Obliviate



    Nunca pensei que aquilo tudo fosse real. Na verdade, eu pensava estar sonhando, mas percebi que não era um sonho quando a coruja me bicou. Era uma coruja-buraqueira, a mais comum na minha cidade, embora eu nunca tivesse visto uma pessoalmente. O mais estranho era que corujas não entravam em apartamentos, ou pelo menos, não carregando uma carta amarrada com barbante na perna. Felizmente, minha mãe não estava em casa; teria espantado a pobre coitada e rasgado a carta ao ler.
Eu reconheci a carta assim que vi o envelope, que estava selado com o brasão da escola. Não. Não podia ser. Mas era. Minha carta de Hogwarts! Quase a amassei ao segurá-la com tanta força, mas decidi ler a lista de materiais primeiro: 
- Lista de materiais do 3° ano - 
- Livros :
• Monstros e magia, de Van Lout
• Esclarecendo o Futuro, de Cassandra Vablatsky
• Transfiguração para o Curso Médio
• O livro padrão de feitiços, 3ª série, de Miranda Goshawk
• Aritmancia na atualidade - usos e precauções 
• Estudo intermediário de poções
- Uniforme:
• Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas ou brancas)
• Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário
• Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar)
• Uma capa de inverno (preto com fechos prateados)
(As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome)
-Outros equipamentos
• 1 varinha mágica
• 1 caldeirão (cobre, tamanho 2)
• 1 conjunto de frascos
• 1 telescópio
• 1 balança de latão
Obs: Pode-se trazer uma coruja, um gato ou um sapo.
Como assim, eu entraria de vez no terceiro ano? Talvez na carta tivesse uma explicação... Li-a várias vezes. nada. Apenas havia no fim da carta a data e hora de embarque na estação:
"A senhorita deverá comparecer à Estação King's Cross em Londres, às 11:00 do dia 1° de setembro para embarcar no Expresso de Hogwarts.
Atenciosamente, diretora Minerva McGonagall."
Obs: Segue-se em anexo a lista de materiais.
Obs2: Sua resposta será aceita até amanhã (19/08) às 22:00.
Minha primeira reação foi ficar paralisada; depois, senti vontade de gritar de felicidade; mas me lembrei de que não conseguiria viajar à Londres. Primeiramente porque sou menor de idade; segundo, meus pais eram trouxas, e nem mesmo sabiam que eu já havia lido Harry Potter, terceiro, mesmo se eu conseguisse viajar sozinha e sem ser notada pelos meus pais, não tinha dinheiro ou ao menos o Visto do Reino Unido; e por último, o normal não eram os alunos entrarem na escola com onze anos de idade? E mesmo assim, por que eu iria direto ao terceiro ano?
Concluí que a resposta mais inteligente seria explicar meus obstáculos para a professora McGonagall. Peguei uma folha de papel e escrevi com uma caneta - já que eu não tinha um pergaminho ou uma pena e um tinteiro - uma carta:
"Prezada diretora McGonagall,
Gostaria mesmo poder estudar em Hogwarts, e fico grata por ter me aceito, nas tenho alguns empecilhos em meu caminho."
Expliquei tudo o que complicaria minha ida até Londres, esperando por instruções de como sair de Brasília, mas tudo que recebi foi um bilhete minúsculo, que dizia:
"Estou indo. Não saia daí"
Minha mãe chegou por volta das quatro e meia da tarde. Prometi que estudaria para Ciências, já que era a matéria em que eu me saía pior, mas ela acabou me pegando lendo um livro, "A Culpa é das Estrelas". 
- Olá, filha. Como passou a tarde?
- Bem. Estudei um pouco, desenhei um pouco e agora estou lendo.
- Ah, que bom. Sinceramente, me desculpe por ter de sair hoje sem ter avisado, fui escalada à uma cirurgia de emergência. 
- Hm, que pena - tentei fingir interesse
- É. Gravidez tubária. Me deu até agonia de ter que realizar o processo, desde que aquilo aconteceu comigo, sempre rezo antes de começar o processo. Mas enfim, trouxe alguns pães de queijo para te alegrar. 
