O convite



~*~


Ron puxou seus pés para baixo de suas pernas e tentou concentrar-se. As cartas estavam embaçadas à sua frente; se certas pessoas apenas calassem a boca, talvez ele conseguisse evitar uma explosão.


"Então, eu apenas andei até ela." Simas estava largado pela a cama, sua cabeça apoiada em uma mão enquanto gesticulava com a outra. "Você sabe, eu só disse a ela que ela era bonita e tudo o mais, e que eu gosto do cabelo dela do jeito que ela o usa."


Dino riu.


"Qual é a graça?" Simas protestou, e Ron levantou os olhos para vê-lo corar de leve. "Você tem que dizer essas coisas."


"Certo," respondeu Dino, ainda escondendo um sorriso. "Certo, então, você disse à ela que ela era bonita."


"Então eu apenas disse, 'Você quer ir?' e ela disse sim."


"Só isso?" perguntou Dino.


"Bom... é, só isso."


"Você vai com a Lilá?" perguntou Neville enquanto colocava de volta a tampa da ração do Trevo. "Dodd estava pensando em convidá-la."


Simas enrubesceu um pouco, mas se recuperou. "Cheguei primeiro, eu acho. Você tem que convidar rápido, antes que alguém faça antes."


Dino riu novamente.


Ron embaralhou as cartas enquanto esperava Harry tomar sua vez. Para pessoas que comentavam infinitamente que o Baile era uma grande perda de tempo, seus colegas de quarto com certeza falavam demais sobre isso. Além do que, se Simas estava sendo sincero sobre o seu convite, Ron poderia comer suas peças de xadrez. Do jeito com que ele se atrapalhava e acidentava-se com Lilá, Ron tinha certeza de que todos eram sortudos por ele não ter tacado fogo na Grifinória antes de ela dizer sim. Ainda assim, o fato era que Simas tinha um par, e Ron não. Simas havia convidado. Rápido. Antes de alguém fazê-lo antes.


Convide-me antes que outro garoto faça isso. Os resplandecentes olhos e os desarrumados cabelos de Hermione vieram à lembrança. Ron redobrou sua concentração nas cartas, que tinham fascinantes estampas vermelhas atrás. Não como um último recurso. Cartas vermelhas. O rosto vermelho e brilhante de uma Hermione gritando. Cartas vermelhas. O vestido de gala de Hermione.


"Eu sei como você se sente sobre o vermelho, querido, mas é realmente uma ótima cor para você. Então, porque não essas avermelhadas?" Sua mãe havia apontado para a vitrine de Madame Malkin; Ron havia apenas visto um borrão vermelho antes de Harry tê-lo puxado para o Artigos de Qualidade para Quadribol. Eles voltaram vinte minutos depois para encontrar Hermione e Gina saindo da loja, Hermione com uma grande caixa em mãos, ela mesmo parecendo avermelhada.


"Ron?" Harry mexeu sua mão na frente do rosto de Ron para trazê-lo de volta ao jogo. Ron balançou a cabeça e tentou concentrar-se em sua mão.


"Então é isso?" perguntou Dino.


"É... é isso..." Simas ficara quieto e começara a arrumar sua colcha.


"Simas!" Ron olhou para cima e encontrou Fred em frente à porta aberta do quarto dos meninos, sua toalha de banho em cima de seu ombro e seus braços abertos numa saudação exagerada. "Não está agarrando a Lilá esta noite?" Simas ficou cor-de-rosa e sentou-se ereto enquanto Fred continuava. "Sabe, seu cantinho favorito no salão comunal ainda está livre, e em boa forma, falando nisso! Encurralando-a lá... eu devia tentar isso com a Angelina, ela tem me dado mole ultimamente. Bom, 'noite!" Ele saíra correndo; Simas havia levantado-se rapidamente e batera a porta atrás dele enquanto os garotos davam risadinhas. Até Harry havia abaixado suas cartas e estava a gargalhar.


"Encurralou-a, não?" Riu Ron. "Deixou-a ir embora quando ela disse sim?"


"Engraçado," enraiveceu-se Simas, que havia ficado púrpura por alguns minutos. "Você já resolveu quem vai convidar, Ron? Ou ainda estamos no lance da veela por aqui?"


