Mudança Repentina



 Sirius Black saiu do trabalho naquela tarde, se fechou dentro do carro e pôs-se a chorar. O que faria agora? A caixa no banco ao lado com seus pertences indicava a decisão que seu chefe tomara na última reunião da equipe: pelo que parecia ele não estava rendendo tanto quanto costumava render em seu serviço, portanto se desfazer dele era a melhor opção. Assim pensava o dono da multinacional em que Sirius dedicara os seus mais preciosos anos de vida. Debruçado no volante, o rapaz que aparentava ter por volta de trinta anos tentava desesperadamente se acalmar e pensar em alguma alternativa para que seus filhos não passassem fome, afinal sua esposa, Marlene, havia sido dispensada de seu emprego como enfermeira de uma idosa. Limpando o rosto com a camisa amarrotada, Sirius ligou o carro e foi para casa.

 - Pai, você não adivinha o que a mamãe fez pra gente comer hoje de tarde! - exclamou um garotinho risonho que veio de encontro ao rapaz logo que entrou pela porta da frente. Visivelmente era seu filho, possuía os mesmo olhos de marotisse e o sorriso era extremamente encantador. - Biscoitos! Gigantes. Com chocolate, papai!
 - Que maravilha, Ben! - disse Sirius, forçando um sorriso e pegando o garotinho no colo. Não parecia ter mais que cinco anos. - Onde está a mamãe? E Julie?

 Marlene veio da cozinha, limpando as mãos no avental preso à cintura. Deu um beijo no marido e pegou Ben nos braços, mas logo reparou na caixa ao lado da porta e lançou um olhar significativo para Sirius, que simplesmente abaixou a cabeça. A mulher colocou Ben no chão e mandou que subisse e chamasse a irmã para jantar, depois ajeitou com as mãos os cabelos pretos num coque mal feito e encarou Sirius, com as mãos na cintura.

 - Não me diga que isso significa o que estou pensando que significa...
 - Se você não quer, eu não digo - Sirius tirou os sapatos e os chutou para um canto, se encaminhando para a sala e se jogando no sofá.
 - Só pode ser brincadeira! - exclamou Marlene, que o seguira até lá e agora estava em pé em frente ao marido jogado.

 Sirius respirou fundo. Tudo que não queria agora era brigar com Marlene. Sentou-se e pediu para que ela se sentasse também, então lhe contou sobre a reunião, sobre a decisão e sobre a demissão; terminou se contendo para não voltar a chorar feito uma criança.

 - E agora, Sirius? - o temor era evidente na voz da morena. - Como faremos para sustentar as crianças? E o colégio? Não temos condições...
 - Vamos dar um jeito.
 - Qual? Que jeito? - elevou a voz Marlene, entrando em desespero.
 - Não sei! - gritou Sirius no momento que Ben entrava na sala de mão dada com uma garota de onze anos, cabelos pretos como os da mãe e olhos azuis (que herdara do avô materno).

 Marlene se levantou rapidamente, sorrindo para disfarçar, e levou os filhos para a cozinha. Sirius foi atrás, ajudou a esposa à servir o jantar e os quatro se sentaram à mesa, completamente em silêncio. Ben comia totalmente alheio ao que se passava a sua volta, mas Julie reparou nos olhares preocupados que seus pais trocavam, na leve tremedeira que surgia nas mãos de sua mãe, no suor que escorria pelo rosto do pai. A garota terminou de jantar antes de todos mas permaneceu no mesmo lugar, queria saber o que estava acontecendo.

 - Como foi no colégio hoje, Julie? - perguntou Sirius, após limpar a garganta com um pigarro.
 - Normal, nada demais...
 - Vocês gostam do colégio? - Marlene lançou um olhar reprovador ao ouvir essas palavras de seu marido.
 - Prefiro brincar em casa - falou Ben, brincando com os talheres.
 - Para com isso! - Marlene tirou os talheres do filho.
 - Quem gosta do colégio, pai? - respondeu Julie, intrigada. - Tenho meus amigos, as vezes é legal lá... Mas estudar não é legal.
 - Bem sua filha - comentou Marlene, recolhendo os pratos da mesa. Sirius sorriu, mas logo se perdeu em pensamentos.

 Mais tarde, com as crianças já dormindo, o casal subiu para o quarto e pôs-se à debater sobre o assunto desemprego. Marlene falava que não era fácil conseguir um emprego, que ele deveria tentar já no dia seguinte, já Sirius estava com uma ideia em mente mas não sabia como seria recebida pela esposa e pelos filhos. Diante de tal impasse, resolveu não discutir com ela e tratar do assunto de manhã.

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 Marlene saía para levar as crianças à escola quando Sirius acordou. Antes de qualquer coisa, lavou o rosto e pegou o telefone, iria resolver de uma vez por todas esse problema; discou um número conhecido e esperou que já tivesse alguém acordado para atender. Após uma longa e animada conversa, Sirius desligou o telefone com um sorriso no rosto: estava tudo arranjado, só faltava conversar com Marlene.

