Superação



Capítulo 1:


 


Na Toca, uma família abatida e triste jantava. Apesar de Lord Voldemort ter sido liquidado, as perdas haviam sido imensas, a morte de Fred Weasley, Ninphadora Tonks e Remus Lupin ainda estavam frescas na mente de todos. E tantas mortes inocentes que também ajudavam a manter esse sentimento. Os aurores estavam tendo bastante trabalho com os Death Eaters ainda não liquidados. Harry e Ron às vezes eram chamados para ajudá-los também. Mas o que mais abalava a família Weasley era a morte de Fred, o jovem engraçado que teria um futuro promissor ao lado de seu irmão gêmeo George.


Ron, com um olhar cansado e soltando um suspiro triste, levanta da mesa onde os Weasley, Harry e Hermione jantavam sem dar um pio. Arrastando os pés, ele decide ir para seu quarto,  a cada degrau que subia se sentia mais cansado e fraco. Chegando no seu quarto, se jogou na sua cama e afundou a cabeça no travesseiro. Ele não estava com o mínimo sono, só queria esquecer a guerra em Hogwarts, a morte de seu irmão e de tantas outras pessoas queridas, pena que não parecia ser possível. De repente o beijo dele e de Hermione veio à tona em sua mente e ele deu um sorriso fraco, sentindo-se mais leve, relembrando os lábios macios dela colando nos seus e a mistura de sensações e sentimentos que se confundiram naquele momento.


Ele se lembrou de quando ela destruiu a Horcrux, a taça de Hufflepuff na Câmara Secreta, e logo depois a lembrança vívida da noite fria em que ele destruiu o medalhão de Slytherin, Ron se lembrava de cada detalhe daquela noite horrível e logo ficou abatido novamente. Ele deixou uma lágrima rolar e ficou envergonhado ao vê-la cair no travesseiro fofo. Se remexeu um pouco e as palavras da Riddle-Hermione vieram machucá-lo e naquele escuro silencioso elas pareciam mais verdadeiras do que o normal: “Você não é nada, nada, nada perto dele.”. apesar de que ele sabia que aquilo não podia ser verdade pois ela havia beijado ele e não Harry, aquilo vindo da boca “dela” só havia confirmado tudo que ele sempre pensou. Seus pensamentos foram interrompidos por um ranger da porta, e achando que era Harry ne se mexeu, mas ao reconhecer o perfume doce de Hermione e seus passos leves, ele sorriu e esperou para ver o que ela iria fazer.


De olhos fechados, Ron sentiu suas mãos pequenas e delicadas afanando seus cabelos ruivos. Levantou uma das mãos e segurou sua mão gelada. Ela se assustou um pouco, mas logo depois segurou a mão de Ron de volta. Ele virou de barriga para cima e sorriu para ela, ainda segurando sua mão. Hermione sorriu de volta e deu um beijo na testa dele, que fechou os olhos ao toque.


- Você está bem? – ela perguntou meigamente.


- Melhor com você aqui. – ela sorriu fraco.


- Harry trouxe a Penseira de Dumbledore, para nos mostrar as lembranças de Snape. – ela contou, descontraída.


- É, eu sei. Você sabe como se passa as lembranças para a Penseira? – ele perguntou, querendo se livrar das suas piores memórias.


- Bom, eu já li sobre isso.


- Que novidade. – ele riu e ela o fuzilou.


- E pelo que li, sei a teoria. – ele fez sinal para que ela continuasse – Você deve pousar a varinha sobre a têmpora e pensar em todos os detalhes da sua lembrança cuidadosamente e retirar a varinha, que vai vir com fios brancos, que será sua lembrança. – ela terminou enrugando a testa, em sinal de ligeira concentração e olhou para ele que a observava extasiado.


- Você é brilhante! – ela sorriu ao elogio. – Bom, é que eu queria pôr algumas lembranças na Penseira. – ele falou com o olhar infeliz.


- Está aqui no quarto, não?


-Sim, no armário.


