Ela - 1º ano



          Muitas pessoas ouviram falar de minha história, de minhas aventuras, de toda minha vida. Todos conhecem e reconhecem meu marido, meu melhor amigo e sua esposa, e tantos outros, porém nunca se ouve falar dela, a moça que amei por tanto tempo em minha vida e acho que ainda amo. Quando entrei em Hogwarts tinha apenas 11 anos, mas ela não. Ela já tinha 12, e embora pareça que não muda muita coisa de um ano para o outro, minha vida está aqui para demonstrar o contrário. Quando entre no Expresso de Hogwarts e saí em busca de um lugar para me acomodar, eu a vi passar por mim. Ela era a garota mais linda que eu já havia visto. Tinha olhos negros e profundos emoldurados por um par de óculos, cabelos longos e levemente cacheados nas pontas, as quais ela pintara de azul. Ela era alta para a idade e andava com graça e leveza, como se flutuasse pelo corredor daquele trem prestes a partir. Ela logo foi acudida e amparada por um grupo de rapazes, cujas idades variavam, e todos entraram em uma das cabines que logo se fechou. Passado o encanto, resolvi continuar a procurar onde sentar, mas não antes de tentar espiar o interior da cabine. No momento em que meu olhar transpassou o vidro daquela cabine, pude ver seus belos olhos negros cravados em mim, e seu rosto sugeria uma expressão que variava entre curiosidade e e comoção. Depois disso, o resto vocês sabem. Fiquei na mesma cabine que Harry e Ronny, fui selecionada pelo chapéu seletor para a Grifinória e fui guiada por Percy até a Sala Comunal da Grifinória. Confesso que procurei por ela na sala, mas não a achei. Conversei um pouco com os rapazes e depois resolvi ir dormir.
          Ao subir para o dormitório, apenas uma cama estava ocupada. Era ela. Ela estava deitada na cama e aparentemente lia um livro. Curiosa, tentei espiar o tíulo do livro "Poções e suas fun..." Ela estava me olhando. Percebi que havia me aproximado de mais dela e que murmurava o nome do livro. Envergonhada e com as bochechas em fogo, me retraí. Ela fechou o livro, sentou na cama e sorriu.
-Olá!
-O-oi.
-Meu nome é Natasha, e o seu?
-M-meu nome é Hermione.
-Vocẽ é nova aqui, né?
-Sou.
-Bom, eu já estou no segundo ano. Se precisar de algo, é só me avisar.
-Obrigada! - eu disse, alivida.
          Depois desse início, nós começamos a conversar, e a conversa com ela fluía como água. Ela era tão inteligente, tão bonita, tão simpática...tive medo de que ela tivesse lançado um feitiço em mim. Conversamos por tanto tempo que percebi que o quarto já se enchera, as camas já estavam ocupadas e nós ainda falavamos. Depois de certo tempo, ela, graciosa como um gato, bocejou e disse:
-Temos de dormir, amanhã será um longo dia.
-É verdade - respondi.
-Boa noite, Hermione. - ela disse ao se deitar.
-Boa noite, Natasha. - e essa foi a última coisa que eu disse antes de mergulhar em um sono profundo.

          Durante meu primeiro ano em Hogwarts eu a encontrava pelos corredores, porém nunca conversávamos. Ela estava sempre rindo com alguns garotos ao seu redor. Para mim, eram seus seguidores. Fiéis escudeiros enfeitiçados por sua beleza e carisma. Como seria quando ela crescesse? Quando seu corpo se desenvolvesse? Ela teria a escola inteira aos seus pés. E eu, reles mortal, nada poderia fazer. Ela me fascinava tanto quanto a magia em sí. Naquele ano, muitas coisas aconteceram e fiz grandes amigos, mas isso todos sabem. Ronny era o ruivo, de descendência bruxa, porém de uma família pobre que custava a se sustentar. Sempre gostei muito dos irmãos gêmeos dele, ambos eram incrivelmente talentosos. Os professores falavam que fazer rir não é talento, mas sempre discordei disso. Harry, por outro lado, era de descendência de uma família rica, sendo ele o único sobrevivente do ataque que matou seus pais. Embora não gostasse de seus tios e seus primos, ele parecia feliz, pelo menos enquanto podíamos observá-lo. Nunca se sabe o que se passa na cabeça de alguém que já sofreu tantos traumas. Além deles, havia também Neville. Havia algo de estranho nele. Sempre senti como se ele tivesse perdido algo, dentro de si mesmo, além de seu Lembrol. 
           Após o episódio com o Troll das Cavernas, que consolidou minha amizade com Ronny e Harry, quando cheguei no quarto toda descabelada e parcialmente feliz, foi ela quem me amparou. Limpou minhas vestes, me acalmou e até tratou de alguns de meus arranhões. Nunca quis acreditar em como ela era cuidadosa e perfeita, mas o que mais me intrigava era seus cabelos azuis. Uma menina tão certa e perfeita e com os cabelos de modo a exibir rebeldia? Algo estava errado e eu não sabia dizer o quẽ. 

          Certo dia entrei no quarto e ela estava agachada em um canto, com a cabeça encostada na gigantesca janela de vidro do quarto, observando a chuva enquanto ela escorria pelo vidro e na altura do chão desaparecia pelo concreto. Ela parecia tão longe e distante, porém não soube dizer porquê.
-Natasha?
-...
-Natasha, está tudo bem?
-...ah, oi Hermione. Não sei dizer, e você?
-Estou ótima. - eu disse, me sentando na cama ao seu lado. - o que houve?
-Recebi uma carta dos meus pais. Eles expulsaram meu irmão de casa.
-Porquê? O que aconteceu?
-Meu irmão é homossexual, Hermione. Ele apareceu em casa com um namorado e meu pai não gostou. Pelas cartas que ele me manda, ele o ama mais do que tudo. Eles pensam em se casar.
-Isso é mesmo muito triste.
-Eu acho isso a coisa mais triste do mundo. - ela disse, enquanto lágrimas passaram a riscar seu rosto perfeito. - eles só se amam. Eles só querem ser felizes. O que há de errado nisso?
          Ela estava soluçando. Abaixei-me e a abracei. Ela me deu um abraço forte, e pude sentir que piorava conforme minhas vestes umideciam a cada soluço. O que havia de errado com seus pais? Eles se amavam, apenas isso. Depois desse dia, ela passou a me contar de tudo que se passava em sua vida. Disse que gostava de um garoto, não disse nome algum, apenas que ele era mais velho e não era do grupo que a rodeava. Disse que seu irmão lhe mandava cartas, que esperava poder vê-lo durante as férias. Disse que vinha de uma linhagem antiga de bruxos, e que seus pais eram extremamente conservadores. Disse que o mundo tinha de mudar, e que sofria por seu irmão.
-Sabe, Hermione, meu irmão já tinha contado pra minha mãe que era gay.
-E o que ela disse?
-Ela começou a chorar e...
-E...?
-E disse que não estava chorando por que ele é gay, e sim por que tinha medo do que as pessoas fariam com ele.

          Aquele ano pareceu passar tão rápido. Depois das provas houve o episódio com a Pedra Fiilosofal e...fim. O ano letivo acabara. Ela me disse que lhe mandasse cartas, porém eu não possuía uma coruja e ficamos sem poder nos comunicar por dois meses. Dois meses inteiros, e, ah, como uma pessoa pode mudar em dois meses.

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