Campo de Batalha



 


 


“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes (...)”. 


Fernando Pessoa


 


Estamos chegando ao fim. Vivo uma contradição. Uma parte de mim quer, desesperadamente, colocar um ponto final na história. Para uma pessoa responsável, como eu, é um compromisso assumido. Outra parte, porém, deseja prorrogar ao máximo esse momento por que sentirei falta da convivência quase diária com personagens tão apaixonantes. Enfim... Aqui estou, com todo meu ser, inteira.


Morgana 


P.S¹: Como toda bruxa, sei ser má. Pensei em atualizar a fic apenas quando o capítulo 22 tivesse recebido comentários de 20 leitores diferentes. Faltavam ainda sete, mas resolvi ceder. Pode ser que para postar o próximo capítulo eu seja mais rígida (huahuahuahua).

P.S²: Alguns já sabem que gosto de refletir sobre os personagens e a construção da fic. Se quiser me acompanhar em uma dessas divagações, é so clicar no capítulo "Atualizações e Afins".


 


* * * * *


 


 


 


 


 


Hermione e Ron faziam grande esforço para acompanhar a explicação de Harry sobre como era o diadema e o provável local em que se encontrava. Mas ambos estavam em outro mundo, felizes e confusos ao mesmo tempo. Precisaram se separar para procurar a Horcrux e logo os acontecimentos os levaram a sair daquela maravilhosa dimensão paralela.


Primeiro foi Ron a ouvir vozes e perceber que tinha alguém conversando com Harry. Depois também Hermione se deu conta que algo acontecia. Não estavam mais sozinhos na Sala Precisa. Não tiveram tempo de racionar muito. Era necessário agir rápido para se livrar dos feitiços disparados por Malfoy, Goyle e Crabbe. Esse último parecia enlouquecido e lançava “avadra kedavra” em direção aos três amigos.


Os três sonserinos entraram na Sala Precisa querendo capturar Harry e pareciam dispostos a tudo para atingir esse objetivo. Foram momentos terríveis e, mesmo se já haviam enfrentado tantos perigos, a morte jamais parecera tão próxima. Quando Crabble fez irromper o “fogomaldito”, Ron usou toda a sua energia para correr. Precisavam sair logo dali por que as chamas se tornaram ainda mais perigosas, dando vida a serpentes, quimeras e dragões famintos que consumiam tudo ao redor.


Harry conseguiu salvar duas vassouras pesadas do fogo e jogou uma para Ron, montando a segunda. O ruivo não perdeu tempo e deu a mão com firmeza a Hermione, puxando-a para a sua garupa enquanto o fogomaldito avançava sem piedade. Logo a fumaça foi tomando conta do ambiente.


Ron, que só pensava em sair logo daquele ambiente infernal em companhia dos amigos, desesperou-se ao ver Harry mergulhar na fumaça. “Vamos embora, vamos embora! É muito perigoso”, o rapaz berrou. Conhecia Harry o suficiente para saber qual era o objetivo dele: queria tentar salvar Malfoy e seus dois comparsas.


Já havia arriscado a própria vida muitas vezes para salvar Harry e agora não seria diferente. Ron pediu que Hermione se segurasse firme e ficou na retaguarda, aguardando qualquer pedido de ajuda do amigo. Foi quando viu com que esforço o Menino-que-Sobreviveu tentava resgatar Malfoy e Goyle, que estavam em cima uma frágil torre de escrivaninhas queimadas.


Inconsciente, após ser estuporado por Hermione, Goyle ficara ainda mais pesado e Harry não conseguia puxá-lo sozinho. Ron mergulhou para pegar aquele “maldito sonserino”, mas não sem antes gritar para o amigo: “SE MORRERMOS POR CAUSA DELES, VOU MATAR VOCÊ”!


Com o máximo de velocidade que conseguiu, Ron comandou a vassoura até a porta, seguido de perto por Harry. A fumaça preta quase os impedia de respirar e tinham que ser velozes para conseguir se salvar. Nada podia acontecer com Hermione e com o amigo, pensava Ron aflito enquanto ouvia a menina tossir as suas costas.


A aterrissagem dessa vez não foi tranquila como a da Câmara Secreta. Praticamente caíram no chão, respirando com dificuldade e tossindo. Poucos segundos depois ouviram o estrondo da vassoura de Harry batendo na parede. Goyle, estirado no chão, continuava inconsciente enquanto Malfoy, com a voz engasgada, perguntou pelo outro amigo. O ruivo respondeu ríspido: “Crabble está morto”.


