficando cada vez piores. Tenho que fazer vigilância dobrada juntamente com o Seu Patinhas, isto sem receber aumento a um ano! E não tenho tido mais tempo de comprar os caldeirões, varinhas e animais para revender...

- Você tem visto o Dumbledore? É verdade que Voldemort voltou a atacar?

- Não fale este nome! – gritou Mundungo tremendo com o susto - Vamos, entre logo, não me faça mais perguntas, ou aquela velha da Figg vai terminar vindo aqui perguntar o que está acontecendo.

Mil perguntas desembarcaram na mente de Harry como se tivessem chegado todas juntas em um Nôitimbus Andante. O garoto sabia que Mundungo não lhe diria mais nada sobre os assuntos sem respostas. Com isso, ultrapassou a nuvem de fumaça multicolorida vinda do cachimbo do homem sem dizer nenhuma palavra. Antes de tocar o trinco da porta de entrada da casa dos Dursley’s, Harry ouviu Fletcher resmungar:

- Espero que você tenha um feliz aniversário...



Os acontecimentos da noite passada giravam todos juntos e embaralhados na mente de Harry como roupas em uma máquina de lavar. Após analisar os fatos ele chegou a ter dúvida se realmente vira o homem montado no hipogrifo, mas toda aquela cena foi tão real, que o garoto continuava a ter certeza que não estava delirando. Os gritos horripilantes não lhe foram relevantes, “talvez um trouxa esteve sendo torturado em um assalto”, ato mais do que normal na cidade.
O bruxo estava encolhido na cama, quando fora acordado por um som frenético vindo de sua janela. Ao abrir os olhos, à claridade solar que já tomava conta do quarto fez a pupila do garoto se contrair, e ele aos poucos percebeu que do lado de fora haviam três corujas excitadas que continuavam a bater no vidro da janela com os bicos. Levantou-se imediatamente e abriu a janela para que as aves pudessem entregar as encomendas. Foi um farfalhar de penas, Edwiges, Pichitinho e a coruja de igreja ultrapassaram de uma só vez o buraco quadrado na parede, como se desejassem cumprir logo com suas tarefas. As três largaram os pacotes e envelopes aos pés do garoto e voaram desesperadas para o poleiro de Edwiges em busca de água e ração. Harry apanhou um cartão com uma letra garranchosa, e leu o que nele havia escrito:

Caro Harry,
Feliz Aniversário
Não escreverei muito aqui, não é fácil escrever quando se tem uma
mão do tamanho da minha.
Desejo que os trouxas estejam lhe tratando bem, caso contrário, me
avise que eu mesmo irei lhe fazer uma visitinha.
Tudo de bom,
Hagrid.


O cartão do gigante estava junto a uma caixa amassada que incrivelmente fedia mais que os puns costumeiros do Tio Válter. Sabendo que o conteúdo do embrulho era mais um prato exótico de Rúbeo, Harry pegou o cartão trazido por Edwiges e o leu com curiosidade:

Querido Harry,
Como tem passado? Espero que estejas bem.
Estou de férias no Brasil neste momento, e estou adorando conhecer
toda a cultura deste maravilhoso lugar. Os trouxas aqui são muito
simpáticos embora andem praticamente nus. E apesar da magia
não ter se popularizado tanto aqui, eles arranjaram formas um tanto
criativas para diversas modalidades de assalto.
Não tenho entrado em contato com o Rony, até porque a coruja dele
poderia chegar morta depois de uma viagem tão longa.
Espero que goste dos presentes, comprei numa loja de artefatos
mágicos aqui no Brasil.

Afetuosamente,
Mione.


