Único



“Londres, 01 de Outubro de 1980


Caro Sirius,  


É realmente difícil saber como começar essa carta, eu devo tê-la escrito pelo menos quatro vezes em minha cabeça e, ainda assim, não sei como começar. O mais engraçado, Sirius, é que por mais que eu realmente tenha conseguido começar eu não sei sequer se vou conseguir terminar ou se tenho coragem para colocar essa carta no correio.


Eu realmente sinto muito por escrever agora, depois de tanto tempo e, até agora, não consegui identificar ao certo o motivo que me deu coragem. Talvez tenha sido o fato de ter encontrado o convite do seu casamento em uma larga pilha de papeis, talvez a sua carta que encontrei na casa de Lily e James, talvez tudo.    


Mas o que eu posso dizer, Sirius? Ao passo que vasculhava cada memória; seja ela uma simples ou complexa lembrança; dava mais espaço à incerteza, à insegurança, que me privavam de qualquer ímpeto de redigi-la. A grande questão é que tais adversidades mantêm-se a assolar-me constantemente, a cada palavra que, através do ríspido deslizar da pena, deixo transcorrer de minha transtornada mente para o papel. E é cada vez mais difícil


Passamos por muita coisa juntos desde o primeiro ano, não é mesmo Sirius? Eu ainda consigo me lembrar do dia que fomos selecionados para a mesma casa, eu nunca lhe disse isso, mas fiquei muito feliz quando o chapéu me colocou na Grifinória e você me chamou para sentar-me ao seu lado. E depois, no quinto ano, quando você me pediu em namoro e eu disse sim. Eu achei que fossemos ficar juntos para sempre, naquela época. Mas então, no sétimo ano, estourou a guerra e você conheceu Cibele, na Ordem.  E, bem, eu realmente me alegro em saber que vocês são felizes juntos, mas, mesmo assim, não deixo de sentir sua falta, Sirius. Todo dia.”


Marlene releu a carta toda, vendo se havia escrito alguma coisa que pudesse se arrepender. Ela sentiu uma grande vontade de rasgar e não enviar nada.


“I heard that you're settled down


Eu ouvi que você sossegou


That you found a girl and you're married now


Que você encontrou uma garota e se casou


I heard that your dreams came true


Eu ouvi que seus sonhos se tornaram realidade


Guess she gave you things, I didn't give to you


Imagino que ela tenha te dado coisas que eu não dei”


Respirando profundamente ela largou o papel sobre a mesa e, com um aceno displicente da varinha, conjurou um copo e uma garrafa com um líquido âmbar e serviu se de uma generosa quantidade dele, engolindo-o quase de uma só vez. Ela secou a boca com a manga e deu uma olhada pela janela.


Lentamente Marlene voltou à cadeira e segurou a pena sobre o pergaminho, tremendo, sem saber o que ou como escrever. Queria contar tudo a ele, despejar todos seus sentimentos naquele pergaminho e mandar para Sirius, sem importar-se com o fato dele estar casado, podendo até mesmo ter filhos.


Ela suspirou lentamente antes de apoiar a pena no pergaminho.


“Eu gostaria que você soubesse como eu me sinto, Sirius. Não estou pedindo nada em troca, são apenas palavras que eu não conseguia mais guardar em meu coração. Você não precisa nem terminar de ler, mais que isso, não se importe também em responder, Six. A única coisa que eu te peço, é que você se lembre dos bons momentos que passamos juntos.


Lembra-se do nosso último encontro, Sirius? Você estava de mãos dadas com Cibele e eu andando pela rua, sozinha. Ela estava com um sorriso radiante e você com um risinho tímido. A felicidade que tanto te contagiava bem lá no fundo d'alma escapava apenas pelo brilho de seus lindos e azuis olhos, enquanto você se continha para não demonstrá-la. Com certeza estava feliz, eu o conhecia melhor do que ninguém para perceber isso, mas você parecia um tanto quanto desconfortável. Havia acabado de propor a ela, não havia? Não havia motivo algum para tal expressão Sirius! Você deveria estar extasiado!”