Não desejava a morte de ninguém, nem mesmo daquele imprestável do Crabble. Mas por pouco, graças ao feitiço que o sonserino lançou sem ao menos saber controlar, não haviam sido devorados pelas chamas. Olhou para Hermione que, como ele, tinha o rosto e os cabelos chamuscados pela fumaça, e sentiu um aperto no coração. Não suportaria viver se tivesse perdido aquela bruxa que tanto amava.


O Menino-que-Sobreviveu mostrou o diadema destruído pelo fogomaldito que, ao se partir nas mãos dele, desprendeu uma substância escura e emitiu um agoniado grito. Precisavam agora procurar a cobra, provavelmente a última Horcrux, mas aquela parecia uma missão impossível.


Temendo os duelos com os Comensais que se seguiriam, Hermione pediu que ficassem juntos. Porém Harry, que estava preocupado com Gina, já que se sentia responsável pela segurança da menina que mandara sair da Sala Precisa, decidiu ir atrás dela.


“Preciso procurar Gina e já alcanço vocês”, anunciou Harry ao mesmo tempo em que tirava o Mapa do Maroto do bolso e seguia por um dos corredores. “Não podemos nos distanciar. Quando e onde encontramos você?”, gritou Hermione para o Menino-que-Sobreviveu. “Na entrada para a ala oeste, em dez minutos”, anunciou o rapaz já desaparecendo da vista deles.


Sons de explosões provocadas por varinhas e gritos mostraram que a guerra adquirira maiores proporções. Ron ainda estava muito abalado com a destruição da Sala Precisa. Sabia que todos eles podiam ter o mesmo destino e sentira um absurdo medo de perder Hermione. Lembrou-se das palavras de Tonks: “a mulher precisa de palavras, não bastam os gestos”.


Chegara o momento de falar. Hermione tinha o direito de saber da intensidade do seu sentimento por ela. Não podia achar que retribuira ao beijo apenas por impulso. Mas estavam em uma guerra, como podiam parar para conversar? Os pensamentos tumultuados sumiram da sua mente quando viu surgir no fundo do corredor três Comensais da Morte.


Empunhando as suas varinhas, Ron e Mione começaram a duelar com os Comensais. O ruivo enfrentava um bruxo alto e esquálido e outro mais atarracado. Hermione lutava com um feiticeiro que trazia feia cicatriz na face e tampão no olho esquerdo. A menina não demorou a colocar o inimigo no chão e, com certa surpresa, viu que o ruivo já tinha estuporado os seus dois opositores.


- Ron, você tem talento para o duelo – Hermione elogiou com sinceridade e certo alívio.


- Mas quero um minuto de trégua – ele respondeu, puxando a morena pela mão.


- O que houve? – a menina questionou sem entender o que ele queria dizer com isso.


- Acho que a gente precisa conversar – o rapaz afirmou avançando pelo corredor que dava acesso às salas de aula.


- Você enlouqueceu, Ron? Não podemos parar para conversar e correr o risco de ser mortos. Estamos no meio de uma guerra – ela reclamou enfática.


- Mas também tem uma guerra aqui dentro – Ron argumentou colocando a mão esquerda no peito.


- Essa guerra podemos resolver depois – Mione afirmou decidida.


O rapaz se preparava para argumentar com a menina quando surgiram mais quatro Comensais pelo corredor. Antes que Hermione pudesse erguer a varinha, um deles já havia sido estuporado por Ron. A menina escapou por pouco do feitiço do mais forte do grupo, mas foi rápida o suficiente para atirá-lo desacordado no chão. Ron, que duelava com um terceiro bruxo, desviou por um milésimo de segundo a varinha e estuporou o quarto deles, que apontava para Mione. Ao terceiro só restou bater em retirada. 


- Por favor, Mione... Vamos aproveitar esse momento – pediu o ruivo com aquele jeito suplicante que sempre convencia a menina.


- Caso queira conversar sobre o que aconteceu na Sala Precisa, a resposta é não! Eu ainda estou confusa e completamente envergonhada. Não quero falar sobre isso – disse Mione, desviando os olhos do menino por alguns instantes.


- Eu também ainda estou confuso e completamente... maravilhado! Quero falar sobre isso – Ron contra-atacou com um meio sorriso e uma coragem que surpreendeu Hermione.


A menina estava com as faces vermelhas, da mesma cor das orelhas de Ron. Era incrível como depois de tanto tempo e acontecimentos ainda ficavam assim constrangidos um diante do outro. Tentando manter o ar resoluto de sempre, Hermione balançou a cabeça em sinal de reprovação antes de pedir: “Para com isso. Assim você me deixa mais envergonhada”.


