O Mensageiro Inesperado

O Mensageiro Inesperado



Eram onze horas da noite e Harry Potter estava em seu grande escritório no Ministério da Magia. Como líder do Departamento de Aurores, regularmente era sobrecarregado com trabalho, e agora terminava de organizar uma pilha de papéis para ir pra casa.


 


Suspirou cansado, com os olhos verdes correndo pelo aposento para verificar se estava tudoem ordem. Oambiente estava relativamente arrumado, porém ele percebeu que ao lado da porta uma feia pilha de caixas de madeira estava destoando dele. Com tal pensamento em mente, sacou a varinha.


 


- Wingardium Leviosa.


 


As caixas elevaram-se e ele teve uma súbita visão de si próprio: havia um espelho atrás delas. Harry trajava vestes típicas de bruxo, com o diferencial que um minúsculo distintivo prateado preso ao peito indicava seu posto como líder dos Aurores. Seus cabelos continuavam rebeldes como sempre e ocultavam parcialmente a fina cicatriz em forma de raio que havia em sua testa. Perante os olhos, ainda usava os óculos redondos de aro fino, e estava com ralas olheiras devido ao excesso de trabalho. Neste momento, o homem ouviu um grito feminino estridente:


 


- GRAVATA TORTA! GRAVATA TORTA!


 


Irritado, depositou as caixas no mesmo lugar e o espelho se calou. Tinha recebido aquele presente pela manhã, fora modificado por Arthur Weasley, que pessoalmente lhe entregara com muito orgulho. Contudo, o objeto mágico era exigente e sempre encontrava algo para criticar, então Harry julgou que era melhor deixá-lo tapado por ora.


 


Desajeitadamente tentava arrumar a gravata, quando de repente uma claridade esverdeada iluminou o aposento. O homem foi levemente cegado por ela, mas em poucos segundos já tinha se recuperado e olhou para a lareira, onde vívidas chamas verde-esmeralda trepidavam. Ele se aproximou, e viu uma face conhecida no fundo dela.


 


- Professora McGonagall?! – Exclamou pasmo.


 


Mesmo não sendo mais aluno da senhora, não tinha perdido o costume de chamá-la assim. Ela falou, usando um tom de preocupação que não lhe era usual.


 


- Potter... Está ocupado?


- Não... Já estava indo para casa, na verdade. Aconteceu alguma coisa?


- Eu espero que não.


 


Tentando ser o mais breve possível, a diretora explicou a Harry como seu filho não era visto desde a tardinha, e também informou que tinha mobilizado alguns professores para procurá-lo. O homem enrugou o cenho, incomodado.


 


- Acredita que ele resolveu ir a Hogsmeade novamente? – Resmungou, exasperando-se com o filho.


- Neste momento, Aberforth está procurando-o por lá. Também é possível que ele tenha ido à Floresta Proibida, como fez no segundo ano...


 


Harry ficou perplexo com aquela sugestão, e deu sua opinião.


 


- Meu filho pode ser irreverente, mas não é burro. Quando foi daquela vez, levou outros oito alunos com ele.


 


Minerva torceu o nariz, desgostosa.


 


- Lembro-me bem desse incidente. – Resmungou, em um tom de desaprovação.


 


O homem percebeu que trazer aquele caso de volta à tona apenas complicaria as coisas para o filho, então decidiu mudar de assunto.


 


- Então ele se encontrou com uma garota atrás da cabana de Hagrid e ambos sumiram, certo? Já cogitaram a possibilidade de eles estarem em algum lugar sob a capa de invisibilidade?


- A capa está com Albus. Foi entregue por Lucy Powell, a última pessoa a falar com James antes que desaparecesse.


 


Apesar da estranheza do caso, Harry não estava verdadeiramente preocupado. Tinha quase certeza que o filho devia estar em Hogsmeade com Megan, pois há poucas semanas ele tinha feito exatamente isso. Acompanhado por sua namorada à época, passou a noite no povoado, o que lhes rendeu uma semana de detenções e foi comunicado aos pais pela própria Minerva.


 


- Muito bem. Ainda nesta noite irei a Hogwarts, professora McGonagall. Se encontrarem-no, por favor, entre em contato.


- Certo. Devo entrar em contato com Ginny?


 


O homem hesitou. Sua esposa era infinitamente mais severa que ele, característica provavelmente herdada de sua mãe. Para o bem de James, era melhor manter segredo dela.


 


- Não... Deixa que pra ela eu falo pessoalmente.