“Old friend


Velho amigo


Why are you so shy?


Porquê você está tão tímido?


It ain't like you to hold back


Não é de seu feitio se segurar


Or hide from the light


Ou se esconder da Luz”


“Eu sinto sua falta Sirius, é verdade, eu nunca quis que nosso relacionamento chegasse a um fim, mas você não precisa ter vergonha de andar com sua noiva, agora esposa, na minha frente. Ela é mesmo muito bonita e vocês fazem um belo casal. Não há razão para ter vergonha quando está com ela e, mais do que isso, em toda a nossa convivência eu nunca vi Sirius Black com vergonha de sair com uma bela garota, não é mesmo?


Se você chegou até esse ponto da carta, eu realmente te agradeço Sirius, mas se não, eu entendo, talvez seja realmente um bando de bobagem e, bem, se você jogou a carta fora só de saber que era minha para não arrumar problemas com sua esposa eu também entendo, e, se você realmente fez isso, torna tudo isso uma grande besteira, afinal, seriam palavras que você nunca leu.


Oh, Sirius, eu queria tanto a sua ajuda. Não como amante, pois sei que isso não é mais possível, mas como amigo já seria suficiente para mim. Há dias sua prima Bellatrix esteve aqui, procurando por Lily e James, eu lhes disse um endereço qualquer. Eles voltarão, tenho certeza.  Sinto-me tão sozinha!”


Marlene estremeceu e secou uma lágrima que teimava em cair. Ela se serviu de mais bebida e virou todo o conteúdo do copo de uma só vez.  Ela respirou profundamente e voltou a escrever.


“Novamente, Sirius, me desculpe se disse alguma coisa nessa carta que não foi de seu agrado ou se, de algum modo, eu lhe arrumei um problema, não foi minha intenção. Tudo o que eu desejo é ter meu amigo de volta, meu melhor amigo! Aquele rapaz alegre que ia às festas comigo e voltava três horas da manhã, trocando as pernas e algumas palavras! Por favor, Six! Pense com carinho.”


Ela respirou pesadamente e pousou a pena. Bosta! Se já era difícil começar a carta terminar era impossível! Como assinar essa porcaria? Afetuosamente? Carinhosamente? Com saudades, Marlene? Não. Nada disso era suficiente. Nada expressava exatamente o que ela queria dizer.


A bela coruja negra de Marlene pousou sobre a mesa e olhou para a carta por alguns segundos antes de encarar a moça. Ela apontou para a coruja com o copo e riu:


- Ora, sua tonta, não me pressione!


Riu novamente, achando-se louca. Na hora que você começa a conversar com sua coruja é por que, definitivamente, você está louca! Marlene McKinnon, você está louca!


- Quer saber? – ela colocou a carta em um envelope – eu mesma vou entregá-la! Por que não? O que eu tenho a perder?


A coruja a encarou, com uma expressão, que Marlene julgou, curiosa. Ela riu novamente para o bicho, murmurando que se não estava louca, no mínimo bêbada estaria. Marlene largou a varinha sobre o envelope e a capa sobre a cadeira. Conferindo um ultima vez se a porta estava bem trancada e os feitiços de proteção funcionando, ela subiu para o quarto.   


Marlene fechou a tampa do ralo e ligou o chuveiro, para encher a banheira. Antes de tirar a roupa ela sentou na beirada da cama e olhou pela janela, encarando um pássaro voando livremente pelos flocos de neve que caiam lentamente.  Marlene sempre adorou a neve. Ela se lembrou que quando era criança sempre dizia em seu casamento toda a decoração seria branca como a neve, com grandes flocos pendendo do teto. Ela riu de como essa lembrança parecia tola frente a tudo o que estava acontecendo.


Ela colocou a mão dentro da banheira, para medir e temperatura, antes de desligar o chuveiro. Marlene mordeu a ponta do dedo em dúvida. Será que deveria ir mesmo? Ela queria ir, mas no fundo sentia que não era uma idéia. E se Sirius não quisesse mais vê-la? E se a esposa dele estivesse em casa? Marlene passou a mão pelos cabelos e sentiu seus olhos arderem levemente, talvez estivesse chorando. Desejou fortemente que não. Respirando pesadamente ela se levantou e encostou a porta do banheiro.