- Mione, você precisa me dizer por que me... er... Por que fez aquilo? – continuou ainda com as orelhas vermelhas.


- Se você não entendeu, acho inútil explicar. Precisamos ir. Harry conta com a gente – insistiu.


- Não! Vou ficar parado aqui – desafiou.


- Ótimo! Fique aí pronto para ser assassinado por um Comensal da Morte! – rebateu.


- Vou ficar mesmo! Já que você prefere assim ao invés de conversar comigo e salvar a minha vida – retrucou.


-Você é louco! – revirou os olhos com aquela perplexidade que tantas vezes sentia diante das palavras inesperadas de Ron.


- Sim, eu sou. Louco. E minha maior loucura é ser louco por você – respondeu em voz alta como quem lança uma acusação.


- Como assim?! – ela não pôde deixar de perguntar.


- Eu posso tentar explicar se você me der cinco minutos... – argumentou.


- Cinco minutos! E nem um minuto a mais! – Mione cedeu, mas sem perder aquele ar de quem tem a situação sob controle.


- Tudo bem. Vai ser suficiente – falou um Ron sorridente ao mesmo tempo que voltava a puxá-la pela mão, caminhando muito rápido.


- Para onde você está me levando? – questionou surpresa.


- Melhor a gente sair do corredor. Aqui somos alvos perfeitos para os Comensais – justificou, abrindo em seguida a porta de uma sala de aula vazia.
 


xxx
 


Foi surpreendente ver que, mesmo se escola havia se transformado em um campo de batalha, aquela sala estava intacta, com as carteiras enfileiradas milimetricamente, como se a aula pudesse começar a qualquer momento. Ron ocupou uma das cadeiras e colocou a varinha em cima da mesa em frente, mas Hermione se manteve em pé. Com os braços cruzados, mirava o rapaz de um jeito desconfiado. Ele puxou um dos assentos e disse em tom imperativo, embora suave: “Sente-se”! A menina obedeceu, sem desviar os olhos do ruivinho.


- Você ia falar alguma coisa... – Ron começou, embora soubesse que era ele quem devia se abrir dessa vez.


- Não, Ron. Você é que iria me explicar sobre essa sua loucura. E seus cinco minutos já começaram a contar – ela contrapôs chateada ao ver o rapaz alcançar novamente a varinha que mirava com inesperado interesse.


- A minha loucura? – Ron finalmente a olhou, abrindo um sorriso luminoso – Sim. Você. A minha loucura.


- Ron! Eu, a sua loucura? Quero que me explique o que isso significa – Mione exigiu, voltando a adquirir aquele tom autoritário que irritava e fascinava Ron.


- Explicar? Eu nunca fui muito bom nisso. Não sei falar sobre um sentimento que nunca entendi muito bem. Mas vou tentar – Ron afirmou, girando de forma distraída a varinha.


O coração da menina batia rápido. Ron finalmente confessaria o seu sentimento por ela! E se o ruivo dissesse ter descoberto que não passava de uma amiga? E se insistisse para que esquecesse aquele beijo desesperado trocado há cerca de uma hora e construído por uma longa espera? Permaneceu em silêncio, mesmo se com a mente tumultuada por tantos medos e grande expectativa. Aquele era o momento de Ronald Weasley falar. Depois de alguns segundos, encorajado pela expressão de escuta de Hermione, o rapaz prosseguiu com a explicação.


- Não me pergunte quando e nem como isso aconteceu. No momento em que me dei conta, já tinha acontecido. Achei que estava sob o efeito de algum feitiço. Era tão estranho... – Ron falava de forma pausada, ainda com a varinha segura nas mãos, apontada em direção ao teto.


Hermione prestava grande atenção no rapaz, mas não pôde deixar de notar que estava nevando dentro da sala. “Ron! Você fica distraído e sempre faz isso”, reclamou, segurando o pulso do rapaz. “Desculpa”, disse ele pousando com delicadeza a mão livre no braço da menina. Mione soltou o ruivo, desconcertada com aquele toque inesperado. “Pode continuar”, a bruxinha pediu com segurança e ternura.


- O que eu estava dizendo? – Ron perguntou depois de colocar de novo a varinha na mesa e perceber, com alívio, que o semblante de Hermione se suavizara.


- Que parecia estar sob o efeito de um feitiço – respondeu ela que não deixaria escapar palavra alguma daquela desajeitada confissão do ruivo.


