Capítulo XV



Capítulo quinze


 


Lá embaixo, o
oceano azul-opalescente reluzia com a luz solar parecendo olhar seu reflexo
brilhante nele, aquecendo as águas; sobrevoando no ar, entrecortando brevemente
as nuvens, conforme passava, um avião prateado, com a tinta lascando de leve em
alguns lugares, abrigava diversas pessoas em si e, entre elas, uma garota
morena, olhando seu próprio reflexo no vidro da janela e se odiando
demasiadamente.


Como pudera fazer
aquilo?! Ainda não conseguia acreditar e nem imaginar como tivera coragem,
embora já tivesse passado uma semana desde que fora expulsa do hall de Harry.


Mas agora criara forçar
e mantinha uma certeza que quando chegasse na casa de Adam e ele abrisse a
porta, iria olhá-la com um sorriso calmo e, depois, abraçaria-a calorosamente
e diria que passara todos os dias anteriores com a esperança que ela voltasse e
que ele não era nada sem ela.


Mas no fundo, ela
sabia que não aconteceria assim e, conforme o dia em que eles iriam se ver
chegava, tranformando-se em horas, minutos segundos, ela estava cada vez mais
ansiosa.


Com o coração
pulsando aceleradamente dentro de si, Kirsten ergueu um dedo trêmulo e apertou
a campainha, ouvindo o arrastar desanimado de pés no soalho, dentro da casa e,
logo, a porta entreabriu-se e um rosto que ela não conseguia reconhecer imergiu
na fresta aberta.


Era Adam, isso
sabia. Porém, toda aquela juventude que ela sabia pertencer a ele, parecera ter
evaporado; seus olhos, antes azuis, pareciam ter alguma doença, com as pupilas
azuis no meio de nesgas vermelhas com veias incrustadas. Sob eles, olheiras
enormes, parecendo hematomas de socos sustentavam-se. Seus lábios pareciam ter
congelado e descongelado por pouco tempo, com cortes grotescos sobre eles e com
uma cor um tanto quanto roxa. E a pele, antes sedosa e bonita, agora era
desgastada, com poucas rugas de cansaço.


Ele estava acabado!


- Olá, Adam - ela
murmurou, timidamente, forçando um sorriso. -, como você está?


Ele encarou-a por
alguns segundos e, então, fez menção de fechar novamente a porta, emergindo
pela fresta, mas ela simplesmente pôs o pé, impossibilitando-o de fechá-la.


- Por favor, me
escute...


- Escutar? - repetiu
ele, saindo da casa e encarando-a de perto, as respirações próximas. -, COMO?
VOCÊ ME ABANDONA PARA IR VER O HARRY E AGORA QUE SABE QUE ELE NÃO VAI TE
ABRIGAR, VEM QUERER VIR PARA CÁ? PELO AMOR DE DEUS, TOME VERGONHA NA CARA!


- Eu Sei, Adam, eu
sei que eu errei - disse Kirsten, com cautela. -, mas... eu te amo e sempre te
amarei! Não importa Harry e nem mais ninguém!


- Eu sinto muito -
murmurou Adam, arfando perigosamente. -, mas eu não te quero. Nem como irmã -
sua voz vacilou por um segundo. -, nem como amor...


- Olha para você,
está acabado! - bradou ela. -, Não vive sem mim!


- Um homem consegue
viver sem carne de piranhas...


- Deixe-me ao menos
entrar - a voz da garota soou fraca e calma. -, por favor...


- Entre - respondeu
ele, sorrindo. -, rápido.


E deixou que ela
encaminhasse para dentro da casa, arrastando os pés de cansaço.


- Deve estar cansada
da viagem... não quer deitar-se?


Por que mudara tão
rápido assim? Kirsten assentiu com a cabeça, deitando-se no sofá da sala de
visitas e esticando o corpo, sentindo os ossos estalarem conforme se alongava
mais.


- Quer um chá? - E
antes que ela respondesse. - Eu vou pegar...


Ele emergiu para a
cozinha por alguns segundos, deixando-a ali, sozinha. Sua esperança se
reacendera dentro de si e ela acreditava que Adam iria consertar seus erros e
readmití-la.


Ele voltou
empunhando duas xícaras em uma bandeja de prata e sorriu cordialmente,
indicando uma.


- Pegue - disse. -,
juro que não pus nenhum veneno.


- Sei que não -
replicou Kirsten, sentando-se ao seu lado e tentando demonstrar em seu olhar, a
intensidade do desejo que sentia por ele; de tocar nele, de beijá-lo, de afagar
seus cabelos negros e fazer amor com ele até o amanhecer. - confio em você.


- Que bom!
- Ele ampliou mais ainda o sorriso. - Deve confiar mesmo... hum, está sol, não?


- Muito... quente!


- É...


- Na Inglaterra não
faz tempos assim...


- Creio que não...


- Não...


- Hum...
interessante.


- Muito, não?


- Sim, claro.


- É.


- O chá está bom?


- Delicioso.


- Ótimo.


- No ponto...


- Eu sei fazer chá,
não é?


- Com certeza...


- Ótimo.


- Fico feliz.


- Não mais que
eu...


E então, eles se
sobressaltaram com alguém tocando a campainha; Kirsten deixou que um pouco de líquido
salpicasse no pires, e precipitou-se em secar, deixando que ele atendesse a
porta.


- Já volto - ele
murmurou, sorridente. Segundos depois, ela ouviu passos se aproximando e ergueu
os olhos, deparando-se com dois homens altos, um dois quais empunhando
perigosamente uma algema prateada e o outro perscrutando o cômodo por inteiro
e, depois, pousando seu olhar sobre ela.


- Srta. Kirsten
Pool. A senhorita está acusada do assassinato do seu pai, com direito a provas;
nos acompanhe até a delegacia, por favor, tudo o que disser será usado contra
você!


Ela levantou-se,
paralisada. Como ele tivera coragem de prestar-se aquele papel? De rebaixar-se a
tal nível? Ele... a denunciara à polícia?


Trêmula, ela
caminhou lentamente até o meio da sala e ergueu os braços, sentindo o metal
bater em sua pele, trancando-a a eles... o que faria? Deixaria levar-se... era a
única solução.


Eles puxaram-na com
selvageria pela casa, arrastando-a rua afora e jogando-a dentro de um carro.
Pela janela cheia de grades, impedindo os presos de saírem, ela pôde ver Adam
dando tchauzinhos alegres e sorrindo.


Sei
que não, eu confio em você
.
As palavras vieram-lhe à mente como ferro quente sobre a pele. Confio!
Ela dera quase uma prova de amor! E ele fizera aquilo... mas, não o culpava por
completo. Sabia o ódio que ele devia sentir dela e aquela fora a melhor
alternativa... embora não soubesse o que iria acontecer dali em diante,
confiava em si mesma e... em... Deus.

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