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        Notas não dizem a verdade


 


Estive acordado quase que a noite inteira remoendo meus pensamentos em relação aos fatos. Já era bastante estranho morrer e voltar à vida, agora encontrar seu pior inimigo e descobrir que ele esteve com você por tanto tempo, isso era inaceitável. Os slides do meu passeio para o paraíso não paravam de me atormentar nos sonhos e por mais que eu os afastava, eles voltavam com força total. Eu poderia não admitir mas senti saudades de casa. Da minha verdadeira casa. Hogwarts.


Quando a lua se retirou do céu estrelado eu sai de cena junto com ela. Parecia até estranho estar acordado quase que a noite inteira e conseguir dormir apenas quando a escuridão já se extinguira. Mas isso era normal no meu caso, pelo menos desde tudo começar a acontecer.


 


Acordei dez minutos depois completamente indisposto. Levantei, peguei meus óculos e tomei banho. Olhei no espelho e comtemplei um rosto gasto com olheiras, marcas de expressão e cicatrizes demais para sua idade. Por mais que evitasse, já havia passado por muita coisa na vida e basicamente todas tinham a questão de me deixar nem que apenas um corte.


Ignorei minhas visões tanto de mim mesmo quanto de minha morte e desci em direção a cozinha. Estava faminto.  Desci os degraus rapidamente e percebi, logo que toquei o último degrau da escada, que tinha algo encima da mesa de centro. Era uma carta. Na verdade um pergaminho e embaixo dela jazia um jornal. A edição do Profeta Diário de ontem.


Por que alguém me enviaria o jornal de ontem? A resposta eu descobriria daqui a pouco. Mas essa era das muitas perguntas que eu não queria ver respondidas.


Peguei primeiramente a carta e a examinei. Era simples sem selo e sem endereço, tinha apenas uma escrita de cor verde Harry Potter. A virei e olhei seu verso. Como não vi nada de especial a coloquei de volta; precisava ler o jornal.


Trouxe o jornal até mim com desgosto. Desde que vi as reportagens de Gregor tinha receio de ler o Profeta Diário. Era um bom jornal mas tinha de admitir, algumas matérias me deixaram extremamente furioso. Uma dessas era a da primeira página desse jornal. Uma foto minha estava na primeira capa. Ela tremeluzia e mudara de foco a cada segundo. Eram duas imagens. Uma minha no Torneio Tribruxo numa pose confiante e corajosa — que eu não sei onde conseguiram — e outra a alguns dias — andando cabisbaixo pelo ministério. Elas tinham como legenda a seguinte frase Será que o tempo dos heróis acabou?


 


          Roubo na Loja Bongin & Burkes


 


Uma surpresa nos acompanha hoje meus caros leitores. O Beco Diagonal fora novamente vítima de furtos espalhafatosos e que deixam toda a comunidade bruxa em pânico.


Ontem ocorreu um roubo à loja mais antiga da parte mais tenebrosa do Beco Diagonal. Ele está sendo questionado pelo ministério, afinal uma loja que vende artefatos antigos e malignos tem a veracidade de seus donos contestada. Os donos alegam que o roubo aconteceu ontem à noite. Um homem, segundo eles, veio e estuporou um dos donos e roubou um caldeirão de estanho tamanho número 6. A loja hoje fora encontrada totalmente destruída e com sinais de duelo. Os donos alegam que foram apenas vítimas e o verdadeiro causador de todo esse transtorno seja ninguém mais, ninguém menos que Harry Potter. Eles prometeram que irão levar o caso para a Suprema Corte dos Bruxos e desejam ser indenizados por todo o prejuízo. E isso não é tudo. Exigem também a expulsão imediata de Harry Potter de seu cargo como auror.


A varinha dos donos fora confiscada para mais exames assim como o próprio ministério enviou uma equipe de especialistas para o local do duelo. Eles chegaram aqui pelo término da madrugada prontos para inspecionar tudo e encontrar os mais minuciosos detalhes que poderiam solucionar todo esse caso.


 Uma hora se passou quando eles descobriram um fio de cabelo um pouco chamuscado na parte externa da loja. Apesar de tudo eles identificaram ser de Harry Potter. Outro fator fora os rastros de estupores e feitiços desarmadores que foram encontrados aqui com sinais de pena de fênix. Tudo leva, pelo menos no momento, a Harry Potter. A busca terminou por volta de doze horas quando na fachada, mais precisamente na pequena escada, da loja uma gota de sangue seco fora encontrada e apreendida como prova. Os bruxos peritos acharam uma área diferente das outras. Era mais escura que as paredes e tinha a forma de um arco. Após uma detalhada bateria de feitiços canceladores e reveladores, não houve resultado e a tal área fora deixada de lado.


