Reação
SIRIUS BLACK
- Ei, Padfoot! Acorda, cara! – James exclamou, estalando os dedos para Sirius.
Os dois estavam no fundo do trem, o lugar mais escuro daquele vagão, e pretendiam acender algumas bombinhas enfeitiçados na cabine em que Lily Evans estava, que piscariam um "EU TE AMO, RUIVA" no ar. Acontece que finalmente Lily aceitara sair com James no fim do sexto ano e desde então estavam juntos.
Infelizmente, para Sirius, se antes James enchia a paciência com reclamações sobre Evans não aceitar ter um encontro com ele, agora só sabia falar dela e arrastá-lo para ajudá-lo com essas declarações de amor. O casal era como dois pedaços de pão selados por uma geleia gosmenta, e segundo James, a geleia do amor.
É claro que, independente de qualquer coisa, Sirius estava feliz pelo amigo, só não entendia muito bem essa coisa toda de se estar apaixonado por alguém.
Em nome da amizade dos dois, o maroto costumava até se esforçar para ajudar Potter em suas missões de amor para Lily, mas naquele dia em especial, esforço nenhum estava sendo suficiente para prender a mente de Sirius àquela situação.
Sua cabeça estava vagando num passado muito próximo, se lembrando de um esbarrão que dera mais cedo.
Sirius estava intrigado. Tentava sem sucesso resgatar uma lembrança perdida, uma lembrança em que Sophie aparecia. Tinha a sensação de estar tentando pegar vento com as mãos, mas não queria desistir. Era realmente incômodo tentar se lembrar de algo e não conseguir. Sabia que já tinha falado com ela alguma vez, sabia que ela era familiar, mas quando? Por que?
- Prongs... – Sirius chamou. Potter estava agachado agitando a varinha sobre um embrulhinho, tentando fazê-lo explodir no ar com os dizeres que queria, mas não demonstrava muito sucesso. - quem é aquela loira, em?
James suspirou, impaciente com sua varinha, e voltou sua atenção para o amigo.
- Ela falou, não foi? Solange, Soraia, So...
- Sophie. – Sirius completou, estava encostado na parede, o olhar perdido no teto escuro.
- Isso! Mas se você sabe, por que a pergunta?
- Não perguntei seu nome, quero saber se você se lembra dela de algum lugar.
James pensou por um segundo, mas balançou a cabeça negativamente.
- Ah, cara, acho que só do quadribol mesmo, como ela disse. Mas de qualquer forma ela é da nossa casa, é normal ter essa impressão de que já a vimos em algum lugar.
- Não sei... – Sirius respirou fundo.
- O que te deu em, Black? Somos conhecidos mas não quer dizer que conheçamos a escola inteira. – James coçou a cabeça com a ponta da varinha, pensativo.
- Não é nada, só achei ela familiar.
- Vai ver você já se agarrou com ela por algum canto do castelo, não me surpreenderia se fosse isso. – James riu.
Sirius deixou transparecer seu sorriso maroto característico.
- Se eu tivesse encostado naqueles lábios, Prongs, se tivesse tocado naquele corpo, não teria me esquecido tão fácil.
Os dois se entreolharam, ficaram em silêncio por um segundo e depois caíram na gargalhada. James fazia uns sinais de silêncio entre os risos.
- Você é mesmo um cachorrão!
- Você riu, meu amigo, quer dizer que também reparou.
- Eu sei, me admira que uma gata daquelas tenha passado desapercebida pelo radar Black.
- Radar Black? – Sirius juntou as sobrancelhas curioso.
- É, você sabe, cachorros, faro, você tem um radar natural pra achar mulheres bonitas, meu caro.
- É, eu tenho mesmo. – Sirius admitiu, rindo. – De qualquer forma... Eu estava me lembrando dela no time, ela é uma boa goleira! Lembro de um jogo que ganhamos de 250 à 0. Ela não deixou passar uma goles, como não ofereceram uma festa pra ela ou coisa do tipo? – Ele voltou a fitar o teto.
