oneshot



As flores do jardim são encantadoras. Pequeninas e delicadas. Multicoloridas, vão se multiplicando até a grade do portão de ferro. Passo minha mão por elas, acariciando suas pétalas, enquanto ando vagarosamente. Estou me sentindo confortável calçando sapatos macios e, que, em contato com as pedras na trilha, fazem um som acolhedor. Não há vento, mas o tempo está fresco e a lua se destaca no céu. Distraio-me com os detalhes da parede onde estão engalfinhados ramos de outras plantas. Várias rachaduras minúsculas formam um desenho abstrato, dando um ar clássico à casa.



Sinto agonia. A imagem de Draco me observando da janela contribui com o sentimento. É estranho sentir-se feliz. No meu caso é agonizante. Tudo perfeito, o jardim bem cuidado, o meu “amor”, o dia lindo, a casa, e até o chão tem sua parcela. Parece um daqueles livros românticos e dramáticos, em que retratam o dia-a-dia de alguém. Não é uma sensação confortável. Não é que não goste. Apenas é estranho, e difícil de descrever o que sinto.



Volto a olhar para Draco. O amo tanto, tanto. Mas agora tudo que sinto em vê-lo é agonia. Isso tudo é fantasiado. Este grande amor, as coisas lindas ao meu redor, a vida maravilhosa que o destino tem a me oferecer. Não existem. Principalmente porque eu não o amo, e sei que ele também não me ama. Sim, não é fácil entender. Admiro seus olhos cinza a distancia. São diferentes e frios, como um dia de verão nublado. Cinza é uma cor rara para olhos. Acho que isso pode se aplicar à pessoa também, se é que me entende.




Flashback on




“Você tem certeza?”, lembro-me da voz de Daphne.



“Não.” Digo, e ela me ajuda a fechar o corpete do vestido branco que uso.



O reflexo no espelho me assusta. Meu rosto é emoldurado pela franja que repousa perto da boca. Meus lábios são pintados por minha irmã em um tom forte de vermelho. Ela parece um pouco hesitante em relação à cor.



Seguro em seu ombro para calçar os saltos altos, decorados com brilhantes nas laterais. Demoro um pouco, mas me equilibro. Daphne, com a varinha, faz minúsculas pedrinhas brilhosas aparecerem no coque, quase milimétricas. Continuo a olhar para o vidro, sem ação, enquanto ela pega uma caixa aveludada na cômoda. Abre e retira uma tiara de esmeraldas, que está há gerações na família. Quando prende o véu, vejo que não tenho mais saída.



“Está maravilhosa”, diz entregando-me o buquê. Dou de ombros e paro de me olhar, desejando sair logo daqui. É pura hipocrisia. Não acredito que estou mesmo fazendo isso.




Flashback off




Entro e vou em direção à cozinha. Seguro uma xícara de chá com as duas mãos e pego, na biblioteca, o primeiro livro que me vem à cabeça, o que sempre leio quando preciso. Na mesa da sala abro-o com cuidado, admirando a capa verde-musgo desgastada, e começo a ler. “1801 – Acabo de regressar da visita que fiz ao meu senhorio – o único vizinho que poderá perturbar meu isolamento. Esta região é sem dúvida magnífica...”.



Mal termino o primeiro capítulo. Na soleira da porta, um garotinho loiro, com seus olhinhos cinzentos, surge.



- Mamãe... – Diz o pequeno Scorpius. O ponho no colo e beijo sua cabeça repleta de fios platinados. Depois de um tempo ele adormece. Subo as escadas de madeira para coloca-lo em seu quarto. Observando a decoração, confiro também se está tudo em ordem. Desisto da leitura e me deito ao lado de meu marido. Ele não me desejou devidamente um “boa noite”, mas me dou por satisfeita. Fecho os olhos. Dormir não será fácil esta noite.

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