The Only Love - Único



-Draco! O que está fazendo? Vá se vestir, em alguns minutos o trem chegará na França!


-Já vou, pai! Só quero terminar isso!


-Sei, terminar! Não acredito no que estou vendo… Há dias você tá grudado nesse pergaminho e segurando essa pena, e até agora não escreveu absolutamente nada! O que tanto você pensa?


-Me deixa em paz!


-Te deixo em paz, sim senhor! Desde que aproveite esse tempo pra se arrumar! Estarei no outro vagão com sua mãe, trate de andar logo!


Por incrível que pareça, esse diálogo quer dizer que meu pai está melhorando. Desde que ele decidiu abandonar a Inglaterra, não nos falávamos pra nada. Minha mãe estava ficando louca com tudo aquilo, mas acho que a França o acalmou um pouco. Não sei se um dia ele vai voltar ao normal, mas é bom que esbraveje, pra mostrar que ainda mantém um pouco do seu respeito próprio. Eu já não posso dispor da mesma sorte. Ah, se eu pudesse voltar no tempo…


 


Eu posso narrar a história da minha vida


Sem a mais brilhante esperança, sem a mais forte emoção


 


Quando eu pego a pena pra escrever sobre tudo o que aconteceu naquela época, a mesma dúvida sempre surge: como teria sido minha vida se não fossem as escolhas que eu fiz? Talvez eu estivesse morto, talvez tivesse me tornado o bruxo mais famoso do mundo, cujo nome eliminasse por completo o de Potter e, se posso me permitir tal ousadia, do Lord das Trevas. Sim. Tudo isso era possível. Mas o que eu escolhi me custou muitas coisas. Me custou a liberdade, o apoio dos meus amigos, as mordomias a que tinha me acostumado… Mas o que foi mais caro: me custou a única garota que eu realmente amei.


 


E eu acreditava que poderia  morrer por você


Como você poderia sempre desmoronar e nunca me ver


Através da noite mais escura


 


Ela, claro, óbvio, nunca me amou. Como eu pude enfiar na cabeça que eu pudesse ser merecedor de um sentimento tão puro e sincero quanto o amor de Luna Lovegood? Eu, um dos nomes mais odiados de Hogwarts! Pra mim, estava mais do que certo, eu nunca poderia ter nada com ela. Eu era obrigado a engolir meus sentimentos e aceitar que nunca poderia fazê-la feliz do jeito que merecia. Mas mesmo assim, algo dentro de mim me forçava a tentar, pelo mínimo, uma amizade. Lembro de ter suado frio no dia em que eu, de férias em casa, pensei isso pela primeira vez.


 


E como eu fico acordado, uma oração dentro de mim queima


E não há preço no que se espera até que se vai, e continua avançando


 


Quando eu voltei para a escola, no mês seguinte, vi-a no portão, deslumbrada com o mesmo. Sinceramente, não fazia ideia no que ela pudesse estar vendo de tão interessante. Era o mesmo portão de madeira enorme que sempre esteve lá durante anos e anos a fio. O tempo em que ela ficou lá parada eu fiquei a cerca de 50 metros apenas olhando-a. Lembro que Goyle chegou do meu lado e passou a mão na varinha, sugerindo que a gente conjurasse algumas lesmas no cabelo dela. Pus minha própria varinha na garganta dele, lívido de raiva, dizendo que o primeiro que encostasse nela se arrependeria de ter nascido. Quando eu me dei conta do que tinha feito, rapidamente emendei inventando que o Lord das Trevas a queria intacta para o caso de precisar servir de “incentivo” para o pai dela mais tarde. Foi uma explicação idiota, mas o Goyle engoliu sem questionar (o Lord das Trevas havia me recrutado naquele verão, então tudo o que eu dizia era lei entre eles). A verdade é que tê-la por perto me fazia querer desistir de tudo aquilo. Eu sabia que ela não me via com bons olhos. Era horrível pensar que ela pudesse até não me querer bem. Eu queria apenas amá-la. Fazer parte de sua vida. Queria, pelo menos uma vez, ser o motivo de seu sorriso.


 


Onde está meu coração?


Você sabe que eu estarei esperando pra ser uma parte de você e nunca sentir a dor


 


Foi então que estourou tudo. Fui encarregado de matar Dumbledore. Aquele ano foi pesado pra mim em todos os sentidos. Vivia sozinho e com medo, e ao mesmo tempo com uma vontade enorme de me provar. Já que não podia ter ao meu lado a garota que eu amava, então que fosse tudo pro vinagre de uma vez. Preparei tudo com uma automatização que surpreendeu até a mim. Não me importava com mais nada. Houve momentos em que eu me peguei imaginando que seria melhor sabotar a missão inteira, ser descoberto e morto. Talvez minha alma vagasse por aí, seca, arrastada e sem vida. Não seria muito diferente de como eu estava nessa altura. Morto, eu não poderia mais chorar às escondidas por Luna.


 


Como você pode me dizer que eu deveria continuar vivendo?