Tentei parecer o mais normal possível. O ruim de estar de férias era nunca ter algum assunto legal, nenhuma novidade. Bom, nenhuma que eu pudesse contar, é claro. 
Meu pai chegou mais tarde, por volta das oito da noite; como sempre, reclamando do trabalho e de dores nas costas. Por ser filha única, ele sempre me tratou bem, por isso não acho ele um trouxa trouxa como minha mãe.
Quase me esqueci da carta que recebi quando vi algo branco na janela. Outra coruja. Meus pais não perceberam, então disse que tinha que ver algo no meu quarto. A coruja me seguiu pela janela, e eu a abri ao chegar no quarto. Em uma de suas perninhas estava uma outra carta. 
"Abra as janelas para que eu possa entrar."
A janela do meu quarto já estava aberta, mas fiz questão de abri-la ao máximo. Logo, avistei uma bruxa velha (no bom sentido) montada em uma vassoura, com vestes roxas e um olhar que me lembrava um gato. A Minerva da minha imaginação, ou até mesmo dos filmes era muito diferente, mas a reconheci instantaneamente. 
- Desculpe a demora. Eu já estava no caminho há dois dias, mas queria ter certeza de que você não se arrependesse.
- De quê? 
- Ora, ora, você esqueceu um dos feitiços que causa mais confusão, até mais que o "Confundo"? Que Hermione usou para apagar a memória de alguns Comensais da Morte? Que apagou todo o conhecimento de Gilderoy Lockhart?
- Não. Claro que não. Só não sabia que a senhora iria realizá-lo comigo.
- Não é com a senhorita, criança. É com seus pais e todos ligados à você
O inglês dela era diferente quanto ao inglês a qual eu era acostumada. Tive que prestar bastante atenção, e mesmo assim, tentei não puxar o sotaque americano (que aprendi de tanto ver filmes e seriados dos Estados Unidos). Entendi que ela queria executar o feitiço "Obliviate" em meus pais. Pedi para que ela arrumasse um jeito de apagar somente a memória que eles tinham de mim, para não estragar as carreiras deles. Também lembrei que minha família era grande, assim como o número de pessoas com quem eu convivia, mas a Diretora me prometeu que daria um jeito no resto. 
Com o feitiço para arrumar as malas, ela encaixotou meus pertences mais valiosos em caixas, e o máximo que pode de minhas roupas na minha mala novinha em folha. 
- Não se preocupe, vou deixar o quarto trancado até que o pessoal venha levar suas coisas. 
- Para onde? - perguntei
- Acho que você não teria problemas em passar o verão nas montanhas, com os gigantes, certo?
Era uma piada bem sem graça, pois certamente os gigantes não gostavam de visitas. Pelo jeito, McGonagall percebeu que a piada não teve graça.
- Providenciarei o local mais tarde, mas acho que nenhum lugar seria mais seguro que o Beco Diagonal - ela respondeu, como se achasse que eu estava preocupada - você terá tempo de arrumar tudo antes de 1° de setembro. 
Ela tirou a varinha de um bolso nas vestes e disse:
- Bem, acho que já chega de explicações, senhorita Oliveira. Agora vamos ao que interessa.
Abri a porta do meu quarto, convidando-a para sair andando, até mesmo pulando pelo corredor; mas antes que ela pudesse sair, pedi um favor a ela.
- Hm, a senhora pode me fazer um favor?
- Outro favor, senhorita Oliveira? - ela perguntou, sorrindo. Concluí que ela estava concedendo o pedido
- Será que poderia haver um jeito de libertar meu pai do feitiço, quero dizer, um antídoto para que ele possa voltar a se lembrar... de mim. Mesmo que ele pense que eu morri, mas que, aos poucos, lembre-se de mim?
- Creio que isto não seja possível, minha cara; mas posso tentar. 
- Obrigada, diretora.
A esse ponto, meus pais já deveriam ter notado que eu estava falando com alguém, pois se calaram completamente. 
Minerva caminhou lentamente do corredor até a pequena sala de jantar, e pude sentir a expressão de horror em meus pais ao vê-la. Eles repugnavam bruxos. Antes que eles pudessem gritar, murmurei:
- Espero que funcione.
E McGonagall murmurou:
"Obliviate annui"

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