- Entendido. Se eu tiver novas informações, entrarei em contato.


 


Tão subitamente quanto começaram, as chamas se apagaram. Harry suspirou exasperado.


 


- James, James... Tudo bem que a professora McGonagall nunca o expulsaria, mas você tem abusado. Teremos uma conversa séria quando resolver aparecer.


 


Neste momento, sacou a varinha.


 


- Expecto Patronum!


 


Um cervo prateado irrompeu da ponta de sua varinha, e após receber a mensagem que devia passar a Ginny, abandonou o aposento atravessando a parede. O homem mentiu que ficaria até mais tarde no trabalho, o que era comum.


 


- Me fazendo chegar ao ponto de mentir para sua mãe... Decididamente precisamos conversar.


 


Dando uma última olhada pelo escritório para verificar se estava tudo certo, o homem avançou em direção à porta, mas de repente ela se abriu com violência e um homem adentrou o lugar. Harry ergueu as sobrancelhas ao ver quem era: Cabelo fino, liso e louro-claro, olhos cinzentos, pele pálida, expressões duras... Draco Malfoy encarou o moreno, e um silêncio constrangido imperou por poucos segundos. Para quebrar o clima constrangido, o recém-chegado deu um breve aceno com a cabeça.


 


- Olá, Potter.


 


Harry retribuiu o gesto, sem nada dizer. O outro pigarreou.


 


- Mesmo que não tenha tido a educação de me convidar, vou entrar.


 


Declarando isso, caminhou para dentro do escritório, torcendo o nariz para a pilha de caixas que havia logo ao lado da porta. Desviando das mobílias, encarou Harry com aqueles olhos frios e calculistas.


 


- Posso saber o que faz aqui? – Perguntou Harry, levemente incomodado.


- Sim, pode. Vim contar uma coisa pra você, Potter.


 


O moreno enrugou o cenho. O que Draco Malfoy teria para lhe dizer?


 


- E o que seria? – Instigou.


 


Draco começou a caminhar pelo escritório, regularmente esbarrando em algo, enquanto falava.


 


- Seu filho mais velho... James, ou que nome tenha. Ele foi seqüestrado.


 


Tais palavras soaram como um baque para Harry. Sentiu sua boca ficar levemente entreaberta, e fitou o outro abismado. Draco estava mortalmente sério. Não parecia estar brincando. Assim que se recompôs um pouco, Harry começou a balbuciar questionamentos.


 


- Como assim, seqüestrado? Onde? Quando? Por quem?! Como sabe disso?!


 


Draco enrugou o cenho, exasperado.


 


- Eu não sei por que sei disso. Recebi uma coruja me instruindo a vir te contar, não faço a menor idéia do porquê de ter sido enviada justamente a mim. Possivelmente a pessoa temeu enviar diretamente a você, receando que a carta fosse lida por terceiros.


 


Aquilo não podia ser verdade, devia ser uma brincadeira de mal gosto de Draco... Contudo, como ele saberia que James tinha desaparecido? Percebendo sua incredulidade, o loiro colocou a mão no interior das vestes pretas de bruxo e tirou um pergaminho, estendendo-o a Harry. Sem hesitar, o moreno pegou-o. O texto era curto e estava escrito com uma caligrafia fina e inclinada, de cor verde-esmeralda.


 


Caro Harry Potter,


 


Estamos com seu filho James, como já deve ter percebido. De antemão avisamos que não temos interesse em matá-lo, ou fazer quaisquer crueldades com ele. Queremos apenas negociar. Há exatos setenta e nove dias, capturou e mandou para Azkaban um bruxo acusado de fazer uso de objetos das trevas visando à libertação de ex-Comensais da Morte. Tudo que queremos é que liberte este homem. Apenas isso. Atualmente, nos encontramos na residência em que ele foi capturado, ao perceber quem é imediatamente saberá onde nos encontrar.


 


Não queremos que esse caso tenha muita repercussão, inclusive porque ficaria ruim para a sua imagem se percebessem que soltou um prisioneiro de Azkaban. Por este motivo, enviamos a carta ao seu amigo Draco Malfoy ao invés de enviá-la para sua casa ou para o Ministério. Hogwarts provavelmente já deve estar procurando por seu filho, então pedimos que aceite rapidamente a negociação para que possamos devolvê-lo à escola com segurança. Reitero: não temos intenção de fazer mal ao garoto.


