Plataforma Nove e Meio



      O dia primeiro de setembro chegou tímido, conforme os primeiros raios do sol de outono se esgueiravam sorrateiramente para dentro do quarto através da janela. As folhas das árvores lá fora balançavam com cada movimentação do ar. Morna e doce brisa. O jardim defronte a casa era recheado de flores perfumadas: papoulas, freesias, petúnias, lírios e, em posição de destaque, plantadas na sacada, estavam as rosas.


      A garota dormia a sono brando, com a cabeça apoiada no travesseiro. Seus cabelos castanhos encaracolados desciam em cascata sobre seus ombros. Seu rosto era coberto de sardas, herança de família.


      - RONALD WEASLEY! – a voz de Hermione Weasley foi ouvida, fazendo o primeiro ruído da manhã.


      Rose Weasley se sentou na cama rapidamente, pondo a mão sobre o peito que subia e descia pelo susto. Aquilo lá era jeito de acordar às... – ela olhou o despertador na mesinha-se-cabeceira – nove da manhã?! Rose bufou e cobriu a cabeça com as cobertas, decidida a voltar a dormir.


      - Ronald, acorde agora mesmo! Você tem que nos levar até a estação!


      - Ah, Hermione, me deixe em paz. O sol ainda nem levantou.


      - Levantou sim! Não está vendo a luz entrando pelas cortinas?


      - Não, não estou. Boa noite, Hermione.


      - RONALD BILLIUS WEASLEY! ISSO É UMA ORDEM! OU VOCÊ LEVANTA OU VAI PASSAR FOME POR DUAS SEMANAS. VÁ SE ARRUMAR PARA LEVAR SUA FILHA À ESTAÇÃO, AGORA!


      Rose ouviu o barulho de algo se espatifando, seguido da porta do banheiro do corredor sendo fechada com força.


      Ela olhou, ainda sonolenta, para o calendário que pendurara na parede sobre a cama. Ele fora enfeitiçado por sua mãe para riscar os dias que faltavam para o primeiro de Setembro; agora apresentava um grande círculo vermelho circulando o número 1, no mês 9.


       Rose deu um pulo da cama.


       Hogwarts, Hogwarts, Hogwarts; era só o que conseguia pensar desde que sua carta chegara via coruja duas semanas antes. Era, enfim, o dia tão esperado!


       Rose olhou o despertador novamente. Nove e dez.


       Você está atrasada, ela disse a si mesma antes de correr para o banheiro do quarto.


    


      Rose verificou se tudo que precisaria estava dentro de seu malão. Os livros, o uniforme, a varinha nova, sua balança de estanho, seu kit de poções. Estando tudo certo, os Weasley apanharam o carro na garagem e rumaram a Estação Kings Cross; Rose não pode deixar de se sentir aliviada por sua mãe ter convencido seu pai a se mudar para Londres no ano anterior, caso contrário eles teriam se atrasado bastante para chegar à estação.


      Rose olhou para, Hugo, de oito anos, que torcia os nós dos dedos inquieto ao seu lado no banco de trás do carro. Ela sabia como o irmão se sentia; havia sido muitas vezes – levando em consideração o tamanho da família Weasley – que ela tivera de se despedir dos primos na estação, sabendo que teria de esperar um, dois, quatro ou seis anos para que chegasse sua vez de ir também.


      - Não fique assim, maninho. Logo você irá também – Rose sussurrou a Hugo – Além do mais, terá a Lily, Louis, Fred e Roxanne com você quando for a Hogwarts. Eu só tenho Alvo.


      - Eu sei que chegará minha vez, Rosie. É que vai demorar muito – Hugo disse, esboçando um sorrisinho triste – E vou sentir saudades de você e do Alvo esse ano.


       Rose tomou Hugo num abraço.


       - Também vou sentir saudades suas. Mas eu escrevo, e lhe mando uma tampa de privada do banheiro da Grifinória.