"Cala a boca." Ron resmungou e tentou recuperar-se. Ele não havia pensado no incidente com Fleur desde que o Baile fora anunciado, mas agora ele lembrava-se claramente - a risadinha de desprezo, o olhar de gelo... ele não podia, não podia fazer aquilo de novo, isso é loucura, essa coisa de Bale, quem precisa de um par de qualquer jeito? Ele iria sozinho. Mas Harry estava tão distante ultimamente que Ron não sabia dizer o que estava acontecendo com ele. De qualquer jeito, ele e Harry iriam sozinhos. E Hermione... Convide-me antes que outro garoto faça isso... Ele tentara várias vezes. Semana passada, quando Harry havia ido se encontrar com Dumbledore. Ontem mesmo, quando ela estava recolhendo suas coisas e ele a havia ajudado com o monstruoso livro-texto de Aritmancia. Mas todo o momento em que ele estava perto dela ele sentia como se tivesse engolido um caramelo Incha-Língua. Ele não conseguia falar. Era inútil. Hermione estava provavelmente na biblioteca agora, sendo convidada por algum esportista famoso que tinha o cérebro na vassoura.


"Ah, ele sabe quem ele vai convidar, sim, e não é uma veela," disse Dino sabiamente. "É a Hermiiiionnnee..."


Ron podia sentir as pontas de suas orelhas começarem a queimar. "Não é," resmungou. Ignorou o sorriso zombador que crescia vagarosamente no rosto de Harry, focando ao invés disso no veludo da sua cama. Suas vestes novas de baile eram de veludo, iguais às de Harry. Legal de Fred e Jorge, realmente, comprá-las para ele, mesmo que eles não o deixassem esquecer isso. Deve ter sido uma ótima venda de seus irmãos no verão, porque as vestes eram perfeitas, e sem sinal de rendas em nenhum lugar. E ele seria amaldiçoado se não ficasse bem de azul.


"Certo, Ron," disse Dino. "Então foi o Neville que azarou Malfoy por insultá-la, né?"


"Ei, que foi que eu fiz?" objetou Neville.


"Minha varinha escapou," Ron murmurou. De fato, sua varinha havia escapado; ele só azarou metade da azaração. Pernas de Gelatina transformaram-se em Pernas de Alguma Coisa, e Malfoy havia caído no chão como uma grande mistura. Mas fora por demais engraçado. Ninguém sabia a contra-azaração, nem mesmo Hermione, e para a sorte de Ron, Snape foi o primeiro professor a chegar na bagunça. A detenção de Ron fora a pior até agora; ele teria de ajudar Madame Pomfrey a diluir pus de Bubotúbera. Mas valera a pena, mesmo que ele amaldiçoasse a si mesmo todos os dias seguintes por não lembrar o que ele havia realmente feito e, portanto, não poderia repetir.


"Ceeeerto," Dino repetiu. "Varinha escapada. Acontece sempre."


"Não, outra pessoa vai convidá-la," disso Simas rapidamente, com um olhar de conspiração para Dino. "Certo, Harry?"


Harry tirou os olhos de sua mão e visivelmente estava confuso, como se não tivesse ouvido uma palavra do que Simas estava dizendo, o que, Ron lembrou a si mesmo, era provavelmente o caso. "O que?"


"Você e Hermione, vamos, nos dê todos os detalhes."


Ron quase gargalhou ao ver a reação de Harry. Ele sentou-se ereto e encarou os colegas de quarto, com uma expressão de crescente exasperação no rosto. "Ela é minha amiga," ele disse automaticamente. "Ela. É. Minha. Amiga."


"Mmmhmm," zombou Simas.


Harry suspirou e piscou várias vezes. Como se ele quisesse dizer algo, mas pareceu pensar melhor, e voltou para as cartas.


"Ah, então o beijo não conta, né?" perguntou Simas.


Agora Ron estava surpreso. Ele lançou um olhar questionador para Harry, que, ao devolver, boquiabriu-se e olhou curiosamente a Simas.


"Vamos, Harry, Hermione se joga em cima de você em King's Cross e você não se lembra?"


"Ah, francamente," Ron deu um muxoxo, surpreso ao descobrir o quanto aquilo soava como a própria Hermione.


Harry puxou seus óculos para cima do nariz e deixou escapar uma pequena e frustrada risada. "Ela. É. Minha. Amiga."


"Se você diz..." disse Simas, com ar de dúvida.