Esperando novas notícias e tentando descobrir a veracidade dessa informação, essa é minha posição a essa suspeita. Minha opinião é de que Harry Potter não teve nenhum envolvimento com o acontecido. Prometo chegar até o fim desse mistério não apenas por mim mas por todos os bruxos que acreditam que Harry Potter é inocente.


                                        De: Gregor Margorovitch


 


Uma foto se movia ao lado do texto. O próprio Gregor sorria. Tinha feições simples e nariz um pouco arrebitado. Cabelo liso escorrido e alegria, muita alegria. Ele parecia ter cerca de vinte e sete anos ou menos. Seu sorriso era tão branco e empolgante que até me fez rir um pouco. A foto se movia enquanto a imagem dele sorrindo saía de cena e uma outra entrava em foco. Ele segurava uma longa pena branca e segurava um livro; seus olhos estavam escondidos poe um par de lentes esportivas que pareciam nem ao mesmo existir.


Eu rodei meus olhos um pouco para baixo e vi uma outra foto. Dessa vez era da fachada da loja Brgin & Burkes quase que totalmente desfalecida. A tintura gasta estava cheia de falhas, muito mais falhas das que tinha antes.


Eu me deixei cair no sofá e esquecer de tudo mas nesse momento me lembrei que estava na pior. Mas eu sabia a qual área Gregor se referia. E fora nela que quase morri. O pequeno e sinistro labirinto que cobria todo o território da Travessa do Tranco e se escondia sob a terra de modo que não pudesse ser vista por ninguém de fora.


Meu chão caiu. Será que acham que o que os donos da Borgin & Burkes disseram é verdade? Porque não acharam o labirinto? Que feitiços complexos e inimagináveis foram usados para esconder tal lugar? Infelizmente não sabia as respostas. Apenas me reergui, balancei minha varinha e minhas roupas de auror se ajustaram ao meu corpo. Peguei a carta novamente e a coloquei sobre o bolso interior de minhas vestes. Respirei fundo e esperei um minuto se passar. Usei esse minuto para pensar em tudo. Tudo mesmo. Mas na verdade em nada. Porque quando o ideia de pensar em tudo se ergueu para mim, meu minuto acabara e eu já estava abraçando a escuridão novamente.


 


Meu dia no trabalho foi como sempre. Chato e monótono. Mas Michael nos surpreendeu mais uma vez. Mais um grupo iria partir em uma missão.


            Eu ouvia o som de sua bengala retinindo sobre o chão. A luz central do QG estava forte demais naquele dia, o que fez meus olhos ficarem um pouco fechados; tímidos a qualquer sensação. Eles me enganaram e me impediram de ver o verdadeiro Michael. Uma corcunda se projetava em suas costas e sua visão não estava mais normal, pois ele olhava uns vinte graus mais abaixo do que qualquer bruxo normal. Ele apoiou a si mesmo e sua bengala sobre a mesa de vidro e repirou fundo. Recostou sua mão sobre a mesma e levantou o corpo para que ficasse numa posição confortável.


— Dia a todos vocês! — Ele tinha um sorriso irônico na face — A diretora me pediu para organizar um grupo para uma missão de captura. E baseado nas informações que coletei durante o ano inteiro decidi escolher o grupo cinco. — Meus olhos ainda estavam um pouco fechados mas eu pude ver claramente Michael piscando, mesmo que, timidamente para mim — Bom... Um grupo de bruxos roubou um banco trouxo na Escócia. Eles usaram magia e fugiram. No momento, foi me passado de que eles estão no nosso território; mais precisamente, no centro de Londres. Eles devem ficar aqui cerca de cinco a dez dias. E um vigia ministerial os viu recentemente por três dias seguidos. Ele nos informou o quadrante dos ladrões e nós fizemos um mapeamento. O território deles vai desde a rua Wektoing até a avenida St. Kurth. Nós aurores precisamos defender nossa área. Acontecerá o mesmo esquema da outra missão, um integrante de cada grupo deverá formar o grupo substituto. Primeira ronda em quinze minutos. Grupo cinco é de vocês. Vão!


Ele deu de costas e se virou para sua sala. Ele andou curvado por mais algum período até entrar em sua sala, sendo seguido segundos depois por Ivan e Córmaco. Córmaco saíra da sala de Michael alguns minutos depois que entrara mas Ivan continuara lá. Ele só saiu quando eu estava de costas para a porta do esccritório de Michael; enquanto eu olhava para o espaço que a porta principal abria — um pequeno corredor, de pisos ladrilhados escuros, pouco iluminado — Ivan saiu da sala de Michael transparecendo um modesto sorriso.