- Er... bem... Realmente parecia que eu estava enfeitiçado. Eu não tinha... não tenho... domínio sobre certas sensações. Era como ser desafiado por algo muito poderoso, algo que não eu podia vencer. Estou contando de um jeito confuso. Não dá para entender, não é? – continuou inseguro, buscando confirmação nos olhos de Hermione.


- Estou entendendo perfeitamente bem – a menina enfatizou, procurando incentivá-lo a continuar.


- Já que você entendeu... – ele tentou fugir pela tangente achando que jamais teria coragem de dizer aquele “eu te amo” tantas vezes ensaiado.


- Nada disso! Você me fez sair da batalha dizendo que precisávamos conversar – queixou-se, continuando em tom suave, para encorajá-lo. – E estava dizendo que se sentia desafiado por algo muito poderoso, quem não conseguia vencer...


- Na verdade, eu sentia uma vontade terrível de fugir. E tem horas que ainda sinto – riu nervoso. ­– Mas ao mesmo tempo queria, quer dizer, quero me aproximar cada vez mais de quem me faz experimentar tudo isso...


- Acho que vai precisar ser mais rápido – Hermione levantou-se de um salto ao perceber que o som das explosões na ala oeste ficava cada vez mais alto.


- Se você me pressionar, não vou conseguir falar, Mione! – rebateu o rapaz erguendo-se da cadeira.


- Desculpa... Mas é que estamos no meio de uma guerra, esqueceu? – falou abrandando o tom da voz.


- E essa guerra aqui dentro de mim, dentro de nós, não conta? Aliás, essa guerra entre nós, que precisa terminar – enfatizou.


- É, Ron, você tem razão. Pode continuar que não vou interromper mais – prometeu com timidez.


- Eu cheguei a achar que fosse Amortentia ou alguma outra poção de amor. Mas esses feitiços costumam durar pouco e o que eu sentia não passava. Pelo contrário. Aumentava cada dia mais e foi tomando conta do meu coração. Mas achei que seria um idiota se acreditasse naquilo. Era uma loucura. Eu não tinha chance de ter esse sentimento correspondido – prosseguiu sem mal conseguir respirar para não perder a coragem. – Como uma menina assim, tão brilhante e especial, podia gostar de um cara como eu? Resolvi desistir. Mas não consegui. E foi então que... Sei lá. Um jeito de olhar, algumas palavras, certos gestos... Parecia que tudo ganhava um significado e comecei a acreditar que eu tinha alguma chance. Mas quando o meu beijo foi recusado, voltei a ter certeza, com mais força, que era algo impossível.  


A menina, aproveitando a pausa momentânea, resolveu também sa abrir um pouco. “Ron, por que você demorou tanto a contar tudo isso? Teria sido tão mais fácil se tivesse falado antes...”, lamentou.


- Mas Hermione... Você vivia me repreendendo, dizendo que eu fazia tudo errado, era um cara insensível. Como eu podia falar sobre isso? – questionou.


- E por que resolveu falar agora? – voltou a interrogá-lo.


- Naquelas três semanas que passamos distantes, quando deixei o acampamento, eu me dei conta que não podia mais guardar sentimento tão intenso em segredo. Se fizesse isso, acabaria enlouquecendo – disse olhando de uma forma enamorada para a menina, que não conseguia controlar as batidas do coração e tinha as pernas bambas. – Estava esperando a oportunidade de falar. E hoje, depois daquele beijo, vi que não podia esperar mais... Só que estou confuso ainda com uma coisa...


- Está confuso com o quê, Ron? – perguntou de forma corajosa, apesar das suas faces terem corado furiosamente.


- Você falou que gostava de outro cara e que não era de Krum... - arriscou.


- Não acredito que ainda não sabe de quem eu falava... Se você não consegue enxergar o que está um palmo à sua frente, é uma perda de tempo dizer qualquer coisa – respondeu irritada. – Por que não fala você o que sente por mim?


- Mas eu já estou falando isso desde que entramos nessa sala! Preciso dizer ainda mais? – protestou.


- Ron, você sabe muito bem que ainda não falou tudo. E olha que estou lhe dando uma oportunidade a mais porque já se passaram cinco minutos – a menina abriu um meio sorriso.


- O que eu ainda não falei? Eu... – “Vamos lá, Ronald! Você é um grifinório. Não pode ser tão difícil”, ele repetia mentalmente, tentando encorajar a si mesmo e se aproximando mais da menina. – Hermione, eu...


- Sim? Pode falar – ela o incentivou.


- Eu... eu sou louco por você. Completamente apaixonado por você. Eu te amo – declarou com todo sentimento.