"Os dois estão errados," disse Neville de repente. Dino e Simas olharam para ele desafiadoramente, como se ele repentinamente fosse deixar escapar que ele e Hermione estavam botando pra quebrar no armário de vassouras. Eles nunca sabiam o que esperar de Neville ultimamente. Ele havia mudado de um jeito indescritível; ainda derretia caldeirões em Poções, mas ele não havia cometido faltas graves em outras classes por um tempo. Ria de mais piadas, e até fazia algumas às vezes. E Ron havia voltado ao salão comunal mais de uma vez para encontrar Neville e Hermione conversando casualmente. Então quando Neville interrompeu, Ron enrijeceu-se; não tinha certeza se ele ia gostar de ouvir um detalhe da vida de Hermione que Neville sabia, e ele não.


"Oh, certo, Neville vai nos contar que ele vai levá-la agora." riu Simas.


"Não," disse Neville normalmente. "Não, eu já tenho meu par. Convidei Heloísa Midgeon, ela disse sim."


Simas e Dino entreolharam-se animados e levantaram para cumprimentá-lo com tapinhas nas costas. Harry sorriu fracamente. Ron ficou boquiaberto. Era o segundo ano em que Neville tinha um par para o baile antes dele. Neville - Neville - tinha um par, não, dois pares, enquanto ele, Ron, nem havia convidado ninguém. Nunca. E Fleur não contava.


"Eu digo," Neville continuou depois do cumprimento acabar, "Hermione ainda está com Vítor Krum, não está?"


A mão de Ron involuntariamente fechou-se num punho. Suas cartas ficaram amassadas entre seus dedos e um som ameaçador escapou de sua garganta; Harry soltou um assobio baixinho e puxou-se para longe o mais rápido possível, quase caindo da cama ao fazer isso, um riso sarcástico lutando para explodir todo o tempo.


Simas e Dino não pareceram notar a reação de Ron - foram revigorados pela menção de Krum feita por Neville.


"É mesmo, Lilá disse que ela foi visitá-lo na Bulgária o verão inteiro."


"Vítor Krum, cara, quem imaginaria?"


"Você acha que ela ficou na casa dele?"


Ron tentou acalmar-se. Baile de Inverno estúpido, isso que começou com toda essa loucura, com as garotas e ter que convidar, e Hermione com seus dentes pequenos e cabelo liso, e o jeito com que seu vestido azul balançava delicadamente, mostrando seus tornozelos enquanto ela entrava... com Vítor. Vítor, que estava lá como um grande ogro, derramando cerveja amanteigada em todo mundo. "Pom, se focê a vir, diga que apanhei as bebidas." Ron cerrou os dentes e não pôde deixar de pensar que era o Vitinho que iria apanhar.


"Você acha que ela foi ao treino com ele?"


"Esquece isso, você acha que ela conheceu o resto do time?"


"Você acha-" Simas engasgou, segurando na cabeceira da cama para ter apoio, "você acha que ele mostrou-a sua coleção de vassouras?"


"JÁ CHEGA AGORA!" Ron berrou. Ele deixou as cartas caírem na cama e encarou o silêncio atônito à sua volta. Apenas os raros ataques de raiva de Harry chamavam tanta atenção. Mas agora todos os olhares estavam focados em Ron, e Harry estava num canto escuro da cama, com os joelhos para cima, observando Ron contraído.


Só quando Ron começou a perceber o quão idiota ele foi por deixar-se levar, uma das cartas que ele estava esmagando estremeceu na cama. Ele mal teve tempo de mover-se antes de ouvir um grande pop! e haver uma explosão, cobrindo-o com pó cinzento.


Ron piscou através da poeira. Harry pôs sua cabeça nos joelhos e seus ombros tremiam; Simas, Dino e Neville fitavam-no, e Ron tentou - demais - ignorar o crescente murmúrio de risadas enquanto ele se levantava para limpar-se. Incrivelmente estúpidos, idiotas e pentelhos insetos, todos eles.


"Ron ama a Hermiiioneeee..." cantou Dino, e ele e Simas começaram a fazer uma dancinha. Ron fechou seus dedos num punho e planejou as muitas, muitas coisas maldosas que ele faria com seus colegas de quarto. Ele acharia ótimas azarações, haviam umas novas perfeitas que ele tinha certeza que Hermione estav- argh.