- Sei lá, Padfoot, vai ver ela só não gosta de receber muita atenção.
- Talvez...
- Você está muito intrigado com essa garota, em, daqui a pouco a pobre Marlene sente um peso na cabeça e não sabe nem porque.
Sirius gargalhou.
- Para de falar merda, Prongs! Não vou trair a Marlene.
- Tudo bem, mas agora me ajuda com isso aqui, seu cachorro safado, não consigo me lembrar do feitiço certo.
- Tudo bem, tudo bem! – Sirius se agachou ao lado do amigo para ajudá-lo.
Marlene...
No fundo nem mesmo Sirius sabia porque estava namorando com ela. Era tão superficial às vezes. Quando estavam a sós ela era interessante, sabia como agradá-lo na cama, fazia tudo por ele, até conversavam um pouco, mas na frente dos outros tinha uma mania irritante de se provar superior. Já estavam juntos há quase um ano mas Black não se sentia nem um pouco animado com isso.
Tentava se consolar dizendo pra si mesmo que era normal para alguém como ele não estar tão interessado assim no próprio relacionamento. Afinal de contas era Sirius Black, talvez seu jeito de amar alguém fosse diferente mesmo.
Amar...
Será que era mesmo isso que sentia? Não tinha o mesmo brilho no olhar que James tinha quando falava de Lily. Não sentia metade das sensações que James descrevia sentir quando estava com ela. Algum dia amaria alguém dessa forma? E por que logo agora se fazer essas perguntas difíceis? Talvez estivesse cansado de pular de mulher em mulher e continuar sentindo um certo vazio dentro do peito, talvez fosse isso o que procurasse quando pediu Marlene em namoro.
Mas mesmo depois de um mês, dois, três, o vazio não se preencheu. Uma hora isso passa ele pensava. Empurrara com a barriga durante um ano e agora estava ali, se questionando sobre o que era o amor de verdade.
Quando conseguiram encantar as bombinhas, eles as fizeram flutuar até a cabine de Lily. As palavras explodiram no ar em letras coloridas e brilhantes. Ela se assustou, mas logo começou a rir. Quando olhou para o vidro e viu Potter parado do lado de fora sorriu de uma maneira que Sirius nunca vira ninguém sorrindo para ele. Era um sorriso quente, mas não no sentido erótico da coisa. Era quente de um modo que prometia aquecer James nas noites frias, esfriá-lo nas quentes, estar com ele em todos os momentos.
Era quando via esse tipo de reação entre os dois que sabia que ajudaria o amigo quantas vezes ele pedisse, porque vê-lo daquele jeito, conseguir sentir a energia entre os dois mesmo olhando de fora, fazia ele perceber que não se tratava de um simples exibicionismo, se tratava da importância daquele sorriso no final do show.
Sem ter controle de onde sua mente o estava levando, Sirius se pegou pensando em Sophie quando foi vestir o uniforme. Até olhou ao redor no corredor enquanto se dirigia ao banheiro do trem, mas não a encontrou de novo. Não que precisasse vê-la, mas queria. E esperava que tivesse deixado transparecer esse querer quando disse que esperava revê-la.
No pouco tempo que esteve com ela, frente a frente, conseguiu perceber que tinha belos olhos azuis, reparou em seus dedos circulando as ondas do cabelo loiro, nos lábios enquanto ela falava...
Volta, Sirius, VOLTA! Ele repetia pra si mesmo quando se deixava levar demais pelas imagens.
Lavou o rosto antes de voltar para a cabine numa tentativa falha de lavar Sophie de sua mente. Era só uma garota, uma garota muito bonita, ok, mas já tinha visto e beijado milhares delas.
Devia se focar no que Marlene sussurrara em seu ouvido.
Se pelo menos ele tivesse prestado atenção...
- Amorzinho, achei que nunca fosse voltar. – Marlene choramingou quando Sirius abriu a porta da cabine.