- Quer saber? – ela disse para o nada – eu não vou! E também não vou andar carta nenhuma


Ela se serviu de um terceiro copo, mas não virou dessa vez. Ela abriu a gaveta do criado mudo para jogar a carta lá dentro, mas um pedaço de papel mal dobrado e encardido chamou sua atenção. Ela pegou o pedaço de papel e o encarou por alguns segundos antes de um sorriso petulante se formar nos cantos de seus lábios.


- Desgraçado – ela jogou a foto sobre a cama e andou até o banheiro para tomar seu banho


Sobre a cama a foto mostrava dois jovens, abraçados e sorrindo. Um rapaz por volta dos dezesseis anos com os cabelos negros como a noite e olhos azuis como o dia envolvia uma moça com longos cabelos castanhos voando com o vento e olhos cor de mel brilhantes e alegres. Tanto Marlene quanto Sirius estavam com enormes sorrisos, pareciam realmente felizes.


Marlene se lembrou com carinho dessa época enquanto tomava banho. Ela saiu do banheiro de toalha e pingando. O cabelo molhado estava grudando em sue rosto, ombros e costas. Ela pegou a primeira roupa que encontrou pela frente e secou o cabelo com a varinha. Ela agarrou a carta e colocou no bolso interno de suas vestes.


Virando todo o conteúdo do copo garganta a baixo ela aparatou próximo da casa de Sirius em Godrics Hallow`s. Nervosa ela segura as mãos o tempo todo, respirando com força o tempo todo, tentando acalmar-se. Merlin, como era difícil fazer isso! Talvez não estivesse bêbada o suficiente para isso.


Ela andou alguns metros, até uma casinha em estilo colonial, branca com janelas marrons de madeira e o telhado preto. Havia um grande jardim com muitas flores e uma cerquinha branca em torno de todo o quintal. Marlene ficou impressiona com o quão bem cuidada estava a casa, levando em conta que estavam em guerra. Ela andou pelo caminho de pedras que dava a porta da casa. Havia apenas uma vassoura apoiada perto da porta. O coração de Marlene se encheu de expectativa. Talvez Cibele estivesse fora. Talvez estivesse viajando! Poderia conversar com Sirius a sós sem criar problemas com sua esposa. Ela fechou os olhos e prendeu a respiração antes de bater na porta, mas no meio do caminho um pensamento horrível lhe ocorreu. Marlene sentiu como se seu estomago tivesse despencado centenas de metros. E se Sirius fosse aquele viajando? Cibele nunca gostou muito de Marlene, sem duvida a expulsaria a mandaria nunca mais voltar.


Marlene deu meia volta, não queria correr esse risco. Ela segurou a carta contra seus olhos, imaginando se deveria escorregá-la por debaixo da porta ou simplesmente colocá-la na mesa de cabeceira quando chegar a casa. Que droga, pensou pesarosamente abrindo a portinhola da cerca.


Ela sentiu todos os seus músculos se retesarem e sua respiração cessou por alguns segundos. Uma ponta de varinha estava apontada contra suas costas. Ela fechou os olhos e pegou a varinha lentamente.


- Amigo ou inimigo, diga seu nome! – a voz era grave, segura e profunda. Marlene conhecia muito bem essa voz. Ela sorriu e seu coração deu uma cambalhota. Ela se virou lentamente para encarar o dono da voz.


A varinha que pressionava Marlene afrouxou quando encarou os grandes olhos mel dela.


- Marlene? – ele perguntou incrédulo – é você mesma? – ela confirmou com a cabeça, ele apontou a varinha para o rosto dela com ferocidade – prove!


-Sirius, sou eu! Me desculpe aparecer assim do nada, eu... – ele não baixou a varinha – Você foi o primeiro da sua família a entrar pra Grifinória e por causa disso seus pais te expulsaram de casa, no quinto ano, que foi quando você foi viver com os Potter!