"Mas Ron," Neville começou timidamente, "como você pode gostar da Hermione? Vocês brigam demais, e-"


"Ah, é claro que eles brigam demais, Neville!" Dino gritou, segurando o estômago. "É como eles agüentam, não é? Isso é pra eles não se agarrarem bem no chão do salão comunal, não é mesmo, Ron?"


Ron chocara-se. Pensou em matar Dino com um tiro. Tentou responder como um comentário casual. "Pergunte a Simas, se você está tão interessado em agarramentos no salão comunal."


"Aaah," exclamou Simas. "Notem, ele não nega!"


"Eu disse a você, viu, eu estava certo," disse Dino. "Então, vai convidá-la ou o quê?"


Ron ignorou-o e olhou para seu espelho, retirando um tufo particularmente grande de fuligem de sua cabeça com uma força desnecessária.


"Honestamente Ron, se você vai convidá-la é melhor se mexer," Dino caçoou.


"É mesmo, você não quer acabar como no ano passado." Simas fingiu uma voz aguda. "Oh, Ron, seu grande tapado, você sabe o que tem fazer da próxima vez, não sabe?"


Dino fingiu ser Ron, baixando seu tom alguns oitavos para dar efeito. "Eu, uh, er... uh..."


"Convide-me primeiro da próxima vez, não como último recurso!" Com um último suspiro, Simas terminou seus gestos melodramáticos e caiu em sua cama, fazendo com que Dino e Neville gargalhassem.


Ron cerrou os dentes e esperou-os calarem-se. Não era a primeira, nem a décima, nem a décima oitava vez em que ele fora gozado por causa da briga do Baile de Inverno. Aprendera como defender-se; com um comentário bem colocado sobre Lilá, Simas calaria-se por uma boa semana. Mas essa noite, nada - droga - nada vinha à sua mente a não ser o apopléctico ataque de fúria de Hermione no ano anterior. Eles nunca haviam conversado sobre isso, e Ron tentava o máximo que podia para esquecer o que aconteceu, do mesmo jeito que havia esquecido sobre os incidentes com Perebas, com a Firebolt e até seu estúpido fale; mas dessa vez ele simplesmente não conseguia. Fora diferente demais. Não houve muxoxos, nem francamente's, apenas Hermione, seu cabelo caindo de qualquer maneira sobre seu rosto e um olhar machucado. Ela correra do salão comunal como se nunca quisesse ver Ron novamente. Enquanto imaginava, pela milésima vez, o balanço de seu vestido azul correndo para longe dele, repentinamente lembrara-se de outra coisa, claro como todo o resto - um pequeno soluço de choro, bem quando ela virou-se para as escadas...


Sentindo-se um pouco mal agora, e perguntando-se como ele não havia se lembrado de algo assim antes, Ron voltou para a cama. Harry havia pego as cartas e limpado tudo, e agora estava em sua própria cama, olhando para o nada. Aquilo acontecia muito ultimamente, e ia e vinha nas horas mais repentinas. Ron sabia que era melhor apenas deixá-lo em paz; pressionar Harry nunca ajudava muito. Além do mais, Hermione faria isso pelos dois na manhã do dia seguinte.


Hermione. Ron tentou lembrar-se dos momentos depois da briga do ano anterior. Lembrou-se de estar em tanto estado de choque que não conseguia fazer muita coisa, e lembrou também de engasgar-se como um idiota enquanto ela se afastava. Agora tudo aquilo voltara, e o pequeno soluço ficou mais forte, e mais forte. Ron pôs as mãos nas têmporas e balançou a cabeça. Não teve a intenção de machucá-la, e até agora, por mais que ele odiasse admitir, ele sabia que ela recuperou-se melhor da briga do que ele. E mesmo que Ron pensasse sobre aquela noite constantemente, certamente ela não pensava, certamente ela apenas continuara com sua vida normalmente, com Vítor mandando corujas à ela todo o dia e tudo o mais. Ela estava bem, não fora um choro, apenas um soluço, e se ela tivesse ficado machucada mesmo, não iria apenas dar as costas à ele, ela diria alguma coisa, assim como disse algo sobre todas as outras brigas, e ela está - houve uma batida na porta do dormitório - aqui? Não, idiota, pensou Ron, é apenas Fred de volta com mais piadas sobre agarramentos. Andou até a porta e abriu-a, já com a boca aberta para dizer à Fred onde ele deveria contar suas piadinhas.