Harry abriu com entusiasmo o volumoso embrulho mandado por Hermione, e retirou de dentro um exemplar de O Que os Homens Sabem Sobre as Mulheres, ele só não entendeu o porque de todas as páginas do livro estarem completamente brancas. Juntamente ao livro, a garota lhe remetera bombons capazes de deixar a língua colorida e um tênis da moda, que cuspia as meias quando elas estavam com chulé. O garoto apanhou o ultimo cartão, cujo também estava preso a um presente, e tentou decodificar a caligrafia mal feita que continha no pedaço de pergaminho:

Harry,
As coisas aqui em casa andam horríveis. Tenho muitas notícias sobre
o nosso mundo, principalmente sobre Aquele-Que-Não-Deve-Ser-
Nomeado, mas seria muito perigoso escrevê-las numa carta, ainda
mais nos dias de hoje.


Os fatos ocorridos no ano que se passara envolvendo Voldemort, torturaram a mente de Harry de tal maneira, que o garoto decidiu tentar não pensar no bruxo das trevas em quanto estivesse na casa de trouxas. A curiosidade demasiada para saber o que estava ocorrendo no universo mágico e não ter maneiras de deixá-lo a par das situações, era um dos motivos que o fazia preferir não pensar em tais circunstâncias.

Você nem imagina o que o papai e a mamãe foram capazes de fazer!
O dinheiro que eles recebem já não dá para suprir nossas despesas, e
eles ainda inventaram de ter mais um Weasley! Isto mesmo, a mamãe
recebeu ontem o exame que fez no St. Mungus e foi comprovado, ela
está grávida! Não é terrível?


Harry não conseguiu prender a risada ao imaginar a Sra. Weasley com mais um ruivinho pra dar conta. A situação financeira dos Weasley’s sempre foi precária, mas mais um membro na família não faria muita diferença em comparação a penca de filhos que Molly tivera.

Os gêmeos estão se dando bastante bem com a loja de Logros no Beco
Diagonal, e mamãe e papai aos poucos estão tendo que aceitar a escolha
deles. Para a tristeza de mamãe e para minha alegria o Percy continua
sem nos enviar notícias.
Você tem recebido cartas da Hermione? Não falo com ela a um bom
tempo. Não sei o porque, mas Píchi se recusou a levar uma carta que eu
havia feito para ela.
Terei que acabar por aqui, pois mamãe está me chamando,
certamente ela está tendo outra crise de enjôo.
Felicidades,
Rony Weasley.


Harry abriu o embrulho trazido por Píchi e deu um grande sorriso ao contemplar o “Super Kit Trapaceador”, mais uma invenção das gemealidades Weasley, cujo vinha em uma bela caixa com diversas quantidades de doces enfeitiçados, orelhas extensíveis, canetas de açúcar, caramelos incha-língua e mais uma infinidade de produtos marotos. O jovem bruxo analisou cada presente com muita gratidão, satisfeito, não apenas por os ter recebido, mas por saber que possuía verdadeiros e grandes amigos, com quem tinha a plena certeza que sempre poderia dividir suas mágoas e alegrias.
Mal tinha acabado de guardar as cartas e presentes que ganhou, e seu quarto foi invadido por uma mulher completamente ossuda que tagarelava sem parar. Ela usava um avental florido, tinha os cabelos cheios e louros e um pescoço demasiado comprido. Sua voz era irritante, apressada e a mulher aparentava estar mais que estressada.

- Vamos! Ande! Faça alguma coisa seu inútil! – gritava a mulher – Estou cansada de fazer tudo sozinha em quanto você fica aí deitado, brincando de mágica!

Esta era a cena que se repetia durante todos os dias do verão. A presença de Harry sempre fora indesejada pelos Dursley’s, mas desta vez a raiva que eles sentiam do garoto se multiplicou em dez. Talvez tenha sido pela ameaça que os membros da Ordem da Fênix os fizeram na última vez em que se viram, pelo rabo de porco e a língua gigantesca que o Duda em certa ocasião ganhou de bruxos ou até mesmo por Harry ter inflado a irmã do Tio Válter quando só tinha treze anos de idade.
Harry já estava na cozinha lavando os pratos, Petúnia fritando ovos, quando de repente apareceu no cômodo um rapaz baixo e extremamente gordo. Suas bochechas eram rosadas, seus cabelos outrora louros, agora estavam verdes e embaraçados. Vestia um short negro e comprido, da mesma forma que a desbotada camisa, cujo exibia o desenho de um crânio nas costas. Era visível que ele realmente havia crescido em pouquíssimo tempo, mas dos lados.