“I hate to turn up out of the blue uninvited


Eu odeio aparecer do nada, sem ser convidada


But I couldn't stay away, I couldn't fight it


Mas eu não pude me manter longe, não pude resistir


I hoped you'd see my face and that you'd be reminded


Eu esperava que você visse meu rosto e que se lembrasse


That for me, it isn't over


Que pra mim, ainda não acabou”


Sirius guardou a varinha no cós da calca e abraçou Marlene com força, parecia genuinamente surpreso e contente com a visita dela.


- Lene! Por Merlin, há quanto tempo! – ele se afastou, mas continuou segurando os braços dela enquanto a encarava com um grande sorriso.  


Ele estava com os cabelos negros bagunçados e usava uma calça jeans desbotada com uma camisa azul surrada e uma jaqueta de couro.  Apesar do grande sorriso no rosto seu olhar era cansado, com grandes olheiras. Parecia que não dormia há dias, Marlene culpou a guerra por isso. Sabia que Sirius realizava várias missões para a Ordem.


Ele passou os dedos pelo cabelo, bagunçando-o ainda mais. Marlene riu. Mesmo depois de anos Sirius conservava as mesmas manias de garoto. O mesmo olhar maroto, apesar de cansado, o mesmo sorriso astuto e o mesmo ar espertalhão de sempre. Marlene sentiu um grande sorriso se formar em seu rosto e seus olhos arderem, sabia que em breve iria chorar, mas não queria que Sirius visse. Ela se precipitou contra ele e o abraçou com força, ele fez o mesmo.


- Merlin! – ele disse – faz realmente muito tempo! Quanto tempo? Dois anos? Três anos?


Assim que sentiu que conseguiria segurar o choro ela levantou a cabeça e lançou a ele seu melhor sorriso.


- Acho que uns dois!


- Vamos, vamos! Entre por favor! – ele abriu a porta para ela e deixou que ela entrasse enquanto segurava a porta, sorrindo, Marlene tinha a impressão que nada tiraria esse sorriso brejeiro dos lábios dele. Ela não conseguia deixar de sorrir ao ver a felicidade de Sirius.


Ela entrou lentamente e olhou em volta. A casa era pequena e muito bonita por dentro. Não havia muita mobília, apenas o suficiente para o conforto.  As paredes eram creme e havia uma pequena lareira no meio da parede, em frente a um confortável sofá branco e duas poltronas vermelhas. Na parede alguns quadros, mas nenhuma foto. Nem de Sirius, nem de Cibele, nem de ninguém. Marlene achou isso muito curioso.


Sirius entrou e foi para a cozinha, deixando Marlene sentada no sofá. Ela não conseguia deixar de se sentir desconfortável. Cibele podia não estar em casa, mas que horas chegaria? E se ela a encontrasse lá, sentada em seu sofá? Merlin, isso não podia acabar bem.  Sirius chamou seu nome da cozinha.


- Marlene, quer beber alguma coisa? Suco de abóbora, hidromel envelhecido, Whisky de fogo?


- Um Whisky de fogo seria ótimo, Six. – Sirius riu na cozinha e voltou trazendo dois copos com gelo e uma garrafa.


- Essa é a velha Marlene – ele colocou uma generosa quantidade em cada um dos copos – minha companheira de sempre – ele a entregou o copo – saúde!


Ambos viraram metade do copo em um gole. Ele sorriu para ela.


- Sirius – ela disse cautelosamente – por que não há nenhuma foto aqui?


- Dumbledore achou melhor esconder todas, para que você-sabe-quem não tivesse acesso a algum tipo de informação contra mim, sabe?


- Entendo – ela desejou que ela mesma tivesse se livrado de todas as fotos em sua casa – e, bem – ela pigarreou – onde está Cibele?


Sirius estava bebendo outro gole. Seu semblante se fechou imediatamente, ele terminou de beber lentamente antes de pousar o copo na mesa com muita calma. Ele pigarreou antes de levantar os olhos para Marlene


- Saiu – deu de ombros – coisas da Ordem – ela assentiu com a cabeça – não que eu me importe muito – Sirius completou em voz baixa


- Está tudo bem entre vocês?