Mas as palavras morreram em sua garganta, porque onde deveria estar Fred - suas roupas apertadas seguramente sobre seu peito e suas bochechas ficando familiarmente rosadas - estava Hermione.


A mente de Ron esvaziara-se. Certo. Hermione está aqui. Eu vou apenas... sim. Ok. O quê?


"Hermione," ele finalmente disse sem pensar, depois bateu em si mesmo por soar tão chocado ao dizer seu nome. "Oi."


"Oi," ela disse, e Ron de repente não conseguia lembrar onde estava. Apenas que Hermione estava ali. Seu cabelo estava todo desarrumado; ela havia feito um daqueles nós trouxas que ela sempre usava e mechas caiam do lado. Ele notou o quão pequenas suas orelhas eram. Perguntou-se como nunca havia reparado isso.


"Hermione? O que foi? Algo errado?" A voz preocupada de Harry fez Ron voltar à realidade, pegando-o de surpresa. É claro, devia ser algo importante para ela ter vindo assim tão tarde. Hermione estava ali para dizer algo terrível, algo sobre Voldemort. Mas então porque ela estava olhando para ele desse jeito?


O resto do quarto silenciara-se, esperando a resposta.


"Ah, nada," ela olhou pelo ombro de Ron, obviamente tentando esconder que era, de fato, alguma coisa. Ela levantou-se na ponta dos pés, e Ron quase sorriu ao perceber que ela não conseguia ver.


"Erm... Ron?" perguntou Hermione, voltando seus olhos à ele mais uma vez e parecendo tão nervosa quanto como se fosse prestar seus N.O.M.s agora. "Posso falar com você por um segundo?"


Ron abriu a boca para dizer algo, alguma das três palavras que ele conseguia lembrar, mas foi cortado por um grande coro de "ooooh"s atrás dele. Seu estômago sentiu a raiva enquanto ele se dirigia ao corredor, fechando a porta atrás dele.


"Deixe aberta!" Dino poderia acordar os alunos do sétimo ano. "Nós queremos ouvir!" Ron ilustrou sua resposta atrás dele para Hermione não se sentir ofendida, ignorou os gritos de choque vindos do quarto e fechou a porta.


Logo depois, ele desejou não ter fechado. Olhou estupidamente para Hermione, perguntando-se sobre o que a havia trazido até ali e esquecendo do fato de que ela estava ali. Abriu sua boca, fechou de novo, enroscou os dedos nas pernas. Ela apenas olhava para o chão. Certo. Um deles tinha que fazer isso.


"Então..." ele fez uma tentativa. "O que foi?"


"Nada," ela disse. "Eu estava apenas me perguntando se... sabe aquela briga que nós tivemos ano passado?"


"Qual das?" Ron procurou freneticamente para alguma que ele deveria lembrar. Aquela sobre os ingredientes de Poções? Azarações? Aquela que eles tiveram através do correio coruja, sobre corujas? "Espera," ele disse, uma idéia vindo à cabeça, "isso é sobre o fale, é?"


"Não!" Hermione quase gritou. "Nós não realmente brigamos sobre os elfos, brigamos? Nós não brigamos tanto assim, brigamos? Você acha que a gente briga demais?"


"Uh..." Elfos? É, aquela era uma briga da lista. Se eles brigavam tanto assim? Apenas todo o dia. Ele achava que eles brigavam demais? É claro que brigam demais... isso é para eles não se agarrarem... "Não?"


"Nós só tivemos uma única briga ano passado, lembra? Depois do Baile de Inverno."


"Ah." Aquela briga. "Certo." Ron sentiu a culpa percorrer por todo o seu corpo enquanto a briga, e o soluço de choro, passavam em sua cabeça mais uma vez. Ele devia dizer algo, devia dizer que não pretendera dizer o que disse, devia mandá-la não contar a ele o quanto ficara mal, porque certamente era isso que ela fora fazer ali e seria muito-


"Bom, quando eu disse... o que eu disse, talvez eu não tenha sido clara." Os olhos de Hermione estavam brilhantes e mexendo-se freneticamente; gesticulava excessivamente e mudava de apoio de um pé para o outro, o que normalmente significava que ela estava a fazer algo que achava incoerente. "Digo, eu pensei que fosse, mas - hoje eu percebi - que eu, eu não estava pensando nisso, mas aí - de qualquer jeito, na verdade, eu não quis dizer nada do que eu disse aquela noite, então é quase certo que você não entendeu o que eu realmente disse."