- Eu não quero que ele vá com a gente mãe, eu não quero! – disse o rapaz gordo como se tivesse acabado de se lembrar de algo. Apesar de já está com dezesseis anos, Duda continuava sendo o antigo Dudinha, amado e mimado pelo Sr. e Sra. Dursley. Só lembrava de ser o Dudão na presença dos companheiros do clube de luta.

- O Harry não irá conosco filhote, não se preocupe! – disse Petúnia tranqüilizando o garoto que estava preste a fazer um escândalo.

- Eu? Ir pra onde? – Perguntou Harry sem ao menos fazer idéia do que eles estavam conversando.

No mesmo instante um homem com corpo de barril, sem pescoço e dono de uma extensa bigodeira entrou na cozinha a passos largos, sentando-se na mesa ao lado do seu filho. Ele vestia um paletó azul marinho, e parecia impaciente.

- Bom dia Petúnia! Como está você Duda? Ansioso para ir a praia? – perguntou Tio Válter entusiasmado, colocando numerosas quantidades de graipefruit em seu prato.

- Claro pai, mais eu não quero que este verme vá com a gente! – berrou Duda, como se Harry estivesse cobiçando a viagem que eles fariam.

- Eu não seria louco de ir a praia com você! – retrucou Harry parando de lavar os pratos e olhando sarcasticamente para seu primo – É perigoso sabe? Quando você encalhar no mar causará a maior agitação, e levarão horas para que te retirem!

- CALE A BOCA SEU ÓRFÃO DESPRESADO! – bradou Duda se erguendo da cadeira em forma de ameaça - Ele está assim porque além dos pais, agora também está sem padrinho! Eu li uma carta onde uma pessoa da laia dele dava os pêsames...

Tio Válter engasgou-se e Petúnia deixou cair no chão uma tigela que continha os ovos que acabara de passar. Foi o suficiente para deixar Harry irritado. Seu sangue ferveu dentro de suas veias, e uma sensação de raiva e ódio o dominou. Antes de se deixar levar por um impulso e cometer uma loucura, o garoto lembrou-se que não poderia de maneira alguma dar motivos para que fosse definitivamente expulso de Hogwarts. Mesmo almejando transformar seu primo numa bactéria (apesar de achar que seria uma humilhação para o reino dos micróbios ter o Duda entre eles) respirou fundo, e voltou a lavar os pratos tentando esquecer o que acabara de ouvir.

- Que horas viajaremos Válter? – perguntou Petúnia na tentativa de mudar o assunto, esquecendo-se até dos ovos e da tigela estraçalhada no chão.

- No final da tarde Petúnia, assim que eu chegar do trabalho. – falou Válter de boca cheia – Os pais da Sofia a deixaram ir conosco Duda?

Desde que voltou das férias Harry percebera que praticamente a cada cinco frases dita pelos Dursley’s, dez continham o nome Sofia Wilson. Ela era a primeira namorada do Duda, e Válter e Petúnia se orgulhavam muito por isso. Harry nunca chegou a ver a garota que teve a infelicidade de se envolver com seu primo, mas pelos bons comentários exagerados de Petúnia quando falava com as amigas pelo telefone, ela deveria ser tão detestável quanto eles.

- Deixaram sim. Ela disse que já fez as malas, e a tarde virá para aqui – falou Duda comendo graipefruit e já segurando o último que estava sobre a mesa, para que não corresse o risco de Válter pegá-lo primeiro.

- Ah, como o Dudinha cresceu rápido – lamentou-se Petúnia sentando-se a mesa – Já está até de namoradinha!

- Grande Duda! Aposto que todas as garotas no colégio são loucas por você! – disse Válter despenteando os cabelos do filho em forma de carinho.