A inteligente bruxa ficou paralisada. Os olhos vidrados no rosto do rapaz, as faces rosadas, os lábios entreabertos como se quisesse falar algo, mas não soubesse o quê. Ron aproveitou os segundos de confusão da menina para se aproximar. Uma distância de apenas 30 centímetros os separava. Ele deu um passo à frente. O coração de Mione disparou, enlouquecido.


- Não vai dizer nada? – perguntou, ao mesmo tempo que levantou a mão direita e acariciou a face da menina com delicadeza, logo interrompendo o gesto como quem espera uma resposta.


- Eu? Ron... eu... Não sei o que dizer... er... – tentou explicar.


Havia esperado tanto, por vezes com desespero, que as suas melhores esperanças se confirmassem. Sonhara de olhos abertos com aquele momento, chegara quase a ouvir a voz grave e um tanto rouca do rapaz dizendo aquela simples e complexa frase: eu te amo! E agora, quando finalmente ele confessava isso, Hermione não sabia como agir e o que responder.


Naquele momento o ruivo percebeu que não precisava de uma resposta. Aliás, todas as respostas estavam ali, no olhar de Hermione. Deu mais um passo, o último que faltava para os seus lábios novamente se encontrarem. Agora a iniciativa seria toda dele. Um beijo tranquilo, sem pressa ou busca desesperada de confirmar algum sentimento. Com o gesto queria simplesmente manifestar aquele amor tão grande que não cabia mais em palavras.


Dessa vez Hermione não fugiu. Pelo contrário. Envolveu o pescoço de Ron, que a abraçava pela cintura, e entregou-se ao beijo de forma apaixonada, esvaziando a mente de qualquer pensamento e deixando o coração falar. Quando finalmente os lábios se afastaram, os olhos castanhos e os azuis se encontraram, tímidos e felizes, enquanto suaves sorrisos iluminavam seus rostos.


O rapaz baixou os olhos em busca das delicadas mãos de Hermione, que segurou com firmeza, como se não quisesse perdê-la. “Você entendeu melhor agora o quanto eu te amo?”, questionou com a voz mais baixa que o normal antes de levantar o rosto e mirar novamente os orbes da menina.


Hermione, que estava com as maçãs do rosto muito rosadas, deu um sorriso tímido e doce ao mesmo tempo. O rapaz, com as orelhas vermelhas, abriu um largo sorriso que logo de desfez. Sem desviar os olhos da bruxinha, mordeu os lábios, em expectativa.


- Entendi sim, Ron. E você entendeu quem é a pessoa por quem há tanto tempo estou apaixonada? – ela disse envergonhada, mas decidida.


- Por acaso é esse cara aqui que está segurando as suas mãos? – Ron questionou em um tom divertido.


- Consultei muitos livros em busca dessa resposta. E me dei conta que todas as teorias do mundo trouxa e também as do bruxo não podiam comprovar isso. Foi quando decidi procurar aqui e entendi... – apontou para o coração – Sim, Ron! Essa pessoa é e sempre foi você!


Simultaneamente, os dois abriram os mais lindos sorrisos do mundo. Ron deu mais uma vez o primeiro passo e eles se abraçaram com urgência e força. Hermione já nem lembrava mais que existia guerra e deixou-se envolver pelos braços fortes do rapaz. O ruivo experimentou uma paz que não pensava existir.


São despertos daquele momento mágico por sons de passos apressados no corredor. Os dois se desprendem do abraço, mas permanecem muito próximos. Logo a porta da sala é aberta e escutam uma voz conhecida. “Finalmente encontramos vocês”, falou Gina, seguida de perto por Luna. “Vocês não tinham marcado com Harry na entrada da ala oeste?”, a ruivinha interrogou em tom de queixa.


- Estávamos... er... Decidindo algumas coisas... Por que.. er... – tentou justificar Hermione.


- Não precisa explicar. Sabemos que os namorados gostam de ficar sozinhos – rebateu Luna que tinha o dom de dizer verdades desconcertantes.


- Harry está à nossa espera. Já vamos até lá – Ron falou decidido.


- Eu e Luna vamos à ala leste procurar por Neville. Corram que a ala oeste está precisando de reforços – Gina explicou.