- Não muito, mas isso não importa. Me fale de você, Lene! – ele voltou a sorrir – o que a trás aqui, como você me achou, o que tem feito, como você vai? Me conta tudo


- Lily e James me deram seu endereço – ele sorriu


Marlene decidiu que não entregaria a carta. Não, falaria tudo ela mesma. Não sabia exatamente o que havia te dado essa idéia, talvez a grande quantidade de bebida que havia ingerido nas ultimas horas, talvez o fato de Sirius estar tento problemas em seu casamento. 


- E o que me trás aqui – ela disse com calma – foi, bem – não iria dizer tudo de uma vez, não, poderia ser um problema – Bellatrix.


Sirius engasgou com a bebida e a encarou preocupado. Talvez, ela pensou, essa não havia sido a melhor maneira de começar uma conversa tão delicada quanto essa. Ela sorriu nervosa, tentando passar uma impressão de calma e descontraída.


- O quê ela queria? Como você está? Ela não te machucou, não é?


- Harry – ela murmurou e depois pigarreou – Harry, ela queria saber onde estão Lily e James. E não, eu estou bem, Six, mesmo! – ela sorriu tentando parecer convincente e puxando a manga da camisa para esconder as faixas no braço.


- Por Merlin – Sirius se sentou ao lado dela e passou o braço pelo ombro dela – tem certeza que está tudo bem?


- Eu estou bem sim.


- Por Merlin, Lene! – ele passou os dedos pelo cabelo, consternado – eu não sei o que faria se aquela lunática fizesse algo com você!


- Ora, não seja dramático, Six – ela riu causticamente. As palavras fluíam de seus lábios sem controle. Por algum motivo, aquele último comentário a irritou. Ele passou anos sem entrar em contato, sem mandar uma coruja, sem sequer manda um bilhete por Lily e James e agora dizia que não saberia o que fazer caso ela sumisse.


- Ouch – ele colocou a mão sobre o peito com um sorriso encantador – sua risadinha ainda me machuca, Marlene McKinnon! – ela revirou os olhos – você realmente ainda não sabe o efeito que tem sobre mim, Lene.


Ela suspirou. Quem não sabia o efeito que causava era ele mesmo. Como ele podia dizer essas coisas para ela, bêbada, solitária e carente enquanto sua esposa não estava?


Marlene sentia raiva de Sirius. Sentia saudade dele. Sentia-se confusa perto dele. Sentia-se, mais uma vez, uma adolescente apaixonada. Ela se lembrou dos anos antes da guerra, antes de namorar Sirius. Como ficava irada ao vê-lo flertando com outras mulheres e depois correndo para ela, dizendo que só havia ela em sua vida. E como ficava com ainda mais raiva ao se derreter pelos longos olhos azuis dele. Como desejava ter se apaixonada por outro, que não aquele cafajeste.


“Never mind, I'll find someone like you


Não importa, eu encontrarei alguém como você


I wish nothing but the best for you, too


Eu desejo tudo de melhor para você


Don't forget me, I beg, I remember you said


Não me esqueça, eu implore. Eu lembro que você disse


Sometimes it lasts in love


Algumas vezes o amor dura


But sometimes it hurts instead


Mas outras vezes, ele apenas machuca


Sometimes it lasts in love


Algumas vezes, o amor dura


But sometimes it hurts instead, yeah


Mas outras vezes, ele apenas machuca, sim


- Onde está Cibele? – ela perguntou mais uma vez, mas mais inquisitiva.


- Não está – ele deu de ombros, como sempre fazia quando se irritava com algo, e encheu seu copo e o de Marlene novamente, sorvendo todo o líquido de uma vez – agora me conta, o que houve entre você e Bellatrix?


Ela abaixou os olhos. Não suportava olhar aquelas orbes azuis repletas de preocupação.


- Ela foi até minha casa procurando os Potter, Snape estava com ela.