Harry não via a menor possibilidade de Duda ser desejado por alguma garota. Seria como se todos os rapazes de Hogwarts se apaixonassem pela Murta-Que-Geme ou todas as meninas pelo Neville. Ao escutar o comentário feito pelo tio, Harry soltou uma forte gargalhada apenas para provocar o primo, pois não conseguia ver nada de engraçado muito menos de interessante na conversa dos Dursley.

- Do que você está rindo? – perguntou Duda irritado – Você não sabe nem o que é uma garota, aposto que nunca teve uma namorada! Também, aquele manicômio onde você estuda só tem bruxa!

Tio Válter deu uma longa e exagerada risada, chegando a bater a mão gorda na mesa de tanto rir e Petúnia forçou um sorriso amarelo, como se estivesse fazendo isso por obrigação. Harry sentiu uma bomba explodir dentro de sua cabeça, e ao lembrar que não deveria fazer nada grave para que não cometesse o risco de nunca mais rever Hogwarts e seus amigos, o garoto decidiu continuar calado, como se nada estivesse acontecendo. O fato de saber que tinha deixado o Duda com raiva diminuía um pouco sua irritação.

- Estou atrasado, tenho que ir – disse Válter após recuperar o fôlego – Não venho para o almoço Petúnia, quando eu voltar quero que vocês todos... – ele olhou para Harry que agora secava os pratos – que vocês dois estejam prontos. Até logo! – E se retirou às pressas da cozinha.

- Em quanto estivermos fora este ser ficará aonde mãe? – perguntou Duda indicando Harry com a cabeça redonda – Não quero que ele fique aqui em casa, ele vai mexer nas minhas coisas!

- Eu já estou resolvendo isto Dudinha, não se preocupe. Eu não seria louca de deixá-lo uma semana sozinho aqui, correríamos o risco de quando voltássemos encontrar a casa de cabeça para baixo!

- Não, talvez eu poderia utilizar o feitiço incêndio, sereia bem mais emocionante... – provocou Harry, cujo já estava acostumado a ser tratado como um débil mental.

- Você não pode fazer esta coisa de nome feio aqui em casa, eu sei que não pode! – choramingou Duda que parecia estar desesperado.

- Não se preocupe filhote, em quanto estiver sobre o nosso teto ele não será capaz de fazer estas coisas! – falou Petúnia lançando um olhar ameaçador para Harry – Ele sabe que precisa de nós.

Harry se lembrou das palavras ditas por Dumbledore na última vez em que se viram, onde o velho diretor vos disse que uma vez que ele estivesse sobre o teto dos seus tios, jamais um ser maligno poderia se aproximar, isto devido a um feitiço de sangue feito pelo ancião há dezesseis anos.

- Mas então, onde eu ficarei em quanto vocês estiverem fora? – perguntou Harry, acabando de ter uma idéia.

- Não me faça perguntas, moleque atrevido! – retrucou Petúnia que tinha a cara tão ossuda como a de um cavalo.

- Vocês poderiam deixar eu ir pra a casa de um amigo... – Mas antes de Harry completar a frase, foi interrompido pelo barulho ecoante da campainha.

- Deixa que eu atendo! – gritou Duda soltando o copo de suco sobre a mesa e saindo aos tropeços em direção ao hall da casa.

Meio minuto depois, o garoto gordo voltou à cozinha como se não entendesse o que estava acontecendo.

- É a velha rabugenta da outra rua, ela disse que deseja falar com a senhora.

- Velha rabugenta? O que é que ela quer? – indagou Petúnia saltando da cadeira, retirando imediatamente o avental e ajeitando as madeixas. A mulher foi em amplos passos até o hall receber a visita. Da cozinha dava para Harry ouvir claramente o que elas conversavam.

- Ah! Que surpresa mais agradável Sra. Figg, como vai?

O coração de Harry disparou como uma Firebout no ar, chegando a fazer batimentos abruptamente velozes. Arabela Figg era uma velha que fedia a gato e alho, moradora de uma rua próxima a Alfeneiros. Ela fora mandada por Alvo Dumbledore para assegurar a vida do garoto e manter o diretor sobre aviso de todos os acontecimentos que rondavam a vida de Harry durante o tempo em que ele passava com seus tios.

