Capitulo Unico



PAPAI NOEL PODE APARATAR


 


 Era Natal. Dia 25 de dezembro. O dia mais esperado do ano por todas as crianças do mundo, não importando se trouxa ou bruxa. O dia em que as luzes de Natal piscam, as árvores são montadas, a ceia é feita, a família é reunida, os presentes são recebidos e os milagres acontecem. Para muitos, aquele era apenas mais um Natal, como todos os outros. Afinal, o que haveria de novo?


 Mas, em algum lugar na Grã-Bretanha, dentro do dormitório masculino da Grifinória, um garoto de cabelos despenteados e óculos redondos pensava que aquele era o melhor Natal de toda a sua vida. Aliás, era o primeiro que comemorava em 11 anos. E (UAU!) ele ganhara presentes! Pela primeira vez em sua vida, ganhara presentes, comera uma ceia de verdade (não o que sobrava da ceia dos Dursleys), havia feito anjos de neve e sentira aquele calor gostoso que a ocasião proporcionava.


 Porém, o que fazia o Natal de Harry Potter tão especial era o fato de estar passando a data ao lado dos amigos: Rony e Hermione. Por causa dele, Rony e Hermione haviam desistido de passar o Natal com suas famílias para fazer-lhe companhia. Os três compartilhavam a mesma idade e o inicio de uma grande amizade. A única coisa que não compartilhavam era a opinião.


 A discussão havia começado quando os três levantaram às 9 da manhã de Natal e desceram a Sala Comunal atrás de seus respectivos presentes. De acordo com Rony, essa era a hora mais importante do Natal e a única que tinha realmente alguma utilidade, porque todo o resto era uma grande perda de tempo. E Hermione negou essa afirmação determinadamente, dizendo que o Natal ia muito além de ganhar presentes. Mas não foi essa constatação que deu inicio à briga dos amigos. O problema não eram os presentes e nem à que horas eles deviam ser abertos e muito menos a importância disso para aquele dia. O problema estava em como eles eram entregues.


 Como todo mundo, Harry, Rony e Hermione esperavam o Papai Noel todos os anos. E escreviam cartas para que recebessem o que desejassem. E deixavam leite com biscoitos perto da chaminé para que o bom velhinho não se cansasse na viagem. Acreditavam piamente que fora o Papai Noel quem lhes entregaram os presentes. E até discutiram levemente sobre qual era o melhor.


 Mas a especulação começou quando Rony soltou a seguinte frase:


 - Como ele faz?


 E deu-se inicio ao questionário: quantos presentes ele entregava por noite, quantos elfos trabalhavam para ele, onde ficavam todas as cartas e o que ele fazia com elas depois que se passava o Natal, se ele sabia apenas fabricar brinquedos (ou fabricava outras coisas), se ele era casado, se tinha filhos, se era imortal, se gostava mesmo de leite com biscoitos... Entretanto, o auge da questão foi: como ele entregava todos os presentes em uma só noite?


 Cada um tinha sua opinião a respeito e em ponto algum eles concordavam. E era sobre isso que discutiam agora, em pleno dormitório masculino, às 7 da noite, com um frio de lascar.


 - Minha mãe sempre me disse que ele tem um trenó e carrega nele todos os presentes. – palpitou Hermione, com os braços cruzados no peito, o cabelo rebelde preso em duas tranças.


 Rony bufou.


 - De trenó? – caçoou. – Fala sério, Hermione! Trenós são coisas lentas. Nunca que o Papai Noel entregaria todos os presentes em uma noite só usando um trenó. – comentou ele de sua cama.


 - Não seja bobo, Ronald. – rebateu Hermione, se encolhendo embaixo das cobertas. – O trenó dele voa, é claro.


 O ruivo soltou uma gargalhada.


 - Já viu um trenó voador? – perguntou a Harry, que deu de ombros, divertido.


 Hermione ficou vermelha.


 - Ora, duvido que Harry já tenha visto uma vassoura voando antes de vir para cá! – retrucou.


 Rony revirou os olhos.


 - E como é que o trenó dele voa, espertinha?


 - As renas puxam o trenó.


 Ele gargalhou de novo.


 - Renas não voam. – conjecturou.


 Hermione olhou de Harry (que continuava calado) para Rony (que sorria, debochado).


 - E como é que as vassouras voam? – ela devolveu a pergunta, desafiadora.