 Assim que chegou em casa, Marlene deparou com tudo arrumado e um Sirius sorriente sentado no sofá, lendo um jornal. Com uma sobrancelha erguida, sentou-se à sua frente e o encarou até que obtivesse uma explicação.

 - Meu amor, encontrei uma solução para nossos problemas! - exclamou Sirius.
 - Estou ouvindo...
 - Liguei hoje pro James, Lembra que ele se mudou com a Lily e as crianças faz uns anos? Foram pro interior... - Marlene confirmou, ainda não entendendo o que se passava na cabeça de Sirius, que prosseguiu: - Então, contei pra ele o que estava acontecendo conosco e adivinha? Consegui um emprego para nós dois!
 - Como? - os olhos dela se arregalaram.
 - Sim! - Sirius aprumou-se no sofá e segurou suas mãos. - Lily trabalha num hospital da região, pode arranjar um emprego lá pra você... Ou como enfermeira domiciliar como antes, a cidade lá é pequena e duvido que tenha muitas enfermeiras tão bem conceituadas como você. E James é dono de uma fazenda, me chamou para ajudá-lo a administrar!
 - Espera... - Marlene puxou as mãos. - Teremos que nos mudar, então?
 - Óbvio!

 Ela se levantou e saiu da sala, deixando Sirius sem entender. Voltou pouco depois e jogou um envelope no colo dele.

 - Essas são todas as atividades das crianças... Me diga como iremos privá-las de tudo isso? - falou Marlene, indignada.
 - Parece que você não está entendendo a gravidade da situação, Lene! - Sirius se levantou. - Não temos trabalho aqui, logo não teremos nem dinheiro pra comprar comida e, obviamente, para pagar as atividades das crianças. Agora me diga, qual é sua prioridade?
 - Você fala como se eu não me importasse com meus filhos! - exclamou ela, cruzando os braços.
 - Ao contrário! - retrucou ele. - Sei que você se importa, e muito. Mas essa é a única solução que arranjei... James disse que vai nos arranjar uma casa próxima da escola, para as crianças poderem ir sozinhas porque estaremos no trabalho.

 Ela ficou quieta, apenas foi para a cozinha tratar do almoço. Sirius foi atrás, disposto a ter uma resposta da esposa, mas foi ignorado deliberadamente. Quando as crianças chegaram de carona com o pai de um amigo, Sirius lhes contou o ocorrido; Ben não se importou, estava feliz com qualquer aventura que acontecesse em sua vida, e Julie deu de ombros, falando que não tinha uma opinião sobre o assunto. A garota estava para completar doze anos e era muito decidida em suas questões. Sendo assim, uma semana depois, estavam partindo para a nova vida.

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 James os esperava em frente à nova casa. Seus óculos redondos eram inconfundíveis mesmo à distância, sendo que Sirius já sorriu logo ao virar a esquina; Lily saiu de dentro da casa ao lado de uma garotinha que devia ter por volta de onze anos, mas parecia ser mais nova que Julie.

 - James! - exclamou Sirius, descendo do carro e abraçando o amigo. Em seguida abraçou a ruiva ao lado. - Lily! E a pequena Sara... Mas já está uma moça!
 - Fez onze mês passado - disse Lily, recebendo um abraço de Marlene. - QUanto tempo, Lene!

 As crianças se encararam e ficaram quietas. Até que um garoto de treze anos saiu correndo de dentro da casa e parou ao lado de James; a semelhança entre eles era incrível, ainda mais por usarem o mesmo óculos, entretanto o garoto possuía intensos olhos verdes como os de Lily.

 - Harry! - exclamou Sirius, abraçando o afilhado. - Garoto, o que estão dando pra você comer?
 - Eles quase me fazem passar fome, Sirius - riu Harry, levando um leve tapa de sua mãe.
 - E esses são Julie e Ben... Também estão enormes! - falou James.

 Julie encarou Harry, que cruzou os braços e olhou intensamente para ela, depois sorriu e saiu correndo rua abaixo. Lily gritou para que voltasse logo, então entrou com todos na casa.

 - Eu matriculei as crianças no mesmo colégio do Harry e da Sara... - James colocou a mão no ombro da filha. - Ela está adiantada um ano, então Julie ficará na mesma sala que ela.
 - Certo - disse Sirius, olhando a casa. - Até que é confortável.
 - Posso ver meu quarto? - disse Julie.
 - Sara, leve a Julie lá pra cima - falou Lily.

 As garotas subiram, deixando os adultos sozinhos com Ben. Conversaram por algum tempo e ajudaram com o caminhão da mudança, até que Harry voltou e os Potter tiveram que ir embora.

 - Depois de amanhã voltam as aulas, podem fazer o caminho amanhã com as crianças para que eles saibam como ir... - disse James.
 - E você começa no hospital amanhã mesmo, Lene - concluiu Lily.
 - Obrigada! - falou Marlene.

 Sirius levou-os até a saída e, após agradecer novamente, se despediu. Uma nova vida estava começando e ele torcia, com todas as suas forças, que tudo mudasse para melhor. 

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