Capítulo 1



                                            


 


O tempo não estava ajudando muito o tempo livre em Hogwarts. Nessa tarde fria e chuvosa mais parecia que ia nevar, embora não fosse época de neve. Os gramados estavam solitários, acompanhados apenas dos orvalhos acumulados, o Salgueiro Lutador terminava a paisagem no horizonte. Era essa a visão que Hermione Granger tinha ao tentar se aquecer em uma poltrona em frente à lareira, na torre norte do castelo na famosa sala comunal da Grifinória. Um olhar misto e perdido, um livro aberto nas mãos. Hermione voltou a visão para as páginas. Passaram-se alguns minutos ate que ela levasse sua atenção a Harry potter, seu melhor amigo, que estava sentado sozinho em uma mesa perto dali. Ela suspirou, preocupada, desde que começara a ir às reuniões com Dumbledore que Harry vinha mudando, falando pouco e na maior parte do tempo preferia ficar sozinho, lendo um velho livro de poções. Um barulho anunciara que alguém tinha entrado pelo retrato da mulher gorda. Era Ronald Weasley, com os cabelos ruivos emaranhados, o rosto rosado e alguns papéis nas mãos. Por um segundo o olhar de Hermione e Ron se cruzaram, mas ela logo se afundou mais na poltrona e escondeu o rosto atrás do livro. Mas sabia ela que sua atenção estaria agora toda para o recém chegado, que sentou ao lado de Harry.


-Alô, Harry! Pensei que estivesse lá fora treinando com a vassoura – Disse Ron, que quase nunca perde seu senso de humor.


-Não iria lá fora nem se estivessem distribuindo cervejas amanteigadas. O que você tem ai na mão? – Perguntou Harry olhando a pilha de papéis que Ron trazia.


Hermione olhou rapidamente para verificar o que Ron tinha nas mãos.


- Você não pode acreditar, A Lilá me fez cartas pra cada dia de namoro – Disse Ron um pouco confuso – Não dá nem pra acreditar, não é mesmo? – Completou rindo.


Harry deu uma risada forçada. Hermione sentiu um palpitar forte e uma vontade imensa de chorar, mas jurara a si mesma que nunca mais derramaria uma lágrima.


O silêncio se instaurou. Harry perdido no livro de poções, Ron fingia ler as cartas enquanto olhava de relance para Hermione. Mas ele quebrou o silêncio.


- Harry, você está bem?


- hmm, sim Ron.- mentiu Harry.


- Você tem falado pouco. Como foi lá no Dumbledore? – Ron perguntou.


- Agora não, Ron. – Harry disse rapidamente.


- Por acaso você está ocupado? Os exames só são daqui a duas semanas, não posso acreditar que você já esteja estudando. – Falando isso ele não pode evitar de olhar para Hermione mergulhada no livro.


- Estou só verificando umas coisas. Você deveria arranjar algo pra fazer a não ser ficar o tempo todo agarrado com a Lilá.- Disse um Harry zangado.


-Ei, não me ofenda. Aposto que você estaria fazendo o mesmo que eu se tivesse uma namorada. Todo mundo faria. – Disse Ron elevando a voz e olhando para Hermione.


Harry por um momento pensou em Gina. Mas rapidamente desviou o pensamento. Talvez Ron tivesse razão. Hermione desejou poder azarar mais uma vez o ruivo.


Mais silêncio instaurado, o dia não parecia para conversas. Ron mais uma vez quebra o silêncio, dessa vez falando em sussurros.


- A Hermione não parece muito bem, não é?- Disse ele em um tom de quem não quer ser ouvido.


- Acho que não, Ron. Por que você não pergunta diretamente pra ela? – Harry fala como quem sabe o que realmente está acontecendo. – Acho que vocês devem se resolver logo. – Completou.


- Tá louco? Fico imaginando com o que ela vai me atacar desta vez. Dragões? – Ron fala encarando Hermione.


Para ele, ela estava diferente hoje, suas meias pareciam realmente estar esquentando, suas roupas estavam visivelmente confortáveis, os cabelos amarrados em um simples coque, seu rosto, que era possível ver algumas vezes, estava rosado e sua boca estava vermelha. Por um momento ele pensou que ela estava encantadora. Era a mesma visão de anos, ver Hermione estudar, a facilidade com que ela segurava um livro. Mas talvez tivesse algo diferente nela, algo que fazia com que ele sempre desejasse sua companhia, mesmo que pra isso fosse necessário arranjar brigas e mais brigas. Ron parecia ter caído na real, ou apenas começou a entender algumas coisas que ele adiava tentar compreender, uma ansiedade que vinha crescendo com o tempo, uma coisa que ele escondia dele mesmo. Hermione era uma das pessoas mais incríveis que Ron já conhecera, e olhando ela ali, daquele jeito que ela sempre foi, fez ele perceber que Lilá fora um grande erro. Um erro que ele sabia que o fez se afastar de Hermione, e já fazia semanas que eles não se falavam. Por que Hermione estava agindo assim? Ela estava chateada com ele, ou estava apaixonada por alguém que não queria nada com ela? Ou não se trata de amores não correspondidos?


Harry não respondeu nada. E pela terceira vez naquela tarde Ron é quem fala.


- Sabe Harry, eu achei essas cartas um exagero- Ele falou olhando pra Hermione.


-E o que você vai fazer? Devolver? – Disse Harry olhando sério para Ron- Pensei que fosse sua prioridade namorar e beijar.


-Na verdade, acho que estou cansado disso tudo- Ron falou bufando- Quer dizer, olha para minha boca, a Lilá não para de me beijar! – Ele disse inclinando a cabeça.


Hermione girou os olhos, estava pensando em ir pra outro lugar, mas não pretendia trocar seu lugar quente por causa de Ron.


-Ron, eu e todo mundo sabe disso- Harry disse afastando o rosto de Ron.- Se não gosta dela, porque não termina logo esse namoro?


-Eu, eu ...eu não sei. – Disse Ron simplesmente.


- E depois eu que estou estranho – disse Harry se levantando – preciso fazer uma coisa hoje – Completou, tirando o Mapa do Maroto do bolso e franzindo o cenho, procurando por algo.


- O quê? Não Harry, vou com você. Não vou passar meu dia livre encarando paredes- Protestou Ron.


- Não, preciso saber o que Malfoy anda fazendo, e preciso ir sozinho – Harry disse por fim, deixando um Ron confuso.


Nesse momento Hermione abaixou o livro e seguiu Harry com o olhos. Quando o retrato da mulher gorda se fechou foi que os dois ocupantes da sala Comunal perceberam que estavam sós. Bem nesse dia frio, a torre da Grifinória estava fazia.


 

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