Assim que saíram apressados pela porta, Ron segurou Hermione pelo braço e perguntou baixinho: “Ultrapassei em quanto tempo os cinco minutos que lhe pedi?”. “Na verdade perdi a conta. Mas isso não importa. Foram os melhores minutos de toda a minha vida”, Mione respondeu com um suave e iluminado sorriso. Não tinham tempo para continuar a conversa e dispararam para alcançar Harry.
 


xxx


 


Ao avançarem com velocidade pelos corredores, Hermione e Ron viram Harry correndo um pouco à frente. Chegaram juntos até a ala oeste onde Percy e Fred duelavam com dois Comensais da Mortes que usavam máscara e capuz. Os três amigos logo se juntaram a eles, empunhando suas varinhas.


Quando derrubou a máscara de um dos homens, Percy teve a grata surpresa de ver que se tratava do Ministro da Magia, Thicknesse, a quem anunciou a própria demissão. Conseguiram derrotar os dois bruxos das trevas. Depois de observar a destreza com que o irmão que renegara a família havia lançado feitiços nos Comensais, Fred olhou para ele com prazer.


O comentário do gêmeo sobre como “Perce” estava se divertindo jamais foi concluído. Uma grande explosão aconteceu naquele momento, derrubando a parede contra eles. Ron gritou e puxou Hermione com força. Poucos centímetros à frente deles, Harry conseguiu apenas proteger a cabeça com as mãos, sendo bem atingido.


No momento que a poeira dos escombros começou a abaixar, Ron percebeu que um vulto de cabelos vermelhos como os seus continuava caído. Correu até lá, deixando Hermione sentada no chão. A guerra já não fazia mais sentido. O mundo chegara ao fim. Fred Weasley estava morto.


Foi Harry que, mesmo se profundamente abalado pela morte daquele que se tornara um irmão para ele, alertou a Ron e Percy que precisavam sair dali. A parede derrubada se tornou a passagem para um grupo de Comensais que atacava sem piedade.


Lágrimas pesadas molhavam o rosto de Ron, mas ele teve força interior para puxar o outro Weasley. “Percy, você não pode fazer nada por ele! Vamos”, pediu.  Antes do irmão se levantar, o ruivinho ouviu Hermione dar um grito desesperado. Uma aranha gigantesca escalava a parede.


O aracnídeo não estava sozinho e logo avistaram outros de sua espécie. Feitiços estuporantes voaram das varinhas de Harry, Ron e Hermione. Não podiam deixar aqueles animais invadirem Hogwarts e fazerem vítimas entre os estudantes.


Após vencerem as aranhas, Ron anunciou a Hermione que não deixaria impunes os responsáveis pela morte do irmão. Foi a menina que o conteve, não com a força física, mesmo porque isso seria impossível, nem com a magia, mas sim com a força moral que tinha sobre o ruivinho.


No instante em que tentava convencê-lo a ajudar na missão de destruir a última Horcrux, Hermione ouviu Harry chamando pelos dois. O rapaz, depois de ajudar Percy a arrastar o corpo de Fred até um nicho, onde ficaria protegido, procurou pelos amigos. “Entra aqui”, a menina falou, surgindo de trás de uma tapeçaria. O Menino-que-Sobreviveu chegou a achar que Ron e Mione estavam novamente se beijando, mas logo se deu conta que a luta que travavam era outra.


Todo o corpo de Ron tremia, oscilando entre a dor e a fúria. “Ron, nós somos os únicos que podemos pôr fim a isso! Por favor... Ron... precisamos da cobra, temos que matar a cobra!”, a menina repetia. 


Para surpresa de Harry, a menina que sempre pedira para ele fechar a mente ao Lorde das Trevas foi quem sugeriu: “Você precisa descobrir onde Voldemort está, porque a cobra continua com ele, não? Faça isso, Harry... espie a mente dele”! Enquanto o rapaz se concentrava para fazer essa sempre assustadora viagem, Mione voltou a sua atenção para Ron.


-Nada vai trazer Fred de volta, infelizmente. A única coisa que podemos fazer para evitar mais mortes é estar ao lado de Harry e ajudá-lo a derrotar o Lorde das Trevas - disse a menina segurando-o pelo braço.


O rapaz rendeu-se diante das palavras da menina. Como um balão que murcha de repente, escorregou até o chão e caiu aos prantos. Hermione sentou ao lado dele, sem saber o que fazer. Ron abraçou as compridas pernas, que estavam dobradas, e abaixando o rosto, chorou copiosamente. Mione envolveu o ruivo com um dos braços e encostou a sua cabeça na dele.


Foram poucos, mas significativos, os minutos nos Hermione permaneceu abraçada a Ron em silêncio. Todas as mais belas palavras não seriam suficientes para confortar o rapaz naquele momento.


- Ron, sei como você está sofrendo, mas não podemos ficar aqui. Caso entre um Comensal da Morte, vai nos encontrar indefesos - analisou.