Eu segui meu caminho deixando aquela cena para trás; mas o sorriso de Ivan me dizia que algo estava para acontecer de errado. Eu estava me preparando para o pior.


 


Passaram-se questão de quinze minutos e outro grupo veio para nos substituir. Otto e seu grupo vinha, em minha direção, andando vagarosamente conversando uns com outros. Isso significara que iríamos para outro andar ou departamento. Otto chegara a centímetros de mim e estendera sua mão. Eu retribuí o cumprimento e apertei sua mão. Nesse momento o megafone soou.


— Senhor Potter, — Tom dizia. Isso era difícil de acontecer. Apenas o nome de uma pessoa ecoar por todo o ministério; sem anúncios, sem atualizações, sem todo o roteiro — favor dirigir-se ao QG dos Aurores. Urgente, Michael.


Eu arfei e rapidamente me despedi de todos. Andei rapidamente até a sala de Michael esperando uma briga, ou bronca; mas nunca um elogio. Cheguei na medida da porta principal e andei mais um pouco quando vi uma porta de madeira na forma de um arco. Eu olhava a porta do escritório de Michael. Eu esperei um pouco e respirei fundo. Elevei minha mão direita e a fechei para que deixasse os nós dos dedos prontos para bater. Levei minha mão até a porta mas nem cheguei a bater, pois ela se abriu rangendo e me revelando um escritório iluminado a não ser por uma faixa de pouca luz que se estendia na cadeira de Michael.


— Entre Potter. — Ele dizia mas eu não via sua boca se movendo, na verdade não via nada de seu pescoço para cima. Mas uma pergunta me ocorreu assim que exatas palavras saíram de seus lábios. Porque tanta aspereza em sua voz. Será que fiz algo errado? Pelo menos não que me lembre — Sente-se! — Ele disse estendendo o braço, me mostrando uma poltrona marrom que estava defronte a sua mesa; eu me sentei desconfortavelmente, não por causa da cadeira mas sim pelo clima que aquela sala carregava. O ambiente alí pesava.


Michael brincava com uma mola mágica, que mudava de cor de acordo com o pensamento de quem a tinha nas mãos. Eu via suas mãos com clareza e sua mola estava constantemente em mudança; ora vermelha — que eu acreditava que era raiva —, ora lilás — que  parecia ser confusão — e ora preto — que me levava a pensar em coisas ruins como medo, morte e coisas do tipo. Ele pôs a mola de lado e estalou os dedos com força; e a seguir muitas coisas aconteceram. Em sua mesa uma luminária se ascendeu mostrando sua expressão séria e a mola parou de mudar de cor, ficando num beje uniforme.  


— Porque não me contou? — Ele continuou cruzando os dedos e apoiando os cotovelos sobre a mesa numa posição rígida.


— Contou o que? — Respondi. Na verdade eu tinha quase certeza sobre o que Michael estava se referindo, mas não queria dar a sensação de que eu estava culpado porque tinha feito algo errado. Se mostrasse alguma preocupação ele saberia e seria, provavelmente, o meu fim.


— Sobre seu pequeno passeio à duas noites atrás. No Beco Diagonal. O que estava pensando? — Ele levantou sua voz. Parecia que eu tinha feito algo extremamente errado.


Eu me levantei com rispidez e coloquei a mão sobre a boca; pensativamente comecei a andar de um lado para o outro da pequena sala. Michael estava calado, ele pegara novamente a mola e brincava com ela alegremente. Segundos se passaram e eu pensava em tudo. Pensava    que aquela provavelmente seria minha última noite de auror. Minha cadeia de pensamentos foi bruscamente interrompida quando Michael jogou com força sua mola na parede; ela, pelo jeito, pesava mais do que parecia pois arrancara uma pequena lasca da parede antes de se despedaçar. Eu me assustei pelo barulho e me virei para Michael; sua expressão de raiva me deixava nervoso. Essa expressão me lembrou de uma coisa. Ivan. Ivan esteve alí. Ele se demorou e isso se compactava extremamente com a situação. Raiva me irrompeu e eu reagi de uma maneira inesperada.


— Foi o Ivan, não foi? — Eu me coloquei a centímetros de seu rosto. Nunca me senti tão arrogante e autoritário desse jeito. Mas esse era momento. Se ele dissesse que Ivan era o motivo de suas suspeitas minhas especulações seriam confirmadas. Não precisaria desvendar mais nada. Apenas chegar e matá-lo.