      Hugo riu, se soltando da irmã.


      Nenhum dos dois percebeu o olhar materno e emocionado que Hermione lhes lançou pelo retrovisor do carro.


      - Olhem por onde andam, seus trouxas! – Rony gritou pondo a cabeça pra fora, enquanto socava o volante – Passaram no sinal vermelho!


      - Rony! Pare de gritar, vai acabar sendo preso – Hermione falou ao marido, irritada.


      - Mas, querida...


      - Sem “mas”. Agora preste atenção no trânsito.


      - Por que não usamos o pó de flu? – Rose perguntou à mãe.


      - Nada disso, lembra o que aconteceu no dia que fomos comprar seu material no Beco Diagonal? Não quero que você fique presa na lareira de alguém novamente.


      Rose olhou para seus botões, com as orelhas vermelhas.


      Chegaram ao seu destino em poucos minutos. A estação estava apinhada de trouxas e bruxos – esses primeiros, contudo, sem saberem dos segundos -, que se acotovelavam para abrir espaço.


      Rony e Hermione guiaram os filhos até as plataformas 9 e 10.


      - Vá primeiro, filha. Correndo se estiver nervosa.


      Rose respirou fundo, fitando o espaço entre as plataformas. Ela esperou até que o apito de um dos trens dos trouxas soasse e jogou seu peso contra seu carrinho de bagagens, correndo em direção ao pilar.


      Ela fechou os olhos, tremendo. Mesmo que soubesse que não iria bater na parede de pedra, ainda estava nervosa. Era como se estivesse ali pela primeira vez.


      O impacto não ocorreu. Rose abriu os olhos rápido, vendo a paisagem mágica da Estação Nove e Meio. Uma placa vermelha com as bordas amarelas suspendia-se no ar por magia. Nela estava escrito: Expresso de Hogwarts, onze horas.


      A fumaça da locomotiva invadia o ambiente. Alunos se despediam dos pais com beijos e abraços, outros seguravam gaiolas com corujas, ratos e sapos. Rose viu uma menina com cabelos púrpuros correndo atrás de um gato preto, gritando para que alguém agarrasse o animal.     


      - Onde eles estão? – perguntou Rose espichando o pescoço acima da multidão para ver melhor.


       - Eles devem estar por ai – disse Rony à filha – Ali, Rose!


      Uma família de cinco componentes os observava a uns sete metros – agora cinco – três – dois. Os cinco pararam bem diante dos Weasley.


      - Al! – Rose exclamou se jogando em cima do primo.


      - Rosie! – o garoto retribuiu o abraço – Estava com saudades!


      - Claro que estava – murmurou Lily – E isso por que o dois se viram ainda ontem.


      Alvo revirou os olhos.


      - Ah, Lily, não encha


      Lily estirou a língua para o irmão, e abraçou Rose pela cintura, já que era uns trinta centímetros mais baixa que ela.


      Rose cumprimentou seus tios e James, que chegara afobado para dedurar Teddy e Victore que estavam “se engolindo” em um canto distante da estação.


      - Seria ótimo se eles se casassem – comentou Lily – Daí Teddy realmente faria parte da família.


      Rose concordou. Tinha de admitir que os dois formavam um casal adorável.


      - Então aquele é o pequeno Escórpio – a voz de Rony chamou a atenção de Rose.


      Ela seguiu o olhar do pai até um ponto escondido pela fumaça. Um homem e uma mulher se despediam de um garoto – este muito parecido com o primeiro.


      - Supere ele em tudo, Rosie. Graças a Merlin você herdou a inteligência da sua mãe.


      - Rony! Não tente indispor os dois antes de se conhecerem!


      - Está bem, está bem. Mas não fique muito amiga dele, querida. Vovô Weasley não ficaria nem um pouco satisfeito se você se casasse com um sangue-puro.