Hermione caminhou até lá, abriu o armário e viu-a na penúltima prateleira. Ficou na ponta dos pés e pegou-a com as duas mãos. Levou-a até a cômoda que ficava entre as duas camas e depositou-a ali. Cada um sentou na beirada de cada cama e ficaram observando o conteúdo da Penseira por alguns minutos até que Ron pronunciou, ainda olhando para o líquido prateado.


- Preciso da sua ajuda para fazer isso, - ele tirou os olhos da Penseira e olhou fundo nos olhos amendoados dela e completou – Hermione.


Por uns instantes ela se perdeu no oceano escuro e tempestuosos dos olhos de Ron, mas ao ouvir seu nome, respondeu rapidamente:


- É claro, é claro que... eu te ajudo!


- Obrigado.


Ron pegou sua varinha e pousou-a sobre a têmpora.


- Agora você deve mentalizar  a sua lembrança inteira, com os olhos fechados é melhor. E retire a varinha quando estiver pronto. – ela concluiu com ar de sabichona.


Ele fez exatamente o que ela havia falado, e após um minuto ele tirou a lembrança de sua mente soltando um suspiro de alívio.


- Estou bem melhor agora.


Hermione sabia que ele precisava de consolo, a morte de Fred ainda o abalava, ela podia ver as marcas de tristeza em seus olhos. Ron olhava para o chão atentamente, parecendo ter medo de que ele explodisse, como Hogwarts. Hermione não aguentou mais e sentou na cama ao lado dele. Ela puxou a cabeça dele mais para perto e repousou-a em seu peito e acariciou seus cabelos, em sinal de carinho. Ele passou os braços ao redor da cintura dela e apertou-a, como se quisesse que ela não fugisse dali nunca. Ela sentiu algo molhado atravessar sua blusa e cair sobre sua pele, e a dor a atingiu como uma maldição Cruciatus. Ele estava chorando.


- Não se preocupe, eu estou aqui. – ela sussurrou com a voz falha enquanto ele a puxava mais de encontro a seu corpo, o que a proporcionou um arrepio involuntário. Ela deu um beijo no topo de sua cabeça e afanou seus cabelos ruivos. Ele levantou a cabeça para ela com os olhos marejados e vermelhos, olhando fundo nos olhos dela.


- Eu sei, acho que é por isso que ainda não pirei. – ele sussurrou enquanto ela sorria. Ele olhou nos olhos dela por um ultimo instante e partiu em direção ao pescoço dela, beijando toda a extensão e sentindo o seu perfume, o que a deixou um pouco surpresa. Ela o abraçava forte e pequenos choques elétricos perpassavam seu corpo. Ron foi subindo até chegar a orelha dando uma mordiscada. Depois foi se encaminhando para a bochecha, indo devagar a caminho da boca, mas antes que ele chegasse lá ela segurou sua cabeça e selou os lábios de uma vez por todas. Era um beijo doce e calmo, agora eles sabiam que teriam quanto tempo quisessem. As mãos de Ron exploravam as costas da morena e as dela se instalaram em seus cabelos flamejantes. Eles sabiam que tinham que respirar, mas não se preocupavam muito com isso no momento. Ron botou a mão direita na parte de trás da coxa dela e a puxou para seu colo. O clima esquentava rapidamente quando Hermione se separou ofegante.


- Que houve? – Ron perguntou.


- É que... ah, não é nada. Eu tava sem ar e me separei um pouco. – Ela falou não muito convincente. Ele levantou uma sobrancelha inquisitiva. Ela não queria falar, só queria ter certeza de que o que estava acontecendo era real, que ele não a largaria depois disso, ela não sabia o que pensar, estava muito confusa. Talvez estivesse preocupada demais. Quando viu que ela não falaria, ele disse:


- Tudo bem, você não precisa me falar. – ele falou botando uma mecha rebelde atrás da orelha da morena. Ele a beijou novamente, mas dessa vez um beijo terno, e logo quebrou o encanto. – Eu só queria te falar uma coisa.


- O quê? – e sua curiosidade crescia.