— Não posso lhe dizer quem foi. — Michael dizia com arrogância ele se achegou para trás revelando um falso sorriso. Eu batei em sua mesa o que causou um grande estrondo que o fez reaver sua posição anterior — Eu tenho regras a cumprir e uma delas é o sigilo. Mas não foi Ivan, pode ter certeza.


 — Foi ele sim! — Minha voz saiu um pouco mais alto do que devia, isso para não dizer que estava gritando.


— O senhor — Michael dizia alterando sua voz, a transformando em um grito autoritário, mas depois a diminuiu gradativamente vendo que conseguiu me pôr sob controle — está fora da missão e — Ele continuava a dizer empurrando sua cadeira para trás e se erguendo na minha frente. Ele me olhava de perto e seus olhos se colocavam como se ele fosse acima de mim — não será mais líder do seu pelotão.


— O que? — Eu perguntava incrédulo.


— É isso mesmo! Agora saia daqui porque tenho que trabalhar. E você também! Anda sai!


Dei de costas e fui em direção com passos pesados e bufante. Bati a porta com fervor e fui direto para casa.


 


Eu estava a caminho da porta de saída do banheiro masculino quando eu vasculhei meus bolsos a procura da minha varinha, mas eu não a guardava alí e sim a prendia contra minha meia; no seu lugar eu encontrei a carta que, mais cedo, encontrei encima do jornal. Eu a virei assim como fiz de manhã e a abri enquanto andava vagrosamente na rua.


            O sol brilhava com toda sua luz. Estava sob um pôr so sol magnífico e o seu brilho alaranjado camuflou o pergaminho o transformando em algo quase que invisível. Eu me acheguei até um pequeno toldo de uma loja qualquer e tentei olhar para a carta.


            As palavras agora estavam claras e uma escrita rebuscada, fina e de cor negra preenchia todo o pergaminho.


 


Harry,


Más notícias! A Suprema Corte dos Bruxos já decidiu. Seu julgamento será realizado na próxima semana, no domingo às dez horas.  Amanhã terei de te enviar a intimação. Espero que esteja bem. Precisamos conversar. Você tem de nos contar o que está acontecendo. Por que não vamos ao Poções Efervecentes? É é bastante quieto então podemos conversar sem sermos interrompidos. Amanhã às vinte horas. Esteja pronto para nos contar tudo.   


                                                        Hermione


 


Setembro se despediu tendo como seu último dia o mais chato de todos. Eu cheguei no QG completamente disposto a fazer algo diferente, ignorando totalmente minha briga com Michael a alguns dias atrás. Ele parecia querer me irritar quando me mandara esperar para relizar as duas últimas rondas antes do almoço. Eu fiquei sentado em algum lugar do ministério conversando com meu grupo até que o relógio batera dez horas e eu me acalmei. Depois de uma hora ele badalou novamente e todo o meu grupo, que não era mais meu no caso, seguimos para o terceiro andar. Nos dividimos entre nós mesmo e rondamos todo o andar por duas exatas e demoradas horas.   


Depois de uma hora de almoço o relógio badalou novamente. Eram treze horas, o que significava que nosso tempo de almoço acabara. Nós nos encaminhamos para o QG para recebermos as ordens de Michael para o turno da tarde e no meio do caminho resolvi parar e checar as notas dos departamentos no quadro geral — um grande quadro de camursa verde musgo em que se eram pregados todo tipo de coisa (anúncios, perdas, reclamações dos vistantes e etc) porém hoje ele estava preenchido com uma grande planilha, que continha uma lista de todos os departamentos do ministério e numa lista de relação na direção oposta as notas. Eu passei meu olho e achei meu departamento em meio a tantas escritas, ele se encontrava num caso a parte no final da folha assim como a Suprema Corte dos Bruxos. O Quartel General dos Aurores recebeu um nostálgico Agradável que me lembrou muito de Hogwarts; uma observação pequena e quase inperceptível estava abaixo da nota. Eu fechei um pouco tentando focar meus olhos naquelas miúdas letras. Elas me diziam que a falta de organização dos aurores havia nos custado um Bom. Eu respirei e pensei em como Michael deve estar estressado por receber essa notícia. Voltei a minha posição normal e olhei novamente na lista. O departamento de Hermione ganhara um Excelente, como sempre, afinal com uma chefe como Hermione era previsto de que o departamento teria altas notas. Eu tentei olhar as observações e elas estavam lá pequenas como sempre — acho que todo o departamento tem observações —, mas na dela só se mostravam presentes elogios. 


 


***


 


Depois um longo e maçante discurso de Michael sobre a nossa nota e a nossa falta de organização iminente — que ele dizia que não era sua culpa —, saí do ministério depois de rondar mais dois andares o que durou mais do que eu pensava.