- Vou bem na medida do possível, claro – respondeu à senhora com a voz acelerada.

- Entre, por favor... – disse Petúnia formalmente.

- Não, obrigada. O que tenho para lhe dizer não custará cinco minutos.

Harry largou os pratos que estava secando em cima da pia, e ficou no corredor tentando ouvir mais claramente o que as mulheres conversavam. Duda estava juntamente a sua mãe, presenciando tudo indiscretamente.

- Você sabe como as notícias no mundo dos tro... – a velha deu uma forte tossida, como se estivesse engasgada.

- Aceita uma água? – ofereceu Petúnia que não estava agüentando o fedor de alho que a senhora possuía.

- Não, obrigada – respondeu a mulher que acabara de se recuperar da tosse fingida – Como eu ia lhe dizendo...

- Tem certeza que não deseja entrar? – insistiu Petúnia tentando cumprir com tudo o que o seu livreto de etiqueta ensinava.

Harry já estava dominado pela curiosidade que o fazia se aproximar cada vez mais do hall, na tentativa de saber qual o motivo da visita de sua guardiã.

- Não, não quero lhe incomodar – respondeu a Sra. Figg – Continuando, as notícias como você sabe Petúnia, andam muito rápido...

- Realmente, as fofocas hoje em dia voam. Eu particularmente detesto as pessoas que falam da vida alheia, acho uma tremenda falta de educação. – disse Petúnia que tinha o costume de passar a manhã inteira esticando o longo pescoço sobre o muro para espiar a vida dos vizinhos – A Clotilde, à moradora do lado, costuma vir todas as tardes aqui para me trazer fofocas, logo eu que não supor...

- Eu também detesto fofocas, e não foi para isto que eu vim aqui – interrompeu a Sra. Figg depressa, como se tivesse esquecido o caldeirão no fogo – Eu soube que você, seu filho e seu marido irão viajar hoje à tarde. E vim me oferecer para cuidar do seu sobrinho durante o tempo em que vocês estiverem fora, como costumávamos fazer antigamente.

Harry não ouviu Petúnia produzir nenhum som. Certamente ela estava pensativa, se perguntando o porque daquela senhora se interessar em ficar com ele.

- É uma pena, mas já combinei de deixar o meu sobrinho com a minha cunhada Guida – respondeu Petúnia pausadamente – Ela tem muito que conversar com ele...

Seria o fim para Harry. Guida era uma mulher grossa e vingativa. Certamente ela mesma se oferecera para ficar com ele, para desta forma poder finalmente fazê-lo sofrer tudo o que ela sofrera ao ser inflada como um balão há três anos.

- Obrigada por querer nos ajudar, agora se me der licença... – falou Petúnia segurando a porta com sua mão ossuda.

- Eu faço questão de ficar com o rapaz – persistiu a Sra. Figg que por pouco não colidiu o rosto na peça de madeira, já que Petúnia estava prestes a fechá-la – Comigo ele andará na linha, não se preocupe.

- Minha cunhada está ansiosa para vê-lo, ela precisa acertar umas contas do passado com ele...

- Não importa! – exclamou a velha com ferocidade, mas aos poucos se apagando como uma lâmpada ao se queimar, na tentativa de alcançar seu objetivo sem utilizar a agressividade. – Deixe-me ficar com ele, minha casa é bem próxima da sua, e ele poderia me ajudar numa infinidade de serviços...

- Deixa mãe ela ficar com Harry, deixa... – pediu Duda com um grande sorriso nos lábios ao imaginar o seu primo limpando as fezes dos gatos da vizinha.

- Desculpe-me Sra. Figg – falou Petúnia ignorando o filho que continuava a insistir para o Harry ficar com a velha – Mas eu já combinei tudo com a Guida e com o meu marido. Hoje mesmo ele irá para casa da minha cunhada, ela o espera há dias...