Ron até pensou ter entendido bem o que ela quis dizer - metade do país provavelmente não teria - mesmo que não tivesse entendido uma palavra do que ela dissera. "Não, eu - " respondeu, percebendo o que ele estava prestes a fazer. O pensamento fazia suas pernas paralisarem. "Acho que eu entendi." Pigarreou e endireitou-se levemente. "Então, sobre o baile... você quer -"


"Olha, Ron, apenas vá ao baile comigo, tá bom?"


A boca de Ron ainda estava aberta. Ainda estava aberta e ele tinha de dizer algo. Ele estava prestes a dizer... o que ele estava prestes a dizer? Será que ela acabara - será que ele realmente ouvira - era por isso que - uau, er, diga sim, seu idiota...


"Ron?" Hermione estava tão vermelha que quase irradiava calor. "Esquece, se você já fez planos com outra pessoa, então tudo be-"


"É - tá bom. Eu vou." Quase não acreditou que conseguira tirar as palavras da boca.


"Ah!" Hermione exclamou. Ron estava vagamente consciente de que estava encarando-a. Hermione encontrou seu olhar e ele quebrou o contato de repente para evitar corar.


"Bom. Então tá," disse Hermione, e Ron procurou uma boa palavra para usar como resposta. Boa noite parecia a coisa certa, e ele abriu a boca para dizer. Mas nada saiu.


"Boa noite, então." disse Hermione, como se lesse a mente dele. Apertou seu robe, cruzou os braços rapidamente, e começou a descer as escadas. Ron fitou-a por um segundo. Quatro anos e meio que ele a conhecia, e ela ainda conseguia fazê-lo não saber o que dizer. Ela realmente era alguma coisa.


Sentiu-se meio tonto enquanto procurava pela maçaneta, mas o que realmente o deu náuseas foi a saudação que recebera ao entrar no quarto. Simas, Dino, Neville e até Harry estavam agrupados na cama de Simas, todos com a orelha na varinha de Simas, que estava apontada para a porta. Eles ouviram tudo.


Quando viram Ron, Simas e Dino começaram a rir, piscar os olhos exageradamente e, o pior de tudo, fazer altos e claros sons de beijo. O estômago de Ron virou-se quando percebeu que Hermione provavelmente ainda estava por perto. Começou a fechar a porta.


Simas soltou sua última oportunidade de tortura. "Eu te amo, Hermione!" cantou numa voz de nariz. Ron jurou a si mesmo veementemente que, sua mãe devia ouvi-lo, os amaldiçoaria pelo resto de suas vidas. Harry riu gostosamente.


"Cala a boca, Harry." Ron retorquiu, pela primeira vez não tão feliz quanto sempre ficava ao ver Harry de bom humor. Bateu a porta e lançou um olhar carrancudo aos colegas.


Dino virou-se a Simas. "Você. Finnigan. Cinco Galeões, agora!"


"O quê?" perguntou Ron, mas ninguém o ouvira.


"Nada a ver, Dino. Ele nem a convidou. Ela o convidou."


"Aposta é aposta, Simas."


"Com licença?" Ron gritou.


"Esse ser," Dino apontou para Simas, "está tentando escapar da nossa aposta!"


"Não estou tentando escapar! Ela o convidou, isso não conta."


"A aposta era de que eles iriam juntos. E se eu me lembro bem, você também disse 'e os Cannons vão ganhar a Copa.' Ah, espera aí, o que é isso que eu estou ouvindo? Eles atiram a bola, e é goooooooooooooooooool! Vamos rápido com isso, vai."


Simas rolou os olhos, murmurou algo sobre esportes trouxas serem idiotas e procurou pelo saquinho de dinheiro. Tirou suas moedas; Dino riu gananciosamente e pegou-as, então levantou-se e estendeu a mão para Simas. "Foi um prazer fazer negócio com você."


"Sai fora."