 


        Notas não dizem a verdade


 


Estive acordado quase que a noite inteira remoendo meus pensamentos em relação aos fatos. Já era bastante estranho morrer e voltar à vida, agora encontrar seu pior inimigo e descobrir que ele esteve com você por tanto tempo, isso era inaceitável. Os slides do meu passeio para o paraíso não paravam de me atormentar nos sonhos e por mais que eu os afastava, eles voltavam com força total. Eu poderia não admitir mas senti saudades de casa. Da minha verdadeira casa. Hogwarts.


Quando a lua se retirou do céu estrelado eu sai de cena junto com ela. Parecia até estranho estar acordado quase que a noite inteira e conseguir dormir apenas quando a escuridão já se extinguira. Mas isso era normal no meu caso, pelo menos desde tudo começar a acontecer.


 


Acordei dez minutos depois completamente indisposto. Levantei, peguei meus óculos e tomei banho. Olhei no espelho e comtemplei um rosto gasto com olheiras, marcas de expressão e cicatrizes demais para sua idade. Por mais que evitasse, já havia passado por muita coisa na vida e basicamente todas tinham a questão de me deixar nem que apenas um corte.


Ignorei minhas visões tanto de mim mesmo quanto de minha morte e desci em direção a cozinha. Estava faminto.  Desci os degraus rapidamente e percebi, logo que toquei o último degrau da escada, que tinha algo encima da mesa de centro. Era uma carta. Na verdade um pergaminho e embaixo dela jazia um jornal. A edição do Profeta Diário de ontem.


Por que alguém me enviaria o jornal de ontem? A resposta eu descobriria daqui a pouco. Mas essa era das muitas perguntas que eu não queria ver respondidas.


Peguei primeiramente a carta e a examinei. Era simples sem selo e sem endereço, tinha apenas uma escrita de cor verde Harry Potter. A virei e olhei seu verso. Como não vi nada de especial a coloquei de volta; precisava ler o jornal.


Trouxe o jornal até mim com desgosto. Desde que vi as reportagens de Gregor tinha receio de ler o Profeta Diário. Era um bom jornal mas tinha de admitir, algumas matérias me deixaram extremamente furioso. Uma dessas era a da primeira página desse jornal. Uma foto minha estava na primeira capa. Ela tremeluzia e mudara de foco a cada segundo. Eram duas imagens. Uma minha no Torneio Tribruxo numa pose confiante e corajosa — que eu não sei onde conseguiram — e outra a alguns dias — andando cabisbaixo pelo ministério. Elas tinham como legenda a seguinte frase Será que o tempo dos heróis acabou?


 


          Roubo na Loja Bongin & Burkes


 


Uma surpresa nos acompanha hoje meus caros leitores. O Beco Diagonal fora novamente vítima de furtos espalhafatosos e que deixam toda a comunidade bruxa em pânico.


Ontem ocorreu um roubo à loja mais antiga da parte mais tenebrosa do Beco Diagonal. Ele está sendo questionado pelo ministério, afinal uma loja que vende artefatos antigos e malignos tem a veracidade de seus donos contestada. Os donos alegam que o roubo aconteceu ontem à noite. Um homem, segundo eles, veio e estuporou um dos donos e roubou um caldeirão de estanho tamanho número 6. A loja hoje fora encontrada totalmente destruída e com sinais de duelo. Os donos alegam que foram apenas vítimas e o verdadeiro causador de todo esse transtorno seja ninguém mais, ninguém menos que Harry Potter. Eles prometeram que irão levar o caso para a Suprema Corte dos Bruxos e desejam ser indenizados por todo o prejuízo. E isso não é tudo. Exigem também a expulsão imediata de Harry Potter de seu cargo como auror.


A varinha dos donos fora confiscada para mais exames assim como o próprio ministério enviou uma equipe de especialistas para o local do duelo. Eles chegaram aqui pelo término da madrugada prontos para inspecionar tudo e encontrar os mais minuciosos detalhes que poderiam solucionar todo esse caso.


 Uma hora se passou quando eles descobriram um fio de cabelo um pouco chamuscado na parte externa da loja. Apesar de tudo eles identificaram ser de Harry Potter. Outro fator fora os rastros de estupores e feitiços desarmadores que foram encontrados aqui com sinais de pena de fênix. Tudo leva, pelo menos no momento, a Harry Potter. A busca terminou por volta de doze horas quando na fachada, mais precisamente na pequena escada, da loja uma gota de sangue seco fora encontrada e apreendida como prova. Os bruxos peritos acharam uma área diferente das outras. Era mais escura que as paredes e tinha a forma de um arco. Após uma detalhada bateria de feitiços canceladores e reveladores, não houve resultado e a tal área fora deixada de lado.