      Rose fitou o garoto – Escórpio, como seu pai dissera. Ele abria e fechava a boca rapidamente, tagarelando algo com o pai. Naquele instante ele ergueu o olhar, e seus olhos se encontraram com os de Rose. Mesmo àquela distância, Rose percebeu a cor dos olhos de Escórpio.


      - Cinzentos, como alguém pode ter olhos cinzentos?


      - Que disse Rose? – perguntou Alvo.


      - Nada, só estava pensando alto.


      Depois das últimas despedidas e das recomendações para o início do ano: “Procurem não ganhar muitas detenções”, “Não entrem na Floresta Proibida” e “Não quebrem nenhum osso”, Rose, Alvo e James embarcaram no trem.


      James logo encontrou seu grupo de amigos e desapareceu de vista, deixando os dois primos sozinhos no corredor do trem.


       Rose estava muito desconfortável. Não era bom estar sendo observada. A cada cabine pela qual passavam, olhos de arregalavam e dedos eram apontados a eles. Foi um grande alívio quando encontraram uma cabine vaga, onde haviam apenas dois ocupantes.


      Rose imediatamente reconheceu Escórpio.


      - Olá, podemos nos sentar aqui com vocês? – perguntou Alvo, metendo a cabeça pra dentro da cabine.


      - Claro! – responderam os dois em uníssono, sem quebrar o contato visual.


      Rose acomodou a gaiola de sua coruja, Charlotte, no bagageiro acima dos bancos, se sentando de frente para Alvo.


      - Anh, serei muito intrometida se perguntar o que vocês estão fazendo? – perguntou Rose, observando com curiosidade o garoto e a garota que continuavam a se encarar sem piscar.


      O garoto ergueu a mão na direção de Rose, pedindo que ela esperasse.


      - Só mais alguns segundos. Três, dois, um.


      Ele deu um sorriso torto. Que lindo sorriso, Rose pensou. E assoprou nos olhos da garota.


      - Ah, Escórpio, isso não vale! – resmungou a garota, esfregando os olhos.


      - Você só fala isso porque sabe que eu consigo ficar mais tempo sem piscar do que você, Cassie.


      - Afff! Caso você tenha notado, irmãozinho, nós temos companhia.


      Escórpio olhou para Alvo e Rose – se demorando um pouco mais nesta ultima -, como se tivesse acabado de vê-los ali.


      - Ah, olá gente! Qual são os nomes de vocês? Eu sou Escórpio Malfoy, e essa aqui é a minha irmã Cassie. Qual a Casa que vocês querem ir, porque pra mim tanto faz. Papai quer que nós fiquemos em Sonserina, mas, sei lá, eu sempre tive um pouco de medo de cobras então acho que não ia combinar muito. Sabiam que uma vez...


      Cassie pôs a mão sobre a boca do irmão.


      - Ele é sempre assim? – falou Alvo, prendendo o riso ao ver Escórpio se debatendo nos braços da irmã.


      - Geralmente sim – Cassie respondeu – Mas, sério, como se chamam?


      - Eu sou Alvo Potter


      - E eu sou Rose Weasley – disse Rose.


      - Cassie Malfoy.


      - Vocês estão no mesmo ano em Hogwarts? É que os achei um pouco diferentes demais pra serem gêmeos – perguntou Rose.


      Escórpio conseguiu se soltar.


      - Prazer, em conhecê-los, Alvo e Rose. Ei, aquilo ali fora da janela é um caminhão trouxa? Que legal, pena que não temos aula de estudo dos trouxas no primeiro ano.


      - Ignorem ele – Cassie pôs uma mecha de cabelo negro para trás das orelhas – E não, nós não somos gêmeos. Sou nove meses mais velha.


      Alvo lançou a Rose um olhar divertido.


      - Al, você não acha que nossos pais ficariam meio chateados se ficássemos amigos dos Malfoy? – Rose sussurrou para o primo quando Cassie e Escórpio não estavam ouvindo.