Uma garota de cabelos ruivos escuros estava ao lado da namorada, Sirius logo a identificou como uma das amigas chatas de Marlene.
- Você devia ir se trocar, daqui a pouco chegamos. – A voz de Sirius era entediada, tudo que ele desejava era estar dentro daquela cabine sozinho, ou pelo menos apenas com seus amigos. Nada de Marlene com suas amiguinhas. Até cogitou a possibilidade de dar meia volta e procurar onde os outros marotos estavam, mas percebeu que Marlene não tinha culpa da falta de interesse dele e que mal passara tempo com ela durante a viagem.
- Eu vou daqui a pouco, mas é que queria passar um tempo com meu namorado. Afinal de contas passamos quase o verão inteiro separados. – Ela fez bico.
Sirius soltou o ar profundamente, tentando parecer o mais normal que conseguisse.
- Tudo bem, estou aqui agora – Ele sorriu levemente e se sentou ao lado da namorada. A garota prontamente colocou as duas pernas atravessadas por cima das coxas de Sirius, os pés apoiados no outro lado do assento, se aproximando dele e virando de costas para a amiga.
- Ok, acho que estou sobrando aqui... Vejo você no castelo, Emmy. – A ruiva disse, saindo às pressas da cabine. Até que enfim...
- Emmy? – Sirius estranhou.
- É, meu apelido oras! É o som da inicial do meu nome. – Ela riu.
- Ah, sim. Bem pensado...
A garota então colocou os dois braços ao redor do pescoço de Sirius. Parecia procurar a melhor forma de falar alguma coisa, Sirius apenas esperou até que ela começasse.
- Então, gatinho... Quem era aquela loira sem graça com quem vocês falavam hoje, em? – Marlene perguntou, as palavras saindo cuidadosamente de sua boca.
Sirius devia imaginar que ela não fosse demorar até começar a questioná-lo. A garota tinha ciúmes até da vassoura dele, era inacreditável.
Ele revirou os olhos e respirou fundo. Dessa forma não seria nada fácil afastar as imagens de Sophie da cabeça.
- Acho que te apresentei, não? Apesar da sua educação ter deixado bastante a desejar. – Ele respondeu, o tom de voz mais seco do que o pretendido.
- Mas é claro, você mal tirou os olhos dela enquanto nos apresentava, mal me deu atenção quando cheguei e ainda queria que eu dissesse "olá querida, que grande prazer em te conhecer!" – Marlene disparou, forçando uma voz fina enquanto simulava a apresentação.
- Talvez... – Sirius disse, sarcástico, mas ainda tentando manter a paciência.
- Sabe, já é difícil o suficiente pra mim nós não sermos da mesma casa, ter que vê-lo com novas amiguinhas não é nada legal. Até parece que você se esquece do seu passado... – Ela contestou.
Sirius odiava quando a garota usava esse argumento. Ele era mulherengo, sim, mas enquanto era solteiro isso dizia respeito somente à ele. Marlene se apaixonou por ele assim e ele resolvera deixar essa vida de lado só para dar uma chance à ela.
- Você me conheceu assim, aceitou namorar comigo sabendo como eu sou, o mínimo que poderia fazer é confiar em mim! – Tudo bem, talvez ele não fosse realmente tão confiável, já que naquele mesmo momento uma parte de sua mente insistia em trazer as imagens de Sophie à tona. Mas tentou se fazer soar verdadeiro.
- Você ainda não me disse quem ela é... – Ela insistiu, parecendo ignorar completamente o que Sirius dissera.
Ele estava começando a deixar evaporar toda paciência que tentava reunir.
- É a goleira do nosso time de quadribol, Marlene. Apenas isso. Nada mais que isso...
- Mas pelo jeito você gostaria que ela fosse muito mais que isso, não é? – Ela acusou.
- Agora chega, Marlene! Por Merlin! Eu pedi você em namoro, não foi? – O tom de voz de Sirius elevou-se.