- Você tem razão. Precisa sair daqui junto com Harry - falou.


- Sem você? De jeito algum! Eu não vou deixar você sozinho, correndo risco... - disse Mione.


- Já não me importo mais com isso. Fred está morto - respondeu sem olhar para a bruxinha.


- É verdade, o seu irmão morreu. Mas você está vivo, Ron. E eu preciso muito, muito, muito mesmo, de você. Por favor, venha comigo - pediu a menina.


Hermione se surpreendeu com a rapidez e energia com que o rapaz se levantou. "Por você eu faço qualquer coisa", garantiu estendendo a mão para a menina também se erguer do chão.


Nesse mesmo instante, Harry voltou de sua viagem à mente de Voldemort. “Ele está na Casa dos Gritos. A cobra está com ele e tem uma espécie de proteção mágica em volta”, Harry começou. Ron e Hermione no mesmo instante decidiram. Tinham feito essa escolha desde o primeiro ano de Hogwarts: lutariam ao lado do amigo e não o deixariam sozinho.


- Voldemort sabe que quero as Horcruxes e está mantendo Nagini junto dele... Eu terei de procurá-lo para me aproximar daquela coisa... – continuou Harry.


- Se é o que ele quer, o que está esperando, você não pode ir – falou o ruivo decidido. – Fique aqui e cuide da Hermione, e eu irei pegar...


- Nada disso. Vocês dois ficam aqui – Harry interrompeu o amigo. - Irei com a Capa da Invisibilidade e voltarei assim que...


- Não - foi a vez de Hermione discordar. – Faz muito mais sentido eu levar a capa e...


- Nem pense nisso – disse Ron rispidamente.


Antes que pudessem terminar a “discussão”, que mostrava a profundidade daquela amizade solidificada ao longo dos anos, tiveram que enfrentar mais alguns Comensais. Vencidos os oponentes, Harry jogou a Capa da Invisibilidade sobre os três. Partiriam juntos, como sempre, dessa vez para a Casa dos Gritos.
 


xxx



Para ouvir antes, durante ou depois de ouvir o capítulo:


Everything


http://bit.ly/apzQRg


Find me here,
And speak to me 
I want to feel you 
I need to hear you 
You are the light 
That's leading me to the place 
Where I'll find peace... Again 

You are the strength 
That keeps me walking
You are the hope  
That keeps me trusting 
You are the life 
To my soul 
You are my purpose  
You're everything

And how can I stand here with you
And not be moved by you?
Would you tell me how could it be any better than this? 
(…)


 


 


 


 


 

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Comentários (24)

  • Gego

    (Jaz aqui uma leitora)P e r f e i t o!Vai me destruir quando essa fic acabar, mas já sei o que eu vou fazer, imprimirei tudo em 3 livrinhos. Sempre que eu entrar na jornada HP, eles estarão do meu lado. *--*Beijos! 

    2013-03-28
  • FernandaGrif2

    hey... olha eu aqui o/ eu to apaixonada por esse capitulo. Finalmente eles ficaram juntos,  e eu achei tao fofo o modo como ele se declarou pra ela.... eu juro que tive vontade de entrar na historia e abraçar os dois hahahahaha so que não. To esperando pelo proximo o/ beijos 

    2013-03-26
  • Morgana Lisbeth

    Lilian, ainda bem que, mesmo “sem comentários a fazer”, você marcou presença. Espero que os leitores tímidos sigam o seu exemplo! Obrigada por sua generosidade. Sou consciente que se a história tem algum mérito, esse é todo de Rowling, criadora de personagens inesquecíveis. Bjs! Yoda, vivo aquele dilema que falei na introdução do capítulo. Quero concluir, mas, ao mesmo tempo, desejo continuar a falar de Ron e Mione (rs). Tem certeza que quer fazer campanha para eu escrever uma fic abordando os 19 anos “perdidos”? Pense bem. Eu demorei o mesmo tempo transcorrido na história do sétimo livro - 10 meses! – para concluir as Entrelinhas. Será que vcs vão conseguir me aturar por 19 anos?! Julliano, amo quando vc comenta. É sempre bom ouvir uma opinião masculina sobre a fic, para não correr o risco de criar um “mundo cor de rosa”. Embora, sinceramente, esse não é meu estilo. Luna é o máximo, não é? Também estou vivendo a “sessão nostalgia”. Isso faz parte da vida J Aline.... E todas as mais belas palavras do mundo não serão suficientes para agradecer aos céus por ter uma leitora tão especial como você!