      - Ah, Rose, que se dane o que acharem. Eles parecem legais.


      Rose deu de ombros.


      - E então, para que Casa querem ir? – ela perguntou.


      - Sonserina, é claro! – respondeu Cassie, com um sorriso orgulhoso.


      - Maninha, deixa de ser tosca. Todo mundo sabe que você quer ir pra Lufa-Lufa. O Michel Grimm iria ficar chateado se você não fosse – disse Escórpio em tom de deboche – “Ah, quem é aquele ali papai? Ele é tão lindo, será que ele vai dar bola pra mim?”


      Cassie ruborizou. Rose riu, e Alvo limitou-se a dar um risinho nervoso.


      - Quem é Michel Grimm? – perguntou Alvo, franzindo o cenho.


      - Não é ninguém! – respondeu Cassie dando um tapa na cabeça de Escórpio – Você é um idiota, sabia?


      - Bom, como já ouvi isso umas cem vezes esse mês e uma enésima de outras em toda minha vida, acho que iria descobrir cedo ou tarde.


      - Papai disse que podemos escolher que Casa queremos. O Chapéu Seletor leva em consideração nossa opinião.


      - Sério? Maninha, você pode pedir para ir pra Lufa-Lufa, não é bom?


      Cassie apanhou a primeira coisa que pode, e atirou-a no irmão. Só uns segundos depois ela percebeu que quase matara sua pobre coruja, Jade. Escórpio, um pouco tonto com o impacto com a gaiola, lançou um olhar desafiador à Cassie.


      - É guerra que você quer, então guerra você terá.


      Rose e Alvo se meteram no meio dos dois, para separá-los antes que um dos dois caísse pela janela do trem, mas só o que receberam em troca foram socos e pontapés despropositais.


      - CHEGA! – Rose gritou.


      Alvo, Escórpio e Cassie olharam pra ela.


      - Quero que vocês fiquem quietos neste exato momento, ou serei obrigada a azará-los – disse ela puxando a varinha do cabelo, desarmando o coque que fizera.


      - Você me dá medo, Rosie – comentou Escórpio.


      - E como dá – completou Alvo.


      - Gosto da sua atitude, garota – falou Cassie com um sorriso maroto.


      A paisagem do lado de fora mostrava agora grandes e verdejantes campos, listados de pastos. Rose podia ver seu reflexo no vidro da janela; ela se via feliz, ela estava feliz.


      - Querem algo do carrinho, queridos? – perguntou uma senhora sorridente à porta da cabine.


      - Dois pacotes de feijõezinhos de todos os sabores, por favor – disse Alvo estendendo dois sicles para a senhora.


      - Um sapo de chocolate – disse Rose – Obrigada.


      - Nada pra mim e meu irmão, obrigada – disse Cassie.


      Escórpio fuzilou a irmã.


      - Eu quero doces, sim.


      - Não quer, não. Sabe que não pode comer açúcar.


      Rose ergueu uma sobrancelha.


      - Por que não?


      - A não ser que queira que Escórpio fique mais hiperativo do que já é, se é que isso é possível, apenas dê-lhe açúcar. Acredite, não gostariam de tentar isso.


      Alvo olhou para Escórpio, que batucava o assento e puxava os fios loiros de seu cabelo.


      - Tem toda razão, Cassie.


      O grupo que ali acabara de se formar não tinha nem idéia do que o esperava depois dos limites de Hogwarts, Hogwarts esconde segredos, e eles estavam prestes a descobri-los.

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Comentários (2)

  • Annabeth Lia

    legal, estou doida para ler a continuação! Vê se volta a escrever, ok??!

    2013-01-15
  • meroku

    uero saber quais sao esses segredos que Hogwarts esconde logoentao nao demora para postar os proximos capitulo,ta?!?!?!?!?! 

    2012-07-19
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