Tempo (S/B)



Ticking away the moments that make up a dull day

You fritter and waste the hours in an off hand way

Kicking around on a piece of ground in your home town

Waiting for someone or something to show you the way




Podia sentar-se e admirar o céu até que o azul se transformasse numa dança de cores e o sol, finalmente, dissipar-se por detrás do horizonte. Não queria mesmo companhia, podia satisfazer-se do silêncio que cercava as colinas e até podia fechar os olhos, só por um momento, e tentar trazer de volta todas aquelas recordações que foram brutalmente arrancadas durante todos aqueles anos de castigo e dor. Ouvir as vozes, os choros, lembrar dos olhares, ouvir as risadas.





- Bella!,gritou Andrômeda, com sua vozinha infantil- Vem ver o que eu achei.



Bellatrix aproximou-se curiosa. Cinco anos. Uma idade muito tênue, ainda. Mas, do pouco que lembrava de sua infância, uma idade, também, que continha uma força, uma energia que ela jamais teria novamente. Jamais recuperaria a garra de viver que tivera com cinco anos.



Cinco anos eram apenas o início de uma vida afinal.



- O que?- perguntou, chegando da janela.



Os olhinhos azuis de Andrômeda reluziam. Ela sempre tivera um brilho que nem Bella, nem Narcissa, nunca tiveram.Um brilho como o de sua constelação. Andie conseguia ir muito além do ver, ela enxergava. Ela era a paz e a calma que mal tinham lugar na mansão dos Black.



- Tem um ninho- explicou- na árvore que está perto da janela do seu quarto.



Bellatrix encarou a irmã- perplexa. Não ligava para ninhos, nem para os malditos passarinhos que nasceriam. Odiava aqueles animais e suas canções horrorosas, assim como odiava a árvore que encostava na janela de seu quarto. Andrômeda era ridícula.



- Danem-se os passarinhos.- respondeu seca- Livre-se desse ninho.



Andrômeda fechou a cara



- Ótimo.- disse- Eu vou ficar com os bichinhos.



Bellatrix revirou os olhos.



- Faça o que quiser.






Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain

You are young and life is long and there is time to kill today




Por vezes, flagrara a si mesma pensando em suas escolhas. Podia ter feito tudo diferente e as coisas poderiam não ter dado certo, como agora. Trinta e seis anos. Quase uma vida e nada para contar. Matar e torturar era um prazer efêmero. Não nascera gostando da dor. Apenas acostumara-se com ela, como acostumara-se a ouvir os gritos das pessoa que seu pai levava para o porão e torturava. Eram horas a fio de gritos e súplicas agonizantes até que, de repente, tudo cessava, dando lugar ao silêncio. Nessas noites ela, geralmente, ia para o jardim ver as estrelas. E, apesar de muitas tentativas, a única estrela que nunca conseguira encontrar, era aquela que tinha seu nome.



- E foi isso, Bella.- finalizou a garotinha,após inventar uma estória sobre os nomes da família Black- O primeiro Black veio de uma estrela, e iniciou a tradição. É o que eu penso.



- Bem, você pensa muita besteira.- respondeu Bellatrix, sem tirar os olhos do livro que estava lendo.



- Mentira.-protestou.- E sabe o que mais?



Bellatrix a olhou, esperando a resposta.



- Você diz isso porque a sua estrela é tão insignificante quanto você.



A estória infantil de Narcissa fazia sentido, afinal. Sua estrela não estava entre as mais especiais. Nem era tão perceptível perto de todos aqueles milhares de pontos reluzentes. E ela era assim. Olhava em volta e via-se apenas como mais uma no meio da multidão.



Tinha dez anos. Com dez anos, as coisas já têm um sentido mais concreto. Não é mais divertido tentar realizar o que é irreal. Mas, com dez anos, sentira-se tão livre, de um jeito que jamais sentiria novamente. Sentia que podia simplesmente abrir os braços e deixar o vento levá-la para qualquer lugar.




And then one day you find ten years have got behind you

No one told you when to run you missed the starting gun




Alguns dias após fugir de Azkaban, visitara Narcissa. Não houveram abraços ou beijos, como haviam normalmente com irmãs que não se viam há tempos. Houve apenas uma troca de olhares que mal se reconheciam.



Cissa olhou para sua irmã por diversas vezes, tentando ver qualquer vestígio de Bellatrix Black. Tentativa vã, afinal. Só encontraria Bellatrix Lestrange. E, por mais que sentisse pena, sabia que não fora Azkaban que fizera isso à sua irmã mais velha.



Fora ela mesma.



Bella também olhou para a irmã.Olhos azuis e muito escuros, como os da maioria da família.