Ron não sabia o que fazer primeiro - espancar Harry por fazer parte de tudo isso, ralhar com Simas e Dino por fazer uma aposta sobre ele, ou fazer sua rotineira defesa dos Chudley Cannons. De qualquer jeito, nenhuma parecia particularmente interessante no momento. Iria ao baile com Hermione Granger. Ele gostaria de vê-los fazer melhor do que aquilo.


Ron olhou para Harry, que sorria bobamente. "Pra quem você está sorrindo, seu bastardo idio-"


"Ei," Harry levantou as mãos e pulou para trás, "nada. Nada." Ele ainda sorria.


"Ron." Simas continuava a parecer carrancudo. "Eu não entendo, Lilá disse que -"


"Lilá disse, Lilá disse, Lilá disse," Dino provocou com uma voz aguda de menina. "Francamente, se ela disser mais alguma coisa, eu vou ter que amordaçá-la."


Harry riu alto e lançou um olhar de quem sabe de algo à Dino, o que fez Ron sentir-se inconfortável.


"Sabe, Ron," disse Neville mais baixo enquanto dirigia-se a sua cama, "faz bastante sentido."


Ron virou-se a ele. "O que faz sentido?"


"Bom, se você pensar bem, está bem claro, não está?"


"O que está bem claro?"


"Que ela gosta de você."


"O-o que?" Ron ouviu-se dizendo. Claro, Hermione o havia convidado ao baile, mas aquilo não significava... ou sim? Não, não significava, Neville estava louco. Ainda assim, não doeria descobrir o quanto ele sabia. "O que o faz pensar assim?"


"Eu não achava, até agora, mas - é por uma coisa, ela está sempre olhando para você, sabe? Especialmente quando você joga xadrez."


"É, isso porque eu sempre ganho dela, e isso a faz... olhar para mim." disse Ron, pouco convincente, e ouviu Harry rir consigo.


"Ela olha para você assim?" disse Simas, colocando uma mão sob seu coração e piscando os cílios. Ron encarou-o.


"Além do mais," continuou Neville, "ela sempre ficava carrancuda quando Fleur estava por perto, lembra?"


"Mas isso era só porque..." começou Ron, mas não conseguia pensar no porquê. Não conseguia imaginar que Hermione estava simplesmente com ciúmes dos olhares de Fleur. Hermione apenas não fazia o tipo.


"Sabe do que mais, Ron?" disse Simas. "Acho que Neville está certo. Preste atenção nisso. E eu aqui pensando que ela só estava com pena de você. Ela estará beijando você em King's Cross esse ano," ele riu. "Ah, não, eu sei, talvez ela vai querer ver a sua coleção de vassouras!"


Agora chega. Ron se virou e andou até Simas, sem ter muita certeza do que iria fazer. Mas Harry, sem nem olhar, agarrou o pijama de Ron e puxou-o para trás.


"Pega leve."


Ron desvencilhou-se da força de Harry, enquanto Simas e Dino faziam um pequeno tumulto com barulho. Ao ver-se livre, Ron arrumou a parte da frente de seu pijama e virou-se. "Sem uma palavra, Potter," murmurou.


Harry arqueou a sobrancelha e não disse nada, apesar de seus lábios se controlarem para não formarem um sorriso. Ron subiu em sua cama espancou o travesseiro.
Harry entrou em suas próprias cobertas e virou-se na direção de Ron. "E vocês realmente brigam demais."


"Ah, mas que inferno!" Ron gritou, alcançando as cortinas enquanto Harry ria incontrolavelmente. Elas se arregaçaram, e Harry afundou-se em seu travesseiro enquanto Ron brigava com a grade. Com um último puxão, e um último olhar carrancudo, ele bloqueou Harry de vista. Não que importasse muito, já que ele ainda conseguia ouvi-lo.


Mas por uma razão inominável, quase logo depois que as cortinas foram fechadas, Ron voltara ao normal. Neville poderia estar certo, e se estivesse, talvez... Talvez esse baile não fosse assim tão ruim.


Afundou-se profundamente na quentura de sua cama e escutou o quarto ficar silencioso. Fechou os olhos e deixou-se imaginar o baile. Um sorriso vagaroso tomou conta de seu rosto. Ele encontraria Hermione no salão comunal, e eles desceriam juntos, ele em suas novas vestes de veludo azul e ela em seu vestido vermelho, caminhando em direção ao reluzente Salão Principal de braços dados...


Talvez ele até dançasse.

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