- É, mas as vezes me pergunto se fiz a coisa certa em aceitar. – Ela declarou.
Sirius soltou uma risada incrédula.
- Você só pode estar brincando! – Ele passou as mãos pelo cabelo, impaciente. Retirou as pernas da garota de cima das próprias e se levantou. - Olha o show que você ta dando só por ter me visto conversando com alguém? Aliás nem foi uma conversa, eu esbarrei acidentalmente nela e me desculpei.
- Eu disse no seu ouvido pra você me encontrar no banheiro do trem, pra matarmos as saudades. Você nem sequer escutou o que eu disse! – Ela o encarava.
Então fora isso que ela dissera. Nossa, como Sirius não escutara? Ele travou por um segundo, surpreso, sem saber como fazer pra se desvencilhar dessa vez.
Ele soltou o ar pelo nariz devagar.
- Tudo bem, mas é porque estava pensando em outras coisas, não na garota. Pare de ser boba Marlene, isso não justifica todo esse interrogatório. – Ele voltou a se sentar ao lado dela.
Ela suspirou, parecia que finalmente daria uma trégua.
- Ok.
- Ok o que?
- Ok que vou parar de discutir sobre isso, e sobre todas as outras garotas que ficam te rondando. – Ela prometeu. Era sempre a mesma promessa, mas Sirius fingiu acreditar, não queria mais discussões.
- Fico feliz com isso. – Ele forçou um sorriso.
- Agora... – Marlene mudara o tom de voz, agora estava mais manhosa, tentando agradá-lo, ele imaginou. – Que tal matarmos um pouquinho aquela saudade da qual eu estava falando, em? Já vamos ter que passar a noite toda em mesas separadas, eu lá na mesa da corvinal, você na da grifinória... – Ela se ajoelhou no banco e sentou em seu colo, cada joelho de um lado dos quadris de Sirius.
- Você é doida Marlene, alguém pode nos ver. – Sirius disse, colocando as mãos na cintura da garota.
- Até parece que Sirius Black liga pra isso – Ela mordeu o lábio inferior, um sorriso indecente no rosto.
- É verdade. – Sirius sorriu da mesma forma, apertando as mãos na cintura de Marlene. Se sentia mais relaxado, enfim.
A garota aproximou o rosto do rapaz e lhe beijou, acariciando seus cabelos.
Sirius correspondeu. Mas pela primeira vez em todo esse tempo que namorava com Marlene, não era aquele corpo que desejava tocar naquele momento.
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N/A: E aí gente! Capítulo mais curtinho (talvez? não sei, vocês preferem maior ou menor que isso?) só pra mostrar a reação do Sirius ao esbarrão com a Sophie.
Aliás todos os capítulos serão divididos assim, um mostrando o ponto de vista da Sophie, o outro do Sirius. As vezes pode ser que eu repita um ou outro ou ponha os dois num capítulo só, mas vou tentar sempre intercalar dessa forma.
O nome da namoradinha do Sirius é Marlene mas não é a mesma que a galera shippa com ele, ok? hehe, por isso ela não é da grifinória ^^
Beijos, espero que gostem! :)
Ah e como sempre: Qualquer erro, incoerência, ou falha ortográfica, podem me avisar.
Diênifer Santos Granger: Nossa, uma leitora o/, juro que não esperava por isso! Obrigada pelo comentário e espero que os próximos capítulos te agradem também :) Ainda tem muita coisa pela frente, hihi.
Beijão :*
Comentários (1)
Menina! Que capitulo foi esse?! Ai Mérlin! Socorro!Eu gosto de capitulos um pouco mais compridinhos, mas amei esse do mesmo jeito!Não vejo a hora de ele lembrar de onde a conhece! Eu como não shippo Sirilene não me importo dela ser uma fútil esnobe! Nas futuras fics que vou postar com a shippe deles eu descrevo ela como metida e tal... Super curiosa com o desenrolar dessa trama!Ganhou uma fã número 1!!!Boa Semana, ~Diênifer
2014-07-29