 - Já ouviu falar em uma coisinha básica chamada “magia”? – debochou Rony, levantando a varinha e girando-a entre os dedos.


 - Então, as renas voam com magia. – concluiu Hermione.


 Rony olhou para Harry que pareceu pensar no assunto por um minuto. Hermione sorriu e se recostou nas almofadas, feliz em estar certa.  


 - Bem, ela tem razão. – disse Harry.


 - Ela não pode ter razão! – discordou Ronald, jogando os braços para cima.


 - E porque não? – Harry e Hermione perguntaram juntos, ele em tom de duvida, ela em tom de desafio.


 - Porque – começou o ruivo, como se fosse óbvio. – dizer que as renas voam com magia, é declarar que o Papai Noel é um bruxo!


 Harry e Hermione se entreolharam por um instante, pensativos. Como é que nunca haviam pensado nisso antes?


 - E se dissermos que as renas não voam com magia... – meditou o garoto de óculos. - ... seria declarar que o Papai Noel é trouxa?


Hermione fez que não com a cabeça, descartando a ideia.


 - Tenho certeza de que as renas voam com magia. – se certificou ela, resoluta. - Se não fosse assim, como poderiam voar?


 - Elas não poderiam. E é por isso que o Papai Noel não usa renas. – disse Rony, sorrindo triunfante.


 A garota voltou a cruzar os braços, levantando as sobrancelhas.


 - Então, como ele faz, Ronald?


 Rony sorriu inocentemente.


 - Ele usa uma vassoura.


 Harry bufou.


 - Nem as vassouras são tão rápidas a ponto de rodar o mundo todo em uma só noite. – exclamou ele.


 Hermione fez que sim com a cabeça, concordando com o amigo, certa de que ele tinha total razão. Rony não perdeu o movimento.


 - Pelo menos são mais rápidas que os trenós. – cutucou.


 - Podem até ser mais rápidas, mas não dão a volta ao mundo em uma noite, dão? – Hermione rebateu.


 - Talvez não em uma noite, mas chegariam muitos dias antes que o trenó.  


 A morena abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por Harry.


 - Nenhum dos dois é rápido o bastante. – finalizou.


 - Mas o Papai Noel pode ter uma Nimbus 2000. – tentou Rony.


 Harry revirou os olhos para o amigo.


 - Rony, eu tenho uma Nimbus 2000 e acho que ela não é rápida o suficiente. – comentou ele.


 - Ora, você nunca tentou dar à volta ao mundo com ela para saber! – acusou Rony.


 - E você fala como se tivesse todo o caminho cronometrado! – disse Hermione, partindo em defesa de Harry.


 Os três fecharam a cara em uníssono, cruzando os braços juntos, como se tivessem ensaiado o movimento. Harry se concentrou em ver sua mão desaparecer em baixo da capa da invisibilidade, Hermione abraçou forte o urso de pelúcia e Rony arrancou um fio solto de seu suéter.


 - Quer saber? – exclamou Hermione, de repente. – Essa discussão não está nos levando à nada.


 - Tem razão. – concordou Harry.


 - É claro que tem. A Nimbus 2000 é mesmo muito lenta. O Papai Noel deve usar uma vassoura mais rápida. – meditou Ronald.


 Harry e Hermione o encararam, incrédulos.


 - Acho que eu quis dizer para pararmos de discutir sobre isso. – disse a garota.


 - E já chegamos à conclusão de que o Papai Noel não usa uma vassoura. – disse Harry.


 - Até porque não existe uma vassoura mais rápida que a Nimbus 2000. – concluiu Hermione.


 Rony sorriu, esperto.


 - Não existe ainda. O Papai Noel provavelmente fabricou uma nova Nimbus, bem mais rápida.


 Hermione levantou a sobrancelha.


 - Pensei que o Papai Noel fabricasse brinquedos.


 - Os elfos é que fabricam brinquedos. – retrucou Rony. - O Papai Noel entrega. O que significa que ele deve ter alguma coisa para fazer enquanto espera o ano todo até os brinquedos ficarem prontos.


 Harry franziu a testa, confuso.


 - Ele provavelmente deve passar o ano todo comendo leite com biscoitos. Por isso é tão gordo. Como meu tio Válter.


 Hermione fez que não.


 - Ele fica supervisionando a produção dos brinquedos, claro.


 Rony fez uma careta.