Esperando novas notícias e tentando descobrir a veracidade dessa informação, essa é minha posição a essa suspeita. Minha opinião é de que Harry Potter não teve nenhum envolvimento com o acontecido. Prometo chegar até o fim desse mistério não apenas por mim mas por todos os bruxos que acreditam que Harry Potter é inocente.


                                        De: Gregor Margorovitch


 


Uma foto se movia ao lado do texto. O próprio Gregor sorria. Tinha feições simples e nariz um pouco arrebitado. Cabelo liso escorrido e alegria, muita alegria. Ele parecia ter cerca de vinte e sete anos ou menos. Seu sorriso era tão branco e empolgante que até me fez rir um pouco. A foto se movia enquanto a imagem dele sorrindo saía de cena e uma outra entrava em foco. Ele segurava uma longa pena branca e segurava um livro; seus olhos estavam escondidos poe um par de lentes esportivas que pareciam nem ao mesmo existir.


Eu rodei meus olhos um pouco para baixo e vi uma outra foto. Dessa vez era da fachada da loja Brgin & Burkes quase que totalmente desfalecida. A tintura gasta estava cheia de falhas, muito mais falhas das que tinha antes.


Eu me deixei cair no sofá e esquecer de tudo mas nesse momento me lembrei que estava na pior. Mas eu sabia a qual área Gregor se referia. E fora nela que quase morri. O pequeno e sinistro labirinto que cobria todo o território da Travessa do Tranco e se escondia sob a terra de modo que não pudesse ser vista por ninguém de fora.


Meu chão caiu. Será que acham que o que os donos da Borgin & Burkes disseram é verdade? Porque não acharam o labirinto? Que feitiços complexos e inimagináveis foram usados para esconder tal lugar? Infelizmente não sabia as respostas. Apenas me reergui, balancei minha varinha e minhas roupas de auror se ajustaram ao meu corpo. Peguei a carta novamente e a coloquei sobre o bolso interior de minhas vestes. Respirei fundo e esperei um minuto se passar. Usei esse minuto para pensar em tudo. Tudo mesmo. Mas na verdade em nada. Porque quando o ideia de pensar em tudo se ergueu para mim, meu minuto acabara e eu já estava abraçando a escuridão novamente.


 


Meu dia no trabalho foi como sempre. Chato e monótono. Mas Michael nos surpreendeu mais uma vez. Mais um grupo iria partir em uma missão.


            Eu ouvia o som de sua bengala retinindo sobre o chão. A luz central do QG estava forte demais naquele dia, o que fez meus olhos ficarem um pouco fechados; tímidos a qualquer sensação. Eles me enganaram e me impediram de ver o verdadeiro Michael. Uma corcunda se projetava em suas costas e sua visão não estava mais normal, pois ele olhava uns vinte graus mais abaixo do que qualquer bruxo normal. Ele apoiou a si mesmo e sua bengala sobre a mesa de vidro e repirou fundo. Recostou sua mão sobre a mesma e levantou o corpo para que ficasse numa posição confortável.


— Dia a todos vocês! — Ele tinha um sorriso irônico na face — A diretora me pediu para organizar um grupo para uma missão de captura. E baseado nas informações que coletei durante o ano inteiro decidi escolher o grupo cinco. — Meus olhos ainda estavam um pouco fechados mas eu pude ver claramente Michael piscando, mesmo que, timidamente para mim — Bom... Um grupo de bruxos roubou um banco trouxo na Escócia. Eles usaram magia e fugiram. No momento, foi me passado de que eles estão no nosso território; mais precisamente, no centro de Londres. Eles devem ficar aqui cerca de cinco a dez dias. E um vigia ministerial os viu recentemente por três dias seguidos. Ele nos informou o quadrante dos ladrões e nós fizemos um mapeamento. O território deles vai desde a rua Wektoing até a avenida St. Kurth. Nós aurores precisamos defender nossa área. Acontecerá o mesmo esquema da outra missão, um integrante de cada grupo deverá formar o grupo substituto. Primeira ronda em quinze minutos. Grupo cinco é de vocês. Vão!


Ele deu de costas e se virou para sua sala. Ele andou curvado por mais algum período até entrar em sua sala, sendo seguido segundos depois por Ivan e Córmaco. Córmaco saíra da sala de Michael alguns minutos depois que entrara mas Ivan continuara lá. Ele só saiu quando eu estava de costas para a porta do esccritório de Michael; enquanto eu olhava para o espaço que a porta principal abria — um pequeno corredor, de pisos ladrilhados escuros, pouco iluminado — Ivan saiu da sala de Michael transparecendo um modesto sorriso.