- Aquele seboso – sibilou


- Ele não parecia saber muito bem o que estava acontecendo, pra ser honesta – ela levantou os olhos, se perguntando se aquilo era ela ou a bebida falando – quando Bellatrix perguntou sobre os Potter ele fez uma cara de – ela parou e refletiu – bem, de pesar, eu acho...


- Ele é uma cobra sebosa, isso sim! Como você pode defendê-lo, Marlene?


- Porque eu não acredito que ele seria capaz de Machucar Lily! – ela se levantou – ele a amava! E um amor verdadeiro não se esvai com tanta facilidade!


- Eu sinto que você está mais falando do Seboso e Lily, McKinnon – ele se levantou também bebendo o líquido do copo dela.


- É claro que estou, Six – ela murmurou de costas para ele, passando os dedos pela poeira que se acumulava na lareira. Olhando mais atentamente, a casa parecia não ser limpa há dias e algumas garrafas estavam jogadas pelo cômodo.


- Marlene – ele tocou no ombro dela com delicadeza.


Ela se virou lentamente para ele. Ele estava com a ponta do nariz vermelho, um sinal claro de que estava começando a ficar embriagado, mas um sinal que só Marlene poderia perceber. Ela se lembrou como na época de festas e bebedeiras ele sempre era o ultimo a ficar mal e se perguntou há quanto tempo ele estaria bebendo.


- O que foi, Sirius?


- O que houve com a gente? – ele parecia genuinamente triste ao fazer essa pergunta – nós éramos felizes, não éramos? – ela confirmou com a cabeça – você era a minha melhor amiga. Eu sempre contava tudo pra você e você pra mim e agora, estamos há mais de dois anos sem nos falar, desde o sétimo ano. Eu sinto sua falta Marlene.


A voz dele estava firme, mas os gestos mais lentos que o normal. Marlene pensou sobre como o álcool era uma espécie de soro da verdade para algumas pessoas e que Sirius era uma delas. Ela o abraçou com força. Sentia que ia começar a chorar como uma criança e isso era tudo o que não queria.


“You'd know how the time flies


Você sabe como o tempo voa


Only yesterday was the time of our lives


Ontem mesmo eram os dias de nossa vida


We were born and raised in a summery haze


Nós nascemos e fomos criados em uma brisa de verão


Bound by the surprise of our glory days


Laçados pela surpresa de nossos dias de glória


- Eu também – murmurou para o peito dele. Sirius a abraçou com ainda mais força, apertando os lábios contra sua cabeça – Sirius – ela chamou delicadamente – onde está Cibele?


Ele suspirou.


- Eu não sei – ele fungou – não posso mais viver com ela, Marlene.


Ela se afastou dele e o encarou.


- Por quê? – ela disse confusa.


- Porque ela não é você.


Sirius a puxou para um beijo. Um beijo longo, caloroso, há muito ansiado por ambos. Marlene laçou seu pescoço em um abraço forte. Não queria deixá-lo ir nunca mais. Ele enlaçou sua cintura e a puxou para perto.


E em breve o beijo se tornou mais voraz, mas sôfrego. Como se ambos soubessem que ao fim daquilo teriam de se separar. Quiçá para sempre. Sirius a empurrou para o sofá e Marlene se deixou ser empurrada sem a menos resistência.


Eles passaram a noite como tantas outras. Antes do fim da escola, antes do casamento, antes da guerra. Ficaram juntos durante horas, sem dizer uma única palavra. Suas roupas jaziam no chão. Eles estavam deitado no sofá, abraçados e arfantes.


- Por favor Marlene – disse Sirius em um tom de súplica – fique aqui, pra sempre. – ela suspirou – aqui mais nenhum comensal irá te achar – ele passou a mão pelos braços machucados dela – ninguém mais vai poder te machucar – ele a abraçou – aqui ninguém mais poderá te tocar, apenas eu – ela se sentou, encarando-o – e eu vou te proteger.


Ela sorriu para ele, passando a mão pelo contorno de seu rosto. Era tudo o que queria ouvir. Mas no fundo sabia que não poderia aceitar a proposta de Sirius. Ela suspirou pesadamente e segurou as mãos de Sirius bem firme entra suas próprias.