Eu deixei a única vida que eu tive com você


 


A pior parte dessa história foi ver o quanto ela era apegada ao Potter. Sujeitinho insuportável. Vê-lo com ela, vê-lo ser admirado por ela, só me fazia pegar mais nojo ainda dele. Apesar da minha maldade aparente, nunca tive ganas de matar. Ele foi o primeiro. Queria matá-lo, o quanto antes. Agora eu me congratulo por nunca tê-lo feito. No fim, eu quis ver o Lord das Trevas caído, e não posso negar a importância que o maldito Potter teve pra que isso acontecesse. Que morressem os dois. Mas ele era intocável, pois eu sabia o quanto Luna o idolatrava. Se eu fizesse alguma coisa contra ele, aí sim eu poderia dizer adeus a qualquer chance que eu pudesse ter de conquistá-la. Poderia desprezá-lo o quanto quisesse, mas não poderia deitar as mãos nele. Em contrapartida, ele podia falar o que quisesse de mim. Queria ter tido coragem para fazê-la acreditar que eu não era tudo aquilo, mas não tive como. O santo Potter era sempre pioneiro, e eu era obrigado a ficar quieto. Mas eu tive a minha chance durante a guerra.


 


O único amor


Não use em mim fingindo ser uma parte de você, e você o meu coração


 


Na noite da invasão a Hogwarts, no momento em que todos estavam no meio da linha de batalha, houve uma hora em que eu corria desesperado pelos corredores da escola procurando por Luna. Já tava me lixando se eu era ou deixava de ser Comensal da Morte. Lembro de quando eu a encontrei. Um Comensal havia encurralado-a contra a parede, e percebi que se preparava pra lançar a Maldição da Morte. Então fiz algo impensado: matei-o. Luna estava se protegendo com as mãos e não percebeu o que tinha acontecido. Apenas viu o homem cair desfalecido à sua frente. Cheguei até ela e lhe estendi a mão, oferecendo ajuda. Ela me olhou com aqueles olhos maravilhosos e perguntou por que eu estava fazendo aquilo. Respondi apenas “eu preciso”. Ela segurou a minha mão e saímos dali juntos. Mal podia acreditar no que estava acontecendo. Passei sem olhar pelos corredores, lançando feitiços quando necessário, mas mais preocupado em proteger Luna. Estou plenamente seguro de que ela não sabe que eu matei os Comensais que apareciam na nossa frente e a ameaçavam. Para ela, eu apenas estuporei-os, e é melhor que continue assim. Alguns alunos que prestaram atenção em nós não acreditaram no que viam. Então chegou o momento: Luna olhou pra mim e, sorrindo, me agradeceu. Disse apenas “obrigada” e beijou minha testa. Feito isso, saiu correndo pelo portão principal, em direção à Floresta Proibida. Aquele beijo ficou marcado tanto na minha testa quanto na minha memória.


 


Então concordamos em deixar que cada um se vá


Sem longo adeus, só o seu caminho e o meu caminho


E eu posso entender como você chorou para ser livre


Alta como o vento sopra, mas não o suficiente pra trazê-la pra casa, pra mim


Apenas o solitário sabe


 


Depois daquilo, comecei a chorar de leve. Ninguém na minha volta me interessava mais. Saí correndo na direção contrária, até que tropecei e bati a cabeça em uma pedra. Desmaiei. Quando acordei já tinha amanhecido, e minha mãe amparava minha cabeça em seu colo. Meu pai andava de um lado ao outro, visivelmente preocupado. Quando viu que eu acordei, anunciou que Potter estava morto e deveríamos ir para Hogwarts. Estava meio atordoado e as notícias não me vinham muito claras, então aceitei voltar. Péssima decisão. Agora o mundo sabe o que foi aquela vergonha. Potter não estava morto, o Lord das Trevas foi derrotado em definitivo e o meu pai precisou fugir do país com o rabo entre as pernas. Ele nem sonha que eu fui o responsável pela morte de vários colegas dele, simplesmente por terem levantado a varinha na direção de Luna. Durante a exibição do “Potter morto”, lembro de tê-la visto olhar pra mim, suplicante. Eu não sabia mais o que fazer. No momento em que eu estendi os braços em sua direção (ignorando a enorme distância entre nós), meu pai me puxou pra trás e saímos de fininho. Foi a última vez que eu a vi.


 


Você vê meus braços abertos, sabe que minha chama está queimando


Mas eu sou cego demais para ver que o fim já começou, e continua avançando


 


Já faz três dias. Ainda me pergunto muitas coisas, mas não tento achar respostas. É tarde demais. Sendo assim, não me resta qualquer outra alternativa. Não quero viver uma mentira, mas a verdade que vivo não me agrada nem um pouco. Em toda a minha vida, apenas uma garota conseguiu derreter o gelo que havia em torno do meu coração. Esta garota está inalcançável. Agora mais do que nunca. Espero que você, quem quer que tenha encontrado esse pergaminho, entenda por que eu fiz o que vou fazer. No fim das contas, acabei descobrindo um outro motivo para estes vagões terem uma porta para o lado de fora. Para o caso de pessoas como eu usarem-na quando passarem por cima de barrancos íngremes como este em que estamos agora. Não poderia ter final mais digno para alguém que viveu como um covarde até o fim. Adeus.


 


 


O único amor, um amor que não vai morrer


Você pode se arrepender que eu construí meu mundo ao seu redor


O único amor é só você e eu


Haverão outros que irão deixá-la como eu a encontrei


 


O único amor, um amor que não vai morrer…


N/A: Esta songfic foi criada para homenagear a autora Louyse Malfoy (http://fanfic.potterish.com/userinfo.php?ident=82116), excelente escritora e, tenho a honra de dizer, amiga muito querida minha. 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.