 - Vocês dois tem uma mente tão limitada. – acusou. – O Papai Noel fica fabricando vários modelos de vassoura enquanto espera os brinquedos ficarem prontos. É como um hobbie.


 Harry e Hermione bufaram juntos.


 - Olha só... – começou Hermione, com ar superior. – Harry tem razão. O Papai Noel é gordo, de modo que a vassoura não aguentaria o peso dele. Isso sem contar todos os presentes que ele carrega. Por isso, a vassoura está fora de questão.


 Rony murchou, sabendo que a amiga tinha razão.


 - Então, COMO ELE FAZ?! – agonizou.


 - Ele pode usar a Rede de Flú. – opinou Harry. – Não dizem que ele entra pela chaminé?


 - É, mas se usasse a Rede de Flú, ele sairia da lareira, e não da chaminé. – disse Rony.


 Hermione fez cara de pensativa.


 - E haja Pó de Flú, hein? – comentou. – Imagine o quanto ele gastaria para entrar e sair de todas as lareiras do mundo.


 - Sem contar que não há lareiras em todas as casas. – contribuiu Rony.


 Os três fizeram que não com a cabeça, dispensando a Rede de Flú.


 - Nada de lareiras. – concluíram juntos.


 - Então, como ele faz? – perguntou Harry, cansado.


 Hermione tinha uma teoria.


 - Ele pode aparatar. – tentou ela.


 - Só bruxos podem aparatar, Hermione. – discordou Rony.


 - Acho que nessa altura do campeonato, temos que concordar que o Papai Noel é um bruxo. – disse Harry.


 O trio fez que sim com a cabeça, concordando.


 - ‘Tá, mas daí a aparatar de casa em casa? – estranhou Rony.


 - Conhece um modo mais rápido de se locomover pelo mundo todo em uma só noite? – desafiou Hermione.


 - Pode até ser – cedeu o ruivo. – Mas ele não correria o risco de estrunchar?


 - Talvez seja só uma questão de prática. Afinal, ele entrega presentes de casa em casa à vários anos. – disse Harry.


 - Ou ele pode enviar os elfos de casa em casa para entregar os presentes. – sugeriu Rony. – Já ouviram falar de algum elfo que estrunchou?


 Hermione discordou:


 - O Papai Noel não pode ser tão cruel assim. Os elfos já fabricam os presentes e ainda vão ter que entrega-los?


 - Certo, certo... – concordou Harry. – Ele pode usar corujas também. Cada uma leva um presente para uma casa diferente.


 - Mas ele precisaria de bilhões de corujas, Harry! – conjecturou Rony.


 Harry e Rony suspiram, derrotados. E um silêncio morno se fez presente.


 - Eu fico com a teoria de que ele pode aparatar. – Hermione se aprumou de repente, levantando a mão, decidida.


 - Fico com você. – Harry se pronunciou.


 Rony deu de ombros.


 - Para mim tanto faz. – disse. - Desde que o Papai Noel entregue os presentes sem atraso, ele pode vir até de hipogrifo que eu não vou ligar.


 Os três caíram na gargalhada. E riram até os olhos se enxerem de lágrimas e a barriga doer. Porque finalmente concordaram que, desde que os presentes chegassem, não importava como o Papai Noel fazia. Se com trenó, vassoura, Rede de Flú, elfos ou corujas. Aparatando ou não, o presente sempre estava lá. E talvez essa fosse a única utilidade do Natal, de acordo com Rony.


 Eles só pararam de rir cinco minutos depois, quando Rony levantou uma nova questão, muito mais digna de discussão:


 - Será que Dumbledore é o Papai Noel?


 - Como é que é? – estranhou Hermione, fazendo uma careta.


 Harry o olhou como se fosse louco, se perguntando de onde ele tirava essas coisas.


 - Não me olhem assim! – ralhou Rony, bravo. – Sempre me disseram que Papai Noel tinha uma longa barba branca, ‘tá?


 Afinal, esse é o verdadeiro espírito do Natal. 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Camys Lovegood

    A fic foi legal, mas seria mais engraçada se ninguém concordasse com ninguém. Hermione sempre concordava com Harry e vice-versa...

    2013-01-22
  • Neuzimar de Faria

    Finalmente o Harry teve um Natal como o Natal deve ser! Ao lado de quem ele realmente poderia considerar uma família, com preocupações singelas, como devem ser as das crianças. Ficou bem legal, Thomas, gostei de verdade!

    2012-12-21
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.