Tudo que ela via era uma mulher desgastada pelos anos de um casamento infeliz. A alma da moça jovem e sorridente que sua irmã fora um dia, afogara-se nas lágrimas que Narcissa chorava a noite enquanto tentava dormir na enorme cama vazia com o pensamento de que Malfoy estava com outra mulher. Com o pensamento de que seu filho, que um dia tivera uma ligação tão especial com ela, estava crescendo, se afastando e esquecendo-se dela.



Com o pensamento de que, após anos de perfeição e luxo, ela ficaria sozinha.



Olhou a imensidão de colinas à sua frente. Pensou em como era triste sentir a dor da queda após anos de ascensão. A garrafa de firewhisky acabara. Sua bebida preferida, a única que realmente tinha prazer de beber.



Mirou os quadros, as fotos e se voltou para o seu reflexo no vidro da janela.



E, finalmente, percebeu que não havia nada que ela pudesse fazer. Consumara o que estava ao seu alcance. Acertou, errou, fez tudo muito depressa. E agora não sobrara nada.



And you run and you run to catch up with the sun

But it’s sinking

And racing around to come up behind you again






Sentou-se embaixo do carvalho, sentindo imediatamente o odor perfumado das margaridas. Não que gostasse muito delas, não era grande admiradora das flores.



Porém,só por um momento, elas lhe pareceram reconfortantes.



Olhou em volta- impaciente. Ele sempre fora assim- impontual. Ou, talvez, fizesse aquilo simplesmente para irritá-la.



- Maldito seja...- praguejou.



Ele lhe dissera que quando ela chegasse, já estaria lá. Um grande mentiroso, afinal.



Por vezes se perguntara porque ainda esperava, quando ele lhe pedia. A única resposta que encontrava era a única que era cabível: estaria sempre esperando.



Não tinha sequer certeza de que o amava. Simplesmente, lhe agradava muito sua companhia. Não sabia- mesmo se realmente amaria algum dia.

Amor é uma palavra forte, essa era sua única certeza. Não confiava em seus sentimentos, eram sempre muito passageiros incertos.



Apenas os sentia.



Um par de mãos tapou seus olhos, de repente, tirando-a de seus pensamentos. Finalmente, ele chegara.



- Sirius!- exclamou- Você está atrasado!



O garoto sorriu, tirando a franja dos olhos.



- Desculpe.- falou- Não consigo ser pontual.



Bellatrix decidiu não discutir. Ele tinha razão, sabia que ele não se importava muito com compromissos.Aliás,sabia muito mais sobre ele do que gostaria.



E Sirius ficava muito convincente quando falava naquele tom calmo, nada próprio do garoto.



- Mas eu cheguei, isso é o que importa.- disse- sentando-se perto dela.



Começou a falar sobre o encontro que tivera com os Marotos.

Não gostava muito das histórias que o primo lhe contava quando envolviam seus amigos estúpidos. Mas algo a fazia prestar atenção nele, como se estivesse muito interessada. Talvez fossem os olhos, os cabelos que lhe caíam sobre os olhos dando-lhe um ar charmoso ou o sorriso. Não sabia.

Supostamente, deveria odiá-lo. Por ser um grifinório, por ser um traidor, por ser seu primo e por muitos outros motivos. Mas a verdade era que via em Sirius o único amigo com quem podia realmente contar,desde que eram crianças. Não era uma pessoa extremamente sociável ou fácil de se conquistar. Sentia que amigos eram apenas mais uma parte dispensável de sua vida, não fariam nenhuma diferença. Por isso, escolhia relacionar-se com pessoas que tinha certeza que nunca lhe fariam falta, caso algum dia essas viessem a se afastar.



Sentimentos, afinal, serviam apenas para enclausurar pessoas e convencê-las de que não poderiam viver sozinhas. Sempre achara uma bobagem.



Porém, quando sentia a proximidade de Sirius, mudava de idéia. E, enquanto ele sorria para ela e tirava o cabelo que caíra sobre seus olhos novamente, tudo que ela conseguia pensar era em como suas convicções poderiam mudar tão rapidamente.



- Bellatrix!- chamou ele- Você ouviu o que eu perguntei?



Sentiu-se meio atordoada por um momento. Pela primeira vez, não sabia o que falar. Sirius devia achá-la uma idiota.



- Ei.- disse ele, levantando seu queixo- Tudo bem?



- Sirius.- disse ela- Eu nunca te peço nada, não é?



O garoto pareceu estranhar a pergunta, mas respondeu:



- É, que eu me lembre, não.



- Bom, eu vou pedir agora.



Sirius olhou-a esperando.



- Me beije.



Mal acreditava em suas próprias palavras, mas sabia que não se arrependia.



Seu primo pareceu confuso.