 


 Quando verificar o local onde prendeu o bruxo supracitado, favor se dirigir até lá SOZINHO. Duas varinhas estão apontadas para seu filho o tempo todo, então se fizer qualquer graçinha seremos obrigados a matá-lo. Em suas mãos está a corda da guilhotina que paira sob a cabeça dele, só depende de você.


 


Atenciosamente,


 


A.P.N


 


Quando terminou de ler, percebeu que tremia violentamente e um zumbido incômodo dominava sua mente. Pensou em reler a carta, porém neste momento viu que Draco lhe estendia uma fotografia. Sacou-a e viu uma imagem em preto-e-branco de seu próprio filho, amarrado e amordaçado, deitado sobre um chão de pedra. Estava imóvel, provavelmente tinha sido estuporado.


 


- Faça o favor de informar aos seus amigos que eu não sou uma coruja, Potter. – Murmurou Draco friamente, dando as costas.


 


Harry, sentindo um turbilhão de sentimentos dominar seu corpo, fixou os olhos nas costas do homem que se afastava. Subitamente sentiu um ódio incontrolável dominar seu corpo, e saltou em cima dele, sacando a varinha. Draco tombou, batendo com a cabeça na quina da escrivaninha, o que o fez soltar um grito de dor. Furioso, começou a tentar se desvencilhar.


 


- Que diabos... O QUE SIGNIFICA ISSO, POTT... – Calou-se e engoliu em seco ao ver que a varinha de Harry estava apontada para o meio da sua testa, que sangrava devido ao ferimento.


 


Quando o moreno falou, sua voz saiu como um sibilo. Sua face estava completamente enrubescida: se encontrava completamente fora de si.


 


- Como você está envolvido nisso tudo, Draco...? Quem é o mandante disso tudo...?


 


Draco exasperou-se.


 


- Como eu vou saber?! Só recebi a maldita carta!


 


Harry estreitou os olhos.


 


- E você, que me odeia, vem com toda boa-vontade entregar? O que o levou a fazer isso?!


 


O loiro desviou o olhar, incomodado. Seu orgulho não permitia que respondesse àquela pergunta.


 


- INCARCEROUS!


 


Finas cordas prateadas saíram da varinha e amarraram Draco, de modo que ele ficou completamente imobilizado. Harry levantou-se e correu para o canto do escritório, onde havia um pequeno armário. Abrindo sua porta com violência, correu os olhos pelas prateleiras cheias de pequenos frascos até encontrar um que continha um líquido similar a água. Pegando-o, caminhou até o loiro que resmungava debilmente.


 


- Potter maldito, por isso eu te odeio...


 


Sem paciência para dosar, Harry virou todo o conteúdo na boca do visitante. Draco engasgou e tossiu, mas o moreno não ligou e imediatamente fez um questionamento.


 


- Você sabe quem seqüestrou James?!


- NÃO!


 


Aquela resposta desconcertou completamente Harry. Pasmo, fitou Draco, cujo rosto normalmente pálido agora estava em um tom vermelho e o cabelo bem alinhado estava totalmente despenteado.


 


- Mas então... O que o levou a trazer a carta?!


 


Draco estreitou os olhos, parecendo lutar com todas as suas forças para não dizer aquelas palavras vergonhosas. Contudo, o efeito da Veritaserum era poderoso demais, e o homem não conseguiu vencê-lo.


 


- Gratidão, Potter.


 


Harry sentiu o chão sumir sob seus pés. Enquanto Draco soltava um urro de ódio, o outro sentiu a vergonha se espalhar por cada parte de seu corpo, e seu rosto esquentou. Tinha se deixado levar pelo nervosismo ante o seqüestro de James e perdido a cabeça. Dando um aceno displicente com a varinha, as cordas que prendiam o homem desapareceram.


 


Draco imediatamente levantou-se e levou a mão às vestes, sacando a varinha e apontando-a para Harry, que por sua vez apontou a dele. Os dois se encararam: o moreno estava com o rosto muito vermelho, porém não aparentava mais estar com raiva. Tampouco parecia disposto a lutar ali. Quando falou, seu tom de voz era quase o de uma súplica.


 


- Draco... Pode até me matar, se quiser... Mas espera eu salvar o James.


 


Surpreso com aquele pedido repentino, Draco hesitou por longos segundos, nos quais seguiram se encarando. Após um suspiro, guardou a varinha, gesto que Harry imitou.


 


- Lembrarei dessa autorização, Potter.