- Você não entende! – resmungou a velha que aos poucos foi se irritando - Eu preciso ficar com o Harry em quanto você estiver fora!

- Precisa ficar com o Harry? – perguntou Petúnia incrédula – Não senhora, você não tem idéia do que este garoto é capaz de fazer. Ele não é normal como nós, ele sofre de problemas mentais – sussurrou.

- A ÚNICA LOUCA AQUI É VOCÊ! – gritou a Sra. Figg desesperada. – COMO PODE QUERER VIAJAR E ABANDONAR O HARRY DESSE JEITO?

- VOCÊ VEIO ATÉ A MINHA CASA PARA ME DESACATAR? – bradou Petúnia esquecendo todos os dizeres do livrinho de bons modos – O QUE EU FAÇO OU DEIXO DE FAZER COM O MEU SOBRINHO É PROBLEMA MEU! SÓ MEU!

- O QUE VOCÊ FAZ COM O HARRY POTTER É PROBLEMA DE TODA A HUMANIDADE! – gritou a velha elevando ainda mais a voz.

Harry já havia percebido até que ponto a situação se agravara, e infelizmente não poderia fazer nada a não ser ouvir a briga que aos poucos se formulava a alguns metros de si. O garoto fora novamente tomado pela curiosidade, e se aproximou de tal maneira que agora poderia ver de longe tudo o que estava acontecendo. Duda não dava nenhuma palavra, pois estava adorando a batalha verbal das duas.

- O Harry ser problema humanitário? Bem que a Clotilde me disse que você não passava de uma velha esclerosada! – pronunciou petúnia com desdém – Pensa que eu não sei que você conversa com gatos e ainda deixa um bêbado fumante freqüentar sua casa?

- Você não vale as roupas que veste, sua trouxa desprezível! – retrucou Arabela com a respiração ofegante, seus cabelos já haviam se soltado do coque e suas mãos murchas tremiam - Onde eu estava com a cabeça ao aceitar esta missão de Dumbledore? Onde?

Petúnia ficou branca como a neve. Seus olhos se abriram de tal maneira, que pareciam que os globos oculares desejavam saltar de suas órbitas. Cada fio de cabelo de seu corpo se arrepiou, acompanhados da abundante transpiração espontânea produzida pelo seu organismo. Não tardou para seu pequeno cérebro compreender o que estava acontecendo. Dumbledore e trouxa lhe eram palavras bastante familiares, mas jamais pronunciadas dentro de sua casa.

- FORA DA MINHA CASA BRUXA IMUNDA! FORA! FORA! – berrou Petúnia criando coragem para enfrentar o aborto, cujo ela acreditava ser uma feiticeira. Empurrou a velha e indefesa Sra. Figg para o lado externo da casa, e quando ia fechando a porta, a vizinha lançou o corpo flácido na frente, sendo imprensada, já que Petúnia continuava a fazer forças na peça de madeira para impedir a entrada da intrusa. Duda ao ouvir a citação do nome “bruxa”, saiu correndo aos gritos, desesperado pelo meio da casa.

- O... Lo-r-rd das Trevas... voltou a ata-a-car... – balbuciou a Sra. Figg sem ar, pois ainda estava sendo esmagada pela porta – Tod-d-os nós... corremos grande... perigo de vida! Inclusive... vo-o-cê e sua... família Pet-t-únia!

Harry ficou tão impressionado quanto sua tia, cujo finalmente conseguira trancar a porta, após ter moído o corpo da vizinha. Ele fizera praticamente de tudo durante o verão para esquecer que o seu mega-inimigo havia regressado. O mundo dos bruxos realmente deveria se encontrar em alvoroço, e Lord Voldemort seguramente estaria tomando as melhores e mais cruéis das providencias para obter novamente o poder, a imortalidade e o domínio sobre as pessoas. Em quanto Petúnia se estendia desmaiada no chão e Duda choramingava aos berros em seu quarto, Harry ficou se perguntando o que o futuro estaria lhe reservando. Coisas boas, ele tinha certeza que não eram...

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