Como se odiava por ter que dizer aquelas palavras.


- Eu adoraria, Six – ele sorriu exultante – mas não posso – seu sorriso murchou tão rapidamente quanto era possível. Marlene sentiu como se uma adaga lhe atravessasse o coração – nós dois sabemos disso, Six. – ele tentou balbuciar várias palavras, mas elas nunca deixaram de ser balbucios – nós não podemos, Sirius. Se fosse em outra época, eu aceitaria em um piscar de olhos, mas não é outra época.


- Mas Marlene, eu achei que...


- E você achou certo, Sirius! Sirius, eu te amo com todo o meu ser. Cada parte, cada célula do meu corpo grita por você!


- Então nós...


- Mas ainda assim, Six – ela o interrompeu novamente – nós não podemos fazer isso – os olhos azuis se tornavam vermelhos aos poucos e cada vez mais confusos – Sirius, nada me faria mais feliz do que ouvir essas palavras que você acabou de dizer, Nada me deixaria mais realizada do que me casar com você, do que morar com você, do que ter uma família com você!


- E porque...


- Não posso? – ela completou a frase que morria na garganta do amante. Ele confirmou com a cabeça – Merlin – ela deixou escapar um sorriso triste – são tantos motivos. Nós estamos em uma guerra, Six. Você é casado – ele fez uma careta e abriu a boca para argumentar – você acha que não, mas ainda a ama, Sirius! Você tem uma família e eu não posso destruir isso.


- Eu não tenho uma família com ela, Marlene – ele disse sombrio com a cabeça baixa – família é onde o coração está. Os Potter são minha família, o Aluado é minha família, Rabicho, do seu jeito nojento e esquisito, é minha família. Você é minha família. Cibele não é minha família. Ela pode ser, legalmente, minha esposa. Mas não é ela que eu amo. É você.


Ela sorriu como há muito não se lembrava de ter sorrido e abraçou Sirius com todas as suas forças. O que ela não teria dado para ouvir aquelas palavras alguns anos atrás.


- E você a minha. Mas não podemos ficar juntos. Sirius você não vê? Nossa história precisava de um desfecho! E esse – ela abriu os braços para indicar a sala – foi o desfecho perfeito. Nós nunca poderíamos ficar juntos, não no meio dessa guerra. Pense em todos que nós amamos Six. Pense em Lily e James. Pense no Harry! – ele olhava confuso – imagine o que seria dele se ambos morrêssemos nessa guerra! Precisamos estar separados, Six. Se algo acontecer com Lily e James, Harry precisará de ambos os padrinhos vivos e juntos, somos um alvo fácil. E a própria Cibele. Não seria justo com ela abandoná-la nesse momento.  Essa – ela segurou o rosto dele com delicadeza – foi a nossa despedida.


Ele plantou um beijo na testa dela e a abraçou com força, convencido por suas palavras.


- Eu te amo Sirius – ele sorriu, entre lágrimas – muito. Muito mais do que você consegue sequer imaginar.


- Eu acho que consigo, Lene. – ele sorriu – porque deve ser quase tanto quanto eu te amo


“Nothing compares, no worries or cares


Nada se compara, nem medos ou preocupações


Regrets and mistakes they're memories made


Arrependimentos e erros são memórias que foram feitas


Who would have known how bitter-sweet this would taste


Quem poderia ter imaginado o quão amargo isso seria


Marlene chegou em sua casa depois da melhor, e pior, noite de toda sua vida. Ela ultrapassou a barreira com todos os feitiços de proteção. Sua coruja ainda estava perada sobre a mesa, exatamente no mesmo lugar que estava quando ela saiu. Imaginou se o animal teria dormido ali.


Ela puxou a carta de dentro das vestes e a releu. Ainda não estava assinada, mas não sentia mais dificuldade em terminá-la. Ela sorriu e se virou para a coruja.


- Você não vai acreditar no que aconteceu.