- Por quê?- perguntou, sem entender.



Bella revirou os olhos. Ele nunca pensava antes fazer algo, mas agora parecia duvidoso.



Ela mesma não sabia o motivo, apenas aproximou-se e encostou seus lábios nos dele.



Sirius ainda parecia inseguro, mas puxou-a mais para perto pela cintura e retribuiu o beijo.



Surpreendeu-se com a ternura dele e mais ainda com a sua própria. Após separarem-se, ficaram em silêncio por algum tempo, observando o sol se pôr. Aquela fora a única vez que tivera vontade de assistir o pôr do sol.



Olhou para ele, pelo canto do olho e deparou-se com um sorriso distraído.

Quinze anos. Nunca amara e nunca amou novamente como quando tinha quinze anos. Uma idade muito incerta, afinal.






The sun is the same in a relative way, but you’re older

Shorter of breath and one day closer to death




Novamente, mais de vinte anos depois, olhava o sol desaparecer por detrás do horizonte e pensava em como o tempo começara a passar rápido ao decorrer dos anos. Quando era jovem, sentia que tudo era interminável, era como se andasse lado a lado com a eternidade.



Um dia olhou em volta e percebeu: ficara para trás. Sirius, Andrômeda, Narcissa e Regulus se foram, fizeram suas vidas cada um a seu modo. E ela apenas correspondera às expectativas que punham sobre ela. Perdera a jovem rebelde que um dia tivera milhares de planos e sonhos.



O tempo passou e Bellatrix perdeu seu rumo.



Sentiu que seu coração explodiria. Usava o pouco de força que lhe restava para impedir uma lágrima de dor de cair. Se contraía desesperadamente tentando não ceder, murmurando ofegante a si mesma:



“ Os Black não sentem dor”



Lançou um olhar de súplica a seu Mestre, sem obter resultado. Ele não era piedoso. Mirava-a sério, como um professor avaliando um aluno. Havia horas que definhava, encolhida no chão da Mansão Riddle, alimentando o sadismo do Lorde. Já experimentara os piores tipos de Cruciatus que existiam. Olhava o céu escuro e estrelado, pela janela, na tentativa frustrada de esquecer a dor.



“ Os Black não sofrem”, ouviu a voz de sua mãe murmurando em seu ouvido. Apenas mais um dos ensinamentos da velha detestável.



Sentiu a dor cessar de repente e suspirou aliviada. Apoiou-se nos braços tentando levantar-se e sentiu dor em cada fibra de seus músculos. Sentia o ambiente a sua volta girar e sua cabeça doía, como nunca em sua vida.



Virou-se para encarar seu Mestre, sem dar nenhum indício de sofrimento, cansaço ou desespero. O homem olho-a sem nenhuma emoção expressa. Apenas disse:



- Um tempo consideravelmente bom, Bella. Muitos não agüentaram metade disto.



Cravou os olhos verdes nos azuis dela, intimidando- a. Voldemort era imprevisível, era inútil tentar adivinhar o que se passava em sua mente.



- Então eu consegui?- arriscou- tímida.



O Lorde não respondeu, apenas deu um meio sorriso.



- Você é uma moça decidida.- falou, fazendo menção de desaparatar- E forte.- completou, pouco antes de desaparecer.





Naquele momento, sentiu-se forte como nunca. Dezenove anos. E já não era a mesma. Deixara Bellatrix Black para trás.



E Bellatrix Lestrange nunca conseguiu recuperá-la.






Every year is getting shorter, never seem to find the time

Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines






Um cansaço descomunal tomou conta de seu corpo. O sol se fora dando lugar à dança de cores que se mesclavam no céu todo fim de tarde. Olhou em volta. Os quadros antigos, um retrato seu, ela e Rodolphus no dia do casamento, o relógio.



Nunca mais teria a mesma energia que tivera aos cinco anos.



Não seria livre como aos dez.



Não sentiria um amor puro como aos quinze.



A força que tivera aos dezenove jamais voltaria.



A eternidade, antes sua companheira, a abandonara, dando lugar à fraqueza, ao ódio. Fizera sua própria prisão, fora agredida pelas marcas do tempo.



Inspirou profundamente, como que se o ar estivesse faltante.



Não esperava mais nada, de ninguém.



Sua única certeza agora, era de que o tempo passava e ela já se esquecia de quem realmente era...



Hanging on in quiet desperation is the English way

The time is gone, the song is over, thought I’d something more to say…






N/A: Minha primeira fic :D. Não está maravilhosa, mas também não está péssima, né?

A música é Time do Pink Floyd.

Muito obrigada à Nina Black, que betou e foi superpaciente ;)

REVIEWS! Não esqueçam, ok?







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