Capítulo único







3 at 7


Severus atravessava uma rodovia que levava a um parque trouxa. Com o fim da guerra, ele preferiu a reclusão aos holofotes. Não engolia a falsidade daqueles que tanto o condenavam para depois se disporem até a lamber suas botas. Hipócritas.


Não possuía família ou algo para prendê-lo ao mundo mágico. Na verdade poderia haver, se a pessoa que amava não estivesse de casamento marcado com Ronald Weasley.


O sol, ao se por, brilhava com suavidade, em um tom âmbar que lembrava Hermione. Ele sabia que a magoara ao fingir que o que viveram nada significava, apenas para afastá-la dele e poupá-la, em seu julgamento, de um relacionamento sem futuro, a ser visto com preconceito inclusive pelos menos conservadores. Sempre foi muito bom em mentir, não que isso fosse exatamente uma qualidade. E isso lhe doía.


“Severus?” – ele ouviu, quase num sussurro. Tornou o pescoço para a esquerda, mas nada viu além de folhas ocre sendo varridas da rodovia por um lixeiro. O veneno daquela cobra maldita só poderia estar fazendo-o ter alucinações, ou quiçá fossem os ventos de outono a tripudiar de sua audição.


“Severus.” – a voz estava mais próxima e ele, no impulso, virou-se completamente. O vento havia parado, então não estava enlouquecendo.


“Granger. Ou seria Hermione Weasley?” – tentou ser irônico, mas ao encontrá-la num vestido florido, quase infantil, qualquer palavra extra de escárnio que permeava sua mente foi abafada. Os cabelos castanhos estavam soltos, como ele gostava.


“Nenhum deles: é Hermione, Severus. Preciso falar-lhe.” – tudo nela aparentava insegurança, à exceção de sua fala, que ele sabia muito bem que ela forçava-a a soar convincente. Hermione era jovem, mas já conhecia o significado de dor. Ela possuía a tristeza do mundo em seus olhos.


“Hermione.” – respirou fundo – “Você não vai desistir mesmo até conseguir o que quer, não é?” – ele desejou sorrir, mas o máximo que conseguiu foi entortar ligeiramente os lábios a um canto.


O rosto dela se iluminou. Mas não seria tão fácil, ele não havia se rendido. Ainda.


“Gostaria de tomar uma xícara de café amanhã?” – viu-a assentir – “Na cabine 3 às 7h.” – apontou para o pequeno estabelecimento à esquina da entrada do parque, do outro lado da rodovia.


Ela concordou e despediram-se. Sem beijos apaixonados ou promessas. Ele não lhe colheria flores ou redigiria cartas de amor. Seu jeito de amar era diferente, evidenciado nos mais singelos gestos. Ele somente esperava que Hermione entendesse. E ela, a eterna Sabe-tudo, compreenderia, só para contrariá-lo.


Eles não percorreriam o caminho àquele parque sozinhos no dia seguinte, porém, nem trilhariam rumos opostos. Tampouco fugiriam um do outro, afinal do destino não se esconde.


No próximo dia, uma caminhada de mãos dadas. No outro, um beijo recheado de saudade e um convite para um jantar. Em duas semanas o esperado ‘eu amo você’ foi dito.


Ronald Weasley era passado para ela. Lily para ele. O amor desse casal imprevisível era assim. E eles sempre surpreenderiam um ao outro a cada dia. Graças ao recomeço na cabine três, às sete.


Fim.




Notinhas:


- Timo Tolkki, meu gênio lindo, obrigada por essa música incrível, de verdade. Ou melhor, por essas músicas, afinal me baseei, para escrever essa fanfic, em '3 at 7' e em 'Sadness Of The World', que se entrelaçam por natureza, sendo uma a continuação da outra.


- Não estou dizendo que minha fase fluffy está voltando com tudo? BLOODY HELL, EU SABIA! SS/HG é tão perfeito, e. e. e. e.


 



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