- Porque não nos conta, queridinha? – uma voz desdenhosa soou as suas costas – tenho certeza que todos adoraríamos saber.


Marlene se virou repentinamente. Três comensais estavam parados em sua sala. Bem no centro, sentada no sofá como se em casa, estava Bellatrix Lestrange. Ela sorria para Marlene de maneira cruel e irritada. Aparentemente a pista falsa não a agradou muito. Os outros dois comensais sorriam para ela também. Um dele tinha as vestes sujas de sangue.


Rodolfo Lestrange, ela pensou. Ele estava em pé ao lado de esposa. Sorria um sorriso cínico e satisfeito. Do outro lado com um sorriso, se é que é possível, ainda mais cruel estava Bartolomeu Crouch Junior. Ele passava a língua pelos lábios a todo momento, como uma cobra.


- Bella – ela disse nervosa – a que devo a honra?


- Sabe como é – ela passava a varinha pelos cabelos, como se a conversa fosse desinteressante – acabei de chegar de viagem. Um passeio nada divertido pela Austrália. Sabia?


- Não fazia ideia – ela apertou a carta contra o peito. Por algum motivo, ao fazer isso sentia como se Sirius estivesse com ela ali, em pessoa.


- Achei que soubesse, afinal – ela riu – foi sugestão sua.


- Como vocês me acharam? – Marlene perguntou, ainda mantendo o tom informal da conversa.


- Visitamos um casal amigo seu – ela piscou para o marido – Franco e Alice Longbotton.


Bartolomeu passou as mãos pelo casaco sujo de sangue, como se quisesse demonstrar o que aconteceu com eles. Marlene colocou as mãos sobre a boca para disfarçar o guincho de terror que emitiu ao compreender a comunicação não verbal do homem. 


- Não foi meu trabalho mais fácil – a comensal riu satisfeita – mas foi só apertar – ela se levantou e apontou a varinha para a mulher – que eles cantaram bonitinho, igual canário.


Marlene puxou a varinha e se aproximou da mulher.


- O que você fez com eles, seu monstro?


Bella soltou uma gargalhada, como se o insulto na verdade tivesse sido mais um elogio.


- Não se preocupe, queridinha. Eles vão viver para contar a história ao querido filinho – Marlene se lembrou de Neville e sentiu uma enorme pontada no coração – isso se conseguirem lembrar o nome do pivete – os três riram da piada – ao contrário de você.


Bellatrix ficou repentinamente séria. Ela apontou a varinha para a oponente, como se tivesse lembrado de toda a frustração que sentiu ao chegar em um país estranho a procura dos Potter. E tudo por culpa daquelazinha sem graça que se encontrava de pé a sua frente abraçando um pedaço de papel.


- Espero que você não tenha deixado nenhum assunto inacabado – Marlene abaixou a varinha lentamente, sabia que era inútil.


Ela sorriu e apertou ainda mais a carta contra o peito. Sabia o final perfeito para ela agora.


- Não – murmurou serenamente – não mais.


- Ótimo – sibilou a comensal com verdadeira satisfação.


Ela levantou a varinha e mirou na direção do peito de Marlene.


 


“I wish nothing but the best for you, too


Eu desejo tudo de melhor para você


Don't forget me, I beg, I remember you said


Não me esqueça, eu imploro. Eu lembro que você disse


Sometimes it lasts in love


Algumas vezes o amor dura


But sometimes it hurts instead


Mas outras vezes, ele apenas machuca


Sometimes it lasts in love


Algumas vezes, o amor dura


But sometimes it hurts instead, yeah


Mas outras vezes, ele apenas machuca, sim


 


Um jorro de luz verde saiu da ponta da varinha De Bellatrix quando ela murmurou as ultimas palavras que Marlene ia ouvir.


- Avada Kedavra!


Marlene sorriu serenamente quando a luz a engolfou. Era quente e aconchegante. Sabia que não sentiria mais dor alguma dali em diante. Lembrou-se de seus momentos com Sirius com carinho e deixou a carta cair lentamente.


Sim, havia achado um fim perfeito para a carta.


“ Com Amor,


Marlene” 

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