Eu segui meu caminho deixando aquela cena para trás; mas o sorriso de Ivan me dizia que algo estava para acontecer de errado. Eu estava me preparando para o pior.


 


Passaram-se questão de quinze minutos e outro grupo veio para nos substituir. Otto e seu grupo vinha, em minha direção, andando vagarosamente conversando uns com outros. Isso significara que iríamos para outro andar ou departamento. Otto chegara a centímetros de mim e estendera sua mão. Eu retribuí o cumprimento e apertei sua mão. Nesse momento o megafone soou.


— Senhor Potter, — Tom dizia. Isso era difícil de acontecer. Apenas o nome de uma pessoa ecoar por todo o ministério; sem anúncios, sem atualizações, sem todo o roteiro — favor dirigir-se ao QG dos Aurores. Urgente, Michael.


Eu arfei e rapidamente me despedi de todos. Andei rapidamente até a sala de Michael esperando uma briga, ou bronca; mas nunca um elogio. Cheguei na medida da porta principal e andei mais um pouco quando vi uma porta de madeira na forma de um arco. Eu olhava a porta do escritório de Michael. Eu esperei um pouco e respirei fundo. Elevei minha mão direita e a fechei para que deixasse os nós dos dedos prontos para bater. Levei minha mão até a porta mas nem cheguei a bater, pois ela se abriu rangendo e me revelando um escritório iluminado a não ser por uma faixa de pouca luz que se estendia na cadeira de Michael.


— Entre Potter. — Ele dizia mas eu não via sua boca se movendo, na verdade não via nada de seu pescoço para cima. Mas uma pergunta me ocorreu assim que exatas palavras saíram de seus lábios. Porque tanta aspereza em sua voz. Será que fiz algo errado? Pelo menos não que me lembre — Sente-se! — Ele disse estendendo o braço, me mostrando uma poltrona marrom que estava defronte a sua mesa; eu me sentei desconfortavelmente, não por causa da cadeira mas sim pelo clima que aquela sala carregava. O ambiente alí pesava.


Michael brincava com uma mola mágica, que mudava de cor de acordo com o pensamento de quem a tinha nas mãos. Eu via suas mãos com clareza e sua mola estava constantemente em mudança; ora vermelha — que eu acreditava que era raiva —, ora lilás — que  parecia ser confusão — e ora preto — que me levava a pensar em coisas ruins como medo, morte e coisas do tipo. Ele pôs a mola de lado e estalou os dedos com força; e a seguir muitas coisas aconteceram. Em sua mesa uma luminária se ascendeu mostrando sua expressão séria e a mola parou de mudar de cor, ficando num beje uniforme.  


— Porque não me contou? — Ele continuou cruzando os dedos e apoiando os cotovelos sobre a mesa numa posição rígida.


— Contou o que? — Respondi. Na verdade eu tinha quase certeza sobre o que Michael estava se referindo, mas não queria dar a sensação de que eu estava culpado porque tinha feito algo errado. Se mostrasse alguma preocupação ele saberia e seria, provavelmente, o meu fim.


— Sobre seu pequeno passeio à duas noites atrás. No Beco Diagonal. O que estava pensando? — Ele levantou sua voz. Parecia que eu tinha feito algo extremamente errado.


Eu me levantei com rispidez e coloquei a mão sobre a boca; pensativamente comecei a andar de um lado para o outro da pequena sala. Michael estava calado, ele pegara novamente a mola e brincava com ela alegremente. Segundos se passaram e eu pensava em tudo. Pensava    que aquela provavelmente seria minha última noite de auror. Minha cadeia de pensamentos foi bruscamente interrompida quando Michael jogou com força sua mola na parede; ela, pelo jeito, pesava mais do que parecia pois arrancara uma pequena lasca da parede antes de se despedaçar. Eu me assustei pelo barulho e me virei para Michael; sua expressão de raiva me deixava nervoso. Essa expressão me lembrou de uma coisa. Ivan. Ivan esteve alí. Ele se demorou e isso se compactava extremamente com a situação. Raiva me irrompeu e eu reagi de uma maneira inesperada.


— Foi o Ivan, não foi? — Eu me coloquei a centímetros de seu rosto. Nunca me senti tão arrogante e autoritário desse jeito. Mas esse era momento. Se ele dissesse que Ivan era o motivo de suas suspeitas minhas especulações seriam confirmadas. Não precisaria desvendar mais nada. Apenas chegar e matá-lo.