 


Aliviado, Harry respirou fundo e segurou a escrivaninha com as duas mãos. Pegando a carta, releu-a. Vendo a pista para chegar ao assassino, correu para o grande armário no qual estavam armazenados os dados dos casos julgados. Enquanto procurava o nome do bruxo que tinha sido preso há setenta e nove dias, Draco curou o ferimento da testa e se aproximou, aparentando curiosidade.


 


- Suspeita de alguém?


 


O cérebro de Harry demorou algum tempo para computar aquela pergunta: tudo parecia estar se passando mais devagar devido ao nervosismo.


 


- Eu não sei quem pode ter feito isso... Quem me odiaria?


 


Draco, ainda sob efeito da Veritaserum, imediatamente respondeu.


 


- Meu pai, minha mãe, boa parte dos bruxos de sangue puro e todos os prisioneiros de Azkaban.


 


Harry virou-se com as sobrancelhas erguidas.


 


- Obrigado por me lembrar que sou tão odiado assim.


 


O outro, percebendo que levaria horas para tamanha dose de Veritaserum perder o efeito, decidiu ir embora.


 


- Até, Potter.


- Espera... Pode fazer o favor de não contar essa situação pra ninguém?


 


Draco encarou-o, torcendo o nariz.


 


- Por favor. – Acrescentou Harry, apressadamente.


 


O loiro deu um muxoxo de impaciência.


 


- Tá certo. Prefiro mesmo que ninguém saiba que andei entrando em contato com você.


 


Declarando isso, se retirou do aposento, batendo a porta ao passar.


 


Por longos minutos Harry checou as inúmeras pastas que continham os documentos de casos julgados, até que encontrou o que procurava. Há setenta e nove dias tinha sido preso um bruxo puro-sangue, pertencente a uma família relativamente influente, chamado Edward Nogwell.


 


Harry fixou os olhos na foto do homem: aparentava ter cinqüenta anos de idade, tinha a pele morena e cabelo grisalho. Seus olhos frios o encaravam, e exibia uma expressão de nojo. Correu os olhos para os motivos da prisão: porte de objetos amaldiçoados e planejamento do resgate de Comensais da Morte que estavam em Azkaban.


 


Aquele era o homem que ele soltaria para conseguir libertar o filho. Soltaria? Fechando os olhos, receou. Era óbvio que Edward Nogwell era um sujeito muito perigoso, e ao ser libertado imediatamente sumiria no mundo. Era errado o chefe do Departamento de Aurores ceder a uma chantagem feita por criminosos. Mas... Ele tinha alguma alternativa além dessa para salvar seu filho? Segurou a ficha com força na mão, amassando-a, enfim sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto e molharem o papel branco.


 


Longos minutos depois, percebeu algo vital: se James estava na casa dos Nogwell, de alguma forma o inimigo tinha o levado para fora de Hogwarts! Precisava comunicar que havia uma brecha nas defesas da escola imediatamente. Rapidamente sacou o Pó de Flu: entraria em contato com McGonagall


 


ooo ooo ooo


 


Lucy Powell estava deitada em sua cama, com os olhos fixos no teto do quarto. Trajava apenas uma camisola branca, mas seu corpo estava encoberto por três grossos cobertores, que impediam que o frio a afetasse. O dormitório estava fracamente iluminado por um filete de luar, que entrava pela janela e refletia nos olhos verdes da moça. Estava ali deitada, completamente imóvel, há um tempo incalculável.


 


- A diretora McGonagall disse para eu descansar, pois assim que encontrarem James eu serei informada... Mas...


 


Nervosa, ela mordeu o lábio. No fundo, sabia que enquanto ele não fosse encontrado não conseguiria descansar. Sempre que planejava fugir para Hogsmeade, ele a informava. Dessa vez, não tinha dito nada. Algo tinha acontecido, ela sentia isso.


 


Sentando-se na cama, ergueu o travesseiro: ali estavam a capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto. Al tinha deixado os dois artefatos com ela, calculando que a moça não conseguiria se segurar. Sabia que Lucy não era o tipo de garota que ficava sentada esperando milagres acontecerem. Ela os fazia acontecer.


 


Tomando cuidado para não acordar as companheiras de quarto, ela levantou-se e se vestiu.


 


- Eu juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.


 


Jogando a capa sobre seu corpo e fixando os olhos no mapa, silenciosamente ela saiu do aposento. Naquela madrugada, iniciaria sua própria investigação para descobrir onde James estava.

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