    2013-03-25
  • Aline G. Weasley

    Todas as mais belas palavras não seriam suficientes para confortar o rapaz naquele momento. Todas as mais belas palavras não seriam suficientes para expressar o que estou sentindo ao terminar de ler esse capítulo. 

    2013-03-25
  • Julliano César Carneiro Viana

    Ah,Morgana,esses sentimentos a flor da pele,dúvidas,declarações,discussões...tá bem a cara dos dois.Destaques pro Ron,qacabou se declarando,msm sem saber o q dizer;Hermione,q sempre sabe o q dizer e ficou sem palavras e Luna e suas verdades pra lá de incômodas.Fico feliz q vc tenha conseguido chegar até o fim da sua empreitada,porém é inevitavel ñ sentir uma certa nostalgia.No aguardo!!

    2013-03-25
  • Yoda Wesley

    Ainda bem que você cedeu e postou logo esse maravilhoso capítulo!!! Ron finalmente tomou coragem e falou o que sente pra Mione, deixando ela e todos nos sem palavras. Um capítulo recheado de sentimento, felicidade e tristesa. Ah Morgana não nos abandone, vou começar a campanha fic dos 19 anos Pós-Hogwarts!!!

    2013-03-25
  • Lilian Granger Weasley

    Sem comentarios!!! Excelente capitulo, estou doida pra ver  proximo capitulo!! KKKK fikei feliz sobre as possiveis cenas do relacionamento dos dois!!! :D Mais sinceramente a sua fanfic ta sendo a melhor que já li!! Adoreiii quero maissss....!!! ^_^

    2013-03-25
  • Morgana Lisbeth

    Kamilla, também eu agradeço ao seu professor por ter me possibilitado encontrar uma leitora tão especial. E viva o google (rs)! Fico muito feliz, muito feliz mesmo, por saber que a série, escrita com muito carinho, "faz parte da sua vida". Ficarei esperando outros comentários seus. E como é louca (como eu) por Romione, a convido a dar uma passadinha no capítulo "Atualizações e Afins" onde escrevi um pequeno texto falando "Por que sou fascinada por Ron e Mione". bjs! Mariana, que bom tê-la de volta aqui!!! Estava sentindo falta dos seus comentários. Também achei tenso falar da batalha. Mas penso que não podia fugir de tais acontecimentos, muito menos de abordar a morte de Fred. No livro, Rowling não fala muito de como Mione foi importante para Ron naquele momento, mas a gente imagina. A cena do filme, mesmo se curta, é muito tocante. Aguardando novos comentários, tá? :) Mellissa, escrevi com todo sentimento e sinto-me realizada por saber que agora este é o seu capítulo preferido. Ron precisava falar (hehe), mas tinha que ser do jeito dele. Então, só me coloquei à escuta e o resultado foi esse aí. Geeente, que maravilha saber que a música escolhida já faz parte da sua trilha sonora Romione. Dessa vez fiquei na maior dúvida sobre qual música escolher... ♥ ♥ Lele, você também está me conquistando com os seus comentários fofos. Que os outros ficwriters não me escutem, mas acho que os melhores leitores da FeB são os meus!!! Aliás, para gostar de Romione tem que ser especial, não é? Bjs! Eliana, adoro ser chamada de "minha linda" por você. Fico "me achando" (rs). Sabe, tem cenas que vejo com minha "bola de cristal" e simplesmente as transcrevo para o papel, sem dar qualquer pitaco. A confissão de Ron foi uma delas. Momento bem curioso até: Ron falando pelos cotovelos e Mione sem palavras *_* Sil, sempre procuro colocar todo o sentimento nos meus textos e pessoas sensíveis, como você, conseguem fazer a leitura dessas "entrelinhas". Deixo me conduzir pelos personagens, me imagino no lugar deles, sofro junto, me emociono, me apaixono (rs). Muita viagem, eu sei. Mas sou assim ;)  

    2013-03-24
  • Sil86

    Moragana uma vez mais vc me deixa sem palavras...(muda) De todas as mais belas palavras existentes nenhuma será suficiente para descrever este capitulo!Bjs até a proxima 

    2013-03-24
  • Eliana de Albuquerque Lima

    Minha linda ótimo capitulo. Adorei a conversa dos dois e a fala da Luna que eu sempre acho hilária. Até o próximo capitulo. Bjos P.S.: Você bem que poderia escreve alguma história sobre os quatro (Rony, Mione, Harry e Gina), mas em um universo alternativo. Seria bem interessante lê algo no estilo da escrita Morgana.

    2013-03-24
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