— Não posso lhe dizer quem foi. — Michael dizia com arrogância ele se achegou para trás revelando um falso sorriso. Eu batei em sua mesa o que causou um grande estrondo que o fez reaver sua posição anterior — Eu tenho regras a cumprir e uma delas é o sigilo. Mas não foi Ivan, pode ter certeza.


 — Foi ele sim! — Minha voz saiu um pouco mais alto do que devia, isso para não dizer que estava gritando.


— O senhor — Michael dizia alterando sua voz, a transformando em um grito autoritário, mas depois a diminuiu gradativamente vendo que conseguiu me pôr sob controle — está fora da missão e — Ele continuava a dizer empurrando sua cadeira para trás e se erguendo na minha frente. Ele me olhava de perto e seus olhos se colocavam como se ele fosse acima de mim — não será mais líder do seu pelotão.


— O que? — Eu perguntava incrédulo.


— É isso mesmo! Agora saia daqui porque tenho que trabalhar. E você também! Anda sai!


Dei de costas e fui em direção com passos pesados e bufante. Bati a porta com fervor e fui direto para casa.


 


Eu estava a caminho da porta de saída do banheiro masculino quando eu vasculhei meus bolsos a procura da minha varinha, mas eu não a guardava alí e sim a prendia contra minha meia; no seu lugar eu encontrei a carta que, mais cedo, encontrei encima do jornal. Eu a virei assim como fiz de manhã e a abri enquanto andava vagrosamente na rua.


            O sol brilhava com toda sua luz. Estava sob um pôr so sol magnífico e o seu brilho alaranjado camuflou o pergaminho o transformando em algo quase que invisível. Eu me acheguei até um pequeno toldo de uma loja qualquer e tentei olhar para a carta.


            As palavras agora estavam claras e uma escrita rebuscada, fina e de cor negra preenchia todo o pergaminho.


 


Harry,


Más notícias! A Suprema Corte dos Bruxos já decidiu. Seu julgamento será realizado na próxima semana, no domingo às dez horas.  Amanhã terei de te enviar a intimação. Espero que esteja bem. Precisamos conversar. Você tem de nos contar o que está acontecendo. Por que não vamos ao Poções Efervecentes? É é bastante quieto então podemos conversar sem sermos interrompidos. Amanhã às vinte horas. Esteja pronto para nos contar tudo.   


                                                        Hermione


 


Setembro se despediu tendo como seu último dia o mais chato de todos. Eu cheguei no QG completamente disposto a fazer algo diferente, ignorando totalmente minha briga com Michael a alguns dias atrás. Ele parecia querer me irritar quando me mandara esperar para relizar as duas últimas rondas antes do almoço. Eu fiquei sentado em algum lugar do ministério conversando com meu grupo até que o relógio batera dez horas e eu me acalmei. Depois de uma hora ele badalou novamente e todo o meu grupo, que não era mais meu no caso, seguimos para o terceiro andar. Nos dividimos entre nós mesmo e rondamos todo o andar por duas exatas e demoradas horas.   


Depois de uma hora de almoço o relógio badalou novamente. Eram treze horas, o que significava que nosso tempo de almoço acabara. Nós nos encaminhamos para o QG para recebermos as ordens de Michael para o turno da tarde e no meio do caminho resolvi parar e checar as notas dos departamentos no quadro geral — um grande quadro de camursa verde musgo em que se eram pregados todo tipo de coisa (anúncios, perdas, reclamações dos vistantes e etc) porém hoje ele estava preenchido com uma grande planilha, que continha uma lista de todos os departamentos do ministério e numa lista de relação na direção oposta as notas. Eu passei meu olho e achei meu departamento em meio a tantas escritas, ele se encontrava num caso a parte no final da folha assim como a Suprema Corte dos Bruxos. O Quartel General dos Aurores recebeu um nostálgico Agradável que me lembrou muito de Hogwarts; uma observação pequena e quase inperceptível estava abaixo da nota. Eu fechei um pouco tentando focar meus olhos naquelas miúdas letras. Elas me diziam que a falta de organização dos aurores havia nos custado um Bom. Eu respirei e pensei em como Michael deve estar estressado por receber essa notícia. Voltei a minha posição normal e olhei novamente na lista. O departamento de Hermione ganhara um Excelente, como sempre, afinal com uma chefe como Hermione era previsto de que o departamento teria altas notas. Eu tentei olhar as observações e elas estavam lá pequenas como sempre — acho que todo o departamento tem observações —, mas na dela só se mostravam presentes elogios. 


 


***


 


Depois um longo e maçante discurso de Michael sobre a nossa nota e a nossa falta de organização iminente — que ele dizia que não era sua culpa —, saí do ministério depois de rondar mais dois andares o que durou mais do que eu pensava.


 

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