- Você sabe né, que eu te amo e tal... – ele falou baixinho e envergonhado. Seu coração parou por um segundo e depois começou a bater muito rápido. O olhar que ele lhe dava era tão sincero e puro que ela não entendia porque havia duvidado do sentimento que ele tinha por ela. Seus olhos ficaram marejados e ela o abraçou forte.


- Eu também te amo Ron, seu bobo!!


- Bobo? Por quê? – Ele ria.


- Porque você devia ter me falado isso antes, teria sido muito mais fácil! – Ele juntou sua testa com a dela e pediu desculpas. Ela acariciou seu rosto sardento e pálido. Ele olhou para ela e contornou sua boca vermelha e levemente inchada com o dedo e pensou que aquela era a visão mais linda que já tivera. Ele segurou seu rosto com as duas mãos e a trouxe para perto colando seus lábios nos dela novamente e quebrando o  contato visual que mantinham. Ele a deitou na cama, se enroscavam tanto que não era possível ver onde começava um e terminava o outro. Ron começou a abrir um botão da blusa de Hermione e...


- RON! – A voz de Harry foi ouvida. Os dois levaram “O” susto, Ron bateu a cabeça na parede e ela cairia da cama se o ruivo não a tivesse segurado.


- Ah, mas da próxima vez eu mato o Harry, eu juro! – Ele inspirou profundamente  e berrou. – QUE É?!


- A SUA MÃE ESTÁ TE CHAMANDO!


- TÁ! Vamos?


- Se não se importa, vou ficar aqui mais um pouco.


- Sem problemas. De certo mamãe quer que eu faça alguma coisa, deve demorar. – ele concluiu em tom entediado. – Mas depois a gente continua o que começou! – ela corou e ele lhe deu um selinho antes de desaparecer pela porta para o corredor escuro. Ela sorriu.


Ela havia esperado tanto por esse momento, e era difícil acreditar depois de tanto tempo. Era como se ele fosse a luz no fim do túnel escuro. Por algum motivo, começou a lembrar dos momentos agonizantes que passou nas mãos dele: quando ele a chamou de pesadelo; quando ela o viu machucado e imóvel depois de se sacrificar no xadrez de bruxo; quando ele brigou com ela por causa do Perebas e da Firebolt; quando ela o viu sendo arrastado por Sirius para dentro do Salgueiro Lutador; quando ele brigou com ela por causa de Vítor; quando ela o viu deitado na cama ao lado da sua na Ala Hospitalar após a ida ao Departamento de Mistérios; Quando ela o viu beijando Lavender; quando ela soube que ele havia sido envenenado fatalmente; quando ele a deixou sozinha com Harry na barraca. Achava que o motivo de estar pensando nisso era a possibilidade de não darem certo, mas gostava muito dele e não deixaria isso atrapalhar.


Um brilho azul-prateado incomodou seus olhos e ela olhou para a Penseira com um interesse crescente e incomum. Se aproximou e observou a substância da Penseira. Afinal, o que Ron havia colocado nela? Ela sentiu uma curiosidade intensa, ela queria ver o que o atormentava. Uma vozinha irrompeu na cabeça dela:


“Hermione! Ouça sua razão! Isso não é certo! Você sabe que eu sou o motivo das suas grandes conquistas!”


- Não há nada de errado nisso! Ele não esconde nada de mim, enconde?


“E se esconder? Eu sei das coisas, vai por mim. Você não pode bisbilhotar as coisas dele!”


- Não vou bisbilhotar, só quero me informar!


“Emoção, me escute! Você sabe que eu estou certa!”


- Ah, cala a boca!


“Mas querida...”


Ela já tinha se inclinado e mergulhado de cara na substância perolada. Ela sentiu ser arremessada e caiu em uma floresta escura e cheia de neve, e viu que observando melhor, era a Floresta do Deão, onde havia acampado uma vez com seus pais e onde Ron havia voltado depois de muito tempo. Ela olhou para o lado e se sobressaltou dando um grito agudo, quando viu Ron, os olhos semicerrados e agachado entre as folhagens. Ele parecia muito cansado e cheio de olheiras. Ela observou melhor e percebeu que ele estava olhando para uma corça, uma corça prateada.

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